Análise do pólen coletado pela Apis mellifera nas quatro estações do ano no município de Pirassununga (SP)

Tamires Estéfani Marcon1, Maria Estela Gaglianone Moro2, Catarina Abdalla Gomide3
1 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) - Universidade de São Paulo
2 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) - Universidade de São Paulo
3 - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) - Universidade de São Paulo

RESUMO -

O trabalho teve como objetivo a análise da composição bromatológica e verificação da qualidade do pólen apícola coletado por abelhas do gênero Apis mellifera nas quatro estações do ano, no município de Pirassununga (SP), no período de um ano. As coletas do pólen foram feitas nos meses de Outubro de 2015, Janeiro, Março e Junho de 2016. A composição centesimal e qualidade do pólen apícola são dependentes de fatores como origem floral, estação do ano, idade da planta e sua condição nutricional, condições ambientais, composição do solo, origem geográfica, entre outros. Os valores encontrados para umidade, cinzas, proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta e pH estão de acordo com a Legislação Brasileira. Foram encontradas diferenças no teor dos nutrientes, entre as amostras coletadas nas distintas estações do ano, sendo a amostra 1 (Primavera) a que apresentou maior teor de nutrientes, principalmente proteínas, quando comparada às demais.

Palavras-chave: Composição centesimal, pólen apícola, qualidade nutricional

Analysis of collected Apis mellifera pollen in the four seasons of the year in the Pirassununga (SP) city

ABSTRACT - The objective of this work was to analyze the composition and quality of bee pollen collected by bees of the genus Apis mellifera in the four seasons of the year, in the city of Pirassununga (SP), in the period of one year. The pollen collections were made in October 2015, January, March and June 2016. The centesimal composition and quality of the bee pollen are dependent on factors such as floral origin, season, plant age and nutritional status, conditions Environmental, soil composition, geographical origin, among others. The values found for moisture, ash, crude protein, ethereal extract, crude fiber and pH are in accordance with the Brazilian Legislation. Differences in nutrient content were found among the samples collected in the different seasons of the year, with sample 1 (Spring) presenting the highest nutrient content, mainly protein, when compared to the others.
Keywords: Bee pollen, centesimal composition, nutritional quality


Introdução

O pólen apícola deriva da aglutinação de pólen botânico, néctar e substâncias salivares de abelhas operárias, conforme a Instrução Normativa nº 03 de 19 de Janeiro de 2001 (BRASIL, 2001). Destaca-se como importante fonte de proteínas, tanto para as abelhas como para humanos, e apresenta em sua composição proteínas, açúcares, lipídios, vitaminas e minerais (ALMEIDA-MURADIAN et al., 2012), o que explica e justifica seu uso como suplemento nutricional na dieta humana. Ciente dos benefícios do pólen apícola surge a necessidade de se conhecer a composição centesimal, bem como os efeitos benéficos que se pode obter ao ingeri-lo como forma de suplemento alimentar ou terapêutica (NEGRÃO, 2014). A determinação da composição centesimal e a verificação da qualidade do pólen apícola podem ser obtidas por meio de análises bromatológicas e/ou físico-químicas.

