Ações extensionistas visando a melhoria da qualidade do leite dos produtores rurais de Bambuí – MG com foco na redução dos índices de mastite

Rafael Lopes de Oliveira1, Brenda Veridiane Dias2, Clara Costa Zica Gontijo3, Silvana Lucia dos Santos Medeiros4
1 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais
2 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais
3 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais
4 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

RESUMO -

A mastite bovina é considerada a doença que acarreta os maiores prejuízos econômicos à produção leiteira, pela redução da quantidade e comprometimento da qualidade do leite produzido, ou até pela perda total da capacidade secretora da glândula mamária. O trabalho desenvolvido em parceria com o Instituto Federal de Minas Gerais – campus Bambuí busca atuar na melhoria da qualidade e da produtividade da cadeia leiteira, através de um trabalho de extensão rural, no acompanhamento das dificuldades encontradas pelos produtores no seguimento de normas regulamentadoras, associando a qualidade da produção com as condições materiais de existência. Realizou-se um levantamento do conhecimento das indústrias e produtores sobre a qualidade do leite de acordo com a Instrução Normativa /62, e a partir das ações realizadas foi possível traçar um padrão referente a produção de leite no município.

Palavras-chave: bovinocultura, instrução normativa, mastite, qualidade do leite

Extension actions aiming at improving the milk quality of the rural producers of Bambuí - MG with a focus on reducing the rates of mastitis

ABSTRACT - Bovine mastitis is considered to be the disease that causes the greatest economic losses to milk production, by reducing the quantity and quality milk produced, or even by the total loss of the secretory capacity of the mammary gland. The work developed in partnership with the Federal Institute of Minas Gerais - Bambuí campus seeks to improve the quality and productivity of the dairy chain, through a rural extension work, in the follow-up of the difficulties encountered by producers in following regulatory norms, associating The quality of production with the material conditions of existence. A survey of the knowledge of the industries and producers about the quality of the milk was carried out according to the Normative Instruction / 62, and with the actions carried out it was possible to draw up a standard referring to milk production in the municipality.
Keywords: bovine breeding, normative instruction, mastitis, milk quality


Introdução

O produtor de leite do Brasil trabalha em geral em condições distantes dos padrões técnicos aconselhados. Um fator preocupante é a baixa qualidade do leite, tendo como consequência menor segurança alimentar para os consumidores e menor tempo de prateleira do leite e derivados. O fator baixa qualidade faz com que o mesmo tenha um menor valor comercial. No atual mercado competitivo, produzir não é mais suficiente. Para fazer frente à dura concorrência, em que os consumidores têm o papel principal no mercado, as indústrias devem, obrigatoriamente, investir em qualidade. Falta informação para os produtores sobre o que define as propostas dos órgãos que estabelecem regulamentos técnicos para a produção, identidade e qualidade dos diversos tipos de leite, bem como as condições para a sua refrigeração na propriedade rural e transporte do leite a granel até a indústria, quesitos esses regulamentados pelo estabelecimento das Instruções Normativas (IN). O trabalho em questão é parte do projeto de extensão universitária que foi desenvolvido nas comunidades rurais de Bambuí – Minas Gerai, o objetivo foi atuar no desenvolvimento de ações que elevem a qualidade e a produtividade da cadeia leiteira através de um trabalho de extensão rural, no acompanhamento das dificuldades encontradas pelos produtores no seguimento de normas regulamentadoras e no manejo sanitário diário.

