Análise de indicadores zootécnicos e econômicos em diferentes estratos de tamanho de propriedades leiteiras da região de Montes Claros, Minas Gerais

Elton Silva Resende1, Severino Delmar Junqueira Villela2, Cláudio Henrique Viana Roberto3, Mauricio Gomes de Sousa4, Edilaine Costa Martins5, Michele Gabriel Camilo6, Marco Aurélio Teixeira Andrade7, Glauco Barra Villela8
1 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
4 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
5 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
6 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
7 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
8 - UNIVIÇOSA

RESUMO -

Avaliaram-se os principais indicadores zootécnicos, o custo operacional e indicadores econômicos em fazendas leiteiras, localizadas no Norte do Estado de Minas Gerais, agrupadas em função do número total de vacas no rebanho. As propriedades com maior número de vacas no rebanho apresentaram maior produção de leite, melhor relação matriz/funcionário, maior valor de capital investido e margens bruta e líquidas superiores. Já o estrato com até 80 vacas, apresentou melhor produtividade por vaca em lactação e maior produtividade por área, com menor investimento financeiro, possibilitando rentabilidade similar ao estrato com maior número de vacas no rebanho. Concluiu-se que o número de vacas no rebanho não influenciou a rentabilidade dos sistemas. Entretanto, estratos de maior tamanho apresentaram margem líquida superiores. Os indicadores econômicos estiveram em níveis elevados, mas com capacidade de melhorias que podem ser obtidas por uso intensificado dos recursos de produção.

Palavras-chave: custos de produção, rentabilidade, utilização de capital

Analysis of zootechnical and economic indicators among size strata of dairy farms in the region of Montes Claros, Minas Gerais

ABSTRACT - The main zootechnical indicators, land use, invested capital, effective operational cost and economic indicators of six dairy farms located in the north of the State of Minas Gerais were grouped according to the number of cows in the herd. The properties with the highest number of cows in the herd presented higher milk yield, better matrix / employee ratio, higher invested capital, and higher gross and net margins. On the other hand, the stratum with up to 80 cows in the herd presented better productivity per cow and higher production per area with less financial investment, allowing a similar profitability to the stratum with the highest number of cows in the herd. It was concluded that the economic indicators presented were at high levels, but with the capacity for improvements that can be obtained by efficient use of the production resources.
Keywords: costs of production, profitability, capital utilization


Introdução

O agronegócio é conhecido como um importante setor para o desenvolvimento da economia brasileira e, nos últimos anos, apresentou participação elevada na formação do PIB brasileiro, 23% no ano de 2015 (CEPEA, 2015). Recentemente, o agronegócio foi o único segmento de produção de riqueza que se manteve estável frente os períodos de crise socioeconômica enfrentada pelo país a partir do início do ano de 2014, salientando a importância do setor dentro do cenário econômico nacional.

A produtividade média do rebanho brasileiro encontra-se na faixa de 1.492,3 litros/vaca/ano, valor considerado relativamente baixo, o que compromete a eficiência econômica dos sistemas de produção, uma vez que a baixa escala de produção é citada como o principal motivo da baixa rentabilidade da atividade no país (IBGE, 2014). Estes são oriundos do baixo nível de informações técnicas, que possui ação direta na produtividade, nos custos de produção, no resultado econômico e na viabilidade do investimento. O não conhecimento de fatores do sistema de produção dificulta a tomada de decisões, proporcionando um cenário incerto quanto aos rendimentos futuros, que quando negativos representam o principal fator para o abandono da atividade. Assim, objetivou-se aferir e comparar os principais indicadores zootécnicos e econômicos de fazendas leiteiras com diferentes tamanhos, localizadas no Norte do Estado de Minas Gerais, demonstrando os componentes de formação dos custos de produção da atividade leiteira.



Revisão Bibliográfica

A partir do cálculo dos índices técnicos e gerenciais medidas melhoristas poderão ser traçadas com o objetivo de otimização de tarefas no setor de produção. Carareto (2010) destacou a importância da coleta de dados, pois evidenciará ao produtor a situação atual da propriedade, as situações produtivas, reprodutivas e sanitárias do rebanho que serão utilizadas para estipulação de metas a curto, médio e longo prazo. Para Gomes, (2005) a eleição de identificadores de resultados e a determinação do benchmark de cada indicador é orientação segura para o produtor, uma vez que os valores obtidos são oriundos de sistemas inseridos no mesmo ambiente econômico e possivelmente passaram por dificuldades análogas. Por fim, efetuada a análise e de posse da representação técnica e econômica da empresa, do planejamento, a organização, a direção e o controle são ações básicas do gerenciamento. Deverá ser realizado um plano de ações, de forma sistemática e devidamente integrada, que expresse os objetivos a serem alcançados em determinado prazo, considerando as limitações impostas pelos recursos disponíveis (EL-MEMARI, 2006). Segundo Lopes et al. (2009), os índices zootécnicos influenciam diretamente na rentabilidade da pecuária, pois todos eles têm influência direta na produção e, consequentemente, nos lucros do produtor. Assim, o conhecimento das relações entre os índices zootécnicos é ponto fundamental para correta mensuração dos indicadores zootécnicos. Oliveira et al. (2001), recomendaram a utilização dos índices: produção média por vaca em lactação/dia; produção média diária pelo total de vacas do rebanho;  produção de leite por hectare/ano;  taxa  de natalidade;  idade  ao primeiro parto; intervalo de partos; litros de leite / kg de concentrado fornecido e mão de obra / litro de leite produzido. Leite, Barbosa e Campos (2006) recomendam valores de intervalo de partos utilizados em sistema de produção de leite variando entre 12 a 14 meses. Em pesquisa conduzida por Lopes et al. 2009, com o objetivo de avaliar e quantificar o impacto econômico do intervalo de partos em rebanhos de gado de leite através de simulação de sistemas de produção hipotéticos, concluíram que rebanhos com menor intervalos de parto e maiores taxas de natalidade, foram mais eficientes quando comparados a rebanhos com menores taxas de natalidade e maiores intervalos de partos, e que os sistemas hipotéticos com intervalo de partos maior obtiveram menores valores de rentabilidade

