ARQUITETURA VETERINÁRIA: A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DOS AMBIENTES NO PREVENÇÃO DA CONTAMINAÇÃO HOSPITALAR
Juliana Domingues Scatolon1, Korina Aparecida Teixeira Ferreira da Costa2, Marcus Vinicius Pimenta Rodrigues3
1 - Unoeste
2 - Unoeste
3 - 27602785819
RESUMO -
Os animais sempre estiveram presentes no cotidiano humano, para alimentação ou por afeto, esta relação resulta em pontos negativos, como a proliferação de zoonoses e o abandono de animais adoecidos. Estes problemas deram embasamento recentemente para a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas, centro de controle de zoonoses e hospitais veterinários (H.V.) que desenvolvam pesquisas para controle de doenças que acometem animais e seres humanos com a finalidade de melhorar o bem estar animal e prevenir epidemias. O objetivo do trabalho foi compreender a dinâmica dos centros cirúrgicos de três H.V. escola, para isso foram realizados estudos nas plantas baixa, embasados nas diretrizes arquitetônicas como, fluxograma de animais, equipamentos e pessoas na área cirúrgica. Os resultados mostraram que dois, entre os três hospitais veterinários estudados apresentaram a possibilidade de contaminação cruzada nos setores cirúrgicos e de apoio como, lavanderia e área de esterilização.
Palavras-chave: Hospital Veterinário, Contaminação Cruzada, Arquitetura Hospitalar, Saúde animal, Bem-estar animal.
VETERINARY ARCHITECTURE: THE IMPORTANCE OF THE ORGANIZATION OF ENVIRONMENTS IN THE PREVENTION OF HOSPITAL CONTAMINATION
ABSTRACT - Animals have always been present in human daily life, as for food or affection, but this relation bring negative points as the proliferation of zoonotics and the abandonment animals. These problems have been boosted the necessity development of public policies, zoonoses control center, and veterinary hospitals (HV) that develop research to control diseases that affect animals and humans in order to improve the quality of life prevent epidemics. Objective this work was understand the operation of surgical centers of three school veterinary hospitals, which studies were carried out on low plants, based on architectural guidelines such as flowcharts of animals, equipment and people in the surgical area. Partial studies show that two of the three veterinary hospitals presented the possibility of cross-contamination in the surgical and support sectors such as, laundry and sterilization area.
Keywords: Veterinary Hospital, cross contamination, Hospital Architecture, Animal Health, Animal Welfare.
Introdução
O aumento populacional humano e a importância afetiva dos animais desencadearam o aumento da população canina e felina, porém a falta de infraestrutura para tratamento dos animais adoecidos, trouxe número significativo de animais abandonados ás ruas. Este fator aliado ao desenvolvimento tecnológico e as pesquisas em torno da saúde animal e controle de zoonoses minimizaram a eutanásia dos animais adoecidos e abriram a necessidade da construção de hospitais veterinários públicos. (SCATOLON, 2013 e FARIA, 2015)
A legislação para implantação e funcionamento destas instituições é bem recente, e não muito abrangente, por isso os hospitais veterinários existiam apenas dentro de campus universitários e eram construídos de acordo com o “bom senso” dos médicos veterinários e engenheiros civis, que utilizavam como base a legislação para hospitais humanos.
A Resolução 1015 de 09 de novembro de 2012 estabelecida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária conceitua as funções deste atendimento e estabelece parâmetros para a implantação e funcionamento dos Hospitais Veterinários (H.V.) bem como os ambientes necessários para atendimento de acordo com os setores, como por exemplo, setor de atendimento, setor de diagnóstico, setor cirúrgico, setor de internação e setor de sustentação.
Por ser um ambiente com alto tráfego de pessoas e animais doentes é necessário que estes setores sejam organizados de forma que não haja contaminação de materiais esterilizados por materiais contaminados e que não seja favorecida a proliferação de doenças no ambiente hospitalar.
Revisão Bibliográfica
A contaminação hospitalar é adquirida após a admissão do paciente e seus sintomas aparecem durante a internação ou após a alta e está relacionada com procedimentos hospitalares. Essa contaminação pode ser endógena, quando o contaminante faz parte da microbiota do animal ou exógena, quando a fonte de contaminação é externa, seja pelo ambiente, por outros animais ou mesmo pelos seres humanos (BRACHMAN, 1992; VILLAS BOAS et. al, 2004).
Dentro da contaminação hospitalar, a exógena é considerada a principal, pois ela geralmente está relacionada ao não cumprimento dos protocolos de assepsia e da queda do sistema imunológico do animal, que ocorre muitas vezes pelo uso de drogas (medicamentos imunossupressores), alguns microrganismos tem fácil disseminação, podendo permanecer viáveis no ambiente por longos períodos, por tanto o cruzamento de ventilação entre os ambientes de atendimento e centros cirúrgicos, o cruzamento de fluxo de materiais esterilizados e materiais contaminados e até mesmo a falta de assepsia das mão dos funcionários podem contribuir para essa contaminação. (PELCZAR et.al, 1997; DOSSA, 2003).
De acordo com Santos (2007), os processos básicos de limpeza dos H.V.s como desinfecção, esterilização e biossegurança são semelhantes aos dos hospitais humanos, porém existem particularidades como por exemplo, o risco de contaminação cruzada em decorrência da setorização dos ambientes que muitas vezes são dispostos em planta baixa sem planejamento prévio.
