ALIMENTOS FUNCIONAIS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO DE PINTOS NA FASE PRÉ-INICIAL

Fabyola Barros de Carvalho1, Geovane Martins Chagas2, Natiele Ferraz de Oliveira3, Lais de Melo Montel4, Roberto Moraes Jardim Filho5, Nadja Susana Mogyca Leandro6, Marcos Barcellos Café7, José Henrique Stringhini8
1 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
2 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
3 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
4 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
5 - São Salvador Alimentos
6 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
7 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG
8 - Escola de Veterinária e Zootecnia/UFG

RESUMO -

Foram realizados três experimentos no Aviário Experimental EVZ/UFG com o objetivo de avaliar a metabolizabilidade dos nutrientes em razão da utilização de diferentes dosagens de três aditivos (glutamina, betaína e butirato de sódio) na ração pré-inicial de pintos que passaram por um jejum de 24 horas na caixa de transporte.Os tratamentos consistiram de níveis de inclusão do aditivo na ração pré-inicial, sendo de 0, 1, 2 e 3% de glutamina, 0; 0,07; 0,13; 0,20 e 0,26% de betaína e 0; 0,05; 0,075; 0,100 e 0,200% de butirato de sódio. Para cada tratamento foi utilizado três repetições de 10 aves. Não foi observado melhora nutricional para os pintinhos alimentados com ração suplementada com glutamina. Para os animais que consumiram ração com inclusão de betaína houve melhora na utilização do extrato etéreo e matéria seca da ração (média de 0,150%). Para o butirato de sódio encontrou-se melhor utilização do extrato etéreo ao atingir 0,163% de suplementação.

Palavras-chave: Betaina, Butirato de sódio, Glutamina, metabolizabilidade, pré-inicial

FUNCTIONAL FOODS USED IN THE FEEDING OF CHICKS IN THE PRE-START PHASE

ABSTRACT - Three experiments were carried out in the Experimental Aviary EVZ/UFG with the objective of evaluating the nutrient metabolizability in the use of different additives supplements (glutamine, betaine and sodium butyrate) in the pre-starter chicks after 24 hours fasting in the box transport. The treatments were inclusion levels of the additive in the pre-starter ration, being 0, 1, 2 and 3% glutamine, 0; 0.07; 0.13; 0.20 and 0.26% betaine and 0; 0.05; 0.075; 0.100 and 0.200% sodium butyrate. For each treatment, three replicates of 10 chicks were used. No nutritional improvement was observed for chicks fed with glutamine supplemented feed. For the chicks that consumed ration with betaine inclusion there was an improvement in the use of ethereal extract and dry matter of the ration (average of 0.150%). For sodium butyrate, the use of ethereal extract was better when it reached 0.163% of supplementation.
Keywords: Betaine, Sodium butyrate, Glutamine, metabolizability, Pre-Start


Introdução

Pesquisas para determinar níveis de aditivos em rações de frangos de corte se tornam cada vez mais necessário, uma vez que os ganhos nos índices produtivos a campo se mostram mais satisfatórios. Sabe-se que a fase pré-inicial é uma das fases mais críticas do desenvolvimento do pinto, devido os efeitos negativos de um jejum prolongado, que acarreta em uma má integridade intestinal e consequentemente uma deficiência no aporte nutricional dos neonatos. A utilização de alimentos funcionais tem se mostrado interessante devido a sua capacidade de modular os processos metabólicos, melhorar a qualidade da microbiota intestinal, fonte de energia e substrato para formação de células e tecidos, promovendo melhor desempenho do frango no final da produção. Objetivou-se testar diferentes dosagens de aditivos (glutamina, betaína e butirato de sódio) na dieta pré-inicial de pintos com intuito de avaliar a metabolizabilidade de nitrogênio, extrato etéreo e matéria seca, bem como seus níveis adequados para minimizar os efeitos negativos de um jejum prolongado, melhorando o aporte nutricional dos pintinhos.

