Algas marinhas (Schizochytrium sp.) na alimentação de cordeiros confinados: rendimentos de carcaça e cortes cárneos

Thiago Henrique Borghi1, Américo Garcia da Silva Sobrinho2, Diego Armando Rojas Meza3, Nomaiací Andrade4, Roberta de Lima Valença5
1 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV, Unesp, Câmpus de Jaboticabal
2 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV, Unesp, Câmpus de Jaboticabal
3 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV, Unesp, Câmpus de Jaboticabal
4 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV, Unesp, Câmpus de Jaboticabal
5 - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV, Unesp, Câmpus de Jaboticabal

RESUMO -

O objetivo deste estudo foi avaliar os rendimentos de carcaça e cortes comerciais de cordeiros confinados, recebendo dietas sem e com inclusões de farinha de algas marinhas. Trinta e dois cordeiros de 20,0 ± 0,2 kg de peso corporal receberam as seguintes dietas: D0- silagem de milho + concentrado sem farinha de algas; D2- silagem de milho + concentrado + 2% de farinha de algas; D4- silagem de milho + concentrado + 4% de farinha de algas e D6- silagem de milho + concentrado + 6% de farinha de algas, com relação volumoso:concentrado de 40:60 até 35,0 ± 0,2 kg. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e oito repetições. As inclusões de farinha de algas marinhas não influenciaram (P>0,05) os rendimentos da carcaça e dos cortes comerciais e as perdas de peso por resfriamento. A inclusão de farinha de algas marinhas nas dietas de cordeiros não comprometeu as características quantitativas da carcaça, confirmando a possibilidade de utilização deste produto alternativo.

Palavras-chave: alimento alternativo, ômega-3, ovinos

Dietary marine algae (Schizochytrium sp.) for feedlot lambs: carcass and commercial cuts yields

ABSTRACT - The objective of this trial was to evaluate the carcass and commercial cuts yields of feedlot lambs, receiving diets without and with marine algae meal inclusions.Thirty-two uncastrated Ile de France lambs weighing 20.0 ± 0.2 kg received the following diets D0: corn silage + concentrate without algae meal; D2: corn silage + concentrate + 2% algae meal; D4: corn silage + concentrate + 4% algae meal; and D6: corn silage + concentrate + 6% algae meal, with a roughage:concentrate ratio of 40:60 up to 35.0 ± 0.2 kg body weight. The experimental design was a completely randomized design, with four treatments and eight replicates. The dietary marine algae did not influence (P>0.05) the carcass and the commercial cuts yields and the cooling losses. The inclusion of marine algae meal in the lambs diets did not compromise the quantitative characteristics of the carcass, confirming the possibility of using this alternative product.
Keywords: alternative feed, omega-3, ovines


Introdução

Os avanços científicos e tecnológicos da cadeia da carne têm aprimorado produtos destinados a consumidores mais esclarecidos, interessados em novidades e dispostos a pagar por qualidade. Assim, a indústria tem encontrado estímulo para desenvolver alimentos constituídos ou enriquecidos com nutrientes que possam produzir benefícios à saúde, tratando ou prevenindo enfermidades. As microalgas marinhas, em especial as do gênero Schizochytrium, são fontes primárias do ácido graxo docosaexaenoico (DHA) na cadeia alimentar e, a farinha proveniente da liofilização destas tem sido incluída na alimentação animal com o intuito de melhorar o teor deste ácido graxo nos produtos. As pesquisas com Schizochytrium concentram-se na qualidade e enriquecimento nutricional de carnes de aves e suínos (MOONEY et al., 1998; SIRRI et al., 2003; SARDI et al., 2006) e leite de ovelhas e vacas (FRANKLIN et al., 1999; BICHI et al., 2013). Entretanto, poucos estudos se atentaram aos efeitos da suplementação dietética com estas algas sobre as características quantitativas da carcaça de ovinos (MEALE et al., 2014). Diante do exposto, objetivou-se avaliar os rendimentos da carcaça e dos cortes comerciais de cordeiros Ile de France terminados em confinamento, recebendo dietas sem e com inclusões de farinha de algas marinhas.

Revisão Bibliográfica

A cadeia produtiva da carne, ao mesmo tempo em que busca reduzir os custos de produção, constata que o mercado está cada vez mais exigente em termos de qualidade dos produtos, com crescente preocupação dos consumidores em relação aos benefícios e malefícios que produtos como a carne podem trazer à saúde. Nos países ocidentais, o aumento da incidência de doenças inflamatórias é parcialmente atribuído ao consumo abundante de ácidos graxos poli-insaturados ω-6 e à menor ingestão de ácidos graxos da família ω-3. Para colocar em evidência a importância dos ácidos graxos da família ω-3, recentemente a Food and Drug Administration (FDA) anunciou que os ácidos graxos DHA e EPA foram selecionados como nutrientes prioritários para serem avaliados em termos de saúde pública e importância política. Diante de tais propriedades, iniciativas de grupos de pesquisa ao redor do mundo buscam elevar a oferta destes ácidos graxos benéficos na dieta humana por meio da nutrição animal, proporcionando naturalmente DHA na forma de produtos como a carne. As microalgas do gênero Schizochytrium sp são produtores primários de DHA e EPA no ambiente marinho e têm sido utilizadas como ingrediente de dietas para animais de produção, fornecendo ácidos graxos de cadeia longa, proteínas, pigmentos e cálcio. Ainda que as recentes tecnologias desenvolvidas para fermentação e produção comercial de algas Schizochytrium sp. proporcionem custos mais baixos comparados aos sistemas de produção em lagoas, a única desvantagem da utilização de microalgas como suplemento alimentar de ácidos graxos ω-3 a ser superada continua sendo o custo mais elevado em comparação com outras fontes. São muitas as vantagens que este tipo de suplemento alimentar fornece, especialmente em termos de potenciais teores de DHA nos produtos alimentícios e facilidade de uso, devendo promover a aceitação para incorporação na alimentação animal na forma de farinhas. A suplementação de animais de produção com farinhas de algas tem mostrado grande potencial no enriquecimento nutricional de produtos de origem animal, como leite e carne. Ao produzir carne ovina de qualidade, faz-se mister considerar as características quantitativas da carcaça de cordeiros, sendo a carcaça o componente do peso corporal de maior valor comercial. Vários fatores influenciam a composição tecidual, com destaque para a nutrição, tendo em vista que a produtividade é influenciada pela quantidade e qualidade de nutrientes consumidos.