Materiais e Métodos
Para o presente estudo foram selecionados 3 Hospitais Veterinários: HV1, localizado na cidade de Uberaba; HV2, em São Bernardo do Campo e HV3 em Presidente Prudente. Foram realizados levantamentos em revistas e sites, sobre o HV1 e HV2 para obtenção de imagens das plantas baixa e dos setores analisados. O HV3 foi estudado por meio de visitas técnicas ao local, realizando medições e levantamento fotográfico dos setores estudados. De posse das plantas baixa, foram realizados estudos de fluxo de funcionários e médicos veterinários, fluxo de materiais sujos do centro cirúrgico até o ambiente de esterilização e de materiais esterilizados; fluxo de animais pós-operatório e animais adoecidos; fluxo dos resíduos de descarte do centro cirúrgico. Após a elaboração dos estudos foram diagnosticados os cruzamentos de fluxos que poderiam estar sujeitos a contaminação cruzada.
Resultados e Discussão
O HV1 localizado na cidade de Uberaba é de autoria de uma arquiteta, atende animais de pequenos e grande porte. Possui os corredores internos destinados a circulação privada, ou seja, residentes, médicos veterinários e funcionários do H.V. Os corredores externos da circulação pública são destinados a visitantes e o centro cirúrgico ocupa o bloco central do hospital (Figura 1a).
As análises do HV1 apresentaram um fluxo adequado que dificulta as possíveis contaminações cruzadas, pois, as duas salas cirúrgicas (S.C.) estão dispostas de forma que entre elas se localizam as áreas de lavagem e esterilização, dificultando o contato entre material contaminado e os materiais esterilizados. O preparo dos animais para as cirurgias ocorre na área de assepsia e preparo de animais, localizados antes do centro cirúrgico, ou seja, os animais só são colocados em ambiente cirúrgico após higienização. Cada S.C. possui a sua própria sala de recuperação, não possibilitando o contato de animais susceptíveis a infecções hospitalares com animais adoecidos (Figura 1b).
O HV2 localizado na cidade de São Bernardo do Campo é de autoria de um escritório de arquitetura e também atende animais de pequeno e grande porte, porém composto de dois pavimentos, apresenta o centro cirúrgico no pavimento térreo. O setor cirúrgico é composto por quatro salas cirúrgicas, duas salas de paramentação, por tanto o fluxo de animais e médicos analisados nesses ambientes foi considerado adequado por não apresentarem cruzamento. (Figura 2c) A partir dos estudos de fluxo foi possível observar neste H.V. há possibilidade de ocorrer contaminação cruzada por meio do fluxo dos materiais esterilizados e contaminados, pois em uma das salas cirúrgicas estes materiais são levados pelo mesmo corredor (Figura 2d).
O HV3 teve o projeto arquitetônico feito por um médico veterinário e um engenheiro civil, e está localizado na cidade de Presidente Prudente. É composto por dois pavimentos, atende animais de pequeno e grande porte e possui dois setores cirúrgicos, um destinado à pequenos animais e outro à grandes animais, localizados no pavimento superior (Figura 3e).
Os fluxos analisados apresentaram a possibilidade de contaminação cruzada de materiais infectados e materiais limpos e também foi observado que os materiais contaminados circulam pelos corredores do HV até chegar ao destino, a lavanderia/esterilização, aumentando a possibilidade de contaminar outros setores do hospital (Figura 3f).
Conclusões
Com o presente estudo concluiu-se que por ser um assunto recente, os hospitais veterinários são construídos com embasamento nos hospitais humanos, mas devido as suas particularidades é necessário um olhar apurado para o planejamento arquitetônico de hospitais veterinários, afim de resolver questões de salubridade, por meio da disposição de setores, pois como qualquer outro ambiente de saúde existem riscos de contaminação humana e animal. É necessário também que sejam estabelecidas legislações que norteiem a construção destes ambientes, assim como já existem para arquitetura hospitalar humana.
Gráficos e Tabelas
Referências
BRACHMAN, P.S. (ed) Hospital infections. 3. ed. Boston, Little, Brown and Company, 1992. cap.1. p.3-20.
DOSSA, D.; CAUMO, K.S.; MORO, E.M.P.; STURMER, F.C.R. Avaliação microbiológica de diferentes anti-sépticos utilizados em ambiente hospitalar de Cruz Alta - RS. In: Congresso Brasileiro de Microbiologia, 2003, Florianópolis. Resumo. [s.l.,s.n], 2003.
FARIA, G.F.S. Anteprojeto Arquitetônico de Uma Unidade Hospitalar para Atendimento Animal (UHPA) no Município de Campos dos Goytacazes – RJ. Ano 2015
PELCZAR, M.J. JR.; CHAN, E.C.S.; KRIEG, N.R. Microbiologia: conceitos e aplicações. 2 ed., São Paulo: MAKRON Books, 1997. v.2, p.22-40.
RESOLUÇÃO Nº 1015, de 09 de Novembro de 2012. Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Disponível em: http://portal.cfmv.gov.br/portal/lei/index/id/441; acesso em: 12 de março de 2017
SCATOLON, J.D. Reforma e Readequação do Hospital Veterinário do Campus II da Unoeste – presidente prudente. p. 403-410. Ano 2013
VILLAS BOAS, P.J.F.; RUIZ, T. Ocorrência de infecção hospitalar em idosos internados em hospital universitário. Rev. Saúde Pública [online]. 2004, vol.38, n.3, pp. 372-378. ISSN 0034-8910.