Fácil acesso, baixo investimento e efetividade em pequenos espaços. Estas são as principais premissas do Sisteminha, um projeto genuinamente brasileiro e que hoje é conhecido mundialmente.

A partir da recirculação dos nutrientes provenientes de tanques de peixes, o projeto consiste em um sistema de produção integrado e escalonado que inclui a produção de hortaliças, pequenos animais e outros produtos.

Patenteado há 10 anos, o Sisteminha é fruto de pesquisas do zootecnista Luiz Carlos Guilherme, da Embrapa Cocais, em São Luís, Maranhão.

Em 2019, trabalho do zootecnista foi destaque no Globo Rural (Foto: Globo/Reprodução)

E se muito se fala em potencial transformador da Zootecnia, Luiz Carlos, que é formado há mais de 40 anos, levou a expressão à risca, colocando o combate da fome em um novo patamar.

Em 2005, quando fazia seu doutorado em genética e bioquímica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o zootecnista desenvolveu estudos reprodutivos e citogenéticos na população da espécie Rhamdia quelen, peixes do rio Uberabinha, de Uberlândia, Minas Gerais.

O projeto envolvia o desenvolvimento de sistema artesanal de recirculação d’água para a criação.

“Estávamos fazendo um trabalho com os peixes do Rio Uberabinha e precisava fazer a reprodução dos peixes e mantê-los em condição de análise nos laboratórios. E durante esse período tínhamos uma dificuldade de manter esses animais na estação da universidade. Com isso desenvolvi um processo, sistema com filtro biológico com um sedimentador e conseguimos uma redução do custo de aproximadamente 95% desse biofiltro, que é o que permite que os peixes sobrevivessem”, explicou há dois anos, em entrevista ao Diário de Uberlândia.

A pesquisa, como não poderia deixar de ser, foi um sucesso. E após a conclusão do doutorado, vieram três pedidos para solicitações de patentes.

Uma delas é, justamente, o Sistema Simplificado de Produção de Alimentos, popularmente chamado de Sisteminha, que tem como diferencial permitir a subsistência de famílias na zona rural e urbana em espaços pequenos, a partir de 100 m2.

A solução foi pensada para atender às necessidades nutricionais de uma família de até quatro pessoas.

Conceito e protagonismo

O Sisteminha, lançado pela Embrapa em 2011, tem condições de atender famílias localizadas em todos os biomas brasileiros.

A ideia principal é que pessoas desassistidas ou com baixo potencial econômico produzam o próprio alimento no quintal de casa, com a integração entre a criação de peixes, aves, hortaliças, frutas e legumes.

(Foto: arquivo/Luiz Guilherme)

Com um conceito de instalação muito simples, logo a ideia se espalhou, principalmente após o financiamento da Embrapa. Em 2019, dados indicavam que em oito anos de patente, mais de 4.600 famílias já haviam sido beneficiadas pelo projeto só no Brasil.

Depois que ganhou divulgação na internet, o Sisteminha também rodou o mundo e passou a ajudar, inclusive, famílias de países africanos como Camarões, Etiópia, Tanzânia, Gana, Uganda, Angola, Senegal e Moçambique.

Funcionamento

Segundo a Embrapa, o Sisteminha é similar a uma linha de produção de fábrica. Em cada uma de suas fases, novos pontos vão sendo acrescentados, com tudo se adaptando a realidade de cada família que adere ao programa.

Toda a estrutura do sistema custa entre R$ 5 mil e R$ 8 mil, montante considerado baixo para a capacidade de atendimento do programa.

Como é voltado para famílias carentes, existem iniciativas municipais que doam a construção do projeto para diversas pessoas – exemplo ocorre no Maranhão. A própria Embrapa já possui mapeamentos no país para auxílio neste tipo de investimento.

“O Sisteminha não é uma tecnologia isolada em si, mas um ‘pacote’ de soluções tecnológicas integradas, com muitas possibilidades de combinações. O módulo básico é a piscicultura e cada produtor adota os módulos disponíveis de acordo com seus interesses. A tecnologia desenvolve-se aos moldes da inovação aberta, com a forte participação dos beneficiários moldando o desenvolvimento e evolução da tecnologia”, destaca a Embrapa.

Confira abaixo os 15 módulos que integram o Sisteminha, mas que podem ser desenvolvidos de maneira individualizada.

  • Produção de peixes
  • Produção de ovos de galinhas
  • Produção de frangos de corte
  • Produção de minhocas
  • Produção vegetal (carboidratos, hortaliças, chás e temperos; frutíferas e madeireiras)
  • Produção de composto
  • Produção de ovos de codorna
  • Produção de porquinhos da Índia
  • Aquaponia
  • Produção de larvas de moscas
  • Produção de ruminantes
  • Produção de suínos
  • Biodigestor
  • Sistema de tratamento de água potável
  • Carvoaria artesanal.

No Sisteminha, tudo começa com a criação de peixes. O conceito principal é simples: gira em torno de um balde, um cano de PVC, uma mangueira de limpeza de piscina e uma garrafa pet. Juntos, os itens formam o biofiltro, principal parte do projeto.

O equipamento permite que um tanque com 10 mil litros de água produza até 40 quilos de tilápia a cada 90 dias.

A estrutura do tanque é formada por itens baratos, incluindo sustentações de madeira ou bambu, papelão e argila.

Dentro do tanque, o projeto funciona como um mecanismo quase que independente.

(Imagem: Reprodução/Sisteminha)

Segundo a Embrapa, a água com restos de ração e fezes dos peixes passa por um sedimentador, que retém o material sólido. Antes de voltar para o tanque, a água passa pelo biofiltro.

A partir daqui começa um processo de reaproveitamento constante, onde a água, que serve como biofertilizantes, é utilizada na irrigação das hortaliças.

A plantação deste alimento, inclusive, é feita de maneira escalonada, para que a colheita seja gradual, sem falta nem sobra. O projeto envolve, também, criação de galinhas para carne e ovos.

Se o espaço permitir, as aves também podem ter igual participação no processo de autoalimentação do Sisteminha, já que o esterco delas vira compostagem e, em um minhocário, se torna húmus, um adubo natural.

Conhecimento compartilhado

Além da Embrapa divulgar ao máximo o funcionamento do Sisteminha, o próprio zootecnista Luiz Guilherme faz isso.

Ele tem um canal no YouTube, com mais de 16 mil inscritos, onde já publicou diversos vídeos em que detalha a sua invenção e compartilha as centenas de possibilidades que o projeto oferece.

“O Sisteminha prioriza a inclusão da agricultura familiar com ênfase na segurança alimentar, nutrição e saúde a partir da miniaturização e escalonamento da produção agrícola. O modelo garante uma frequência de produção de alimentos diversos para aquela parcela da população, que inicialmente exclui as relações de venda para o mercado e que inclui prioritariamente o interesse na melhoria da qualidade de vida em relação ao próprio consumo familiar. Também prioriza uma produção de maior diversidade de alimentos, […]  de modo a se manter o foco na segurança alimentar e redução da pobreza, ao invés de grandes produções destinadas ao mercado”.

2 Comentários
  1. carlos lopes teixeira 3 anos atrás

    Envia essa noticia pro meu zap, para eu compartilhar. carlos 81 997255136

    • Alexandre Luiz Siqueira de Oliveira 2 anos atrás

      Já recebeu o link da notícia?

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