ANÁLISE DO PERFIL DE CONSUMIDORES DE CARNE DE FRANGO, COM ABORDAGEM SOBRE ASPECTOS ATUAIS INFORMATIVOS

Amanda Rickes Crochemore1, Jerri Teixeira Zanusso2
1 - Universidade Federal de Pelotas
2 - Universidade Federal de Pelotas

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi analisar o perfil do consumidor de carne de frango, considerando suas preferências e conhecimentos atuais sobre a produção avícola. Foram considerados aspectos como idade, escolaridade, renda familiar, preferência, frequência e motivação do consumo, onde adquirem e as características relevantes para a compra, tipos e cortes preferidos, e o entendimento sobre a utilização de hormônios na produção, se há bem-estar animal na criação, o que entende por abate humanitário e onde obtêm as informações sobre a criação e produção desta carne. Concluiu-se que a maioria dos consumidores possuem baixa renda, ressaltando a preferência pelo consumo, em função do preço acessível, procuram pela facilidade de compra, adquirem cortes e as compras são feitas em supermercados. A criação intensiva leva-os a não acreditar no uso do bem-estar e acreditar no uso de hormônio. A maioria tem maior grau de instrução, porém são influenciados pela opinião emitida em mídias digitais.

Palavras-chave: bem-estar, consumo, hormônios, mercado, mídias

ANALYSIS OF THE CHICKEN MEAT CONSUMER PROFILE, WITH AN APPROACH ON CURRENT INFORMATIVE ASPECTS

ABSTRACT - The aim of this work was to analyze the consumer profile of meat chicken, considering their preferences and knowledge about the poultry production. The attributes considered were age, instruction degree, family budget, preference, frequency and motivation of meat consumption, where products are purchased, what characteristics are relevant to the purchase, preferred cuts, as well as their understandings about the use of hormones in poultry production, and animal welfare, what is meant by humanitarian slaughter and where information is obtained. It was concluded that the consumers have low income, emphasizing the preference for the consumption of chicken meat, due to the affordable price. Consumers prefer spend less time, so they get cuts and purchases are made in supermarkets. The intensive mode of creation leads the consumer to not believe in animal welfare and believes in the use of synthetic hormones. The consumers are influenced by the public opinion emitted in digital media.
Keywords: consumption, hormones, market, media, welfare


Introdução

A avicultura é uma atividade econômica de grande importância no agronegócio brasileiro, caracterizada por ser uma atividade dinâmica e rápida pelo tempo de resposta da produção. A avicultura brasileira teve grandes avanços na área da genética, nutrição, sanidade e bem-estar animal, e apesar da crise econômica que afetou o país, conseguiu atingir patamares elevados na produção mundial. Segundo a ABPA (2016), o Brasil tornou-se mundialmente o segundo país com maior produção, cerca de 13.146.000 toneladas, de carne de frango em 2015, ultrapassando a China, e continua posicionado como maior exportador de carne de frango do mundo, já os estados brasileiros que mais produzem carne de frango são Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, respectivamente com 32,46%, 16,24% e 14,13% da produção nacional. Devido aos avanços na produção avícola e ao aumento do valor da carne bovina, houve crescimento no consumo interno per capita de frangos, chegando a 43,25kg/hab/ano (ABPA, 2016), porém devemos visar ao aumento do consumo seguindo como meta o ano de 2011, onde houve consumo de 47,38kg/hab/ano. Para isto deve-se atentar às demandas do mercado consumidor, pois este segmento direciona para as mudanças necessárias na cadeia produtiva (ZAMUDIO, 2010). Objetivando conhecer e analisar as diversas características e preferências dos consumidores de carne de frango, assim como seus conhecimentos teóricos e/ou empíricos sobre a produção avícola de maneira geral, realizou-se o presente trabalho.