Revisão Bibliográfica

O Brasil é considerado o quinto maior produtor mundial de leite, porém tem relativamente uma baixa produtividade (1,3 ton/vaca ano), quando comparado a países como Estados Unidos (9,3 ton/vaca) e Holanda (7,3 ton/vaca), onde o regime intensivo prevalece, e também de países como a Argentina (4,8 ton/vaca) e Nova Zelândia (3,5 ton/vaca), cujo regime de criação é baseado em pastagens. O consumo de leite no país per capita é de 83,2 kg/hab./ano (FAO, 2010). O setor leiteiro brasileiro apresenta problemas de eficiência produtiva e de qualidade da matéria-prima e, por isso, perde em competitividade. Com relação à qualidade do leite, o mercado está se tornando cada vez mais exigente, graças à percepção do papel exercido pelos alimentos e seus componentes sobre a saúde do consumidor. O leite de qualidade deve apresentar composição química (sólidos totais, gordura, proteína, lactose e minerais), microbiológica (contagem total de bactérias), organoléptica (sabor, odor, aparência) e número de células somáticas que atendam os parâmetros exigidos internacionalmente (RIBEIRO et al., 2000). A padronização das normas de qualidade do leite impõe uma grande disciplina no mercado de lácteos, exigindo importante compromisso social, econômico e político de todos os membros desta grande e peculiar cadeia brasileira (GIGANTE, 2004). A mastite (clínica ou subclínica), que é uma das principais doenças que ocorrem no rebanho leiteiro, é um processo inflamatório da glândula mamária causada pelos mais diversos agentes bacterianos, e afeta a qualidade do leite de tal forma que o mesmo não pode ser destinado para consumo humano. A ocorrência da mastite envolve três fatores: a resistência da vaca, o agente patogênico e o ambiente. Esses três fatores terão influência direta na ocorrência e na forma de manifestação da doença (EMBRAPA, 2013).

Materiais e Métodos

O trabalho teve início em maio de 2016, e a primeira ação foi a aplicação de um questionário nas duas empresas responsáveis pela captação do leite cru no município de Bambuí – Minas Gerais. O questionário formulado com 10 questões sobre bonificação pela qualidade do leite, parâmetros que devem ser abrangidos pelos técnicos e dificuldades encontradas pelos produtores, tinha por finalidade identificar os pontos que poderiam ser corrigidos e/ou incentivados para obter um produto de melhor qualidade. Após a aplicação do questionário nas industrias, foram definidas 18 propriedades que receberiam assistência técnica por parte dos alunos envolvidos no projeto. Um trabalho desenvolvido nas propriedades norteou a criação de uma cartilha que pudesse abranger todos os produtores do município, de modo a esclarecer dúvidas pertinentes sobre o tema “Mastite Bovina”, e conscientizar os produtores da importância de se produzir um leite com  qualidade  e  como  isso  poderia  trazer  um  retorno  positivo  para  eles, empresa e consumidor. As cartilhas (Figura 1 e 2) foram entregues aos laticínios da cidade para que os  mesmos  as  enviassem  nas folhas  de  pagamento,  garantindo  assim uma  ampla  disseminação do material. Além desta forma de divulgação, as  cartilhas foram  colocadas  em  locais  específicos, como casas agropecuárias e biblioteca do IFMG,  para  que  o restante da comunidade tivesse acesso às informações. A qualidade do leite foi acompanhada através do relatório mensal encaminhado pela indústria de captação de leite. As análises de leite são realizadas com base em uma série de normas preestabelecidas por órgãos competentes, os laboratórios devem estar credenciados aos órgãos fiscalizadores nacionais e proceder tanto análises microbiológicas quanto físico-químicas. As propriedades continuam recebendo as visitas periodicamente, e espera-se atingir até o final do projeto um resultado positivo para melhoria da qualidade e produtividade de leite no município.

