ANÁLISE DA CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM DA SOJA NO ESTADO DO TOCANTINS

ANA LÍDIA MEDEIROS GOES1, Clauber Rosanova2, Bruna de Pádua Marcolini3, Daniela Barbosa de Macedo4, Mírian das Mercês Pereira da Silva5
1 - Instituto Federal do Tocantins
2 - Instituto Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal do Tocantins
5 - Faculdade Catolica do Tocantins

RESUMO -

O presente estudo analisou a produção de soja, com ênfase no armazenamento no Estado do Tocantins. Teve como objetivo demonstrar as correlações da produção da oleaginosa com a capacidade estática de armazenagem, fazer previsões a fim de verificar se a capacidade de armazenagem é suficiente para atender toda a produção de soja prevista para o estado, e o comparativo com a produção nacional. Na busca de resultados foram efetuados estudos bibliográficos e coletas de informações que abordam a produção de soja atualizada do estado, juntamente com banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com parceria na Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Para fins do desenvolvimento do trabalho observou-se uma carência de capacidade armazenadora do estado. Com os resultados obtidos, pode-se concluir que a evolução da produção de soja no estado é maior do que o avanço da capacidade estática dos armazéns no estado do Tocantins.

Palavras-chave: Armazenamento, Grão, Produção do Tocantins

ANALYSIS OF THE CAPACITY OF STORAGE OF SOYBEANS IN THE STATE OF TOCANTINS

ABSTRACT - The present study analyzed soybean production, with emphasis on storage in the state of Tocantins. The objective was to demonstrate the correlations of oilseed production with the static storage capacity, to make forecasts to verify if the storage capacity is sufficient to meet all state soybean production and the comparative with the national production. In the search for results, bibliographical studies and data collections were carried out, which deal with the state's updated soybean production, together with a database of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), with a partnership with Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). For the purpose of the development of the work a lack of storage capacity of the state was observed. With the obtained results, it can be concluded that the evolution of the soybean production in the state is greater than the advance of the static capacity of the warehouses in the state of Tocantins.
Keywords: Storage, Grain, Production of the Tocantins


Introdução

Segundo Brandão (1989), a origem de armazéns utilizados no processo de armazenagem de grãos se perde na história. Acredita-se que a ideia de armazenar produtos agrícolas deve ter surgido quando o homem passou da fase de nômade à de agricultor. Para Costa (2012), no Brasil o início da estrutura de armazenagem deu-se no começo do século passado, com a necessidade da guarda do café. Posteriormente, por volta de 1950, em razão da necessidade de atender às importações de trigo, inicia-se o processo de armazenamento a granel. A soja (Glycine max L. Merrill) foi introduzida no Brasil no final do século XIX, trazida pelos imigrantes asiáticos, porém ganhou espaço na década 1960, na região sul e expandiu-se por todo território brasileiro. Tornou-se a líder do agronegócio e responsável pela expansão das fronteiras agrícolas, como também do desenvolvimento regional, devido seus altos índices de produção. A capacidade de armazenagem também deve ser levada em conta, esta etapa é decisória para evitar prejuízos. A definição segundo a Agência Safras (2004) de unidades armazenadoras de grãos são complexos agroindustriais constituídos de estruturas e recursos para receber, pré-beneficiar, armazenar e expedir a produção agrícola de uma determinada área de abrangência. Estas demandam a condução de um conjunto de operações unitárias, tais como: pesagem, descarregamento, pré-limpeza, secagem, limpeza, tratamento químico, armazenagem e expedição. Ou seja, a armazenagem representa uma das mais complexas etapas do processo logístico do agronegócio, mas que enfrenta, no Brasil, um contraponto, tendo em vista a produção brasileira de grãos ser bem maior que a capacidade disponível de armazéns. Analisando o estado do Tocantins, onde a produção da soja está acima da capacidade estática de armazenagem, esta etapa da pós-colheita requer muita atenção, pois aí é que se mantém a qualidade dos grãos. O não investimento tanto quantitativo, quanto qualitativo da armazenagem, ocasiona prejuízos aos produtores, prejudica a competitividade da região produtora, além da perda de alimentos. Mediante dados do IBGE (2017), a capacidade estática de armazenagem do estado do Tocantins é de 1.925,993 milhão de toneladas. Esta é distribuída nas estruturas de armazéns convencionais em 48 unidades com capacidade de 648.622 mil toneladas; graneleiros com 9 unidades de capacidade de 400.700 mil toneladas, e silos (52 unidades)  com capacidade de 916.671 mil toneladas. Visto que a infraestrutura de armazenagem no estado do Tocantins não tem acompanhado o ritmo de crescimento da produção, seria de grande importância realizar novos estudos para identificar as regiões mais críticas nesse segmento para que seja feita uma melhor adequação e expansão da rede de armazenagem, conforme a necessidade apresentada. O objetivo do presente trabalho foi de estabelecer as correlações entre a produção de soja no estado de Tocantins, e a evolução da capacidade estática de armazenagem; verificando se a capacidade estática de armazenagem do estado de Tocantins é satisfatória para armazenar a demanda da produção de soja do estado.

