Perfil fermentativo de silagem de grão de milho reidratado

Felipe Evangelista Pimentel1, João Paulo Santos Roseira2, Odilon Gomes Pereira3, Mariele Cristina Nascimento Agarussi4, Ricardo Martins Pinho5, Rosinéa Aparecida de Paula6, Vanessa Paula da Silva7, Jaína Oliveira Alves8
1 - Universidade Federal de Viçosa
2 - Universidade Federal de Viçosa
3 - Universidade Federal de Viçosa
4 - Universidade Federal de Viçosa
5 - Universidade Federal de Viçosa
6 - Universidade Federal de Viçosa
7 - Universidade Federal de Viçosa
8 - Universidade Federal de Viçosa

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o perfil fermentativo de silagem de grão úmido reidratado, tratado e não tratado com inoculante bacteriano. Foi utilizado um esquema fatorial 3 × 10, com e sem inoculante bacteriano (I) no delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. A composição química do material teste foi analisada, bem como o teor de MS, pH, nitrogênio amoniacal, carboidratos solúveis, ácido lático, acético, propiônico e butírico das silagens nos dias 3,7,21,56,90,120,180,270 e 360 dias de fermentação. Houve efeito de interação IxP (p<0,05) para a maioria das variáveis analisadas, com exceção de matéria seca e ácido butírico. A adição de inoculante altera o perfil fermentativo da silagem.

Palavras-chave: milho reidratado, aditivo microbiológico, perfil fermentativo

Fermentation profile of moist grain silage rehydrated corn

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the fermentative profile of moist grain rehydrated silages treated and untreated with bacterial inoculant. A 3 × 10 factorial scheme, with and without bacterial inoculant (I) was used in the completely randomized design, with three replications. The chemical composition of the material was analyzed as well as the MS, pH, ammoniacal nitrogen, soluble carbohydrates, lactic acid, acetic, propionic and butyric contents of the silages at days 3,7,21,56,90,120,180,270 and 360 days of fermentation. There was an IxP interaction effect (p <0.05) for most of the analyzed variables, with the exception of dry matter and butyric acid. The addition of inoculant alters the fermentation profile of the silage.
Keywords: rehydrated corn, microbiological additive, fermentative profile


Introdução

A silagem de grão úmido reidratado consiste na moagem do grão seguido pela reconstituição da umidade para níveis entre 30 e 40% (Pereira et al.,2013), e manutenção em meio anaeróbio. Na ausência de maquinários adequados para a colheita de milho com alta umidade e diante de algumas limitações climáticas o uso dessa técnica de ensilagem torna-se uma alternativa. A quantificação de parâmetros fermentativos, como pH, carboidratos solúveis em água, nitrogênio amoniacal, bem como o teor de ácidos orgânicos são características que permitirão mostrar as alterações que ocorrem no material ensilado ao longo do período de armazenamento. No entanto, o acesso a informações da interação do uso desta técnica e a utilização de inoculantes são limitadas (Ferrareto, Fredin e Shaver, 2015). Portanto, objetiva-se com o presente estudo avaliar o perfil fermentativo da silagem de de grão de milho reidratado em diferentes períodos de fermentação, bem como o efeito quando associado a utilização de aditivos microbianos.

