Parâmetros ruminais de ovinos alimentados com diferentes níveis de farelo de crambe na dieta

GABRIEL MACHADO DALLAGO1, KATHARINE KELLY DE AZEVEDO2, DARCILENE MARIA DE FIGUEIREDO3, RAUL RIBEIRO SILVEIRA4, SÉRGIO DOMINGOS SIMÃO5, RAFAELA CRISTINA RODRIGUES6, MAURICIO GOMES DE SOUSA7, JULIANA APARECIDA VIEIRA8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
4 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
5 - Instituto Federal de Minas Gerais
6 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
7 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
8 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da substituição da proteína bruta (PB) do concentrado pela proteína bruta do farelo de crambe em dietas de ovinos sobre o pH e o N- NH3 ruminal. Quatro ovinos adultos SRD, machos, castrados e fistulados no rúmen foram alojados em gaiolas metabólicas e foram alimentados com dietas contendo 0, 25, 50 e 75% de substituição da PB do concentrado pela proteína do farelo de crambe. O delineamento estatístico foi em quadrado latino 4×4 (quatro tratamentos e quatro repetições). Foram feitas coletas de líquido ruminal imediatamente antes do trato e as 3, 6, 9, 12 e 15 horas após o mesmo para a determinação do pH e N- NH3 ruminal. Os dados foram analisados por meio de regressão linear, adotando-se o nível de significância de 5%. Não foram observados efeitos da inclusão do farelo nos valores de pH. Por outro lado, foi observado efeito linear negativo da inclusão do farelo nos valores de N-NH3 ruminal.

Palavras-chave: Coprodutos, nitrogênio amoniacal, pH, proteína bruta

Ruminal Parameters of sheep feed different levels of Crambe Cake

ABSTRACT - The aim was to assess the effect of crambe cake used as crude protein (CP) replacement on diets fed to sheep regarding the ruminal parameters pH and N-NH3. Four adults castrated male sheep of undefined breed and ruminally fistulated were placed in metabolic cages and were fed diets with 0, 25, 50, and 75% of CP of the concentrated portion of the diet replaced by crambe cake. The statistical design was a 4x4 (four treatments and four periods) Latin square. Ruminal liquid was collected immediately before the feeding and 3, 6, 9, 12, and 15 hours after feeding to measure pH and N-NH3. Linear regression analyses were carried out using 5% of probability. It was not observed effect of the crambe cake inclusion on ruminal pH values. However, it was observed a negative linear effect on N-NH3 regarding the inclusion of crambe cake.
Keywords: Ammoniacal nitrogen, coproducts, , crude protein, pH


Introdução

Os coprodutos oriundos da agroindústria, destacam-se como potenciais substitutos aos ingredientes tradicionais usados em dietas de ruminantes. O coproduto farelo de crambe, oriundo da extração do óleo da planta Crambe abyssinica para produção do biodiesel, apresenta elevado valor nutricional, podendo substituir o concentrado proteico nas dietas de ruminantes (Silva, 2014). A maioria dos estudos com farelo de crambe para ruminantes está voltada para bovinos e pouco se sabe sobre a concentração ideal de inclusão do farelo de crambe nas dietas de ovinos e sua influência nos parâmetros ruminais desses animais. Diante do exposto, objetivou-se avaliar o pH e o nitrogênio amoniacal no rúmen de ovinos alimentados com dietas contendo níveis crescentes da proteína bruta do farelo de crambe em substituição a proteína bruta do concentrado.

