ANÁLISE DA SUPLEMENTAÇÃO DE BIOTINA NO CRESCIMENTO DOS CASCOS DE EQUINOS

Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira1, JEFERSON AUGUSTO KÜHL2, Nilton Rohloff Junior3, Paula Konieczniak4, Geane Maciel Pagliosa5, Rafael Rodrigo Recktenwald6, Edenilson Nunes Rocha7, Sheila de Oliveira8
1 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
4 - Universidade Federal do Paraná Campus Palotina
5 - Universidade Federal do Paraná Campus de Palotina
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
7 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
8 - Universidade Federal da Grande Dourados

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi avaliar o crescimento dos cascos de equinos criados a campo suplementados durante 210 dias com biotina. Foram utilizados 12 equinos no Setor de Equideocultura da UNIOESTE. O delineamento experimental foi em fatorial 4×3 com quatro níveis de suplementação (0, 14, 18 e 42mg de biotina) e três grupos de diferentes idades (1 a 10 anos, 11 a 17 anos e 18 a 30 anos). Foram tomadas as seguintes medidas: altura da parede, grânulos e espessura da parede, em intervalos de 30 dias. O teste de comparação de médias de Tukey foi realizado para as variáveis ​​idade e tratamentos com 5% de probabilidade. Não houve interação significativa entre o nível de biotina ea idade dos animais. Não houve diferenças significativas para a idade dos animais. O tratamento controle apresentou melhores resultados de crescimento do casco, indicando que para os animais criados no campo com suplementação de biotina de pastagem de boa qualidade torna-se desnecessário, pois retardou o crescimento

Palavras-chave: cavalos, suplementação, casqueamento

Analysis of biotin supplementation on horse hoof growth

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate during 210 days the growth of equine hooves raised at the field supplemented with biotin. Twelve horses were used at the Horse Unit of the UNIOESTE. The experimental design was in a 4x3 factorial with four levels of supplementation (0, 14, 18 and 42mg of biotin) and three groups of different ages (1 to 10 years, 11 to 17 years and 18 to 30 years). The following measures were taken: wall height, bead and wall thickness, at intervals of 30 days. The Tukey averages comparison test was performed for the variables age and treatments at 5% probability. There was no significant interaction between biotin level and age of the animals. There were no significant differences for the age of the animals. The control treatment presented better hull growth results, indicating that for animals raised in the field with good quality pasture biotin supplementation becomes unnecessary, as it delayed the growth of the hull.
Keywords: horses, hoof trimming, suplementation


Introdução

Lima e Cintra (2015) publicaram uma revisão do estudo do complexo do agronegócio do cavalo no Brasil, onde é possível verificar que o Agronegócio do Cavalo resulta numa movimentação econômica de R$16, 15 bilhões de reais anuais, sendo que cerca de R$ 8,58 bilhões são gastos com cavalos destinados a lida de gado, principal uso do cavalo no país, cujo rebanho é composto por 5 milhões de cabeças. Devido a seleção genética e a alteração no habito alimentar dos equinos, imposta pelo homem, as necessidades de biotina para suprir todas as funções metabólicas dos animais, provavelmente aumentaram (COMBEN et al., 1984). No Brasil, Ribeiro (1987), observou um equino que apresentava a capa córnea das quatro patas com rachaduras, falta de pedaços em sua circunferência distal externa, sinais de parede fraca, fina e lacuna de separação entre a sola e a muralha do casco, o que dificultava ou ate impedia a fixação da ferradura. O autor forneceu a este animal 15 mg de biotina durante 5 meses e 12 dias obtendo total recuperação dos cascos. A biotina é essencial em duas etapas importantes do processo de queratinização: síntese de proteína e de substâncias lipídicas. Ela é sintetizada pelos microrganismos do trato gastrointestinal no cavalo adulto. Essa pesquisa teve como objetivo avaliar o crescimento dos cascos de equinos criados a campo suplementados com diferentes níveis de biotina.