Revisão Bibliográfica

Hoje, a somatória do período de incubação de 21 dias e os 10 dias do período pós-eclosão do pinto constituem aproximadamente 50% da vida de um frango (UNI et al., 2003). Sendo que destes 50%; 4,8 a 6,8% o pintinho passa em jejum, pois frequentemente este só tem acesso a primeira ração depois de uma típica janela de nascimento de 24-36 horas, seguidas de 24 horas ou mais de processamento e transporte até a granja. Os pintos mantidos por 48 horas ou mais sem terem acesso à ração e à água, associado a um atraso no desenvolvimento gastrointestinal e na utilização da gema pode ter como consequência um pior desempenho zootécnico (VIEIRA & MORAN, 1999). PEDROSO et al. (2005) constataram aproximadamente 12% de perda de peso de pintos que permaneceram 48h sem água e ração. A perda de peso das aves pode ter ocorrido em função da desidratação e da perda de proteína muscular, que pode ter sido utilizada para neoglicogênese. Uma grande linha de pesquisa está em investigar estratégias nutricionais que possam minimizar os efeitos negativos de um jejum prolongado e estimular rapidamente o desenvolvimento intestinal e melhorar a eficiência global da criação. Nesse momento pós-eclosão nota-se que o pinto neonato passa por um estresse nutricional causado na transição entre a vida embrionária e a utilização de dietas exógenas. O embrião passa do metabolismo energético exclusivamente lipídico (a base de gorduras advindas do saco vitelino) para o metabolismo energético glicolítico (pela elevação do consumo de carboidratos, fornecidos pela dieta). E também um estresse hídrico pela ausência de consumo de água. Portanto dietas especialmente formuladas têm sido manipuladas para alcançar uma melhor eficiência alimentar e imunidade da ave. Muitos aditivos são utilizados na produção de frangos de corte com intenção de melhorar a função imune e digestiva dos animais, chamados de alimentos funcionais. Alimento funcional é aquele que adicionalmente as suas funções nutricionais como fonte de energia e de substrato para a formação de células e tecidos, possui, em sua composição, uma ou mais substâncias capazes de agir no sentido de modular os processos metabólicos, melhorando as condições de saúde, promovendo um melhor desempenho animal. Funções essas altamente relevantes para neonatos e suas peculiaridades metabólicas e fisiológicas.

Materiais e Métodos

Os três experimentos foram conduzidos no aviário experimental da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Foram utilizados 420 pintos de corte machos, da linhagem Cobb 500. As aves permaneceram em jejum nas caixas de transporte por 24 horas. Posterior o período de jejum pós-eclosão os pintos foram distribuídos em baterias em delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos no experimento com glutamina (0, 1, 2 e 3%) e cinco tratamentos para os experimentos com betaína (0; 0,07; 0,13; 0,20 e 0,26%) e com butirato de sódio (0; 0,05; 0,075; 0,100 e 0,200%), com 3 repetições de dez aves cada, totalizando 50 pintinhos por tratamento e 120 aves para o experimento com glutamina, 150 para o experimento com betaína e 150 para o butirato de sódio. Os ensaios metabólicos foram realizados com sete a 10 dias de idade, pelo método de colheita total de excretas. As excretas foram recolhidas duas vezes ao dia (8h e 17h), acondicionadas em sacos plásticos, identificados por repetição e armazenados em freezer. Ao final de cada ensaio de metabolizabilidade  foi determinada a quantidade de ração consumida, bem como a quantidade total das excretas produzidas. Foi determinado das excretadas e das rações experimentais, a matéria seca, o nitrogênio e extrato etéreo segundo SILVA & QUEIROZ (2002). Com os resultados das análises bromatológicas, foram calculados os coeficientes de metabolizabilidade (CM) da matéria seca (CMMS), do nitrogênio (CMN) e do extrato etéreo (CMEE). Foram calculados também o balanço de nitrogênio (BN) e balanço de extrato etério (BEE), utilizando a formula: CM (%) = (BNutriente/Nutriente ingerido MS (g)) x 100; BNutriente (g) = Nutriente ingerido – Nutriente excretado. As médias foram analisadas por meio do software estatístico R (versão 3.3.1, 2016) e posteriormente utilizada a regressão polinomial para a comparação das suplementações de glutamina, betaína e butirato, através o teste Tukey a 10% de probabilidade.