Revisão Bibliográfica

O pólen tem sua composição físico-química e qualidade de nutrientes variadas de acordo com as espécies florais visitadas pelas abelhas (FUNARI et al., 2003; MARCHINI et al., 2006), sofre influência da idade da planta, de suas condições nutricionais e ambientais durante o desenvolvimento do pólen (MARCHINI et al., 2006). Outro fator que interfere na proporção de nutrientes é a localidade em que se encontra a planta e a estação do ano (FUNARI, 2003). A determinação da composição centesimal e a verificação da qualidade do pólen apícola podem ser obtidas por meio de análises bromatológicas e/ou físico-químicas, dentre elas: umidade (máximo de 30%), cinzas (máximo de 4%), lipídeos (mínimo de 1,8%), proteína bruta (mínimo de 8%), fibra bruta (mínimo de 2%) e pH (4 a 6) (BRASIL, 2001). O teor de umidade presente no pólen apícola é um dos fatores que determinam a vida de prateleira do produto, pois sendo muito higroscópico pode favorecer a rápida proliferação de microrganismos afetando suas características organolépticas, sua estocagem, embalagem e processamento (SATTLER, 2013). Em relação às cinzas, valores acima do preconizado pela Legislação Brasileira indicam contaminação inorgânica do pólen por sílica, areia, terra, fuligem do fumigador, metais resultantes dos materiais usados na coleta do pólen (ALMEIDA-MURADIAN et al., 2012). A fibra tem um valor significativo como componente do pólen, principalmente pelo fato de que a sua presença ajuda a prolongar a conservação e a vida de prateleira dos alimentos. De acordo com Almeida-Muradian et al.(2012) o teor lipídico do pólen apícola pode ser um indicativo do envelhecimento do produto (rancificação ou oxidação lipídica), assim como os teores proteicos abaixo do mínimo (8% na base seca) determinado pela Legislação Brasileira, também indica o envelhecimento do mesmo, possível deterioração e perda de suas propriedades nutricionais. Outro parâmetro a se considerar em relação à qualidade do pólen é o pH. Quando há um aumento no pH, o pólen pode se apresentar em processo de envelhecimento, que pode ter sido devido à exposição a altas temperaturas e excesso de umidade.

Materiais e Métodos

Para realização das análises o pólen foi coletado nos meses de Outubro de 2015, Janeiro, Março e Junho de 2016, no município de Pirassununga (SP). As análises bromatológicas foram realizadas (em triplicata) no Laboratório de Bromatologia, Departamento de Zootecnia, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, segundo o Manual de Controle de Pólen Apícola (ALMEIDA-MURADIAN et al., 2012) para determinação de umidade, cinzas, lipídeos, proteína bruta, fibra bruta e pH, sendo analisadas um total de quatro amostras de pólen apícola.

Resultados e Discussão

Após a realização das análises para umidade, cinzas, lipídeos (ou extrato etéreo), proteína bruta, fibra bruta e pH nas amostras colhidas nas estações Primavera, Verão, Outono e Inverno, os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 1. Na estação do outono foi obtido o maior teor de umidade sendo de 10,3%. Os valores de umidade variaram entre 8,06% e 10,3%, durante as quatro estações do ano, concordantes aos de Sattler (2013), cujos valores foram de 9,69%. O teor de umidade do pólen apícola influencia as características organolépticas e sua “vida de prateleira”, e por possuir característica higroscópica, pode ser afetado pelas condições ambientais. Segundo Nogueira (2012) altos teores de umidade favorecem a proliferação microbiana. O teor de cinzas está de acordo com a literatura e abaixo do estabelecido pela Legislação Brasileira, tendo sido maior na primavera (3,14%). A quantidade de cinzas do pólen tem relação com o tipo do solo, origem geográfica, capacidade da planta de armazenar sais minerais, idade, condição nutricional da planta, diferenças na origem floral e estações do ano (ARRUDA, 2013). Os resultados de proteína bruta estão acima do mínimo estabelecido pela Legislação Brasileira, porém de acordo com os encontrados na literatura.  O menor teor proteico do pólen verificado neste trabalho foi no verão (20,26%), porém este ainda se apresentou mais proteico que pólen apícola analisado por Barreto et al. (2005), cujo valor foi de 15,78%. O maior teor proteico pode ter sido influenciado pela maior diversidade polínica da amostra na primavera e inverno. Os valores obtidos para a fibra bruta do pólen apícola também estão de acordo com os da literatura, exceto para a amostra coletada na primavera, que apresentou teor de fibra muito baixo (0,23%). Bonvehí et al. (1986) e Funari et al. (2003) encontraram valores dentro do intervalo de valores máximo (1,8%) e mínimo (0,23%) de fibra bruta próximos aos obtidos no presente trabalho. A possível diferença dos valores de fibra entre primavera e inverno se deve às características botânicas do grão de pólen. O teor de lipídeos encontrado no período do inverno (5,00%) chega a ser quase três vezes maior do que o obtido na primavera (1,72%). Maiores teores de lipídeos encontrados no pólen apícola, coletado no inverno, pode estar associado, segundo Nogueira (2012), a um maior potencial de pólen das famílias Myrtaceae (pitangueira, jabuticabeira, entre outras) e Brassicaceae (repolho, mostarda), que pela quantidade de lipídeos presentes em seu pólen, sugere a preferência pela Apis mellifera em momentos de escassez de alimento. Os valores de pH das amostras nas quatro estações do ano estão de acordo com os encontrados na literatura e dentro do intervalo estabelecido pela Legislação Brasileira. Barreto et al. (2012) encontraram para o pH os seguintes valores: 4,55 e 4,80, nessa ordem, valores estes próximos aos obtidos no presente trabalho.

