Associação entre fontes proteicas e energéticas em suplementos para ovinos consumindo forragem tropical: digestibilidade
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RESUMO -
Objetivou-se avaliar os efeitos da associação entre fontes de proteína verdadeira e nitrogênio não proteico (farelo de soja e ureia) a fontes energéticas amilácea e fibrosa (milho e casca de soja), além de um suplemento testemunha (mistura mineral) para ovinos consumindo forragem tropical sob a digestibilidade. O experimento teve duração de 70 dias experimentais e foram utilizados cinco borregos, não castrados. Todos os animais receberam como volumoso (forragem) o Capim Marandu. O suplemento foi fornecido diariamente as 10:00 horas da manhã. As análises estatísticas foram conduzidas em um delineamento quadrado latino 5×5. A substituição da proteína verdadeira (farelo de soja) pelo nitrogênio não proteico (ureia) não causou efeitos sob a digestibilidade da matéria seca das dietas, porém alterou a digestibilidade dos carboidratos não fibrosos, sendo os maiores valores encontrados para os suplementos mistura mineral (40,75%) e farelo de soja com milho (39,70%).
Association between protein and energy sources in sheep supplements consuming tropical forage: digestibility
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of the association between true protein and non-protein nitrogen sources (soybean meal and urea) on amylaceous and fibrous energy sources (corn and soybean hulls), as well as a control (mineral mixture) supplementation for sheep consuming Forage under digestibility. The experiment lasted 70 experimental days and five lambs, not castrated, were used. All the animals received as forage, Capim Marandu. The supplement was provided daily at 10:00 am. Statistical analyzes were conducted in a 5x5 Latin square delineation. The substitution of the true protein (soybean meal) by non-protein nitrogen (urea) did not affect the digestibility of the dry matter of the diets, but altered the digestibility of non-fibrous carbohydrates. Supplements mineral blend (40.75%) and soybean meal with corn (39.70%).Introdução
Em épocas de grande incidências de chuvas, as forrageiras tropicais apresentam teores médios de proteína bruta (PB) que satisfazem a necessidade dos microrganismos ruminais, isto é, acima de 7% de PB. Este valor é considerado por Minson (1990) como não limitante à atividade dos microrganismos do rúmen, entretanto, essa atividade é adequada apenas para manutenção dos animais e com isso, pode comprometer a digestibilidade da forragem altamente fibrosa (LAZZARINI et al., 2009). O fornecimento adicional de compostos nitrogenados para animais pode, por sua vez, permitir incremento no consumo voluntário da forragem e melhorar o balanço energético a partir dos carboidratos fibrosos da forragem, uma vez que estes favorecem o crescimento das bactérias fibrolíticas (Russell et al., 1992), ampliando a taxa de degradação ruminal, digestibilidade e a síntese de proteína microbiana, resultando em maior aporte de nutrientes para o intestino e ácidos graxos voláteis para o metabolismo energético (Detmann et al., 2004). Nesse contexto, objetivou-se avaliar os efeitos da associação entre fontes de proteína verdadeira e nitrogênio não proteico (farelo de soja e ureia) a fontes energéticas amilácea e fibrosa (milho e casca de soja), em suplementos para ovinos consumindo forragem tropical a digestibilidade das dietas e dos nutrientes.Revisão Bibliográfica
