ASSOCIAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS A EFICIÊNCIA ALIMENTAR DE TOUROS JOVENS DA RAÇA NELORE

Ester Ferreira Felipe1, Alexsandro Patrício Silva Santos2, Letícia Silva Pereira3, Danilo Rodrigues Boaventura4, Bruna Suellen Borges Bezerra5, Danilo Diogo de Oliveira6, Egleu Diomedes Marinho Mendes7, Carina Ubirajara de Faria8
1 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
2 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
3 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
4 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
5 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
6 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
7 - Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, São Paulo, Brasil
8 - Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

RESUMO -

Comparou-se diferentes medidas de eficiência alimentar utilizando dados de 53 bovinos da raça Nelore. As características avaliadas foram eficiência alimentar bruta (EA), conversão alimentar bruta (CA), ganho em peso residual (GPR), razão de Kleiber (RK) e o consumo alimentar residual (CAR). Observou-se que não há associação entre CAR e RK. A correlação entre EA e CA foi de alta magnitude e negativa, o que significa que são duas características praticamente idênticas, porém antagônicas. As correlações entre CAR e as características CA e EA foram de média a alta magnitude o que evidencia que animais mais eficientes para CAR apresentam, em grande parte, menores valores de CA e maiores valores de EA. Já em relação ao GPR verificou-se correlação de magnitude moderada com o CAR. Dentre os diferentes parâmetros avaliados para mensuração da eficiência alimentar, o CAR é o melhor predito e que possibilita a seleção de animais independentes do tamanho corporal.

Palavras-chave: bovinos de corte, comportamento ingestivo, sistema Growsafe

ASSOCIATION BETWEEN CHARACTERISTICS RELATED TO THE FEED INTAKE OF YOUNG BULLS OF THE NELORE BREED

ABSTRACT - In the present study we compared the different measures of feed intake in beef cattle, using 53 Nelore bulls. The measures related to feed intake were evaluated gross feed efficiency (EE), crude feed conversion (FC), gain in residual weight (GPR), due to Kleiber (RK) and residual feed intake (RFI). It was observed phenotypic association between RFI and RK 0.01, indicating quite different results when using the two feed efficiency measures. The correlation between EE and FC was of high magnitude and negative, which means that two characteristics are virtually identical, but antagonistic. Estimates of correlations between RFI and FC characteristics and EE were medium to high magnitude. In relation to GPR, there was a correlation of moderate magnitude with CAR. Among the different parameters evaluated to measure feed efficiency, the RFI is best predicted, and allows the selection of animals independent of body size.
Keywords: beef cattle, feeding behavior, Growsafe system


Introdução

Existem várias características que possam expressar, de alguma maneira, a eficiência alimentar. De acordo com GOMES et al. (2012), algumas delas são menos utilizadas por serem mais difíceis de mensurar ou por exigirem avaliações mais complexas, economicamente inviáveis, ou praticáveis somente em instituições de pesquisa. A seleção para eficiência alimentar por meio da mensuração da conversão alimentar já é comumente utilizada pela indústria suinícola, no entanto, em bovinos a conversão alimentar pode não ser a medida mais adequada por levar ao aumento do peso adulto dos animais. A medida de eficiência alimentar mais estudada em bovinos de corte, na última década, foi o consumo alimentar residual (CAR). O CAR é uma proposta de KOCH et al. (1963), os quais sugeriram que o valor de eficiência alimentar fosse ajustado para peso corporal e ganho de peso. O CAR pode identificar os animais que excedem as exigências estimadas de manutenção e crescimento pela observação do consumo. A vantagem de se utilizar o CAR em relação as outras medidas de eficiência alimentar é que os resultados possibilitam a comparação da ingestão da matéria seca dos animais independentemente das diferenças de tamanho ou da taxa de crescimento dos mesmos. Nesse estudo, objetivou-se estimar a associação entre as medidas de eficiência alimentar bruta, conversão alimentar, ganho em peso residual, razão de Kleiber e o consumo alimentar residual, obtidas em touros jovens da raça Nelore.



