Aspectos qualitativos do leite de vacas puras Holandesas e do cruzamento Holandês x Jersey (F1) em sistema semiextensivo

Matheus Giudici de Almeida1, Gabriele Marques Lopes2, Guilherme Anhanha Pedrozo3, Maiara Bertolazzi da Silva4, Nathã Silva de Carvalho5, Carolina Bremm6, Emmanuel Veiga de Camargo7, Diogo Bisio de Souza8
1 - IFFar Câmpus Alegrete
2 - IFFar Câmpus Alegrete
3 - IFFar Câmpus Alegrete
4 - IFFar Câmpus Alegrete
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
6 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
7 - IFFar Câmpus Alegrete
8 - IFFar Câmpus Alegrete

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição do leite de vacas puras da raça Holandesa e de vacas oriundas do cruzamento entre Holandês x Jersey (F1), manejadas em sistema semiextensivo. O trabalho foi realizado no Instituto Federal Farroupilha, Campus Alegrete, com a utilização de 18 vacas. Constituiu-se de experimento de observações repetidas no tempo, onde cada animal foi avaliado por três períodos. O modelo incluiu o efeito fixo de “genótipo” e, como aleatórios, os efeitos de animal, que caracteriza a repetição e o efeito do período de avaliação. Os animais oriundos do cruzamento Holandês x Jersey (F1) demonstraram superioridade na produção de sólidos totais caracterizado pelo aumento dos quantitativos de proteína do leite. Além disso, no sistema avaliado, não ocorreu diferenças no volume total de leite produzido. Partindo desse pressuposto, sugere-se que os animais F1 demonstraram superioridade adaptativa ao sistema de produção semiextensivo quando comparadas à raça pura.

Palavras-chave: bovinocultura, mestiços, produção, sorgo.

Milk Production and Somatic Cell Count of Holstein cows and Holstein x Jersey crossbred (F1) in semiextensive system

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the composition of the pure cow's milk of the Holstein breed and crossbred cows between the Holstein and Jersey (F1), managed in a semi-extensive system. The work was carried out at ‘Farroupilha’ Federal Institute, Campus Alegrete/RS state, with the use of 18 cows. Composition of experiments of repeated observations in time, where each animal was evaluated for three periods. The model included the fixed effect of genotype and, as random, the effects of the animal, which characterizes the repetition and the effect of the evaluation period. Analyzes were performed using the SAS (Statistical Analysis System). The animals of the pure Holstein breed did not present superiority in the production of milk under the crossbred Holstein x Jersey (F1). Based on this assumption, it is suggested that the F1 animals corroborate superiority adaptive conditions to the semiextensive production system when compared to pure bred animals.
Keywords: CCS, mestizos, mastitis, productivity, sorghum.


Introdução

A redução dos constituintes do leite acarreta perdas econômicas, pois estes são essenciais para o rendimento dos derivados (KNOB, 2015). Nos Estados Unidos, o qual recompensa por gordura e proteína, essa situação tem acarretado um aumento na utilização de mestiços em relação aos puros, estando esta, entre as principais razões para o aumento do interesse em sistemas de cruzamento (WEIGEL; BARLASS, 2003).

Corroborando, Knob (2015) mostrou que vacas cruzadas (Holandês x Simental) apresentaram produção de leite inferior em relação às vacas puras, no entanto, observou-se maior teor de sólidos no leite, compensando a menor produção com maior concentração de gordura e proteína.

Os sistemas de produção a pasto são predominantes no Brasil. Esse manejo apresenta vantagens para a produção leiteira, entre elas, o menor custo de produção operacional e a maior ingestão de volumoso determinando aumento da produção do ácido acético, responsável pelos incrementos de sólidos totais na composição do leite (DIEFENBACH, 2012).

Assim, aliado às perspectivas favoráveis ao crescimento da atividade leiteira, a preocupação com a qualidade da matéria prima a ser obtida e com a sustentabilidade e viabilidade dos sistemas produtivos, assume considerável relevância ao presente trabalho. Dessa forma avaliou-se a composição do leite quanto a gordura, proteína e sólidos totais em animais Holandês puros e em animais oriundos do cruzamento Holandês x Jersey (F1), expostos ao manejo semiextensivo.



