Ação antibacteriana do fungo Pisolithus tinctorius no controle de Mastite Bovina

Brenda Veridiane Dias1, Élida Cristina Batista Pereira2, Rafael Lopes de Oliveira3, Silvana Lúcia dos Santos Medeiros4
1 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais
2 - Santa Casa de Misericórdia de Lavras
3 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais
4 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

RESUMO -

O trabalho a seguir teve como base a cultura popular, que contribui de forma relevante, para publicar o potencial terapêutico dos produtos naturais, o que torna os estudos nesta área inexaustivos para validar seu uso. O Pisolithus tinctorius é um fungo que possui o papel de proteger algumas espécies de Eucaliptus sp contra doenças microbióticas além de ajudar na obtenção de sais minerais que são necessários para o metabolismo. O objetivo foi avaliar a atividade antibacteriana do fungo e desenvolver uma fórmula contendo o fungo como agente terapêutico. As amostras de P. tinctorius foram coletadas em Nazareno – MG e então submetidas a testes de insolubilidade e extração pela técnica de maceração com solventes em ordem crescente de polaridade em diferentes concentrações de 10 e 25% (m/v). O extrato obtido foi testado contra diferentes bactérias para avaliar seu potencial inibitório. A fração metabólica a 25% (m/v) foi efetiva contra as bactérias: S. aureus, M. ripusus e P. mirabilis.

Palavras-chave: formulações antibacterianas, mastite, Pisolithus tinctorius

Antibacterial action of Pisolithus tinctorius fungus in the control of Bovine Mastitis

ABSTRACT - The following work was based on popular culture, which contributes in a relevant way, to publish the therapeutic potential of natural products, which makes studies in this area inexhaustible to validate its use. Pisolithus tinctorius is a fungus that has the role of protecting some species of Eucalyptus sp. Against microbiotic diseases besides helping to obtain minerals that are necessary for the metabolism. The objective was to evaluate the antibacterial activity of the fungus and to develop one formula containing a therapeutic agent. Samples of P. Tinctorius were collected in Nazareno - MG and then submitted to insolubility and extraction tests by the solvent maceration technique in increasing order of polarity in different concentrations of 10 and 25% (m / v). The obtained extract was tested against different bacteria to evaluate its inhibitory potential. The metabolic fraction at 25% (m / v) was effective against the bacteria: S. aureus, M. ripusus and P. mirabilis.
Keywords: antibacterial formulations, mastitis, Pisolithus tinctorius


Introdução

São diversas as causas de resíduos de antibióticos no leite, porém a principal causa da ocorrência é o tratamento da mastite (MILKPOINT, 2000). A mastite acarreta a diminuição da secreção láctea ou a perda total da mesma, além de representar importante problema da saúde pública. O leite proveniente de vacas infectadas apresenta modificações em sua composição, alterando consequentemente suas características organolépticas, físicas, químicas e microbiológicas (VIANNI, 1986). O resíduo deixado pelos antibióticos utilizados no tratamento da infecção pode interferir na produção de alguns derivados lácteos, não sendo este o principal problema, uma vez que vestígios podem causar danos à saúde do consumidor. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a atividade antibacteriana do fungo Pisolithus tinctorius e desenvolver uma formulação contendo o fungo como agente terapêutico para o tratamento da mastite bovina, visando reduzir o uso dos antibióticos.

Revisão Bibliográfica

A mastite é um processo inflamatório causado por microrganismos nas glândulas mamárias de bovinos, a infecção pode gerar grandes perdas econômicas para produtores rurais devido ao aumento na permeabilidade vascular, componentes do plasma se misturam com o leite alterando sua aparência e forma. Um dos microrganismos envolvidos neste processo inflamatório é o Staphylococcus aureus (CARLTON e McGAVIN, 1998). O tratamento para a mastite é feito a base de antibióticos, uma classe de fármacos utilizada contra microrganismos, sendo extraídos de seres vivos e na maioria das vezes de fungos (CORRÊA e CORRÊA, 2001). O uso desses antibióticos é um fator de grande preocupação para a indústria e saúde pública. A presença de resíduos de antibióticos em leite pode causar vários efeitos indesejáveis, como hipersensibilidade e possível choque anafilático em indivíduos alérgicos a essas substâncias, desequilíbrio da flora intestinal, além de efeito teratogênico. Aproximadamente 5 a 10% da população é hipersensível à penicilina (componente dos antibióticos), e apresentam reações alérgicas ao ingerirem concentrações de 1ppb dessa substância. Além disso, pequenas quantidades de antibióticos determinam resistência crônica de microrganismos presentes no trato intestinal humano (NASCIMENTO et al, 2001). Pisolithus tinctorius é um fungo micorrízico da classe Basidiomycetes, pertencente à família Sclerodermataceae. Tsantrizos e Kope (1991) citados por Zamuner et al. (2007), demonstraram que culturas de P. tinctorius exibiram forte atividade antifúngica e suas pesquisas permitiram o isolamento e a identificação de dois compostos antibióticos denominados pisolitina A e B. Extratos obtidos a partir do fungo apresentaram uma forte atividade, tanto bacteriostática como bactericida frente ao Bacillus subtilis (ZAMUNER, 2007).