Revisão Bibliográfica

PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL Segundo o Ministério da Agricultura (2004), a soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e tem correspondido a 49% da área plantada em grãos do país. O aumento de sua produtividade está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e eficiência dos produtores. O grão é componente essencial na fabricação de rações animais e com uso crescente na alimentação humana, uso bioenergético e industrial, que se encontra em franco crescimento. Consequentemente, torna-se evidente que as transformações tecnológicas incorporaram importantes alterações nos meios de produção de soja no Brasil, projetando-a entre as maiores e mais competitivas culturas do mundo. No entanto, esse crescimento não está sendo acompanhado por toda a cadeia produtiva, inclusive pela Capacidade Estática de Armazenagem, termo técnico utilizado a explicar a quantidade de grãos que cabe de uma só vez dentro de uma unidade armazenadora (AZEVEDO et.al., 2008). ARMAZENAMENTO NO TOCANTINS A CONAB (2016) corrobora que, na cadeia produtiva dos produtos agrícolas a armazenagem representa etapa fundamental para fornecimento constante de alimentos ao longo do ano, também exerce um papel fundamental na cadeia logística. A armazenagem está presente tanto no processo de escoamento da safra quanto na manutenção dos produtos para que sejam consumidos em períodos de entre safra. Ainda segundo a CONAB, a capacidade de armazenagem do estado do Tocantins de 2014 foi de 1.532,6 toneladas e em 2015 foi de 1.655,9 toneladas, com um déficit muito alto em relação à produção total de grãos. Atualmente a capacidade estática de armazenagem do estado do Tocantins é de 1.821,698 toneladas, distribuída nas estruturas, armazéns convencionais são 53 unidades com capacidade de 314.469 toneladas e graneleiros são 97 unidades com capacidade de 1.507,229 toneladas, sendo 150 cadastros de armazéns.

Materiais e Métodos

Para elaborar este trabalho foi usada uma pesquisa exploratória descritiva. A pesquisa exploratória trata-se de uma pesquisa bastante específica e pode-se afirmar que ela assume a forma de um estudo de caso, sempre em consonância com outras fontes que darão base ao assunto abordado, como é o caso da pesquisa bibliográfica. No levantamento de dados, foram efetuadas pesquisas e coletas de informações sobre produção de grãos no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntamente ao da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), referentes às safras de 2014/15 e 2015/16 para o Estado do Tocantins. Os déficits/superávits de armazenagem foram encontrados utilizando a quantidade de soja produzida na safra e a capacidade estática do estado. Para esse cálculo foi considerada a rotatividade de um ano empregada pela CONAB e pelos armazéns por ela fiscalizados.