Revisão Bibliográfica

O melhoramento de bovinos de leite baseia-se em teste de progênie para aumento da produção leiteira (PEREIRA, 2012). Madalena (2012) observou que esse tipo de ferramenta está correlacionada negativa para aspectos qualitativos do leite nos rebanhos. Todavia, publicações relatam a superação dessas limitações quanto aos aspectos qualitativos do leite, eficiência econômica e resistência à mastite em rebanhos oriundos de cruzamento tanto de raças zebuínas com taurinas, como aqueles ocorridos entre raças taurinas. Pressupõe-se que o cruzamento pode, através da complementaridade e do vigor hibrido, melhorar o desempenho do rebanho (KNOB, 2015). O aumento da produção de leite está negativamente relacionado ao teor de gordura, proteína e positivamente correlacionada com a contagem de células somáticas (KNOB, 2015). Pereira (2012) relatou correlação negativa (-0,07 a -0,67) entre produção de leite e percentual de gordura. Assim, a redução dos constituintes do leite acarreta perdas econômicas, pois estes são essenciais para o rendimento dos derivados dentro da indústria (KNOB, 2015) incidindo no preço do leite pago ao produtor (PEREIRA, 2012). De acordo com Knob (2015), aonde há vários anos existe a política de pagamento por qualidade do leite, o cruzamento entre raças especializadas é uma realidade. Os resultados mostraram que mestiças superaram as puras na produção de sólidos do leite, tanto para gordura, como proteína e lactose. Pactuando aos dados, ao avaliar a composição do leite e a produção de sólidos em até 305 dias de lactação em vacas mestiças Holandês x Jersey em relação às puras da raça Holandesa, em três propriedades em Santa Catarina e Paraná, Neto et al. (2013) relataram teores superiores de gordura e proteína no leite das fêmeas cruzadas, sendo que estas, ainda produziram significativamente mais gordura (em kg) em relação às fêmeas puras. A diferença entre os teores de gordura entre F1 e Holandês foi de 0,28 pontos percentuais, o que correspondeu a um teor de gordura 12% mais elevado nas vacas cruzadas. Estes pesquisadores concluíram que a utilização de vacas mestiças Holandês x Jersey pode ser interessante nas situações em que ocorre remuneração pelo teor e/ou produção de sólidos, em especial gordura do leite Por tudo, Ledic e Tetzner (2008) reforçam a justificativa de que se devam utilizar cruzamentos, em especial, as raças que estão sendo selecionadas para aumento de sanidade de úbere e aumento de sólidos totais, como exemplo as raças Jersey.

Materiais e Métodos

O experimento realizou-se no IFFAR – Campus Alegrete, no período de 08/2016 a 01/2017. Utilizou-se 11 vacas Holandesas (T1) e 7 mestiças Holandês x Jersey (F1) (T2), em diferentes estágios de lactação (DEL – Dias Em Lactação – Geral: 177,84, Holandês: 121,04, Jersolando: 216,28). Duas vezes ao dia foram realizadas as ordenhas com intervalo de 12 horas entre elas. O desenho experimental constituiu-se de 14ha de pastagem de sorgo forrageiro (Sorghum bicolor), dividida em 20 piquetes iguais. A dieta teve relação volumoso: concentrado de 70:30, sendo a fração concentrada composta por uma mistura a base de milho grão, grão de soja, farelo de soja, farelo de arroz e sal mineral de maneira a atender as exigências nutricionais de acordo com o NRC (2001). Já a fração volumosa, foi composta pelo acesso à pastagem, por todo o período em que os animais não estiveram na sala de espera, na ordenha ou no galpão de alimentação onde era fornecido o concentrado. As vacas de todos os tratamentos receberam água ad libitum.

O período experimental teve duração de 120 dias, sendo 30 para adaptação ao sistema de manejo. As coletas dos dados de produção de leite por vaca ocorreu através do controle leiteiro semanal. Para a composição do leite, foram realizadas três amostragens por animal em um período total de 90 dias (intervalos médios de 30 dias). A amostra foi representativa de cada ordenha do dia, contendo uma alíquota do leite produzido pela manhã e outro pela tarde de cada animal. As amostras foram submetidas ao Laboratório Unianálises, vinculado ao Parque Tecnológico da Univates em Lajeado (RS) Brasil.

O experimento se caracterizou por Delineamento Inteiramente Casualizado, com modelo de observações repetidas no tempo. Os dados foram submetidos à submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste T a 5% de probabilidade de erro. O pacote estatístico utilizado foi o Statistical Analysis System (SAS, 2001).