Materiais e Métodos

Foram analisados dados referentes às despesas, receitas e índices zootécnicos provenientes de propriedades leiteiras, situadas nas proximidades do município de Montes Claros, na região norte do estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados durante o período contido entre os anos de 2007 a 2012. A partir da coleta dos dados foram determinados os indicadores de tamanho, os principais indicadores zootécnicos e econômicos das propriedades durante os seis anos de estudo. Para estimativa dos custos de produção, foi adotada a metodologia do custo operacional, desenvolvido pelo Instituto de Economia Agrícola (I.E.A.) do Estado de São Paulo, elaborado por Matsunaga et al. (1976). A discretização dos dados, para redução do número de valores dos atributos contínuos para amplitude em intervalos, foi realizada pelo método não supervisionado. Optou-se por estratificar as propriedades conforme o indicador de tamanho número total de vacas no rebanho, sendo discretizado em intervalos de: propriedades com até 80 vacas no rebanho, entre 81 e 100 vacas no rebanho e propriedades com número de vacas acima de 100. Na distinção dos estratos de tamanho, procedeu-se análise de variância dos indicadores considerados e testou-se a hipótese de igualdade das médias, quando necessário, por meio do teste de Tukey.

Resultados e Discussão

No que se refere à análise dos indicadores zootécnicos entre os intervalos de tamanho avaliados (TAB. 1), as menores propriedades e propriedades com total de vacas acima de 100 obtiveram médias similares de porcentagem de vacas em lactação. Entretanto, o número de vacas em lactação diferiu estatisticamente (P <0,001) em todos os estratos de tamanho, sendo que o número de vacas em lactação apresentou comportamento crescente em função do número de vacas no rebanho. O menor valor médio 70,51%, apresentado no estrato mediano de tamanho, é superior ao valor de 50,0%, encontrados no estudo de Sousa et al. (2011) e aos 58,4%  Lopes  et al. (2010). A eficiência de utilização dos componentes do COE esteve vinculada ao nível de produtividade. De fato, Lopes  et al. (2004) e De Moraes et al. (2015), mencionaram o aumento da eficiência produtiva, como alternativa de  otimização das despesas com a mão de obra, inseminação artificial, energia, medicamentos, impostos fixos, e diversos. Avaliando a receita total (TAB. 2), verificou-se que o maior estrato de propriedades apresentou maior média de receita total (R$467.818,39). Os estratos de médio tamanho e menor tamanho  apresentaram médias similares com valor superior a R$ 294.426,59. Estes valores de receita proporcionaram margem bruta positiva em todos os estratos de tamanho avaliados, indicando a manutenção da atividade no curto prazo. O estrato de tamanho com propriedades acima de 100 vacas no rebanho apresentou o melhor resultado para a margem bruta (R$ 185.715,74), mesmo apresentando maiores valores de desembolso com o custo operacional efetivo No diagnóstico econômico, os estratos com até 80 vacas e o estrato de propriedades com mais de 100 vacas no rebanho apresentaram médias similares de rentabilidade (RENT > 9,40%), indicando que nestes sistemas os fatores de produção foram utilizados com maior eficiência. Propriedades pertencentes ao estrato de tamanho mediano apresentaram valor médio de rentabilidade próximo aos 6,00%, valor limiar, indicativo de eficiência econômica. A análise estatística dos indicadores de referência não apresentou variações significativas (P > 0,082) dentre os estratos de tamanho analisados. Os 12,26% de rentabilidade do estrato de propriedades com menor tamanho supera os 9,3% encontrados por Ferrazza et al. (2015) em propriedades com produtividades de 4.512,6 L/ha/ano e 307,0 l/ funcionário. O valor de rentabilidade encontrado por estes autores esteve mais próximo do valor de rentabilidade (9,50%) obtido no estrato de propriedades de maior tamanho. Ainda de acordo com Ferraza, et al. (2015),  produtores de alto nível tecnológico realizam investimentos sem as devidas análises de retorno sobre o investimento e risco. Entretanto, vale salientar que determinados investimentos demandam tempos específicos para provimento de retorno aos sistemas de produção. Isto também pode ocorrer com determinadas tomadas de decisão gerenciais, que promovem retorno gradativo ao sistema.

Conclusões

O tamanho das propriedades influenciou o custo operacional total dos sistemas de produção do leite. Os valores de receita total em todos os estratos de tamanho foram suficientes para cobrir todos os desembolsos gerados na atividade leiteira. Os indicadores zootécnicos produtividade por vaca juntamente com a quantidade de vacas ordenhadas apresentaram  maior impacto na formação dos custos e obtenção de receita total, consequentemente impactaram diretamente nos resultados dos principais indicadores econômicos avaliados. Desta forma, o fator gerencial teve participação significativa na obtenção dos resultados zootécnicos e econômicos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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