Revisão Bibliográfica

No Brasil, o melhoramento genético de rebanhos de bovinos de corte tem permitido alcançar resultados positivos com uso de ferramentas como a seleção de características produtivas. De acordo com MERCADANTE & GRION (2013), os ganhos genéticos anuais são expressivos, principalmente, para as características de peso, perímetro escrotal, rendimento e acabamento de carcaça na fase pós-desmame, comprovando a busca por material genético relacionado ao aumento da produção de carne. No entanto, embora a seleção para crescimento possa levar ao aumento da produção, não se considera os custos com o principal insumo que é a alimentação dos animais. Ao considerar que a alimentação representa o maior custo de um sistema de produção (ALMEIDA, 2005), a seleção de animais mais eficientes na utilização dos nutrientes, poderá acarretar num grande avanço da pecuária de corte, por meio da redução dos custos de produção, sem afetar os índices zootécnicos, garantindo a sustentabilidade da atividade econômica. GOMES et al. (2012) afirmam que a eficiência alimentar é a capacidade que um animal tem de transformar o alimento consumido em produto de origem animal. Pode-se considerar que o animal eficiente é aquele que apesar de consumir a mesma quantidade de nutrientes que o outro, irá produzir mais, ou que irá consumir menos se comparado a outro animal de mesmo desempenho. Assim, animais mais eficientes irão reduzir custos com a alimentação e, consequentemente, trazer mais receita para o sistema produtivo. De acordo com GOMES et al. (2012), a utilização da eficiência alimentar como critério de seleção tem ainda, como benefício, a redução dos impactos ambientais para o sistema produtivo, pois reduz a utilização de áreas de pastejo através do ciclo precoce e a produção de poluentes como metano e a degradação do solo.

Materiais e Métodos

No presente estudo foram avaliadas as medidas de eficiência alimentar bruta (EA), conversão alimentar (CA), ganho em peso residual (GPR), razão de Kleiber (RK) e o consumo alimentar residual (CAR) e ingestão de matéria seca observada (IMS). Para isso, foram consideradas as informações provenientes de 53 touros jovens da raça Nelore, puros de origem, participantes da prova de eficiência alimentar realizada na Vitrine Tecnológica da fazenda experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia. Os animais participantes foram mantidos em regime de confinamento. O confinamento ocupa uma área de ­­1.680 m2 (42 m x 40 m), dividida em dois curraletes. Cada curralete contém quatro cochos eletrônicos (com cobertura) que faz parte do Sistema Growsafe. A prova de eficiência alimentar teve duração de 91 dias, sendo 21 dias para adaptação e 70 dias de avaliação. Os animais foram pesados no início e término da prova e, também, em intervalos de 14 dias, sem a realização de jejum. A dieta foi fornecida ad libitum em forma de uma única ração total. A formulação da ração foi baseada em 60% de volumoso (silagem de milho) e 40% de concentrado, atendendo as recomendações do NRC (1996) para os ganhos esperados. Para a estimação dos coeficientes de correlação de Pearson entre as características relacionadas à eficiência alimentar utilizou-se o programa Statistical Analysis System (SAS, 2004).