Conclusões

A amostra coletada na estação da primavera apresentou maiores teores de nutrientes, principalmente proteínas, em relação às outras amostras; porém, os valores obtidos nas amostras das diferentes estações se mostraram de boa qualidade para o consumo humano uma vez que estão de acordo com a Legislação Brasileira.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALMEIDA-MURADIAN, L.B.; ARRUDA, V.A.S.; BARRETO, L.M.R.C. Manual de Controle de Qualidade do Pólen Apícola. São Paulo: APACAME, 2012. 28p. ARRUDA, V.A.S. Pólen apícola desidratado: composição físico-química, qualidade microbiológica, compostos fenólicos e flavonoides, atividade antioxidante e origem botânica. 2013. 202f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. BARRETO, L.M.R.C.; FUNARI, S.R.C.; ORSI, R.O. Composição e qualidade do pólen apícola proveniente de sete estados e do Distrito. Boletim da Industrial Animal, v.62, n.2, p.167-175, 2005. BARRETO, L.M.R.C.; NORDI, J.C.; DIB, A.P.S.; CÉSAR, V.S.; ALVARELI, L.G.; NORDI, N.T.; CANELLA, J.B. Qualidade físico-química do pólen apícola produzido no Vale do Paraíba–SP. Revista Biociências, v.18, n.spe., p.64-70, 2012. BONVEHÍ, J.S.; GARLINDO, J.G.; PAJUELO, A.G. Estudio de la composición y características físico-quimicas del pólen de abejas. Alimentaria, n.176, p.63-67, 1986. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Legislação. Visa Legis. Instrução Normativa n.3, de 19 de janeiro de 2001. Aprova os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de apitoxina, cera de abelha, geléia real, geléia real liofilizada, pólen apícola, própolis e extrato de própolis. Disponível em: <http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/60/normas.htm> Acesso em: 12 jan. 2016. FUNARI, S.R.C., ROCHA, H.C., SFORCIN, J.M., FILHO, H.G.; CURI, P.R.; GOMES DIERCKX, A.R.M.; FUNARI, A.R.M.; DE OLIVEIRA ORSI, R. Composições bromatológica e mineral do pólen coletado por abelhas africanizadas (Apis mellifera L.) em Botucatu, Estado de São Paulo. Archivos Latinoamericanos Produccion Animal, v.11, n.2, p.88-93, 2003. MARCHINI, L.C.; REIS, V.D.A.; MORETI, A.C.C.C. Composição físico-química de amostras de pólen coletado por abelhas africanizadas Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae) em Piracicaba, Estado de São Paulo. Ciência Rural, v.36, n.3, p.949-953, 2006. NEGRÃO, A.F. Efeito da sazonalidade no teor proteico e composição de aminoácido no pólen apícola produzido em Botucatu, Estado de São Paulo. 2014. 48f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2014. NOGUEIRA, C.M.P. Estudo do pólen apícola comercial. 2012. 62f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior Agrária de Bragança, Instituto Politécnico de Bragança, Bragança, 2012. SATTLER, J.A.G. Quantificação das vitaminas antioxidantes E (α-, β-, γ- δ-tocoferol), C (ácido ascórbico), pró-vitamina A (α-, β-caroteno) e composição química do pólen apícola desidratado produzido em apiários georreferenciados da região Sul do Brasil. 2013. 115f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.