As mudanças no mercado da bovinocultura foram pauta do programa Giro do Boi desta semana, que entrevistou o zootecnista formado pela Unesp de Jaboticabal, Adriano Rúbio. Ele possui especialização na França e MBA em gestão Agroindustrial pela FGV.
Durante a entrevista, Rúbio, que tem mais de 30 anos de profissão dedicados à bovinocultura, relembrou as transformações pelas quais passou o setor desde que começou seu trabalho. Segundo ele, as “mudanças efetivas” começaram há cerca de duas décadas.]
“Somente nos últimos vinte anos mesmo é que a pecuária sofreu alguns choques de mudança. Então se a gente retomar vinte anos atrás, a primeira grande iniciativa talvez nesse sentido veio lá do Mato Grosso do Sul com a promulgação do incentivo ao novilho precoce, mas até então não tinha grande diferenciação do produto final para o frigorífico. A partir daí outras revoluções importantes começaram a aparecer, como o programa Nelore Natural”, relembrou Rúbio.
Outra grande revolução destacada pelo zootecnista foi a promovida pela IATF a partir de 2006.
“O pecuarista que tem essa memória se lembra o que era inseminar um rebanho de vacas de corte olhando o cio. […] Arriava o cavalo às 4h da manhã, ficava no rodeio de vaca de manhã e de tarde. […] Se você puxar os números, em 2000 foram 1,8 milhão de doses (de sêmen) vendidas. Nós fechamos 2017 com mais de 12 milhões de doses. Realmente toda essa efervescência veio mudando a pecuária, só que de vinte anos para cá, se fizer as contas, são quatro gerações em bovinocultura de corte”.
PRESSÃO
Na entrevista, Rúbio lamentou, entretanto, o fato do pecuarista ter esperado a “pressão” do mercado para que tais mudanças trouxessem impactos em produtividade para o setor.
“Se a gente avaliar como um todo o setor, a pecuária tem que passar, e está passando, por um processo de profissionalização, mas esta profissionalização, na cultura de outros países, tem diversas motivações. Na nossa cultura, a mudança na pecuária vem pela dor. Quem não for profissional vai sair da atividade”.
Para se manter na atividade, segundo o zootecnista, o produtor deve aumentar sua produtividade à medida que atende o consumidor final. E este mercado também passou por processos transformadores, como a chamada “gourmetização” da carne bovina.
FERRAMENTAS
Entre as ferramentas que podem contribuir com estes dois requisitos para o produtor se manter competitivo na pecuária está o cruzamento industrial, que pode aumentar o desfrute da fazenda colocando mais carne na carcaça de cada animal, além de poder melhorar a qualidade do produto ofertado. O cruzamento voltou a se popularizar no Brasil, mas desta vez com mais solidez e mais conhecimento, o que coloca luz sobre as discussões e decisões tomadas.
“Nós tivemos algumas ondas no cruzamento no país, mas sempre aquelas ondas a partir da discussão como no futebol, na religião, ‘sou a favor, sou contra‘. Mas, na verdade, o cruzamento industrial é uma técnica de melhoramento”, resumiu Rúbio.
“Não é novidade, a novidade é a gente ter muita responsabilidade com o nosso produtor e não ficar apresentando novidade porque durante muito tempo, o brasileiro, entre produtores, técnicos de associações de raça e toda uma coletividade, apresentava produtos milagrosos. Então nós tínhamos uma raça determinada que ia resolver os problemas das fazendas, o problema da humidícola, o problema da alimentação, do mal manejo. Nenhuma raça sozinha vai trazer isso pra fazenda”, frisou o zootecnista.
RAÇAS
Rúbio listou atualmente 617 raças no mundo inteiro com herd book constituído, entre as Bos indicus, divididas entre indianas e africanas, as Bos taurus, separadas entre continentais e britânicas, e as sintéticas ou compostas.
“Todas as raças têm um ponto forte, então esse ponto força de cada raça é que o criador tem que conhecer e utilizar”, recomendou.
Durante a entrevista, Rúbio listou os pontos fortes de cada linhagem e como o produtor pode se valer de suas características produtivas para aumentar o desfrute dentro da porteira e aproveitar oportunidades de mercado, como protocolos que remuneram mais por qualidade da carne.
É o caso do Protocolo 1953. “É um projeto que abraça a pecuária brasileira. Nós falamos aqui de raças e, por trás das raças, tem uma coletividade, tem um movimento todo de pecuária de corte. Então isso é a ponta do iceberg de um movimento que vem atrás, de profissionais do setor que hoje querem sintonia fina também na genética”.