Se você se interessa por zootecnia e acessou suas redes sociais nesta semana, certamente deve ter visto notícias sobre a zootecnista Laila Oliveira-LaCasse. A goiana, que mora no Havaí e trabalha em uma clínica de fertilização que atende casais com dificuldade para ter filhos, recebeu recentemente o prêmio de embriologista destaque do ano dos Estados Unidos. A condecoração foi entregue pelo Donor Edge Bank (DEB) em um congresso realizado pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM, na sigla em inglês), que reúne participantes de mais de 90 países. A Laila conversou com a Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ) para contar mais detalhes sobre a sua jornada profissional, principalmente sobre a sua migração de trabalhos com reprodução animal para reprodução humana.

Da direita para esquerda: embriologista Laila, John Frattarelli, médico especialista em reprodução humana e a embriologista Jamie Kim, que também foi premiada no ASRM (Foto: arquivo pessoal)

Laila se formou em zootecnia em 2000, pela PUC Goiás. Natural de Piranhas, interior do Estado, ela sempre almejou trabalhar fora do país. Antes de começar a atuar com reprodução humana no Havaí, a zootecnista fez mestrado em produção animal na Universidade dos Açores, em Portugal.

“Quando eu me mudei para Portugal, eu fiquei um ano lá antes de começar o mestrado, atuando com pesquisa para universidade no laboratório de reprodução, fazendo trabalho com fecundação in vitro. Depois eu fiz o mestrado, por dois anos. Após isso eu voltei para o Brasil, em 2007”.

Quando retornou ao Brasil, Laila integrou o time da Vitrogen. Em pouco tempo, ela de destacou na empresa e foi para a Venezuela, onde ficou por seis meses como chefe de laboratório.

“Como eles tinham franquia, eu ia para iniciar o negócio, fazer o treinamento e quando o laboratório já estava funcionando bem sozinho eu me mudava. Da Venezuela eu fui para o México, onde fiquei cerca de dois anos. Depois de lá, eu voltei para a Venezuela. Depois disso tudo que eu fui para o Havaí”.

Laila chegou ao Havaí em 2010, com experiência em reprodução animal adquirida em quatro países. De acordo com a zootecnista, ela nunca teve pretensões de trabalhar com reprodução humana, mudança que aconteceu por acaso. Antes da migração, ela tinha como objetivo ingressar no doutorado.

“Quando eu cheguei no Havaí, eu pensei em fazer doutorado na University of Hawaii. Eu comecei a trabalhar lá como voluntária nas pesquisas, para ver se eu conseguia entrar no doutorado. Para entrar no doutorado, o orientador que me acolhesse tinha que ganhar um apoio financeiro para ele poder financiar estudantes nas pesquisas de doutorado deles. A pessoa com quem eu estava trabalhando não conseguiu. E depois disso eu percebi que na verdade eu não queria doutorado, não deu certo. E aqui no Havaí não tinha muita reprodução animal na área bovina, não tinham muitos trabalhos avançados nessa área como se tem no Brasil”.

REPRODUÇÃO HUMANA

Laila começou seus trabalhos com reprodução humana na empresa Fertility Institute of Hawai‘i, onde atua até hoje. A oportunidade de trabalho surgiu quando ela foi até a clínica para realizar um tratamento.

“Eles viram que eu era embriologista e a gente começou a conversar sobre isso. Daí me chamaram para uma entrevista e acabei conseguindo o emprego, mesmo sem me candidatar para a vaga”.

Segundo Laila, nos Estados Unidos não existem impedimentos para que um zootecnista atue na área de reprodução humana.

“Com o tempo eu entendi que aqui nos EUA eles não tem distinção se você é da área animal, ou da biologia, e não pode trabalhar com reprodução humana. Pelo contrário, eles preferem que seja assim até, porque você já vem com uma bagagem, uma experiência, principalmente na área de pesquisa”.

A sua formação em zootecnia e sua experiência de mercado de trabalho foram o que habilitou Laila para este campo de atuação, que pode vir a ser mais explorado por zootecnistas frente ao exemplo da profissional.

“Eu fiz a faculdade na PUC, mestrado em Portugal, e o restante da minha experiência veio com os treinamentos em laboratório. Em cada laboratório que você é contratado, você obrigatoriamente precisa fazer um treinamento para poder aprender o protocolo específico deles, para daí sim você ser considerada uma embriologista sênior. Independente da sua formação e especialização”.

Para ela, os cursos de zootecnia no Brasil precisam explorar mais o campo de laboratório para os estudantes. Na sua opinião, atualmente, os profissionais são muito induzidos a trabalharem no campo.

“Eu acho que os zootecnistas podem sim trabalhar na área de reprodução humana. Quando a gente faz o curso, a gente faz matéria de biologia, química, laboratório… então eu acho que pode sim. Quando fiz mestrado, eu não via essa diferença e nenhum impasse para zootecnistas para trabalhar com reprodução. Nunca notei nenhuma distinção ou competição com área correlatas como acontece no Brasil como engenheiros agrônomos, médicos veterinários e zootecnistas. Hoje em dia isso já deveria ser coisa do passado”.

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