Resultados e Discussão

As correlações fenotípicas de Pearson entre as características relacionadas à eficiência alimentar são apresentadas na Tabela 1. A correlação entre eficiência alimentar bruta (EA) e conversão alimentar (CA) foi de alta magnitude (-0,98) e negativa, o que significa que são duas características, praticamente idênticas, porém antagônicas, ou seja, animais com maior eficiência alimentar bruta (EA) serão os de menor conversão alimentar bruta (CA). BONIN et. al. (2008) observaram correlação fenotípica entre CA e EA de -0,88 e FERNANDES et. al. (2014) encontraram a mesma correlação obtida no presente estudo. As correlações entre o CAR e as medidas de EA e CA foram de alta magnitude, porém com associação negativa entre CAR e EA (-0,73) e positiva entre CAR e CA (0,75). Esses resultados evidenciam que animais mais eficientes para a característica CAR apresentam, em grande parte, menores valores de CA e maiores valores de EA, o que é desejável. Dessa forma, pode-se inferir que a seleção para o consumo alimentar residual (CAR) atende aos objetivos propostos na seleção para a conversão alimentar (CA) e/ou eficiência alimentar bruta (EA). Os autores BONIN et. al. (2008) e FERNANDES et. al. (2014) relataram correlações fenotípicas entre o CAR e a CA de 0,80 e 0,35, respectivamente. Para CAR e EA, os mesmos autores verificaram estimativas de correlações fenotípicas de -0,95 e -0,37, respectivamente. Já em relação as características de razão de Kleiber e ganho em peso residual verifica-se que o CAR não teve associação com a RK e apresentou correlação de magnitude positiva e moderada com o GPR. Quando avaliadas as correlações da razão de Kleiber (RK) com EA e CA, observa-se correlações de média magnitude, porém a associação entre RK e EA é positiva (0,64), enquanto que RK e CA é negativa (-0,63), ou seja, quando a razão de Kleiber for maior irá interferir de maneira moderada e favorável na característica de eficiência alimentar bruta (EA) e de forma antagônica quando associada à conversão alimentar (CA). FERNANDES et. al. (2014) relataram correlações entre CA e RK e EA e RK de -0,88 e 0,91 respectivamente. O ganho de peso residual (GPR) apresentou correlações de média à baixa magnitude com as características CA, EA e IMS, indicando que altos valores de GPR não resultarão em ganhos significativos para CA, EA e IMS. As características ingestão de IMS, EA e CA possuem correlação de média magnitude entre si, entretanto a associação entre IMS e EA é negativa (-0,51), ou seja, altos valores de ingestão de matéria seca irão influenciar moderadamente, de maneira negativa, a outra característica. Já a associação entre IMS e CA é moderada e positiva, com isso, animais com alta ingestão de matéria seca acarretará em uma alta conversão alimentar, e assim inversamente também ocorrerá. Já a correlação entre IMS e CAR é positiva e de alta magnitude (0,87), o que indica que há influência alta da ingestão de matéria seca na obtenção do CAR.

Conclusões

Dentre os diferentes parâmetros avaliados para mensuração da eficiência alimentar, o CAR é o que é melhor predito, pois tem alta associação somente com a ingestão de matéria seca observada e com isso possibilita a seleção de animais independentes do tamanho ou da taxa de crescimento. Estudos sobre o CAR deve ser mais praticado em propriedades e institutos de ensino pois permite selecionar animais mais eficientes, de menor consumo alimentar, promovendo o aumento da produtividade, ao mesmo tempo em que se reduz o custo de produção.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALMEIDA, R. Consumo e eficiência alimentar de bovinos em crescimento. 2005. 181f. Tese (Doutorado em Agronomia), Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 2005. BONIN, M.N.; DEMARCHI, J.J.A.A.; MIZUBUTI, I.Y.; RIBEIRO, E.L.A.; MANELLA, M.Q.; PEREIRA, E.S. Avaliação do consumo alimentar residual em touros jovens da raça Nelore Mocho em prova de desempenho animal. Acta Sci. Anim. Sci. Maringá, v. 30, n. 4, p. 425-433, 2008. FERNANDES, S.R.; STIEVEN, I.C.B.; ZANETTI, G.F.; KOWALSKI, L.H.; ROSSI JUNIOR, P.; MOLETTA, J.L.; ALMEIDA, R. Características de desempenho e eficiência alimentar de touros Purunã em crescimento de três classes de consumo alimentar residual. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.1, p.268-276, 2014. GOMES, R.C.; SANTANA, M.H.A.; FERRAZ, J.B.S.; LEME, P.R.; SILVA, S.L. Ingestão de alimentos e eficiência alimentar de bovinos e ovinos de corte. Ribeirão Preto, SP: FUNPEC Editora, 2012, 77p. KOCH, R.M.; SWIGER, L.A.; CHAMBERS, D.; GREGORY, K.E. Efficiency of feed use in beef cattle. J. Anim. Sci., v. 22, n. 2. p. 486-494. 1963. MERCADANTE, M.E.Z.; GRION, A.L. Perspectivas de inclusão da eficiência alimentar em programas de melhoramento genético de bovinos de corte. In: X SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MELHORAMENTO ANIMAL, 2013, Uberaba. Anais...Uberaba, p. 1-14, 2013. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. 1996. Nutrient requirements of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C. 242p. SAS Institute Inc. SAS OnlineDoc® 9.1.3. Cary, NC: SAS Institute Inc., 2004.