Revisão Bibliográfica

O ato de consumir está presente no cotidiano das pessoas. Estudar o perfil dos consumidores é um assunto bastante importante, permitindo que as empresas conheçam como seu público alvo comporta-se. Segundo PINHEIRO (2015) este é um assunto complexo pela interdisciplinaridade envolvendo economia, cultura, demografia e psicologia. Com isto, variados autores veem a necessidade de questionar e entender sobre os diversos atos comportamentais dos consumidores, como por exemplo, por que compram, o que compram e como respondem ao mercado (SHETH et al., 2001). Segundo LARENTIS (2012), os consumidores possuem cada vez mais conhecimento sobre os processos realizados na produção e seus direitos como consumidores, por atualmente possuírem maior acesso às informações com a utilização das ferramentas de busca e diversas mídias digitais, com isso, tornam-se mais exigentes em qualidade podendo apresentar insatisfação e exigirem mais seus direitos em vários casos. Visando conhecer os hábitos, características, preferências, exigências dos consumidores de carne, assim como seus conhecimentos sobre a produção, o bem-estar animal e a presença de hormônios na produção, autores como FRANCISCO et al. (2007), PORTO (2012) e BOSSOLANI et al. (2012) buscaram respostas de diferentes cidades e regiões, demonstrando que há diversas informações que se repetem nas pesquisas, como a cor e aparência sendo características importantes na compra da carne de frango e a crença sobre a utilização de hormônios sintéticos na produção do frangos. Considerando, para todo o processo e sistema de produção de carne de frango, a importância da análise e conhecimento do perfil do consumidor deste produto, que atualmente é apreciado por grande parcela da população, objetivou-se a realização de um questionário resultando neste trabalho. Juntamente com os demais trabalhos citados, que este possa auxiliar produtores, indústria e comércio no aprimoramento das suas práticas, visando uma maior rentabilidade da atividade avícola.

Materiais e Métodos

Para cumprir os objetivos deste estudo utilizou-se de um questionário online desenvolvido através da ferramenta gratuita Google Forms, composto por 20 perguntas, sendo 16 de múltipla escolha, 3 de caixas de seleção e 1 de resposta curta. Para que houvesse maior alcance, o questionário foi divulgado através de compartilhamentos na rede social Facebook. As respostas foram computadas e interpretadas, buscando como resultado a análise e conhecimento do perfil dos consumidores de carne de frango, a frequência de consumo, a motivação para o consumo, a preferência do local de compra, o primeiro atributo relevante no momento da compra, as principais características relevantes na compra da carne, o tipo mais consumido, o corte preferido, as opiniões e conhecimentos sobre a utilização de hormônios na carne de frango, sobre os animais serem tratados com bem-estar animal respeitando as 5 liberdades, sobre o conhecimento do abate humanitário e sobre onde obtiveram as informações da produção de carne de frango.

Resultados e Discussão

Dos entrevistados, 81,4% são do sexo feminino e 18,6% do sexo masculino; 97,1% consomem carne, dos 2,9% que não consomem o principal motivo foi acreditarem haver maus tratos aos animais, dano e impacto ambiental causados pela indústria, custo e não gostar do sabor. Quanto a renda familiar, 40,4% ganham de 1 a 3 salários mínimos, 29,5% de 3 a 6 salários mínimos, 10,2% de 6 a 8 salários mínimos, 8,5% mais de 10 salários mínimos, 6,5% menos de 1 salário mínimo e 4,8% de 8 a 10 salários mínimos. Quanto ao estado civil, 80,1% são solteiros e 66,8% tem idade entre 18 e 25 anos. Segundo DA ROSA (2013), a carne mais consumida é a bovina seguida do frango, que se repete neste estudo, com 52,5% de preferência, seguida do frango com 28,6%. A maior frequência do consumo da carne de frango foi 1 a 2 vezes/semana (43,1%), seguida de 3 a 4 vezes/semana (40%), 5 a 6 vezes/semana (8%) e todos os dias (5,6%) (Gráfico 1). O que mais motiva a compra de carne de frango foi o preço (24,5%), possibilidade de variação do cardápio (23%), carne saudável e nutritiva (17,7%), facilidade de preparo (15,3%), carne ser mais saborosa (14,5%) e variedade de cortes (1,7%). O local onde os entrevistados mais compram carne de frango é em supermercados (83,1%) e em açougues (10,9%), em feiras e mercados coloniais apenas 1%. Com mais de uma escolha, questionou-se quais as principais características buscadas no produto na hora da compra, obteve-se o resultado segundo o Gráfico 2. O tipo de carne mais consumido são os cortes (88,4%) sendo preferido o filé de peito sem pele e sem osso (42,9%), sobrecoxa (19,1%), sassami (17,2%), coraçãozinho (5,8%), coxa e coxinha da asa (8,2%). Tratando do conhecimento dos entrevistados assim como verificado por BOSSOLANI et. al. (2012), 69% acreditam ser utilizado hormônio sintético para as aves atingirem peso de abate em 42 dias. Sobre o bem-estar animal 78,9% dos entrevistados acreditam que os animais não são tratados dentro das 5 liberdades, liberdade psicológica (livres de medo, ansiedade ou estresse), comportamental (livres para expressar seu comportamento natural), fisiológica (livres de fome ou sede), sanitária (livres de dor e doenças) e ambiental (livres de desconforto) (NÄÄS, 2008). Sobre o abate humanitário 16,5% confirmaram não saber do que se trata, 9,4% confirmaram ser um abate realizado por seres humanos obedecendo a legislação e sob inspeção sanitária e 71,2% confirmaram ser um abate de animais seguindo o protocolo de bem-estar, desde o embarque na propriedade até a sangria dos animais quando estes estão inconscientes. Observa-se que os fatores mais relevantes na hora de realizar a compra da carne de frango são aparência física dos cortes, preço, prazo de validade e marca, sem obter importância em fatores realmente relevantes como textura, cor, cheiro e ausência de água na bandeja. Considerando o nível escolar (57,4% com superior incompleto, 14,3% com superior completo, 13,6% ensino médio completo e 12,3% com pós-graduação) e com isso o acesso mais facilitado a informações científicas (41,2% obtêm informações de conhecimento acadêmico e 16,7% obtêm através de revistas acadêmicas), observa-se que nos quesitos uso de hormônios e bem-estar, apesar de grande parcela dos entrevistados terem maior grau de instrução, acessam informações empíricas, da opinião pública, equivocadas e sem base científicas, compartilhadas em redes sociais como Facebook e YouTube e sites como blogs, respectivamente 24,5%, 16,9% e 15,5% escolhidos como meio de obtenção de informações sobre a produção de carne de frangos.