Materiais e Métodos

As amostras do fungo P. tinctorius foram coletadas na zona rural de Nazareno–MG, em épocas distintas para avaliar possíveis interferências na função metabólica. Foram realizados testes para caracterizar o fungo quanto à sua solubilidade. Utilizou-se como solventes: água destilada, álcool e glicerina, nas concentrações de 1;10;25 e 50% (m/v). Preparou-se macerados utilizando solventes em ordem crescente de polaridade: hexano, diclorometano, acetato de etila e metanol nas concentrações de 10 e 25 % (m/v). Dos macerados evaporou-se todo o solvente, restando as frações metabólicas. As bactérias E. coli (A), S. aureus (B), S. epidermitis (C), P. mirabilis (D), Micrococcus lutteus (E), Salmonella tiphy (F) pertencentes ao Laboratório de Microbiologia, foram inoculadas em caldo BHI (Brain Heart Infusion) para ativação e crescimento, e incubadas em estufa a 35 – 37ºC por 24 horas. Os extratos metabólicos foram ressuspendidos em quantidade suficiente de álcool de cereais para serem inoculados. A técnica da macro diluição utilizada seguiu recomendações citadas por Oplustil (2004) demostradas na Tabela 1. As frações metabólicas foram: FN 10% hexano (1); FV 10% hexano (2); FN 25% hexano (3); FV 25% hexano (4); FN 10% diclorometano (5); FV 10% diclorometano (6); FN 25% diclorometano (7); FV 25% diclorometano (8); FN10% acetato de etila (9); FV 10% acetato de etila (10); FN 25% acetato de etila (10); FV 25% acetato de etila (12); FN 10% metanol (13); FV 10%metanol (14); FN 25% metanol (15) e FV 25% metanol (16). Após incubação 37° C por 24 horas não foi possível verificar turvação, portanto todos os tubos foram inoculados em placas contendo ágar sangue e EMB. Depois dos ensaios, a fração que apresentou a melhor atividade antibacteriana, foi utilizada para a fabricação de um novo extrato para ser incorporado à formulação. A formulação foi testada no úbere de animais fora da fase de lactação. Foram realizados testes de estabilidade física, verificando-se cor, odor e consistência.

Resultados e Discussão

O teste de solubilidade pode ser verificado na tabela 2 (Teste de solubilidade dos esporos fúngicos). A tabela é um indicativo para o desenvolvimento de formulações, sendo assim, o álcool ou a glicerina podem ser utilizados como agentes facilitadores da incorporação do fungo a uma forma farmacêutica. A grande maioria dos extratos apresentaram microbiota endógena, ou seja própria deles. O álcool de cereais utilizado para ressuspender o extrato livre de solvente apresentou atividade inibitória frente a todas as bactérias testadas, bem como inibição da microbiota dos extratos 9, 15 e 16. Percebe-se que houve uma atividade sinérgica entre álcool, microbiota endógena e extrato na inibição de alguns microrganismos testados. Os extratos 9, 15 e 16 não apresentaram microbiota endógena, porém apresentaram atividade inibitória frente a alguns microrganismos testados, fato esse que pode ser atribuído a atividade do metabólito. Por outro lado os microrganismos que apresentaram crescimento, demostraram resistência ao metabólito/álcool testado. Essa resistência pode ser atribuída ao sinergismo da microbiota endógena com o microrganismo testado. As características físicas mantiveram-se inalteradas por 30 dias, passado esse tempo a cor e consistência foram alteradas. A formulação para uso veterinário foi aplicada durante dois dias, porque no segundo dia um dos animais utilizados na pesquisa apresentou uma irritação no local de aplicação do creme. Esse fato pode ter várias causas, tanto relacionada ao próprio creme como a fatores externos, portanto sugere-se que seja feito um controle para que possam ser descartadas interferências. Para um resultado mais uniforme é indicado o cultivo em laboratório dos fungos com a finalidade de se obter uma quantidade mais expressiva de massa fúngica e ainda eliminar alguns dos interferentes como: local de coleta, época do ano e outros, para que desta forma seja possível identificar com clareza se a formulação de uso tópico pode ser utilizada como forma de amenizar ou perfazer os problemas causados pela mastite.

Conclusões

Concluiu-se que é grande a necessidade de estudar formas alternativas para o controle desta infecção que afeta amplamente os produtores rurais. Deve-se atentar as crendices populares do campo, pois, por vezes os produtos encontrados na própria região podem atuar nos tratamentos.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARLTON, W.W.; McGAVIN, M. D. Patologia veterinária especial: de Thomson. 2. ed. Porto Alegre : Artmed,1998. 672 p.   CORRÊA, J. C.; CORRÊA, V. L. F. Antibióticos: no dia-a-dia. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Rubio, 2001. 210 p.   MILKPOINT. Causas da presença de resíduos de antibióticos no leite. Disponível em: <www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/qualidade-do-leite/>   NASCIMENTO, G. G. F.; MAESTRO, V.; CAMPOS, M. S. P. Ocorrência de resíduos de antibióticos no leite comercializado em Piracicaba, SP. Revista de Nutrição, Campinas, v. 14, n. 2, p. 119-124, mai./ago. 2001.   OPLUSTIL, P. C. Procedimentos básicos em Microbiologia Clínica. 20. ed. São Paulo: Savier, 2004. 304 p.   VIANNI M.C.E. Influência de agentes etiológicos da mastite subclínica bovina sobre as características físico-químicas do leite. Tese de Mestrado, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 1986. 113p.   ZAMUNER, M.L.M. et al. Departamento de Farmácia e Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá. Identificação de dois triterpenos do fungo Pisolithus tinctorius. Maringá. 2007. Disponível em: <http://www.sbq.org.br/ranteriores/23/resumos/0321/index.html >





©2024 Associação Brasileira de Zootecnistas

Fazer login com suas credenciais

Esqueceu sua senha?