Materiais e Métodos

O experimento (CEUA, protocolo nº 12883/15) foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV - Unesp, Câmpus de Jaboticabal, SP. O confinamento e o abate dos cordeiros foram realizados nas dependências do Laboratório de Produção Ovina, assim como as avaliações de rendimentos de carcaça e cortes comerciais. Foram utilizados 32 cordeiros Ile de France machos não castrados, com aproximadamente 60 dias e 20,0 ± 0,2 kg de peso corporal. Os animais foram alojados em baias individuais de 1,0 m2, identificados e distribuídos aleatoriamente nos tratamentos compostos por dietas contendo silagem de milho e concentrados sem e com 2, 4 e 6% de farinha de algas marinhas (com base na matéria seca). O concentrado foi composto por milho em grão moído, farelo de soja, fosfato bicálcico, calcário calcítico, suplementos mineral e vitamínico, e ureia. A farinha de algas marinhas (50% de gordura e 14% de DHA) foi misturada aos demais alimentos concentrados no momento de elaboração das dietas. A relação volumoso:concentrado foi 40:60, compondo dietas com semelhantes teores proteicos (16%) e energéticos (3,5 Mcal de energia metabolizável/ kg de MS), calculadas para atender às exigências preconizadas pelo NRC (2007) para ganho médio de peso de 300 g/ dia. As dietas foram oferecidas diariamente às 7 e 17 h, de forma a permitir 10% de sobras. Ao atingirem 35,0 ± 0,2 kg de peso corporal, foi realizado abate após insensibilização por pistola de concussão modelo TEC 10 PC, respeitando os procedimentos que caracterizam o abate humanitário (MAPA, 2000). As carcaças permaneceram em câmara frigorífica a 6 ºC por 24 horas. Após o período de refrigeração foi obtido o peso de carcaça fria (PCF) para posteriores cálculos de rendimento de carcaça fria (RCF = PCF/PCA*100) e perda de peso por resfriamento (PR = (PCQ-PCF/PCQ)*100). Posteriormente as carcaças foram seccionadas em duas meias carcaças, sendo a metade esquerda fracionada em cinco regiões anatômicas: pescoço, costelas, lombo e perna (SILVA SOBRINHO et al., 2008). Os dados das características da carcaça foram avaliados num delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e oito repetições. As comparações dos tratamentos foram realizadas por contrastes ortogonais, com auxílio do Programa Computacional SAS (9.4).

Resultados e Discussão

A inclusão de farinha de algas marinhas não influenciou (P>0,05) nos pesos e rendimentos das carcaças dos cordeiros (Tabela 1). As dietas contendo farinha de algas marinhas em substituição a alimentos nobres como o milho e o farelo de soja proporcionaram características quantitativas da carcaça similares as dos animais do tratamento controle, provavelmente pelo fato de as dietas possuírem semelhantes teores de energia e proteína e o peso de abate ter sido padronizado em 35 kg de peso vivo, com o intuito de obter carcaças com pesos satisfatórios para atender as necessidades dos mais exigentes mercados de carne ovina. Resultados similares foram reportados por Meale et al. (2014), que ao avaliarem dietas contendo até 3% de farinha de algas marinhas do gênero Schizochytrium, não observaram diferenças nos pesos e rendimentos das carcaças de cordeiros da raça Arcott. As perdas de peso por resfriamento (PR) não foram afetadas (P>0,05) pela inclusão de farinha de algas marinhas na dieta dos cordeiros. Essas perdas ocorrem em função da perda de umidade e reações químicas que ocorrem nos músculos e, segundo Martins et al. (2000) devem ficar em torno de 2,5%, podendo ocorrer oscilações entre 1 e 7%, dependendo de fatores como uniformidade da gordura de cobertura, sexo, peso, temperatura e umidade relativa da câmara de resfriamento. Os valores de perdas de peso das carcaças durante as 24 horas de refrigeração variaram de 2,21 a 3,20%, e ficaram próximos aos valores recomendados. Cooper et al. (2004) forneceram dietas contendo diferentes fontes de gordura isoladas ou associadas (óleo de linhaça, óleo de peixe, gordura protegida rica em C18:2 ω-6 e C18:3 ω-3, óleo de algas marinhas) para cordeiros Suffolk e não observaram diferenças nas perdas por resfriamento das carcaças dos animais. Não foram observadas diferenças significativas para pesos dos cortes comerciais das carcaças dos cordeiros (Tabela 2). Esses resultados confirmam a lei da harmonia anatômica de Boccard & Dumont (1960), segundo a qual as proporções relativas das diferentes regiões corporais são semelhantes em carcaças de pesos similares.

Conclusões

A inclusão de farinha de algas marinhas do gênero Schizochytrium na dieta de cordeiros Ile de France não compromete as características quantitativas da carcaça. Portanto, a farinha destas algas marinhas pode ser utilizada como alternativa a alimentos nobres como o milho e o farelo de soja na terminação de cordeiros.

Gráficos e Tabelas




Referências

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