Revisão Bibliográfica

Alguns resíduos agroindustriais podem ser considerados fontes valiosas de proteína, energia e fibra para produção animal. Souza (2011) observou concentração de 37,12% para proteína bruta, com base na MS, em seu estudo com farelo de crambe na alimentação bovina, evidenciando o potencial deste subproduto como fonte proteica para ruminantes. De acordo com Silva (2001), os coprodutos da indústria do biodiesel possuem potencial para substituir o farelo de soja reduzindo custos no preparo de concentrado para ruminantes agregando valor à cadeia produtiva. No entanto, a insuficiência de informações nutricionais tem ocasionado subaproveitamento desses coprodutos. Caton et al. (1994), avaliando níveis de substituição de farelo de crambe por farelo de soja (33, 67 e 100% de substituição) em suplemento proteico para novilhos, não observaram diferença na digestão ruminal e pós ruminal da matéria orgânica e porção fibrosa, fermentação ruminal, fluxo de nitrogênio e na eficiência microbiana. De acordo com Church (1993), o conhecimento da presença de nitrogênio amoniacal (N-NH3) no líquido ruminal é indispensável para o desenvolvimento da microflora do rúmen e sua concentração pode ser utilizada como indicador da eficiência de utilização do nitrogênio no rúmen e para averiguar a adequada relação entre nitrogênio e energia da dieta. O pH ruminal está relacionado aos produtos finais da fermentação, bem como à taxa de crescimento dos microrganismos ruminais.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição de Ruminantes da Fazenda Experimental do Moura da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), localizado no município de Curvelo, MG. Foram utilizados 4 ovinos fistulados no rúmen sem raça definida, machos, castrados, alojados em gaiolas metabólicas, com idade média inicial de 18 meses e peso vivo médio inicial de 50 Kg. O experimento foi conduzido em um quadrado latino 4 x 4 (4 tratamentos e 4 períodos). Cada período foi composto de 19 dias, sendo os 7 primeiros dias destinados à adaptação dos animais à dieta controle e às condições experimentais, e os outros 12 dias para coletas amostrais. Os tratamentos consistiram em dietas formuladas para apresentar níveis crescentes de inclusão da PB do farelo de crambe em substituição à PB do concentrado (tabela 1), com relação volumoso:concentrado de 50:50. Para avaliação do nitrogênio amoniacal ruminal (NAR) e quantificação do valor de pH, foram realizadas, no último dia do período experimental, coletas de líquido ruminal imediatamente antes da alimentação e 3h, 6h ,9h, 12h e 15h após o trato da manhã (6h30). As amostras foram coletadas manualmente na interface líquido:sólido do ambiente ruminal e filtradas por uma camada tripla de gaze. Em seguida, foi separada uma alíquota de 50 mL, a qual foi fixada com 1 mL de H2SO4 (1:1) e congelada (-20ºC) para posterior análise. O pH foi medido imediatamente após coleta de líquido ruminal com auxílio de peagâmetro digital de bancada.  As concentrações de N-NH3 nas amostras do líquido ruminal foram determinadas pelo sistema micro-Kjeldahl, sem digestão ácida, mediante destilação com hidróxido de potássio (KOH) 2N, após centrifugação prévia da amostra a 1000 x g, por 15 minutos. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão linear, adotando-se o nível de significância de 5%, utilizando-se o programa estatístico R (R CORE TEAM, 2017).