Revisão Bibliográfica

Durante a evolução da espécie equina seus membros sofreram uma adaptação especial para locomoção em altas velocidades, incluindo a simplificação da região distal do membro a um simples dígito, a redução dos componentes musculares e o desenvolvimento de estruturas com tendões fortes, além de vários ligamentos para assegurar o comportamento autônomo e passivo dos membros (DENOIX, 1994). Alguns fatores podem influenciar a qualidade do casco, dentre eles pode se citar a nutrição, hereditariedade, ambiente e o casqueamento (FARIA, 2009). A prevenção e o tratamento de condições debilitantes do casco, tais como rachaduras, abscessos, síndrome navicular e laminite, ainda dependem da habilidade e da experiência do casqueador em visualizar o melhor formato de cada casco para um equino em particular, de tal forma que o casco tenha uma conformação confortável, eficiente e que o estimule a crescer no melhor formato possível (DAVIES, 2002). O equilíbrio do casco é um fator de grande importância na saúde do aparelho locomotor dos equinos e refere-se à distribuição uniforme do peso ao redor do centro de gravidade do casco (BUTLER, 1994). Buffa et al. (1992) avaliaram durante 10 meses, as taxas de crescimento e dureza dos cascos de 32 equinos, mestiços da raça Puro Sangue Inglês, utilizados diariamente em Programa de Equitação. Os animais eram todos ferrados, a intervalos de seis semanas. Os tratamentos experimentais eram grupo A (controle zero de biotina); grupo B (15 mg/biotina uso contínuo); grupo C (7,5 mg/biotina uso contínuo) e grupo D (15 mg/biotina uso alternado), a biotina era adicionado ao concentrado no momento da alimentação na forma farelada (7,5 mg de biotina/100 g de farelo). Todos os animais suplementados com biotina apresentaram maiores taxas de crescimento, o fornecimento de biotina em meses alternados não obteve um crescimento significativo, após dez meses de suplementação contínua com 15mg/biotina, os cascos dos animais excederam valores de crescimento em 1,8 cm quando comparados ao crescimento dos cascos dos animais do grupo controle (zero de biotina). Segundo os autores a biotina influencia a quantidade de proporção de moléculas de queratina na muralha do casco, resultando num aumento na taxa de crescimento e resistência.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Equideocultura da Unioeste e teve duração de 210 dias. Foram utilizados doze equinos, com idade aproximada entre 02 a 28 anos. Todos vermifugados (Ivermectina 1,87 g/Kg PV) e mantidos exclusivamente à pasto de Tifton, com água a vontade sem nenhuma suplementação mineral vitamínica. Os tratamentos experimentais se basearam em diferentes volumes de um produto a base de biotina (forma líquida), cuja composição era de: betacaroteno (10mg/kg); biotina (2.800 mg/kg), DL –metionina (20g/kg), enxofre (10g/kg, L-lisina (53g/kg), manganês (4.200 mg/kg), selênio (32 mg/kg) e Zinco quelatado (18 g/kg) Foi utilizado um fatorial 4x3, onde foram utilizados 4 níveis de biotina, sendo um o nível 1 (T1), testemunha,  zero biotina; nível 2 (T2) suplementação diária de 14 mg de biotina; nível 3 (T3) suplementação diária de 28 mg de biotina; e no nível 4 (T4) suplementação diária de 42 mg de biotina, contidas em 15mL do suplemento. A biotina foi ofertada uma vez ao dia, por via oral. e utilizou-se 3 idades para compor a idade dos animais, onde animais de 1 a 10 anos formaram o grupo A, animais de 11 a 17 anos o grupo B e animais de 18 a 30 anos grupo C. Foram utilizados 4 animais para cada idade, sendo que cada nível foi composto por 3 animais, portanto ao total tiveram 12 unidades experimentais. As coletas de dados do crescimento dos cascos foram feitas a cada 30 dias, coincidindo com o casqueamento de todos os animais. As mensurações de biometria (crescimento do casco) foram feitas antes e depois do casqueamento, com o auxílio de uma fita métrica. Foram medidas as alturas dos talões, alturas das muralhas e espessuras das muralhas (Figura 1), nos cascos anteriores esquerdos e direitos e posteriores esquerdos e direitos (cm). Os dados foram submetidos a ANOVA, no caso de os valores apresentarem significância (α=5%) as variáveis então foram submetidas ao teste de média e regressão. Para o período da coleta foram realizadas regressões polinomiais a 5% de significância. As variáveis idade e tratamentos foram submetidas ao teste de Tukey a 5%. Todos os dados foram avaliados pelo programa estatístico SAEG versão 8.1 (UFV, 2003).