Resultados e Discussão

Durante a aplicação dos questionários ambas as empresas declararam não realizar bonificação pela qualidade do leite recebido. Uma das empresas afirmou ter um projeto para iniciar o programa em meados de 2017. O fato dos produtores da região não receberem valorização pela qualidade do leite diminui o interesse na adequação das normas, uma vez que os mesmos que não veem vantagens em investir. Por muitas vezes os produtores não sabem que com pequenos investimentos e mudanças no manejo diário, poderiam valorizar de forma efetiva o produto entregue as indústrias. Os teores mínimos exigidos para o pagamento bonificação quanto a composição físico-química, determinada por gordura e proteína são respectivamente de 3,6 g/100g e 3,2g/100g. A melhor maneira para se avaliar a qualidade higio-sanitária é através da contagem bacteriana total (CBT) e a contagem de células somáticas (CCS) (TAKAHASHI et al., 2012).  Para os teores CCS e CBT o limite determinado é 100 mil cel/ml e 400 mil UFC/ml, respectivamente. O valor médio encontrado para CCS nas propriedades assistidas foi de 517,14 mil cel/ml. De acordo com Fonseca e Santos (2000), a CCS de animais sadios geralmente apresenta valor inferior a 300 mil cel/ml.  Valores acima do citado indicam condição anormal do úbere, podendo ser indicativo de processos infecciosos na glândula mamária (mastite). Quanto a CBT, o valor médio obtido foi de 844,16 mil UFC/ml, este parâmetro relaciona-se diretamente com a higiene durante a ordenha, transporte e conservação do leite (Instituto de Economia Agrícola - IEA, 2016). Quanto aos parâmetros físico-químicos do leite, as amostras coletadas nas propriedades apresentaram valores médios de 3,68% gordura, 3,32% proteína e 4,49% lactose. Existe um a relação direta entre a CCS e a concentração dos componentes do leite, uma vez que ambos se relacionam com a superfície do tecido mamário (SCHÄELLIBAUM, 2000). Um exemplo claro é que a medida que se eleva a CCS, os teores de gordura no leite também são elevados. Não pela maior quantidade do sólido em questão, mas devido à redução no volume de leite produzido. Com base nas análises mensais têm-se observado que o trabalho gerou resultado positivo, uma vez que os índices de higiene estão caminhado rumo ao aceitável pela Instrução Normativa. De acordo com o material disponibilizado pelo IEA, a previsão é que até 2018 a região se adeque as normas.

Conclusões

Ao final do projeto serão traçados perfis para as propriedades assistidas, e com base nos resultados obtidos outros materiais serão disponibilizados, tanto para os produtores como indústrias, visando atuar nos gargalos encontrados por eles, de modo que seja possível fornecer um leite com qualidade e segurança para o consumidor final.

Gráficos e Tabelas




Referências

EMBRAPA. Centro de Inteligência do Leite. Disponível em: www.cileite.com.br FAO. ProdSTAT. 2010. Disponível em: http://faostat.fao.org/site/573/default.aspx FONSECA, L. F. L.; SANTOS, M. V. Qualidade do leite e controle de mastite. São Paulo: Lemos Editorial, 2000. 175 p. GIGANTE, M. L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DÜRR, J. W.; CARVALHO, M. P. de; SANTOS, M. V. (Org.). O compromisso coma qualidade do leite no Brasil. 1. ed. Passo Fundo: UPF, 2004. p. 235 – 254. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA – IEA. Sobre a Nova Instrução Normativa n. 7 para a Qualidade do Leite. v. 11, n. 7. São Paulo, julho 2016.   RIBEIRO, M.E.R.; STUMPF JÚNIOR, W.; BUSS, H. Qualidade de leite. In: BITENCOURT, D.; PEGORARO, L.M.C.; GOMES, J.F. Sistemas de pecuária de leite: uma visão na região de Clima Temperado. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2000. p.175-195.   SCHÄELLIBAUM, M. Efeitos de altas contagens de células somáticas sobre a produção e qualidade de queijos. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DO LEITE. Anais. Curitiba: CIETEP/FIEP, 2000. p. 21-26.   TAKAHASHI, F.H., CASSOLI, L. D., ZAMPAR, A., MACHADO, P. F. Variação e monitoramento da qualidade do leite através do controle estatístico de processos. Ci. Anim. Bras. 2012; Goiânia, GO, p 99-107.





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