Resultados e Discussão

Não houve efeito da substituição da PB do concentrado pela PB do farelo de crambe sobre o pH ruminal dos animais, obtendo-se média geral de 6,02, valor este inferior ao limite mínimo de 6,2 proposto por Russell & Wilson (1996), para que ocorra a máxima atividade dos microrganismos, bem como crescimento microbiano, fermentação ruminal e degradação da fibra. Sendo contudo, dentro dos limites fisiológicos normais (6,0 a 7,0) citados por (Owens e Goetsch, 1993). Os resultados mostraram que não houve diferença significativa para os diferentes níveis de inclusão de farelo de crambe em função do tempo de coleta. No entanto foi verificado diferença estatística para os valores de pH obtidos para todos os tratamentos em função do tempo (Y= 6.485558-0,1104963x + 0.00434896x2; R2= 96.79), sendo o maior valor observado para o tempo 0 (média= 6,39). Os valores de pH ruminal distantes da neutralidade encontrados, podem ser explicados com base na definição dos carboidratos dietéticos proposta por Mertens (1996). Os carboidratos fibrosos apresentam baixo potencial em reduzir o pH ruminal, diferentemente dos CNF. Sendo assim, pode-se inferir que houve maior consumo de carboidratos não fibrosos em relação aos carboidratos fibrosos pelos ovinos. Os resultados para nitrogênio amoniacal mostraram comportamento linear decrescente para os níveis de inclusão de farelo de crambe, apresentando as médias 16,53, 17,93, 13,39 e 12,54 mg/dL para os níveis 0, 25, 50 e 75% respectivamente (Figura 1). Resultados contrários foram observados por Caton et al. (1994), em seu estudo, o aumento dos níveis de farelo de crambe em dietas fornecidas a novilhos não influenciou as concentrações de amônia no líquido ruminal (média de 7,7 mg/dL). Para a interação nitrogênio amoniacal e tempo de coleta também houve efeito significativo (Y=17.0127+0.00159167x-0.00090233x; R2=76,23). Sendo os maiores valores encontrados nos tempos 3, 9 e 12 horas. A concentração de N-NH3 depende da degradabilidade da fonte proteica, da disponibilidade de carboidratos e do equilíbrio entre sua produção e utilização pelos microrganismos (SANTOS, 2013). De acordo com Van Soest (1994), o nível de amônia ideal para fermentação ruminal adequada é em torno de 10 mg/dL, sendo que no presente experimento, todos os níveis encontrados foram superiores. O efeito linear decrescente observado para a concentração de NAR em função dos níveis de inclusão do farelo de crambe, provavelmente foi consequência da maior utilização de NAR para crescimento microbiano.

Conclusões

A inclusão de níveis crescentes da proteína bruta do farelo de crambe em substituição à proteína bruta do concentrado não influenciou os valores de pH, porém alterou os valores de amônia ruminal. No entanto, todos os valores se encontraram dentro dos valores ideais descritos na literatura.

Gráficos e Tabelas




Referências

OWENS, F.N.; GOETSCH, A.L. Fermentación ruminal. In: CHURCH, D.C. (Ed.) El ruminante, fisiologia digestiva y nutrición: Zaragoza: Acríbia, 1993. p.159-190. R CORE TEAM. R: A Language and Environment for Statistical Computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing. 2017. Disponível em: <http://www.R-project.org/>. Acesso em: 25 de janeiro de 2017. RUSSELL, J.B.; WILSON, D.B. Why are ruminal cellulolytic bacteria unable to digest cellulose at low pH? Journal of Dairy Science, v.79, p.1503-1509, 1996. SILVA, S. A. G.; Aspectos quantitativos e qualitativos da produção de carne ovina. In: A produção animal na visão dos brasileiros. Sociedade Brasileira de Zootecnia, Anais. Piracicaba: FEALQ, p. 425-446, 2001. SOUZA, A.D.V. Farelo de crambe (Crambe abyssinica Hochst) em substituição ao farelo de soja na dieta de ruminantes. 2011, 159 p. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia) – Universidade Católica Dom Bosco, UCDB, Campo Grande – MS. SILVA, L. H. X. Cinética de fermentação ruminal de dietas com coprodutos da cadeia produtiva do biodiesel. 2014. 73 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)- Universidade Federal da Grande Dourados, 2014. CATON, J.S. et al. Influence of crambe meal as a protein source on intake, site of digestion, ruminal fermentation and microbial efficiency in beef steers fed grass hay. Journal of Animal Science, v.72, p.3238-3245, 1994. CHURCH, D.C. El Rumiante: fisiología digestiva y nutrición. Zaragoza: Acribia, 1993. 641p. MERTENS, D.R. Methods in modelling feeding behaviour and intake in herbivores. Annales Zootechnie, v.45, p.153-164, 1996 (Supplement 1). VAN SOEST,P.J. Nutritional ecology of the ruminant. Ithaca: Cornell University, 1994. p.35-336. Santos, R. S. Níveis de proteína bruta e de concentrado em dietas para cordeiros. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina-UFVJM. 2013. 54p.