Efeitos de tanino e monensina na concentração de ácidos graxos de cadeia curta in vitro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio

Flavia Izabel Godoes1, Danielle Dias Brutti2, Nelcino Francisco de Paula3, Michael Douglas dos Santos Arruda4, Adrielle Torres Mundim5, Jéssica Hallana Sampaio6, Bruna Gomes Macedo7, Mircéia Mombach8
1 - Universidade Federal de Mato Grosso
2 - Universidade Federal de Mato Grosso
3 - Universidade Federal de Mato Grosso
4 - Universidade Federal de Mato Grosso
5 - Universidade Federal de Mato Grosso
6 - Universidade Federal de Mato Grosso
7 - Universidade Federal de Mato Grosso
8 - Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO -

Objetivou-se com este estudo avaliar os efeitos de tanino e monensina na concentração de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) in vitro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio. O experimento foi conduzido durante quatro semanas consecutivas em arranjo fatorial 2×5, utilizando dois substratos (forragem adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) e monensina (0,02 mg g MS-1). Não houve interação forragem x aditivos (P>0,05) para os AGCC, mas a inclusão de taninos reduziu (P<0,05) a relação acetato:propionato comparado a monensina. Os níveis de taninos influenciaram de forma quadrática decrescente (P<0,05) a relação acetato:propionato. Com a inclusão de tanino ocorreu modificações no perfil de AGCC, sendo a relação acetato:propionato reduzida.

Palavras-chave: acetato:propionato, aditivos naturais, forragem, ionóforos

Effects of tannin and monensin on the concentration of short chain fatty acids in vitro of Marandu grass fertilized or not with nitrogen

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of tannin and monensin on the concentration of short chain fatty acids (SCFA) in vitro of Marandu grass fertilized or not with nitrogen. Four levels of tannins (0, 2, 4 and 6 mg g DM-1), plus monensin (0.02 mg g DM-1), were used for four weeks in a 2x5 factorial arrangement using two substrates (fertilized forage and not fertilized with nitrogen). There was no interaction of forage x additives (P>0.05) for SCFA, but the inclusion of tannins reduced (P <0.05) the acetate:propionate ratio compared to monensin. The tannin levels had a decreasing quadratic effect (P <0.05) on the acetate:propionate ratio. The inclusion of tannin decreased the acetate:propionate ratio.
Keywords: acetate:propionate, natural additives, forage, ionophores


Introdução

A utilização de aditivos alimentares permite melhorar a eficiência alimentar, além de diminuir a emissão de metano, reduzir riscos de ocorrência de doenças metabólicas e diminuir a relação acetato:propionato no rúmen (RUSSEL e STROBEL, 1989). O propionato por sua vez, assume papel fundamental no rúmen, pois é o principal precursor de glicose nos ruminantes, especialmente para animais em pastejo que absorvem pouca glicose no seu intestino delgado (RUSSEL e STROBEL, 1989; CALLAWAY et al., 2003). Contudo, apesar da ampla utilização dos antimicrobianos,  existe uma preocupação pública sobre a sua utilização na alimentação animal, pois há a possibilidade de seleção de microrganismos resistentes a antibióticos e presença de resíduos nos produtos de origem animal (CLARK et al., 2012; TEDESCHI et al., 2011). Sendo assim, buscam-se alternativas ao uso destes aditivos, ao passo que aditivos naturais têm sido pesquisados para substituir o uso de antibióticos. Entre eles, os extratos de plantas, como os taninos. Objetivou-se com este estudo avaliar os efeitos de tanino e monensina na concentração de ácidos graxos de cadeia curta in vitro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio.