Resultados e Discussão

Na Tabela 1, encontram-se produção de leite e as médias de gordura, proteína, lactose e sólidos totais de vacas puras Holandesas e vacas oriundas do cruzamento Holandês x Jersey (F1). Ao observar os dados, nota-se que não houve diferenças estatísticas em relação ao percentual de gordura e lactose entre as mestiças oriundas do cruzamento Holandês x Jersey (F1) quando comparado aos animais puros da raça Holandesa. Todavia, os limites quantificados encontraram-se dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie bovina (Bos taurus taurus). A lactose está relacionada à regulação da pressão osmótica na glândula mamária, de forma que maiores produções de lactose determinam maiores volumes de leite. (Peres, 2001). Fonseca & Santos (2000) relatam que a observação de baixos quantitativos de lactose são acompanhados também pela diminuição dos teores de gordura do leite. Pelo exposto, esse comportamento não foi presenciado possivelmente pelo correto atendimento nutricional do rebanho. Ao avaliar a composição do leite e a produção de sólidos corrigidos para 305 dias de lactação em vacas mestiças do cruzamento Holandês x Jersey (F1) em relação às puras da raça Holandesa, em três propriedades em Santa Catarina e Paraná, Neto et al. (2013), relataram teores superiores de gordura e proteína no leite das fêmeas cruzadas, sendo que estas, ainda produziram significativamente mais gordura (em kg) em relação às fêmeas puras. A não observação nesse trabalho do fenômeno descrito acima reside na inexistência de diferenças estatísticas para a produção total de leite dos distintos grupos avaliados. As vacas oriundas do cruzamento Holandês x Jersey (F1) demonstraram iguais índices produtivos de leite quando comparadas ao grupo de vacas puras. Outras explicações podem advir das diferenças na composição da dieta entre os trabalhos aqui expostos. Todavia, quando comparados os teores de sólidos totais e de proteína, entre os grupos avaliados, houve significativa superioridade das mestiças do cruzamento Holandês x Jersey (F1). Corroborando, Neto et al. (2013), destacaram que os indivíduos oriundos do cruzamento entre Holandês x Jersey superaram as puras Holandesas. Pelo exposto, pode-se sugerir que a utilização de vacas mestiças F1 do cruzamento Holandês x Jersey podem ser um interessante instrumento produtivo nas situações em que ocorre remuneração pelo teor e/ou produção de sólidos. De maneira a reforçar as sugestões desse trabalho, na Nova Zelândia, onde os cruzamentos são amplamente utilizados nos sistemas de produção, Ahlborn-Breier e Hohenboken (1991) já relatavam heterose expressiva para a produção de proteína de mestiços Holandês x Jersey quando comparados com exemplares puros. Desde então, o referido país mantém rebanhos leiteiros comerciais cruzados para a obtenção de progresso genético para a produção de sólidos do leite.

Conclusões

Animais oriundos do cruzamento Holandês x Jersey (F1) demonstraram igual produção total de leite e superior produção de sólidos totais, caracteristicamente evidenciados pelos teores de proteína, quando comparados aos animais puros Holandês em manejo semiextensivo de produção. Partindo desse pressuposto, sugere-se que os animais F1 demonstraram superioridade adaptativa ao sistema de produção semiextensivo quando comparadas aos de raça pura.

Gráficos e Tabelas




Referências

AHLBORN-BREIER, G.; HOHENBOKEN, W. D. Additive and non additive genetic effects on milk production in dairycattle: Evidence for major individual heterosis. JournalofDairy Science, v. 74, p. 592–602, 1991. DIEFENBACH, J. Produção e composição do leite de vacas das raças Holandês e Jersey, em pastagem de azevém anual. 2012. Tese (Doutorado em Produção Animal) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012. FONSECA, L.F.L. da; SANTOS, M.V. dos. Qualidade do leite e controle da mastite. São Paulo: Lemos, 2000. 175p. KNOB, D. A. Crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo de vacas Holandês comparadas às mestiças Holandês x Simental. 2015. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2015. LEDIC, I. L.; TETZNER, T. A. D. Grandezas do Gir Leiteiro: O milagre zootécnico do século XX. Uberaba: 3 Pinti, 2008. 324 p. MADALENA, F. E. A contribuição da F1 de gado de leite e as estratégias de sua utilização. In: Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal, 9., 2012, João Pessoa: SBMA, 2012. Disponível em: < http://sbmaonline.org.br/anais/ix/palestras/pdf/Palestra01.pdf>. Acesso em 26 set. 2012. NETO, A. T.; RODRIGUES, R. S.; CÓRDOVA, H. A. Desempenho produtivo de vacas mestiças Holandês x Jersey em comparação ao Holandês. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.12, n.1, p. 7-12. 2013. PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p. PERES, J.R. O leite como ferramenta do monitoramento nutricional. In: FÉLIX, H.D. (Ed.). Uso do leite para monitorar a nutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS, 2001. p.30-45. WEIGEL, K. A; BARLASS, K. A. Results of a producer survey regarding crossbreeding on US dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 86, n. 12, p. 4148–54, 2003.





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