Análise do comportamento de aves caipira criadas em clima quente

Elisângela de Sousa Oliveira1, Jayne Julia Zanchetta2, Raimifranca Maria Sales Véras3, Regina Tie Umigi4
1 - Universidade Federal de Roraima
2 - Universidade Federal de Roraima
3 - Universidade Federal de Roraima
4 - Universidade Federal de Roraima

RESUMO -

Sabendo que entre as aves podem existir comportamentos que expressam sua maneira de interagir com o ambiente e suas necessidades, objetivou-se com este trabalho avaliar o comportamento de aves caipiras criadas em clima quente. Foram utilizadas 96 aves caipiras distribuídas em três boxes para avaliarem os diferentes comportamentos durante o período da manhã e tarde. Os parâmetros avaliados foram influenciados pelo período de observação. Conclui-se que aves que vivem em clima quente, expressa em maior quantidade os comportamentos relacionados ao bem estar durante o período da manhã e os comportamentos relacionados ao estresse térmico foram observados com maior frequência no período da tarde.

Palavras-chave: Bem estar animal, estresse térmico, ambiente

Analysis of the behavior of free range chickens raised in hot weather

ABSTRACT - Knowing that among the birds there may be behaviors that express their way of interacting with the environment and their needs, this study aimed to evaluate the behavior of free range chickens grown in hot weather. It was used 96 birds, distributed in three boxes to evaluate the different behaviors during the morning and afternoon. The parameters evaluated were influenced by the observation period. It was concluded that birds living in hot climate, expressed in greater quantity the behaviors related to animal welfare during the morning and the behaviors related to thermal stress were observed more frequently in the afternoon.
Keywords: Animal welfare, heat stress, environment


Introdução

O Brasil é um dos maiores produtores de aves do mundo e devido à demanda do mercado consumidor, buscou-se adequar a criação dentro do conceito de bem-estar animal. Uma forma de verificar este conceito é através da observação do comportamento de aves, pois observando comportamentos conhecidos e desconhecidos, podemos ter uma base de problemas que se relacionam com a temperatura do ambiente, sistema de confinamento, manejo, sanidade e entre outros. O comportamento é um fenômeno complexo, pois ocorre tanto em indivíduos isolados como em grupos, sendo controlado através de mecanismos neurobiológicos e hormonais (MENCH, 1992).

Revisão Bibliográfica

estudo do comportamento assume papel importante dentro da produção animal, uma vez que, para racionalizar os métodos de criação, têm-se desenvolvido técnicas de manejo, alimentação e instalações que interferem no comportamento animal (TAKAHASHI et al., 2006). Os aspectos sociais, principalmente os baseados no comportamento das aves, até então relegados a um plano secundário, torna-se cada vez mais evidentes na exploração avícola moderna, face à importância do ambiente em que as aves estão sujeitas. Assim, os estudos de etologia têm alcançado nos últimos anos, um destaque todo especial, em virtude de sua estreita relação com a ecologia (MANING, 1972). Outro fator importante na criação de aves é o ambiente em que as aves são criadas, compreendendo todos os elementos físicos, químicos, biológicos, sociais e climáticos que influenciam o seu desenvolvimento e crescimento. Estes, os elementos climáticos, componentes do ambiente térmico do animal, incluem a temperatura, a umidade relativa, movimentação do ar e radiação, sendo estes os mais relevantes, por exercerem ação direta e imediata sobre as respostas comportamentais, produtivas e reprodutivas dos animais (BAÊTA; SOUZA, 2010).  

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido no Embrião Cooperativo da UFRR, no Campus Murupu, com duração de 10 dias. As aves foram alojadas em um galpão com 9m de largura e 10m de comprimento, divididas em quatro boxes. Cada boxe possuía 2,5m de largura por 5m de comprimento e pé direito de 2,5m, construídos em alvenaria, com telas de arame, coberto com telhas de fibrocimento e com saída para piquete individual. Foram alojadas 96 aves caipiras (não sexadas), aos 51 dias de vida, criadas em sistema de semi-confinamento e divididas em três boxes (32 aves/boxe). A temperatura foi registrada pelo período da manhã e tarde. Para a análise comportamental, foram avaliados os seguintes padrões, segundo Rudkin e Stewart (2003) citado por Barbosa Filho (2007): comer, beber, ciscar, investigar penas, banho de areia, agressividade, parar, sentar, trocar temperatura com o ambiente e movimentos de conforto (bater e esticar as asas e chacoalhar as penas). As observações foram efetuadas em horários e períodos diferenciados, sendo seis dias de observações pela manhã e quatro dias de observações pela tarde; para cada turno realizou-se duas observações por dia de uma hora, onde era observado e anotado por meia hora, depois com uma pausa de meia hora e mais uma observação de meia hora. Após as análises dos dados, os resultados foram avaliados através de análise estatística descritiva simples.  