Revisão Bibliográfica

No ecossistema anaeróbio do rúmen a microbiota fermenta carboidratos e proteína para obterem nutrientes para seu crescimento. Dentre estes, tem-se os ácidos graxos voláteis, utilizados em várias rotas metabólicas pelo animal. Em contrapartida, outros produtos da fermentação, como calor, metano e amônia, representam perdas de energia e proteína do alimento para o ambiente.   O animal ruminante em situação de pastejo absorve pouca glicose no intestino delgado, logo o propionato produzido no rúmen assume importância elementar, pois é o principal precursor de glicose nos ruminantes (CALLAWAY et al., 2003). Assim, procura-se diminuir a relação acetato:propionato. Com o uso de aditivos alimentares pode-se ter uma manipulação do ambiente ruminal. Os de categorias ionoforos têm sido mais amplamente utilizados. Segundo Mollenhauer et al. (1990), dos mais de 100 ionóforos encontrados, apenas quatro são aprovados para uso na dieta de animais ruminantes. Dentre os quatros, a monensina tem sido mais estudada. A monensina no rúmen age na população microbiana, selecionando as bactérias gram-negativas produtoras de ácido succínico e inibindo as gram-positivas produtoras de ácidos acéticos, butírico, láctico e H2. As bactérias produtoras de acetato são sensíveis a monensina, logo a produção de acetato está ligada à eliminação de análogos de redução através da metanogênese (CALLAWAY et al., 2003), sendo assim, uma diminuição na produção de acetato reduziria ainda mais a produção de metano (HEGARTY, 1999). Entretanto, a sociedade exerce uma pressão para consumir alimentos de origem animal isento de qualquer perigo a saúde, fazendo pesquisadores buscar novas formas de manejo para manter o alto nível produtivo dos ruminantes ao passo que diminua riscos à população consumidora. Nesse sentido, cresce as pesquisas com aditivos de origem natural (e.g taninos, óleos essenciais, saponinas, ácidos orgânicos). Taninos podem exercer efeitos benéficos na utilização de nutrientes, na produção animal, reduzindo a taxa de degradabilidade ruminal da proteína (FRUTOS et al.,2000). Em decorrência desta redução, a produção de metano é afetada indiretamente, por reduzir produtos do metabolismo de bactérias metanogênicas como acetato e H2 (BHATTA et al., 2002; CARULLA et al., 2005), consequentemente a eficiência alimentar é melhorada, pois os taninos, têm a capacidade de mitigar metano, em virtude de inibir todo o processo de fermentação deste potencial poluente. (BUENO et al., 2015).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição Animal – FAAZ da UFMT, em agosto de 2016. Em quatro semanas em arranjo fatorial 2x5, usando dois substratos (forragem adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) e monensina (0,02 mg g MS-1). O tanino obtido de uma mistura (Silvafeed-Bypro®, Silvateam-Inudor S.A.,Argentina) e a monensina (Rumensin®Elanco, 20%). O substrato incubado foi a Urochloa brizantha cv. Marandu, de um estudo anterior que a cada ciclo de corte as parcelas adubadas recebiam 100 kg de N/ha de sulfato de amônio a 21%, as amostras foram obtidas no quinto corte. O fluído ruminal retirado de dois bovinos Nelore machos inteiros com 300 kg ± 25 kg de peso corporal portando cânulas ruminais, suplementados com uma mistura múltipla a 0,3 % do PC diariamente. Para determinação dos AGCC foram colhidas amostras de 2 mL de cada frasco nos tempos de 24h e 48h de incubação, centrifugada a 10000x durante 10 minutos a uma temperatura de 4ºC e armazenada a - 20ºC para analise através de cromatografia. As variáveis foram analisadas usando o procedimento MIXED do SAS (versão 9,3). O modelo estatístico incluiu termos para efeito de forragem como fator fixo, efeito de aditivos como fator fixo, efeito de interação entre forragem e aditivos como fator fixo e semana como fator aleatório. Quando a interação não foi significativa, os fatores principais foram testados. Contrastes foram gerados para comparar monensina com controle, monensina com níveis de tanino (2, 4 e 6 mg g de MS-1). Usando contrastes ortogonais para partição específica dos efeitos de níveis de tanino (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) em linear e quadrático usando a opção CONTRAST. Quando a interação foi significativa, os efeitos de aditivos foram avaliados dentro de cada forragem usando os mesmos contrastes supracitados. A opção LSMEANS foi usada para gerar médias individuais para cada tratamento. Em todas as análises significâncias foram declaradas quando P <0,05.

Resultados e Discussão

Não houve interação forragem x aditivos (P>0,05) para os AGCC, mas a inclusão de taninos reduziu (P<0,05) a relação acetato:propionato comparado a monensina. Os níveis de taninos influenciaram de forma quadrática decrescente (P<0,05) a relação acetato:propionato (Tabela 1). A melhoria na eficiência alimentar está ligada na mudança da microbiota ruminal, sendo assim almeja-se diminuir a relação acetato:propionato, diminuindo a perda de energia pelo ruminante. Nesse sentido, para animais em pastejo a redução de acetato no rúmen torna-se elementar, haja vista, o aumento das concentrações de propionato serem o principal precursor de glicose nos ruminantes (RUSSEL E STROBEL, 1989; CALLAWAY ET AL., 2003). Com a adição do tanino teve uma resposta positiva nesta relação de acetato:propionato. Estudos de  Bhatta et al. (2009), também verificaram que a inclusão de taninos reduziu a relação acetato:propionato.

