COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS CASCOS DE EQUINOS SUPLEMENTADOS COM BIOTINA.
Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira1, Ligia Alves Salvador2, Nilton Rohloff Junior3, Paula Konieczniak4, Geane Maciel Pagliosa5, Rafael Rodrigo Recktenwald6
1 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
4 - Universidade Federal do Paraná Campus Palotina
5 - Universidade Federal do Paraná Campus de Palotina
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste
RESUMO -
Objetivou-se avaliar a composição química dos cascos de 12 equinos com idade entre dois e 28 anos, suplementados pelo período de 210 dias, com diferentes níveis de biotina. Os tratamentos foram distribuídos ao acaso em três grupos baseado na idade. O Tratamento 1 (T1), testemunha consistiu em zero de suplementação diária de biotina; Tratamento 2 (T2) suplementação diária de 14 mg de biotina; Tratamento 3 (T3) suplementação diária de 28 mg de biotina, e no tratamento 4 (T4) suplementação diária de 42 mg de biotina. As amostragens dos cascos foram feitas em intervalos de 30 dias. Os dados da composição química dos cascos juntamente com os dados da idade e tratamentos, foram tabulados e submetidos à ANOVA, e para o período da coleta foram realizadas regressões polinomiais a 5% de significância Não houve diferença estatística entre os tratamentos para MS, MO , MM e PB. Conclui-se que houve efeito nulo da suplementação de biotina na composição química dos cascos de equinos.
Palavras-chave: cavalos, suplemento, vitamina
Chemical composition of horses hooves supplemented with biotin
ABSTRACT - The aim was to evaluate the chemical composition of the hooves of 12 horses aged between 2 and 28 years old supplemented during 210 days with biotin. It was four treatments randomly distributed in three groups based on age. Treatment 1 (T1), control - zero biotin; Treatment 2 (T2) daily supplementation of 14 mg of biotin; Treatment 3 (T3) daily supplementation of 28 mg of biotin, and in treatment 4 (T4) daily supplementation of 42 mg of biotin. Samples collected from the hooves for analysis of the chemical composition were done at intervals of 30 days. The chemical composition data of the hooves were tabulated and submitted to analysis of variance, and for the period of collection, polynomial regressions were performed at 5% of significance. No statistical differences were found between the treatments in relation to the chemical composition of the hooves, for DM, MO, MM and PC, indicating no effect of biotin supplementation on the chemical composition of horses' hooves
Keywords: horses, supplement , vitamin
Introdução
A Equideocultura no Brasil é pouco conhecida pela sociedade brasileira, existem estigmas que a enquadram como atividade exclusiva da elite. No entanto, o Brasil possui uma tropa de 5.363.185 cavalos (IBGE, 2015) inseridos em diferentes ramos de atividades equestres, só na lida do gado são 3.900.000, nas atividades de esporte e lazer são 1.100.000 animais, sem contar os animais utilizados no Turfe e demais ocupações as quais não foram contabilizadas por órgãos governamentais estatísticos. O principal item de produção animal em equinos deixou de ser apenas a compra e venda do animal, mas aliado a ele estão as atividades de saúde, esporte e lazer: tais como o equoturismo, cavalgadas, equoterapia, serviços de hospedagem para equinos, serviços de doma e treinamento atlético para uso nas mais diversas provas equestres. A suplementação de biotina para equinos tem sido recomendada em condições onde se deseja o fortalecimento de cascos. Comben et al. (1984) reportaram diversos graus de melhora na dureza, integridade e conformação da muralha do casco de equinos suplementados com biotina. Essa pesquisa teve como objetivo avaliar a composição química dos cascos de equinos criados a campo suplementados com diferentes níveis de biotina.
Revisão Bibliográfica
O casco na espécie equina possui diversos papeis essenciais para a manutenção do equilíbrio esperado para o sistema musculoesquelético. Funções como absorção de impacto com o solo, resistência ao desgaste, auxilio na propulsão, suporte ao peso do animal e auxilio no retorno sanguíneo da extremidade do membro locomotor tornam essa estrutura uma peça fundamental para a higidez do equino (FARIA, 2010). Os estudos e pesquisas relacionados ao casco dos equinos são importantes, porque através do conhecimento funcional desta estrutura é possível estabelecer relações entre as outras partes anatômicas, permitindo a melhora do manejo e a mobilidade do animal dentro de suas diversas utilizações.
A deficiência nutricional presente no manejo alimentar diário, pode explicar a baixa qualidade de matéria córnea encontrada nos cascos de uma grande parte dos cavalos em regime de estabulação. Outro fator que afeta a qualidade e a forma dos cascos em equinos domesticados seria a mudança de alimentação sem adaptação (TOLEDO, 2012).
Uma das práticas mais negligenciadas de manejo diário em criatórios de equinos são os cuidados com os cascos, considerada por muitos técnicos como a atividade mais importante. Falta das práticas de limpeza do casco, tratamento de lesões e casqueamento podem acarretar em desconfortos físicos para o animal, baixo desempenho atlético com consequente prejuízo financeiro para o proprietário ou criador (LINS et al., 2008).
Além desses cuidados com as práticas de manejo, existe uma gama de suplementos para os equinos, que associados ao casqueamento, ajudam a acelerar tratamentos de lesões e fortalecem os cascos como os compostos de biotina, zinco quelatado, beta caroteno, enxofre, dentre outros, que prometem um estímulo ao crescimento dos cascos. A biotina (vitamina H) é uma vitamina hidrossolúvel que se mostra essencial para a síntese de proteínas e para formação de ácidos graxos de cadeia longa que compõem a matriz intracelular dos cascos.Já foi comprovada a síntese microbiana de biotina no ceco e colon dos equinos (Carol et al, 1949).