Resultados e Discussão

Os resultados das observações realizadas nos boxes 1, 2 e 3 estão representados nas Figuras 1 e 2 para o período da manhã e tarde, respectivamente. Podemos observar pelos resultados apresentados que o clima da região agiu de forma direta sobre os comportamentos das aves. Durante o período experimental a temperatura manteve-se em 27°C para o período da manhã e 36°C para o período da tarde. Vale ressaltar que nos boxes 1 e 2 haviam a presença de uma árvore deixando o clima mais agradável, no boxe 3 a insolação se fazia presente dentro deste. Como o clima de Boa Vista-Roraima é caracterizado por altas temperaturas principalmente no período da tarde, isso levou os animais ao estresse por calor e os comportamentos de troca de temperatura com o ambiente (ôfego) e o acréscimo no consumo de água ficaram mais pronunciados, concordando com Furlan, Macari e Fernandez-Alarcon (2012). Para temperaturas ambientais superiores a 30°C, o consumo de água pode atingir acréscimo de até 50% no volume diário consumido e a principal razão para este incremento no consumo seria o aumento da perda de água por evaporação pelas vias respiratórias (COSTA, 2002). As aves reduziam o consumo de ração pelo período da tarde devido às altas temperaturas e também se notava um aumento nos comportamentos de ficar parada, sentada e agressividade principalmente no boxe 3, pois havia maior índice de radiação solar dentro deste, tais resultados também foram observados por Barbosa Filho et al. (2007). Os comportamentos que não sofreram tanta interferência do calor ocorreram somente durante o período da manhã e por parte das aves que se encontravam dentro dos boxes 1 e 2, pois havia  sombreamento  de uma árvore para esses boxes. Os comportamentos de banho de areia, investigar penas, ciscar e movimento de conforto (bater e esticar as asas e chacoalhar as penas), tiveram representatividade somente no período da manhã, onde a temperatura era mais agradável.  

Conclusões

Através do experimento observou-se que aves que vivem em regiões de clima quente sofrem grande influência da temperatura. Os comportamentos que expressavam conforto térmico foram comer, banho de areia, investigar penas, ciscar e movimento de conforto, ocorrendo em maior frequência no período da manhã. Durante o período da tarde se sobressaíram os comportamentos de agressividade, troca de temperatura com o ambiente (ôfego), bebendo, parada e sentada, ocasionadas pelo estresse térmico.

Gráficos e Tabelas




Referências

BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais, conforto animal. Viçosa, MG: UFV, 2010. 269p. BARBOSA FILHO, A.D.; SILVA, J.O.; SILVA, A.N.; SILVA, J.M. Avaliação dos comportamentos de aves poedeiras utilizando sequencia de imagens. Engenharia Agricola, Jaboticabal, v.27, n.1, p.93-99, 2007. COSTA, M. J. R. P. Comportamento e bem-estar. In: MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. (Ed.). Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:FUNEP, 2002. p.327-345. FURLAN, R.L.; MACARI, M.; FERNADEZ-ALARCON, M.F. O estresse calórico e a demanda de água. In: MACARI, M.; SOARES, N.M. (Ed.). Água na avicultura industrial. 2 ed. Jaboticabal:FUNEP, 2012. p. 256-272. MANNING A. An introduction to animal behaviour. Addiosn-Wesley, Reding, M. A. 1972; 329p. MENCH J.A. Applied Ethology and poultry production. Poultry Science 1992;71:631-633. TAKAHASHI, S.E.; MENDES, A.A.; SALDANHA, E.S.P.B.; PIZZOLANTE, C.C.; PELÍCIA, K.; GARCIA, R.G.; PAZ, I.C.L.A.; QUINTEIRO, R.R. Efeito do sistema de criação sobre o desempenho e rendimento de carcaça de frangos de corte tipo colonialRevista Brasileira de Medicina Veterinária, Rio de Janeiro, v.58, n.4, p.123-132, 2006.