Conclusões

A inclusão de tanino reduziu a relação acetato:propionato.

Gráficos e Tabelas




Referências

BUENO, I. C. S.; BRANDI, R. A.; FRANZOLIN, R.; BENETEL, G.; FAGUNDES, G. M.; ABDALLA, A. L.; LOUVANDINI, H.; MUIR, J. P. In vitro methane production and tolerance to condensed tannins in five ruminant species. Animal Feed Science and Technology, 205., 1–9, 2015.   BHATTA, R.;SHINDE A. K.; VAITHIYANATHAN, S; SANKHYAN, S. K.; VERMA, D. L.. Effect of polyethylene glycol-6000 on nutrient intake, digestion and growth of kids browsing Prosopis cineraria. Animal Feed Science and Technology, 101:45–54., 2002.   BHATTA , R.; UYENO Y.; TAJIMA, K.; TAKENAKA, A.; YABUMOTO, Y.; NONAKA, I.; ENISHI, O.; KURIHARA, M. Difference in the nature of tannins on in vitro ruminal methane and volatile fatty acid production and on methanogenic archaea and protozoal populations. Journal of Dairy Science. 92 :5512–5522, 2009.   CALLAWAY, T. R.; EDRINGTON, T. S.; RYCHLIK, J. L.; GENOVESE K. J., POOLE, T. L.; JUNG, Y. S.; BISCHOFF, K. M.; ANDERSON, R. C.; NISBET, D. J. Ionophores: Their Use as Ruminant Growth Promotants and Impact on Food Safety. Ionophores Impact on Food Safety. Current Issues Intestinal Microbiology, 4: 43-51, 2003.   CARULLA, J. E.; MACHMUELLER, A.; HESS, H. D. Supplementation of Acacia mearnsii tannins decrease methanogenesis and urinary nitrogen in forage-fed sheep. Australian Journal of Agricultural Research, 56, 961–970., 2005.   CLARK S.; DALY R.; JORDAN E.; LEE J.; MATHEW A.; EBNER P. The future of biosecurity and antimicrobial use in livestock production in the United States and the role of extention. Journal of Animal Science. 90:2861-2872, 2012.   FRUTOS, P., HERVÁS, G., GIRÁLDEZ F. J. et al. Digestive utilization of quebracho-treated soya bean meals in sheep. Jornal of Agricultural Science, v.134, n.1, p. 101-108, 2000.   HEGARTY, R.S. Reducing rumen methane emissions through elimination of rumen protozoa. Australian Journal Agriculture Research, v.50, n.8, p.1321-1327, 1999.   MOLLENHAUER, H., H.; MORRÉ, D., J.; ROWE, L., D. Alteration off intracelular traffic by monensin, mechanism, specifity and relationship to toxicity. Biochimica Byophysica Acta. 1031, p.225-246, 1990.   McDOUGAL, E. Studies on ruminant saliva. The composition and output of sheep’s saliva. Biochemical Journal, 43, 99-109, 1949. RUSSELL, J.B. Rumen microbiology and its role in ruminant nutrition. New York, 2002, 139.RUSSELL, J.B.; STROBEL, H.J. Effect of ionophores on ruminal fermentation. Applied and Environmental Microbiology, v.55, n.1-6, 1989. TEDESCHI, L.O.; CALLAWAY, T.R.; MUIR, J.P.; ANDERSON, R.C. Potential environmental benefits of feed additives and other strategies for ruminant production. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 40, p.291-309, 2011. YÁNEZ-RUIZ, D. R.; BANNICK, A. ; DIJKSTRA, J.; KEBREAB, E.; MORGAVI, D. P.;O’KIELY, P.;REYNOLDS, C. K.;SCHWARM, A.; SHINGFIELD, K. J.; YU, Z.; HRISTOV, A.N. Design, implementation and interpretation of in vitro batch culture experiments to assess enteric methane mitigation in ruminants—a review. Animal Feed Science and Technology. 2016.