ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS, pH E N-AMONIACAL COMO CARACTERÍSTICAS FERMENTATIVAS EM SILAGEM DE MILHETO FORRAGEIRO ADITIVADA COM MDPS
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RESUMO -
Objetivou-se avaliar os teores de ácidos graxos voláteis, o pH e o N-amoniacal como características fermentativas em silagem de milheto forrageiro submetida a níveis de inclusão de MDPS como sequestrante de umidade. O milheto foi cultivado de forma convencional em solo de cerrado e utilizou-se da planta inteira para silagem, sendo esta picada de 1-2 cm e ensilada em mini silos de PVC com densidade de 550 kg/m³. Os tratamentos constituíram de quatro níveis de inclusão (0%, 5%, 10% e 15% da matéria fresca ensilada) e quatro repetições. Os mini silos foram abertos 60 dias após a ensilagem e foram analisados ácido lático, ácido acético, ácido propiônico, ácido butírico, pH e N-amoniacal. A inclusão de MDPS na silagem de milheto forrageiro influenciou positivamente de forma significativa em todos os parâmetros analisados.
VOLATILE FATTY ACIDS, pH AND N-AMONIACAL AS FERMENTATIVE CHARACTERISTICS IN FORAGE MILLION SILAGE ADDITIVATED WITH MDPS
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the volatile fatty acids, pH and N-ammonium content as fermentative characteristics in forage millet silage submitted to inclusion levels of MDPS as a moisture scavenger. The millet was cultivated in a conventional way in cerrado soil and the whole plant was used for silage, being this sting of 1-2 cm and ensiled in mini silos of PVC with density of 550 kg / m³. The treatments consisted of four inclusion levels (0%, 5%, 10% and 15% of the ensiled fresh matter) and four replications. The mini silos were opened 60 days after silage and lactic acid, acetic acid, propionic acid, butyric acid, pH and N-ammonia were analyzed. The inclusion of MDPS in forage millet silage influenced positively in all parameters analyzed.Introdução
Diversas opções para suprir a demanda de forragem, principalmente em período de escassez alimentar, vêm sendo estudadas. A técnica mais usual é a conservação da forragem excedente ou cultivada no período do verão para ser consumida no período mais crítico que é no inverno e a forma mais utilizada de conservação é a confecção de silagem. A obtenção de resultados satisfatórios na criação de bovinos em termos de desempenho está relacionada com a produção em quantidade e qualidade das forragens. O milheto vem surgindo como uma boa alternativa de alimentação animal nos períodos de escassez de forragem, tendo em vista que poderá ser cultivados em áreas tropicais, áridas e semiáridas, altas temperaturas, baixas precipitações, solos rasos e de baixa fertilidade. Apresenta grande potencial na produção de forragem para silagem na região central do Brasil como cultura principal ou como plantio de safrinha em sucessão a cultura principal (Pereira, et al., 1993). O maior fator limitante para produção de silagem de milheto é o baixo teor de matéria seca no material a ser ensilado. Objetivou-se descrever e discutir as características fermentativas da silagem de milheto forrageiro com a inclusão de MDPS como sequestrante de umidade.Revisão Bibliográfica
A ensilagem envolve o armazenamento de forragens em condições de anaerobiose, com o desenvolvimento de bactérias ácido láticas que fazem a conversão de carboidratos solúveis, ácidos orgânicos e compostos nitrogenados solúveis em ácido lático. Este processo é dividido em quatro fases: aeróbica, fermentação anaeróbica, estabilidade e descarga (Pitt & Shaver, 1990). Nas silagens de plantas forrageiras com teores de matéria seca inferiores a 21%, carboidratos solúveis inferiores a 2,2% na matéria verde, são maiores os riscos de fermentações secundárias, tornando-se imprescindível o uso de recursos que, de alguma forma, modifiquem esta situação (McDonald et al., 1991). O MDPS é obtido pela moagem, quebra, desintegração das espigas de milho inteira. É considerado como uma fonte energética na dieta de ruminantes, contendo um alto teor de MS. Trata-se de um alimento muito utilizado para bovinos de corte e para vacas de baixa produção. Inclui os grãos de milho, o sabugo e a palha, sendo mais indicado para animais em crescimento ou vacas secas (Valadares Filho, et al., 2010a). Segundo McDonald et al., (1991), os aditivos para silagem são classificados em cinco categorias: estimulantes da fermentação; inibidores da fermentação; inibidores da deterioração aeróbica; nutritivos; e os absorventes de umidade. As gramíneas forrageiras tropicais não apresentam teores adequados de MS e carboidratos solúveis que proporcione o eficiente processo fermentativo anaeróbico havendo perdas por processos de fermentação secundária, aeróbias e efluentes. Na fase de fermentação ativa ocorre queda acentuada do pH da silagem devido à formação dos ácidos orgânicos, a partir de açúcares, pela atuação de enterobactérias e bactérias heterofermentativas que crescem juntamente com microrganismos aeróbicos, como as leveduras, fungos e bactérias aeróbicas, posteriormente, tornam-se dominantes as homofermentativas (bactérias produtoras de ácido lático BAL). Esta fase se prolonga até que o pH decresça para valores abaixo de 5,0, sendo que o ideal para silagens bem preservadas a faixa de pH varia de 3,8 a 4,2 (McDONALD et al., 1991). A fase de estabilidade da silagem é caracterizada pelo pH ácido e a condição de anaerobiose que conservam a mesma até o momento da abertura do silo. Nesta fase, somente as bactérias ácido lácticas se encontram em atividade, porém muito reduzida.Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido nas dependências do Departamento de Produção Animal (DPA) da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O solo utilizado foi um Latossolo, de acordo com análise não foi necessário o procedimento de calagem (Martha Júnior et al. (2007). O preparo do solo foi o convencional, a semeadura foi manual, utilizando densidade de 40 sementes puras e viáveis por metro linear da cultivar ADR500 de milheto forrageiro, em uma área de 300 m². Na adubação de semeadura foram utilizados 80 kg ha-1 de P2O5 e 50 kg ha-1 de FTE BR–16. A adubação de cobertura foi realizada aos 17 dias após a semeadura com 40 kg ha-1 de K2O e 90 kg ha-1 de nitrogênio (Martha Júnior et al., 2007). Os tratamentos constituíram-se de quatro níveis de inclusão de MDPS (0%, 5%, 10% e 15% da matéria fresca ensilada). O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, sendo 4 tratamentos e 4 repetições. O milheto foi colhido manual a 15 cm do solo, com teor de matéria seca (MS) de 25,68% aos 78 dias após a semeadura, utilizando a planta inteira picada de 1-2 cm. Utilizou-se canos de PVC com 100 mm de diâmetro por 0,40 m de comprimento, vedados hermeticamente. Após 60 dias da ensilagem, ocorreu à abertura dos mini silos. Para análise, foram utilizadas as partes centrais de cada um. Em seguida foi retirada uma amostra de 0,5 kg de cada tratamento, que foi levada a estufa de ventilação forçada a 55ºC, durante 72 h, visando à determinação da matéria pré-seca. Posteriormente foram moídas em um milímetro de diâmetro para as análises de características fermentativas. Foram determinados pH e N-amoniacal , utilizando o método descrito por Silva e Queiroz (2002). Para os AGV’s, ácido lático (AL), ácido acético (AA), ácido propiônico (AP) e ácido butírico (AB), utilizou o método de cromatógrafo líquido de alto desempenho (HPLC), modelo SPD-10A VP acoplado ao Detector Ultra Violeta (UV) utilizando-se comprimento de ondas de 210 nanômetros (nm).Resultados e Discussão
Na tabela 1 estão apresentados os teores médios dos parâmetros avaliados para os ácidos graxos voláteis, pH e nitrogênio amoniacal como características fermentativas realizadas na silagem de milheto forrageiro aditivada com MDPS.
Em relação ao Al, verifica-se que os teores apresentaram variação de 1,74% para o tratamento controle a 1,96% para a inclusão do mais alto nível de MDPS. O Al exerce grande importância no processo fermentativo, uma vez que, este é o principal responsável pelo abaixamento do pH da silagem, devendo portanto, apresentar maiores concentrações que os outros ácidos (Moisio & Heikonem, 1994). Os teores de Aa diferiram em função dos níveis de inclusão do MDPS, com variação de 0,62 a 0,70%. Segundo Tomich et al. (2003), a concentração dos Aa e Ab se relacionam com menores taxas de decréscimos de pH. Portanto, as silagens bem preservadas devem apresentar baixíssimos teores de Aa, sendo que os teores médios se encontram bem abaixo de 2,0%, sugerido por Roth & Undersander (1995). Os valores de Ab foram influenciados em função da inclusão dos níveis de MDPS nas silagens avaliadas, com variação de 0,003% a 0,004%. A manutenção do pH na faixa de 4,2 é característico de silagens de boa qualidade e, consequentemente, a inibição de proteólise e consequentemente, produção de Ab (Roth & Undersander 1995). Em relação aos teores de Ap foram observadas interações, em função dos níveis de inclusão MDPS nas silagens, com variação de 0,048% a 0,056%. A presença de Ap acima do limite significa a degradação de Al por bactérias butírica (Roth & Hundersander, 1995), fato que não foi observado neste trabalho. Observa-se, que os valores de pH das silagens foram influenciados em função da inclusão do MDPS, com variação de 3,67 a 3,92. Segundo Amaral et al. (2007) o pH de um alimento é um dos principais fatores capazes de determinar o crescimento e a sobrevivência dos microrganismos presentes, além de empregado como parâmetro na qualificação da ensilagem. O uso do aditivo resultou em uma pequena elevação do pH, contudo, estes valores se encontram na faixa de valor considerado aceitável que é entre 3,8 a 4,2 e indicativo de uma silagem de qualidade. Os teores de N-NH3/NT diferiram entre os níveis de inclusão do MDPS, com variação entre 3,31 no tratamento controle até 3,72 no tratamento com nível de inclusão de 5%, apresentando comportamento linear quadrático em função dos níveis. O teor de N-NH3/NT também é um bom indicativo da qualidade da silagem, auxiliando no processo fermentativo. Teores de N-NH3/NT inferiores a 10%, indicam que a silagem apresenta boa qualidade para este parâmetro, já que o processo de fermentação não resultou em quebra excessiva da proteína em amônia (Monteiro et al., 2011). A elevação nos teores de N-NH3 implica em redução da proteína verdadeira, no entanto, estes valores estão, segundo Henderson (1993) abaixo do limite de 8,0%, que é o máximo aceitável, para se considerar uma silagem como sendo de boa qualidade.Conclusões
Com o aumento dos níveis de inclusão do milho desintegrado com palha e sabugo, aumentou linearmente também os teores de ácido lático, o que indica sua eficiência no processo de fermentação e melhoria na qualidade da silagem de milheto.
Os teores de ácidos acético e butírico se mantiveram dentro dos limites desejados para uma boa silagem, indicando que o processo de fermentação transcorreu de forma adequada.
Portanto, o MDPS é um bom aditivo sequestrante de umidade em silagem de milheto forrageiro e contribui diretamente nos processos fermentescíveis da silagem.Gráficos e Tabelas
Referências
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