Conclusões

O preço continua sendo um dos principais atributos na tomada de decisão da compra de carne de aves. O consumidor procura a facilidade na compra, tanto quanto o local de compra, quanto na escolha de cortes. As mídias atuais banalizam a opinião pública sem embasamento empírico, formando opinião quanto a temas polêmicos como modo de criação e bem-estar animal. A indústria ou setores ligados à cadeia produtiva poderiam utilizar-se de forma mais expressiva das mesmas mídias para trazer mais esclarecimentos aos consumidores.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABPA. Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório anual 2016. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/setores/avicultura/publicacoes/relatorios-anuais/2016>. Acesso em: 27 mar. 2017. BOSSOLANI, Iderlipes Luiz Carvalho; BITENCOURT, Diego Augusto; PINTO, Marcos Franke. Avaliação do perfil dos consumidores de carne de frango no município de Araçatuba-SP. Veterinária e Zootecnia, p. 131, 2012. DA ROSA, Carolina Obregão et al. Características do mercado consumidor de carne de frango em um município de médio porte. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v. 9, n. 17, p. 518, 2013. DE ALENCAR NÄÄS, Irenilza. Princípios de bem-estar animal e sua aplicação na cadeia avícola. Biológico, São Paulo, v. 70, n. 2, p. 105-106, 2008. FRANCISCO, Dione Carina et al. Caracterização do consumidor de carne de frango da cidade de Porto Alegre. Ciência rural. Santa Maria. vol. 37, n. 1, p. 253-258, 2007. LARENTIS, Fabiano. Comportamento do consumidor. Iesde Brasil SA, 2012. MOLENTO, Carla Forte Maiolino. Repensando as cinco liberdades. In: CONGRESSO INTERNACIONAL CONCEITOS EM BEM-ESTAR ANIMAL. p. 56, 2006. PINHEIRO, Roberto Meireles. Comportamento do consumidor. Editora FGV, 2015. PORTO, Rafael Gastal. Consumidor final de carnes: características e hábitos em Pelotas, RS. Serviço de Informação da Carne. Recuperado em abril de, 2012. SHETH, Jagdish N.; MITTAL, Banwari; NEWMAN, Bruce I. Comportamento do cliente. São Paulo: Atlas, 2001. ZAMUDIO, Luz Haydee Bravo. Caracterização e Percepção de Consumidores sobre a qualidade da carne de frango comercializada em Brasília – DF. 2010. 125 f. Dissertação (Mestrado) – UnB, Brasília, 2010. Disponível em: <http://repositorio.unb.br>. Acesso em: 27 mar. 2017.