Análise anatômica do fígado do tamanduá-bandeira de vida livre

Tamires Gonçalves Keler1, Alan Peres Ferraz de Melo2, Elisângela Medeiros Melo de Lima3, Rosangela Felipe Rodrigues4, Tatiana Morosime de Andrade Cruvinel5
1 - Faculdade de Engenharia curso de zootecnia –Unesp Ilha Solteira
2 - Faculdade de Engenharia curso de zootecnia –Unesp Ilha Solteira
3 - Faculdade de Engenharia curso de zootecnia –Unesp Ilha Solteira
4 - Faculdade de Medicina Veterinaria/Campus Araçatuba
5 - Curso de medicina veterinaria –UNIRP São Jose do Rio Preto

RESUMO -

Foram utilizados cinco fígados de tamanduá-bandeira (Myrmercophaga tridactyla), adultos, de ambos os sexos, que foram doados pelo Hospital Veterinário “Dr. Halim Atique” para UNESP/Ilha Solteira- SP. O fígado foi analisado macroscopicamente onde os aspectos anatômicos, bem como a topografia foram nomeados de acordo com a Nomina Anatomica Veterinaria (2012). Realizou-se ainda a técnica de injeção de acetato de vinila para visualização e identificação dos lobos hepáticos. O fígado do tamanduá-bandeira está localizado na cavidade abdominal intimamente ligado ao diafragma e ventrículo gástrico. O fígado apresenta uma coloração marrom avermelhada, além de fissuras que delimitam os lobos hepáticos em: lobo hepático lateral direito, lobo hepático medial direito, lobo hepático quadrado, lobo hepático medial esquerdo e lobo hepático lateral esquerdo.

Palavras-chave: Tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla, Fígado, Anatomia.

Anatomical analysis of the liver of the wildlife anteater

ABSTRACT - Five livers of adult Giant Anteare (Myrmercophaga tridactyla), of both sexes, were donated by the Veterinary Hospital "Dr. Halim Atique "for UNESP / Ilha Solteira- SP. The liver was macroscopic analyzed where anatomical aspects and topography were named according to Nomina Anatomica Veterinaria (2012). The technique of injecting vinyl acetate was also used to visualize and identify the hepatic lobes. The liver of the anteater is located in the abdominal cavity closely connected to the diaphragm and gastric ventricle. The liver has a reddish brown coloration, as well as fissures that delimit the hepatic lobes in: right lateral hepatic lobe, right medial hepatic lobe, square hepatic lobe, left medial hepatic lobe and left lateral hepatic lobe.
Keywords: Giant Anteare, Myrmecophaga tridactyla, Liver, Anatomy.


Introdução

O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) está incluído na categoria “vulnerável” pela Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, 2003; MEDRI; MOURAO, 2008), e está listado no “apêndice II” da Cites (2009). Sabe-se que o fígado é a maior glândula presente no corpo e representa, no ponto de vista funcional, o local do organismo onde ocorrem numerosos processos metabólicos, pois ao receber a maior parte do material absorvido nos intestinos, metaboliza, armazena, sintetiza e elimina diversas substancias, fatores que conferem a este órgão uma grande importância. Este fato faz com que muitos pesquisadores estudem os múltiplos aspectos morfológicos desta glândula, nas diferentes espécies, estabelecendo uma anatomia comparativa. O arranjo dos elementos hepáticos no fígado de mamíferos permite a divisão do órgão em unidades designadas segmentos anátomo-cirúrgicos (COINAUD, 1981;  DI DIO, 2002) . Dyce et al. (2010) relataram que na maioria das espécies o fígado é macroscopicamente dividido em lobos por inúmeras fissuras que se estendem para o interior da margem ventral do órgão. Observaram ainda que em vida, o fígado se adapta à forma dos órgãos vizinhos e, quando fixado em formaldeído, mantém a conformação e impressões desses órgãos. O presente estudo teve como objetivo descrever a topografia e anatomia do fígado do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), com análise macroscópica proporcionando subsídios aos profissionais que estudam essa espécime.