Resultados e Discussão

As vantagens para um produtor de soja não está apenas nos altos índices de produtividade por área plantada ou em função de sua produção total, mas também onde e quando será guardado o produto que foi produzido. O processo de pós-colheita é tão importante, quanto o plantio e colheita, pois é nesta etapa que se poderá evitar desperdícios e manter a qualidade que foi investida, além do mais é um determinante para redução de custo com transporte, vantagens na comercialização do produto na época de menor oferta e de maior demanda (entressafra). Armazenamento no âmbito da propriedade rural deve ser visto como uma forma de incrementar as produções agrícolas, para reduzir o estrangulamento da comercialização de grãos, ou mesmo evitá-lo, e permitir a regularização dos fluxos de oferta e demanda, com a manutenção de estoques e a racionalização do sistema de transportes, evitando-se, assim, os efeitos especulativos. O estado do Tocantins teve uma queda de produção muito significativa, chegando a - 25% na safra de 2015/16 em relação à safra 2014/15. Essa queda foi devido ao fenômeno climático El Niño que reduziu o potencial das lavouras em quase todo o país, como no Mato Grosso que teve uma produção de 26.277,753 milhões de toneladas de soja com - 5% que safra anterior, o Paraná teve uma produção de 16.824,385 milhões de toneladas de soja com - 2% que safra anterior. Podemos notar que além do Tocantins, também os maiores produtores de soja do Brasil tiveram perdas em suas safras (IBGE, 2016). Na Tabela 1, foi calculada a necessidade de armazenagem, considerou-se um aumento de 20% além da produção, conforme a recomendação da FAO, assim obteve-se um déficit de 205.268 mil toneladas, lembrando que este déficit foi apenas para armazenagem da soja, durante o ano analisado, há colheitas de outros grãos, aumentou ainda mais o déficit.
   Ano de Produção Produção de Soja (T) Necessidade de armazenagem (T) Capacidade Calculada (T) Déficit (T)
2015/2016 1.809,384 2.171,261 1.965,993 205,268
Tabela 1-Necessidade de armazenamento de Soja no Estado do Tocantins -2015/16. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2016). O déficit da capacidade de armazenagem no Tocantins somente para a soja ficou em 205,268 mil toneladas, os maiores produtores do grão, como Mato Grosso com capacidade de armazenagem de 33.489,807 milhões de toneladas, para soja teve superávit de 1.956,51 milhão de toneladas, durante o ano analisado, entretanto, há colheitas de outros grãos, fato que surgiu um déficit de - 26.269,146 milhões de toneladas, o Paraná com capacidade de armazenagem de 29.633,950 milhões de toneladas para soja teve superávit de 9.194,23 milhões de toneladas, com o saldo de outros grãos surgiu um déficit de -9.375,845 milhões de toneladas. (IBGE, 2016) Na analise da Tabela 2 foi possível identificar a capacidade de todas as unidades armazenadoras, sendo elas divididas em convencionais com 33%, graneleiros 20% e silos 47%. Somadas as unidades armazenadoras com fechamento de 2015/16, a capacidade estática foi de 1.965,993 toneladas.
Ano Convencionais Graneleiros Silos Total
2015/16 Quant. Tonelada (T) Quant. Tonelada (T) Quant. Tonelada (T) Quant. Tonelada (T)
648.622 400.700 916.671 1.965,993
Tabela 2. Capacidade total de armazenamento do Tocantins 2015/16. Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE, 2016. Os armazéns convencionais foram os primeiros a serem utilizados para estocagem agrícola no Brasil, por ser uma das unidades de mais praticidade no território brasileiro, o convencional foi mais utilizado comparado à unidade de silos e graneleiros para armazenar grãos mais consumidos no mercado interno, soja, milho, feijão, trigo, sorgo, dentre outros grãos que necessitam do sistema de armazenagem (CONAB, 2014). Atualmente em termos de capacidade útil armazenável, no Tocantins, assim como em algumas regiões do Brasil, os silos predominam, tendo alcançado 74,9 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2016, representando um crescimento de 3,4%, devido o aumento compreende-se que um dos fatores importantes que promoveu este resultado deve-se à preferência dos proprietários e administradores dos estabelecimentos em investir em unidades que possibilitem maior flexibilidade operacional. (IBGE, 2016)  

Conclusões

Com a análise realizada pode-se observar que o estado do Tocantins, como o restante do país, tem altos índices de deficiência na capacidade de armazenagem de grãos em relação à produção. A capacidade armazenadora ideal para soja neste Estado seria de 2.171,621 toneladas e a atual é 1.809,384 toneladas. É necessário que seja investido mais neste setor da logística de armazenagem.


Referências

AGÊNCIA SAFRAS. Competitividade e Desafios do Agronegócio Nacional. Matéria Especial da Agência Safras. Porto Alegre: Editora Safras Ltda., 26 de novembro de 2004. Disponível em: http://www.safras.com.br. Acesso em Março de 2017. AZEVEDO, L. F.; OLIVEIRA, T. P. de; PORTO, A. G.; SILVA, F. S. da. A Capacidade Estática de Armazenamento de Grãos no Brasil. 2008. XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro   de 2008. Disponível em:<http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_TN_STP_069_492_11589.pdf>. Acesso em: janeiro 2017. BRANDÃO, F. Manual do Armazenista. 2.ed. Ciências Agrárias. Viçosa, 269p, 1989. CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento. Levantamentos de safras, 2016.Disponível em: CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento. Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras–SICARM. COSTA, M. F. Qualidade e riscos de contaminações de produtos armazenados. Cuiabá, p.1-48, 2012. Disponível em: http://sisdep.conab.gov.br/consultaarmazem/?page=Sobre. Acesso em janeiro 2017. ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_[mensal]/Fasciculo/lspa_201612.pdf . Acesso em janeiro 2017. http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_08_09_12_08_19_boletim_graos_agosto_2016.pdf>.  Acesso janeiro de 2017. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento sistemático da produção agrícola. Disponível em: MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Agrícola e Pecuário 2014/15 disponibiliza mais de R$ 156 bilhões. Janeiro 2017 Disponível:  http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2014/05/plano-agricola-e pecuario-201415-disponibiliza-mais-de-rs-156-bilhoes/>.Acesso janeiro 2017.