Apesar do NRC (2007) ter postulado que a suplementação de biotina pode ser indicada apenas para populações de equinos com cascos frágeis, ainda não foi abordada as condições de manejo diário de animais submetidos a situações de estresse dos cascos em função de programas de treinamento para provas equestres e até mesmo sua criação e manutenção a campo, onde são submetidos ao sol e outras condições edafoclimáticas.
Materiais e Métodos
Durante 210 dias, o estudo foi conduzido no Setor de Equideocultura da Unioeste, foram utilizados doze equinos, com idade aproximada entre 02 a 28 anos. Todos os equinos foram vermifugados (Ivermectina 1,87 g/Kg PV) e mantidos exclusivamente à pasto, com água a vontade sem nenhuma suplementação mineral vitamínica. Os tratamentos experimentais se basearam em diferentes volumes de um produto a base de biotina. (forma líquida), cuja composição era de: betacaroteno (10mg/kg; biotina (2.800 mg/kg), DL –metionina (20g/kg), enxofre (10g/kg, L-lisina (53g/kg), manganês (4.200 mg/kg), selênio (32 mg/kg) e Zinco quelatado (18 g/kg)
Foram quatro tratamentos distribuídos em três grupos baseado na idade, com quatro cavalos por grupo. O Tratamento 1 (T1), testemunha, zero biotina; Tratamento 2 (T2) suplementação diária de 14 mg de biotina; Tratamento 3 (T3) suplementação diária de 28 mg de biotina; e no tratamento 4 (T4) suplementação diária de 42 mg de biotina, contidas em 15mL do suplemento. A biotina foi ofertada uma vez ao dia, por via oral, por meio de seringas graduadas.
As coletas das amostras dos cascos foram feitas a cada 30 dias junto com o casqueamento, foram retiradas as amostras com torquês nas regiões da pinça, ombro, quarto e talão, em seguida as mesmas foram acondicionadas em sacos plásticos esterilizados, identificados, lacrados e congeladas em freezer convencional. Foram analisados os teores de matéria seca (MS), a proteína bruta (PB), a matéria orgânica (MO) e a matéria mineral (MM) de acordo com Silva e Queiroz (2002).
O delineamento experimental foi um fatorial 4x3 com distribuição ao acaso, com quatro níveis de suplementação e três idades diferentes. Todos os dados foram avaliados pelo programa estatístico SAEG versão 8.1 (UFV, 2003).
Resultados e Discussão
Não foram encontradas diferenças estatísticas (p>0,05) entre os tratamentos em relação à composição química dos cascos, para MS, MO, MM e PB. (Tabela 2). Indicando efeito nulo da suplementação de biotina na composição química dos cascos de equinos durante o período experimental. Segundo descrito no NRC (1989) cavalos a campo, que estejam em pastagens de alta qualidade não precisam de suplementação com biotina, pois as forragens são fontes ricas de vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis. no presente trabalho o consumo de forragem foi a vontade, o que pode ter contribuído para uma produção de origem microbiana autossuficiente.
Ley et al. (1998) avaliaram os efeitos de manejo alimentar estação sazonal na força tensil e composição química de cascos de equinos, foram 18 éguas com idade entre 4 e 20 anos, mantidas a pasto e suplementadas com concentrado balanceado em energia, proteína e mineral. Os animais tiveram livre acesso a uma mistura mineral, pelo período de um ano. Os resultados foram significativos em relação ao efeito do manejo alimentar, pois as éguas mantidas em drylots, que receberam feno e sal mineral ad libitum, tiveram os maiores valores de umidade, força tensil e conteúdo mineral. Não foram encontrados associação positiva entre o teor de matéria seca dos cascos com qualquer componente químico estrutural do mesmo.
Dittrich (1992) estudou o efeito de diferentes níveis suplementares de biotina nos cascos de potros durante 90 dias.. Os concentrados foram suplementados com níveis de 10 mg de biotina por dia (T2), 20 mg de biotina por dia (T3) e 40 mg de biotina por dia (T4), sendo que o tratamento testemunha (Tl) foi o concentrado de uso normal sem suplementação desta vitamina. Foram avaliados o crescimento, a estrutura e a integridade dos cascos. Os resultados para a característica de PB obtidos pelo autor ao termino do experimento nos diferentes tratamentos foram que, o conteúdo total de proteína das amostras dos quatro tratamentos não apresentou resultados diferentes estatisticamente entre si, mostrando que não ha um incremento de proteína depositada no tecido córneo com a suplementação de biotina. Nos dados para PB na Tabela 2, pode-se observar que o mesmo aconteceu no presente estudo, onde não houve diferenças estatísticas.
Não foi encontrada nenhuma diferença significativa (p<0,05) para a idade dos animais, isso significa que o suplemento age de forma similar indiferente da idade.
Conclusões
Considerando os resultados obtidos, dentro do objetivo proposto e das limitações às condições experimentais, pode concluir que a suplementação com produtos a base de biotina para equinos a campo com pastagem de qualidade, se torna desnecessária, pois os níveis necessários para mantença são supridos pela alimentação e pela produção endógena.
Gráficos e Tabelas
Referências
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