Revisão Bibliográfica

O fígado é a maior glândula no corpo, situado obliquamente na superfície abdominal do diafragma e mantido na posição em grande parte pela pressão das outras vísceras e por sua íntima inserção ao diafragma, sendo recoberto por uma camada serosa externa e uma camada fibrosa mais profunda, sendo a camada serosa responsável por cobrir a glândula exceto na inserção do pâncreas e na fissura portal (GETTY, 1986). Na maioria das espécies domésticas o fígado é macroscopicamente dividido em lobos por inúmeras fissuras que se estendem para o interior da margem ventral do órgão (DYCE et al., 2010). Devido a ausência de informações sobre a lobação hepática em tamanduá-bandeira, faz-se necessário uma visão generalizada de outros mamíferos para que se possa haver uma comparação. O fígado pode apresentar-se o lobo lateral esquerdo à esquerda da incisura umbilical, e à direita o lobo quadrado fusionado ao lobo lateral direito. quanto a sua posição localiza-se na porção cranial da cavidade abdominal, onde seu parênquima fica em grande parte, à direita do plano mediano, relacionando-se dorsalmente com a veia cava caudal em c ervo do pantanal (BORGES et al., 2002). Já em capivaras (Hydrochaerus hydrochaeris) o órgão possuem morfologia externa semelhante a de suínos, permitindo identificar os lobos lateral direito, medial direito, quadrado, medial esquerdo, lateral esquerdo e caudado, com os processos papilar e caudado (SOUZA et al., 2007) . Outra observação interessante, é o caso da da pacas (Cuniculus paca), onde o tecido conjuntivo interlobular do fígado é escasso, tornando os lóbulos hepáticos pouco definidos (CARVALHO et. al., 2012).  

Materiais e Métodos

Foram utilizados cinco exemplares de fígado de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), sendo três machos e duas fêmeas, doados pelo Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP) ao Laboratório de Anatomia da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira/UNESP. Há aprovação pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, sob número 2583/2012. Os fígados foram retirados da cavidade abdominal dos animais para melhor descrição de sua anatomia. Posteriormente os exemplares foram injetados, por meio da veia hepática, com acetato de vinila, solução composta por acetona PA e resina em pó vinílica 5/1 corada com pigmento específico. A corrosão do material foi processada em solução de soda cáustica a 20% por um período não inferior a 10 dias. Após este período o fígado foi retirado da solução e lavado em água corrente para remoção dos resíduos do parênquima ficando injetados os vasos venosos hepáticos preenchidos pelo acetato de vinila, possibilitando a visualização dos lobos hepáticos. Outra parte da fotodocumentação deu-se com o órgão logo após a retirada da cavidade abdominal, com objetivo de identificação de suas estruturas lobares. Para nominação do lobos hepáticos utilizou-se a Nomina Anatomica Veterinaria (2012).

