Misturar uma pequena quantidade de extrato de erva-mate à ração do gado de corte pode ser suficiente para produzir uma carne com mais benefícios à saúde, mais agradável ao paladar e com maior prazo de validade, segundo um estudo desenvolvido durante três anos por pesquisadores brasileiros e dinamarqueses. Os resultados do trabalho foram divulgados em agosto deste ano, com um workshop no Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP).
De acordo com informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), uma das apoiadoras do estudo, o projeto se chama “Pão e Carne para o Futuro”. Segundo a fundação, o principal objetivo do trabalho era desenvolver estratégias inovadoras para a produção de proteína animal e de pão.
“Hoje, se alguém quiser saber como determinada ração afeta o perfil metabólico da carne, conseguimos responder sem dificuldade a essa pergunta graças ao projeto”, disse Daniel Rodrigues Cardoso, professor do IQSC-USP e coordenador da iniciativa do lado brasileiro.
De acordo com Cardoso, também foi possível perceber através da pesquisa que existem benefícios semelhantes na alimentação do frango de corte quando a erva-mate é inserida na ração. Com o trabalho, os pesquisadores descobriram maneiras mais eficientes e saudáveis de produzir carne curada e estratégias para incorporar até 30% de farinha de mandioca à fabricação de pão em escala industrial.
BENEFÍCIOS EFETIVOS
De acordo com os pesquisadores, há uma série de indícios sobre os benefícios à saúde humana que podem estar ligados ao consumo do mate. Entre eles, está a possibilidade que a erva ajuda a facilitar o controle do peso e modera processos oxidativos e inflamatórios, por exemplo.
Segundo a FAPESP, os efeitos do consumo do mate foram estudados em um plantel de cerca de 50 cabeças de gado, que recebiam um extrato da erva em proporções de 0,25% a 1,5% do total de sua ração.
“O desempenho foi melhor inclusive nos testes de força de cisalhamento [feitos por um aparelho que verifica a textura da carne]”, disse Renata Tieko Nassu, da Embrapa Pecuária Sudeste.
Ao que tudo indica, o efeito benéfico é mediado pela atuação do consumo de mate sobre as bactérias do sistema digestivo dos bois, favorecendo a multiplicação de certos microrganismos. Isso, por sua vez, altera a maneira como o gado absorve nutrientes e, consequentemente, afeta a qualidade da carne. Além disso, os pesquisadores também observaram uma aparente redução do estresse e melhora no bem-estar animal, o que também ajuda a melhorar a qualidade da carne.
Para que a suplementação seja aplicada em larga escala nos rebanhos do país, o próximo passo é achar uma maneira mais econômica de oferecê-la aos animais, segundo explicou Rymer Ramiz Tullio, da Embrapa Pecuária Sudeste, uma das participantes do projeto.