Resultados e Discussão

No primeiro experimento com suplementação de glutamina não foi observado melhora nos parâmetros de metabolizabilidade para nitrogênio, extrato etéreo e matéria seca (Tabela 1), provavelmente devido aos pintos não terem sidos submetidos a microrganismos patogênicos que causassem lesões na mucosa intestinal. No trabalho de Leandro et al (2012) também não foi observado efeitos significativos da glutamina para os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes das dietas. No segundo experimento com suplementação de betaína na ração não foi observado interferência do aditivo na utilização do nitrogênio pelos pintinhos (Tabela 1), mas houve melhora do balanço de extrato etéreo com o aumento da suplementação de betaína até o ponto de 0,149%. Quando foi transformado o balanço em coeficiente de metabolizabilidade do extrato etéreo, pode se notar uma melhora na utilização do extrato etéreo com níveis de suplementação até 0,209% de betaína. A matéria seca da ração também foi melhor aproveitada pelo animal com o aumento da suplementação de betaína até o ponto de 0,154% (Tabela 1). Possivelmente, os animais que se alimentaram com rações contendo betaína foram favorecidos pela capacidade dessa substância em agir como osmólito, mantendo a integridade da mucosa intestinal e dos vilos, melhorando a digestibilidade e a capacidade de absorção dos nutrientes, conforme os resultados descritos por TEIXEIRA et al. (2006). Já o terceiro experimento testando diferentes níveis de butirato de sódio na ração, o aditivo não interferiu na metabolização do nitrogênio e da matéria seca da ração pelos pintinhos (Tabela 1). O balanço do extrato etéreo também não melhorou com a suplementação de butirato, porem ao transformar esse balanço em coeficiente de metabolizabilidade, notou-se uma melhora na utilização do extrato etéreo até atingir 0,163% de suplementação. No presente experimento não foi avaliado diretamente a qualidade intestinal dos pintinhos alimentados com rações contendo butirato de sódio, porém notou-se uma melhora no coeficiente de metabolizabilidade do extrato etério até atingir 0,163% de suplementação em dietas de pintos, provavelmente devido a capacidade de essa substância suprir a necessidade energética da mucosa intestinal e colaborar para o desenvolvimento dos enterócitos, melhorando a absorção dos nutrientes. Diante disso, o uso de alimentos funcionais (ou agentes tróficos) é uma alternativa para melhorar a metabolizabilidade de outros nutrientes e consequentemente o desempenho de frangos de corte. Porém necessita-se de mais estudos para definir níveis adequados desses aditivos em diferentes fases de vida do animal.

Conclusões

A glutamina não interfere na metabolizabilidade dos nutrientes de pintinhos de sete a 10 dias de vida. A betaína melhora a utilização do extrato etéreo e a matéria seca pelas aves com suplementação média de 0,150%. A suplementação de 0,160% de butirato de sódio apresenta melhora na metabolizabilidade do extrato etéreo pelos pintinhos.

Gráficos e Tabelas




Referências

MARTINEZ K.L.A., LEANDRO N.S.M., CAFÉ M.B., STRINGHINI J.H., ARAÚJO I.C.S., ANDRADE M.A. Suplementação de glutamina em dietas elaboradas com ingredientes de origem vegetal e animal para pintos de corte. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.6, p.1707-1716, 2012. PEDROSO, A.A.; STRINGHINI, J.H.; LEANDRO, N.S.M.; CAFÉ, M.B., BARBOSA, C.E.; LIMA, F.G. Suplementos utilizados como hidratantes nas fases pré-alojamento e pósalojamento para pintos recém-eclodidos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.40, n.7, p.627-632, 2005. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de Alimentos, Métodos Químicos e Biológicoa. 3ed. Universidade Federal de Viçosa, 2009. TEIXEIRA, M.; NIANG, T.M.S.; GOMES, A.V.C. et al. Efeito do uso da betaína na biologia e morfologia dos estádios evolutivos de Eimeria acervulina em frangos de corte infectados experimentalmente com oocistos esporulados. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.15, n.4, p.193-198, 2006. UNI, Z.; TAKO, E.; GAL-GARBER, O.; SKLAN, D. Morphological, molecular and functional changes in the chicken small intestine of the late-term embryo. Poultry Science, v.82, p.1747-1754, 2003. VIEIRA, S.L.; MORAN, E.T. Effect of egg origin and chick post-hatch nutrition on broiler live performance and meat yields. World`s Poultry Science Journal, v.56, p.125-142, 1999.