Resultados e Discussão

O fígado de tamanduá bandeira (Myrmecophaga tridactyla) foi localizado obliquamente na superfície abdominal do diafragma. Ele é mantido na posição, pela pressão das outras vísceras e por sua íntima aplicação e inserção ao diafragma (Figura 1), onde há em intima relação com o ventrículo gástrico (estômago) por meio do ligamento coronário (Figura 1). Notou-se, ainda,  a presença dos ligamentos redondo, falciforme e triangulares (Figura 1). Este mesmo posicionamento foi encontrado em animais domésticos (GETTY, 1986), cervos-do-pantanal (BORGES et. al., 2002), assim como em pacas (CARVALHO et al., 2012), que possuem fígado localizado na porção cranial do abdome, imediatamente ao diafragma, com a presença dos ligamentos triangulares, coronário e falciforme, além do ligamento redondo. A maior lobação do fígado dos tamanduás-bandeira estudados se apresentou em geral à direita do plano mediano. Estas observações também foram relatadas em suínos (GETTY, 1986), cervos- do- pantanal (BORGES et al., 2002) e pacas (CARVALHO et. al., 2012). Além disso os animais do presente estudo possuem coloração marrom avermelhada no fígado (Figura 1), próxima a coloração descrita em cervídeos  (BORGES et al., 2002). Quanto a lobação hepática, o tamanduá-bandeira apresentou um fígado dividido em lobos, e não possui o processo caudado e processo papilar, onde e o lobo lateral direito apresentou-se único. Os lobos hepáticos evidenciados foram: lateral direito, medial direito, lateral esquerdo, medial esquerdo e quadrado. Pode-se descrever a lobação analisando a lobação dos moldes de vinil processados e a fotomacrografia do órgão (Figuras 1 e 2). Na vista diafragmática do fígado, o lobo quadrado e o lobo medial direito são fusionados. Já  na vista visceral, dividiram-se próximo à vesícula biliar. As capivaras também possuem fígado lobado, sendo: lobo lateral direito, lobo medial direito, lobo quadrado, lobo medial esquerdo e lobo lateral esquerdo, além do lobo caudado formado pelo processo papilar do lobo caudado e processo caudado do lobo caudado (SOUZA et al, 2007). A presença da vesícula biliar (Figura 1) foi observada em tamanduás-bandeira o que difere de cervídeos, que não possuem esta estrutura (BORGES et al., 2002). Tanto em capivaras como em pacas, a vesícula biliar encontram-se entre os lobos quadrado e medial direito, notando a presença de uma depressão nos lobos (SOUZA et al, 2007).

Conclusões

Diante dos resultados, pode-se afirmar que o fígado de tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), é um órgão lobado com coloração marrom avermelhada e não apresenta processo caudado e processo papilar. Os lobos presentes são: lobo lateral direito, medial direito, lateral esquerdo, medial esquerdo e quadrado de acordo com os moldes.

Topograficamente o fígado está posicionado caudalmente ao ventrículo gástrico (estômago) e o lobo hepático lateral direito é único na vista diafragmática.



Gráficos e Tabelas




Referências

Borges, E. M., Machado, M. R. F., Oliveira, F. S. D., Souza, W. M. D., & Duarte, J. M. B. (2002). Aspectos morfológicos do fígado do cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus). Braz. j. vet. res. anim. sci, 39(2), 78-80. Carvalho, A.L.E.G.F., Martins, L.L., Bosso, A.C.S., Machado, M.R.F. (2012) Morfologia do fígado da paca (Cuniculus paca,Linnaeus, 1766), Revista Biotemas, 25 (2), 102-106 Coinaud, C. (1981). Controlled hepatectomies and exposure af the intrahepatic bile ducts–Anatomical and technical study. Controlled hepatectomies and exposure af the intrahepatic bile ducts: Anatomical and technical study. Di Dio L.J.A. (2002) Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada. São Paulo: Atheneu, 2.  948p. Dyce, K. M., Wensing, C. J. G., & Sack, W. O. (2010). Tratado de anatomia veterinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil.p. 135-137. Getty, R. (1986). Nervos espinhais. GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos, v. 1, 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koongan. p. 107. [IUCN] International Union for Conservation of Nature. (2011). IUCN Red List of Threatened Species. Version 2012.2. MMA. Ministério do Meio Ambiente. (2012). Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Medri, I. M., Mourao, G. D. M., & Harada, A. Y. (2003). Dieta de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) no Pantanal da Nhecolândia, Brasil. Edentata, 5, 29-34. Souza, W. M. D., Souza, N. T. M. D., Carvalho, R. G. D., & Correa, C. N. (2007). Topografia da artéria hepática no fígado de capivara (Hydrochaerus hydrochaeris). Ciência Rural, 141-145. WCS. Wildlife Conservation Society. Disponível em: <http://programs.wcs.org/>. Acesso em: 8 set. 2012.