Revisão Bibliográfica

O uso da ensilagem de grão úmido reidratado favorece a logística de armazenamento, por não necessitar de silos especializados, uma vez que silos como trincheira podem ser utilizados. Além de evitar que ocorram perdas quantitativas, por ataque de insetos, benefícios aquém dos quantitativos são adicionados, devido a possibilidade de redução de contaminação principalmente por fungos, desde que práticas corretas de manejo sejam adotadas (Jobim, et al., 1999). Outros benefícios como do ponto de vista nutricional são alcançados, podendo destacar a melhoria na digestibilidade da matéria seca (Benton et al., 2005; Carvalho et al., 2016) e principalmente na digestibilidade do amido (Ferrareto, Fredin e Shaver, 2015). Fatores como nível de umidade, processamento anterior e ensilagem afetam o processo fermentativo (Kennelly e Weinberg, 2003). O uso de aditivos microbianos também pode alterar a dinâmica de fermentação. A inoculação microbiana pode acelerar a fermentação e aumentar a produção de ácido desejável (Ferrareto et al. 2015). Hoffman et al. (2011) verificaram que a inoculação e o tempo de ensilagem aumentaram as concentrações de ácido lático em 1,6 vezes e de ácido acético em 1,2 vezes; além da diminuição do pH; avaliando o material até os 240 dias de fermentação. Se tratando de aditivos microbianos, são utilizadas cepas de bactérias láticas em associação ou não à enzimas. Destas cepas podemos destacar dois grupos principais, as homofermentativas e as heterofermentativas. Ao inocular a silagem com bactérias homofermentativas respostas como rápido decréscimo no pH, menor pH final, menor teor de nitrogênio amoniacal devido a menor quebra de proteínas, rápido acúmulo de ácido lático com maiores concentrações, menor teor de ácido acético e possíveis melhorias na recuperação de matéria seca podem ser esperadas (Kennelly e Weinberg, 2003). O principal foco do uso de cepas heterofermentativas consiste no possível incremento na estabilidade aeróbia da silagem. A combinação de diferentes cepas, seja estas homofermentativas ou heterofermentativas também pode ser utilizado.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa – UFV. O milho foi moído em peneira de 3 mm e reidratado. Para avaliação nos tempos 1,3,7,21,56,90,180 e 270 dias de fermentação o material foi ensilado em bags com três repetições. Nos bags foram adicionados 700 g de material e a condição de anaerobiose foi estabelecida utilizando seladora a vácuo. Aos 120 e 360 dias foram utilizados quatro repetições, consistida de baldes de 12 litros de volume. O material foi compactado, os baldes tampados, selados com fita adesiva e mantidos fechados até o momento de abertura. Foi utilizado um esquema fatorial 3 x 10, ausência ou presença de inoculante em delineamento inteiramente casualizado. Os inoculantes comercial utilizado foram o Lalsil Milho que apresenta em sua composição sacarose, Lactobacillus plantarum >3,0 x 1010 UFC/g e Propionibacterium acidipropionici >3,0 x 1010 UFC/g e o Lalsil AS (Lactobacillus buchneri CNCM-I 4323 1,0 x1011 UFC/g e sacarose). A taxa de aplicação utilizada foi de 105 unidade formadora de colônia (UFC/g) por grama de material. O material ensilado apresentou MS de 68,11; ph de 5,85 e carboidratos solúveis de 2,0 % da MS. No decorrer dos períodos de fermentação, os silos foram abertos e avaliados quanto a matéria seca e nitrogênio amoniacal (Detmann et al. 2012), pH utilizando potenciômetro, carboidrato solúvel (Nelson, 1988) e ácidos orgânicos (Siegfried, 1984). Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste  de Scott-Knott a 5% de significância, usando o programa estatístico R (R CORE TEAM, 2017).

Resultados e Discussão

A adição de Lalsil AS proporcionou um maior teor de matéria seca na silagem (Tabela 1), possivelmente pelo maior controle de microrganismos deterioradores ao longo do tempo de armazenamento, uma vez que leveduras mesmo em meio anaeróbio e a um baixo pH podem sobreviver, consumindo assim carboidratos solúveis e ácidos orgânicos presentes. A matéria seca ao longo do período de fermentação foi variável, isso pode ser explicado pelas fermentações inicias até a estabilização de pH em ambos tratamentos, e consequentemente sobre a microflora epifítica e de inoculação.  Com exceção das variáveis matéria seca e ácido propiônico, as demais apresentaram interação (p<0,05) entre inoculante e período. A redução no pH ocorreu a partir de 3 dias de fermentação. Carvalho et al. (2016) observaram mudanças no pH apenas a partir de 30 dias de fermentação. A silagem que não recebeu aditivos microbiano, a estabilização ocorreu apenas após 120 dias de armazenamento devido a normalização da concentração de ácidos lático e acético no interior do silo (Tabela 2). O mesmo período de 120 dias foi o observado para a estabilização de pH entre as silagens aditivadas. Em relação a utilização dos aditivos, embora tenha ocorrido um aumento do pH aos 360 dias, observou um período maior de estabilização entre 90 e 270 dias para Lalsil Milho e 120 a 270 dias para Lalsil AS. A rápida queda do pH desta silagem é característico de silagem de grão úmido, uma vez que este material apresenta baixa capacidade tampão (6,0 – 7,0 e.mg/100g MS), necessitando de uma menor quantidade de ácido lático para redução do pH (Jobim et al. 1997). A utilização de Lalsil Milho não afetou a concentração de carboidratos solúveis ao longo do tempo de armazenamento (Tabela 1). Aos 270 e 360 dias o Lalsil As apresentou menores valores de carboidratos solúveis em água. Em relação a variável nitrogênio amoniacal (Tabela 1) a partir de 21 dias de fermentação as silagens controle e com Lalsil Milho apresentaram os maiores teores de nitrogênio amoniacal. Os dados observados podem ser devido a antecipação da proteólise em ambos os tratamentos, uma vez que Lactobacillus buchneri apresenta uma menor atividade inicial. A partir de 56 dias de fermentação a silagem com Lalsil AS apresentou a maior concentração de ácido acético no material, o que já era esperado, uma vez que este aditivo apresenta em sua composição o Lactobacillus buchneri, microrganismo este capaz de converter ácido lático a ácido acético (Oude Elferink et al., 2001). Silagem com Lalsil Milho a concentração de ácido acético não variou com o tempo de armazenamento. A silagem testemunha a estabilização ocorreu a partir de 120 dias, conciliando com a estabilização das variáveis pH e ácido lático.

Conclusões

Recomenda-se a abertura das silagens após 120 dias de armazenamento. Período que proporcionou uma adequada estabilização do processo fermentativo e melhor teor de ácido lático e principalmente ácido acético, pensando-se na possibilidade de obtenção de silagens mais estáveis.

Gráficos e Tabelas




Referências

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