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos no T1 testemunha (0 mg/dia), foram estatisticamente superiores aos demais tratamentos para a variável Crescimento de muralha (CM),  onde apresentou valores médios de 1,1653cm (Tabela 1). Considerando o período total de duração do experimento, os animais suplementados com biotina não apresentaram taxas superiores de crescimento. O que coincide com o proposto por Dittrich (1992), onde cita que a suplementação de biotina de até 40mg/dia, em três meses de testes não apresentaram nenhuma taxa acelerada de crescimento da muralha. O mesmo autor ainda alega que a suplementação de 40mg de biotina/dia, apresentou uma diminuição do crescimento da muralha dos cascos, quando comparado aos outros tratamentos de 10 e 20mg de biotina/dia. O tratamento 0 mg/dia também teve melhor efeito em relação ao tratamento 14 mg/dia no crescimento de talão (CT), porem quando comparado aos demais tratamentos não obteve diferença estatística, nesta característica (Tabela 1), indicando que a não suplementação da biotina é suficiente para manter o bom desenvolvimento dos casos em relação ao crescimento de talão, não sendo necessário o uso de suplementação com biotina. Para os resultados de espessura de muralha, não foi observado nenhuma diferença, todos os valores observados foram próximos a 1 cm de espessura. Os cascos não apresentaram diferenças nos seus crescimentos em relação a idade dos animais, todos os valores encontrados foram semelhantes. O que contradiz com o proposto por Faria (2009) que cita que o grau de crescimento do casco declina com a idade do animal. Todos os animais apresentaram crescimento de casco dentro dos valores médios para crescimento citados por Wintzer (1986) que são de 8 a 13 mm mensais. O mesmo autor também afirmou que um incremento na taxa de crescimento ou diminuição no período de renovação do tecido córneo do casco não deve ser esperado com uma suplementação de biotina. Os resultados obtidos neste experimento podem estar ligados ao tempo de pesquisa realizado, sendo necessário maior período de coleta de dados, pois os autores Schulze e Scherf (1989) relatam que melhoras evidentes nos cascos dos animais em tratamento, utilizando-se níveis suplementares de 15mg/dia, só aparecem após 6 a 9 meses de administração da vitamina. Segundo a pesquisa realizada por Josseck et al. (1995) a biotina melhora a qualidade do casco, porém sem afetar o crescimento do mesmo. Nesta pesquisa também se pode observar uma nítida melhora no exterior dos cascos dos cavalos suplementados. Os resultados encontrados neste experimento podem ser explicados pelos dados reportados no NRC (2007), os cavalos a campo em pastagens de alta qualidade não precisam de suplementação, pois as forragens são fontes ricas de vitaminas lipo e hidrosolúveis. Já Dittrich (1992), relatou que nas criações em pastagens degradadas com uso da suplementação de concentrados a base de farelos de oleaginosas e grãos de cereais, geralmente esta alimentação não supre as quantidades de biotina necessárias para um perfeito desenvolvimento do estojo córneo dos equinos, o que não pode ser comprovado neste estudo.

Conclusões

A suplementação de biotina para cavalos criados a campo em pastagem de qualidade é contra indicada pois reduz o crescimento dos cascos.  

Gráficos e Tabelas




Referências

BUTLER, D. What every equine practitioner should know about hoof balance. In: AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRACTITIONERS, 40. 1994. Vancouver. Proceedings... Vancouver: AAEP, 1994. p.133-135. COMBEN, N.; CLARK, R. J.; SUTHERLAND, D.J.B. Clinical observations on the response of equine hoof defects to dietary supplementation with biotin. Veterinary Record, London, v. 115, p. 642-645, 1984. DAVIES, H. M. S. No hoof, no horse! The clinical implications of modelling the hoof capsule. Equine Vet. J., Ashford, UK, v. 34, n. 7, p. 646-647, 2002. DENOIX, J. M. Functional anatomy of tendons and ligaments in the distal limbs (manus and pes). Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v. 10, n. 2, p. 273-322, 1994. DITTRICH, J. R. Efeitos de niveis suplementares de biotina no crescimento, estrutura e integridade dos cascos de potros de 1 a 2 anos de idade. 1992. 50 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba 1992. FARIA, G. A. Casco equino: uma abordagem prática sobre sua qualidade e crescimento. 2009. Disponível em: <http://agronomia.com.br/conteudo/artigos/artigos_casco_equino_ qualidade_crescimento.htm>. Acesso em: 02 ago. 2016. JOSSECK, H.; ZENKER, W.; GEYER, H. Hoof horn abnorma-lities in Lipizzaner horses of the effect of dietary biotin on macros-copic aspects  of hoof  horn quality. Equine Veterinary Journal, v. 27, n. 3, p. 175-182, 1995. LIMA, R. A. S.; CINTRA, A. G. Revisão do estudo do complexo do agronegócio do cavalo. Brasília: Assessoria de Comunicação e Eventos, 2015. 56p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of horses. 7. ed. rev. Washington, DC., 2007. 341p. RIBEIRO, R. C. Utilizacao da biotina na nutrição de equinos. A Hora Veterinaria, Porto Alegre, n. 38, p. 8-12, jan/fev.1987. SCHULZE, J.; SCHERF, H. Klinische studie zur therapie mit biotin beim pferd. Tieräztliche Umschau. Konstanz, v.44, p.187-190, 1989. UFV, Universidade Federal de Viçosa. Sistema de análises. Manual do usuário (SAEG). Versão 8.1, Viçosa, 2003. 301 p.