Na ovinocultura, o baixo nível de produtividade é uma característica não desejada, por isto, é necessário atenção quanto à elevada exigência nutricional dos animais durante todo o período do ano. No Brasil o clima em geral apresenta duas estações: uma chuvosa e outra de seca, o que afeta diretamente a qualidade nutricional da forrageira a ser oferecida ao animal, implicando em déficit nutricional para os ovinos. A meta prioritária para o incremento na utilização de forragens tropicais, principalmente aquelas consideradas de baixa qualidade, consiste em otimizar a disponibilidade de nutrientes para o animal a partir dos processos fermentativos ruminais. Para que esta meta seja alcançada deve se assegurar que não haverá deficiências para o crescimento microbiano no rúmen. Assim, os microrganismos ruminais crescerão de forma eficiente e, por intermédio das vias fermentativas, poderão extrair quantidade satisfatória de energia a partir dos carboidratos fibrosos (Leng, 1990; Detmann et al., 2009). Os efeitos da proteína sobre a regulação do consumo voluntário não podem ser avaliados de forma isolada, pois o metabolismo animal está baseado na integração de diferentes mecanismos, na disponibilidade de diversos substratos e metabólitos e em complexo sistema de sinalização e regulação bioquímica e hormonal (Detmann et al., 2014b). A utilização de uma relação P:E (proteína: energia) constitui ferramenta mais plausível para o entendimento dos efeitos metabólicos da proteína sobre o consumo, uma vez que permite melhor visualização da adequação metabólica do animal. Adicionalmente, a relação P:E é reconhecidamente um dos fatores responsáveis pela regulação do consumo voluntário em animais ruminantes (Illius & Jessop, 1996) e diversos autores têm associado alterações na relação P:E na dieta com variações no consumo voluntário de pasto (Panjaitan et al., 2010; Costa et al., 2011a; Figueiras, 2013). A suplementação proteica associada a forragens com alto teor de fibra e baixo teor de proteína, melhora a digestão, taxa de passagem e ingestão voluntária, porém em alguns trabalhos não foram observados estas características. A digestibilidade da forragem pode ser alterada em função de parâmetros ruminais como o pH e a amônia ruminal (N-NH3). A suplementação proteica e a suplementação energética podem afetar de formas distintas estes fatores, afetando assim o consumo da forragem (SANTOS et al., 2009).Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido nas dependências da Fazenda Experimental da Universidade Federal de Mato Grosso, com início em dezembro de 2014, dividido em cinco períodos de 14 dias. Foram utilizados cinco borregos meio sangue Santa Inês x Sem raça definida. Foram avaliados suplementos combinando fontes de proteína verdadeira ou ureia a fontes de energia de origem amilácea e fibrosa, fornecidos a 0,1 kg animal/dia (Tabela 1), além de um suplemento testemunha (mistura mineral) fornecido ad libitum. Todos os animais receberam como volumoso, Capim Marandu picado in natura, ofertado duas vezes ao dia, às 08:00 e 17:00 horas. O consumo de forragem e suplemento foi determinado pela diferença entre as quantidades fornecidas e a quantidade de sobras. Tabela 1. Composição dos suplementosIngredientes |
Suplementos |
||||
MM |
FS-MIL | FS-CS | URE-MIL |
URE-CS |
|
Farelo de soja |
- |
60,00 | 60,00 | - |
- |
Milho grão moído |
- |
35,00 | - | 86,00 |
- |
Casca do grão de soja | - | - |
35,00 |
- |
86,00 |
Uréia+sulf. de amônio (9:1) |
- |
- |
- |
9,00 |
9,00 |
Mistura mineral¹ |
100 |
5,00 | 5,00 | 5,00 |
5,00 |
Proteína bruta |
- |
30,85 |
36,00 | 37,91 |
38,06 |
Resultados e Discussão
O teor médio de PB do capim Marandu (Tabela 2), situou-se em 8,87%, acima dos patamares mínimos (7-8% PB) necessários para que os microrganismos ruminais apresentem plena capacidade de degradação dos substratos fibrosos da forragem (Lazzarini et al., 2009). A digestibilidade aparente (Tabela 3) não apresentou efeitos (P>0,05) dos suplementos quando comparados entre si e entre a ausência de suplementação (mistura mineral), para as seguintes variáveis: MS, PB e FDN. A digestibilidade do CNF apresentou efeito estatístico significativo (P<0,05), principalmente quando comparado o suplemento formulado através de uma fonte de nitrogênio não proteico com uma fonte de energia fibrosa (23,38%) em relação a proteína verdadeira com uma fonte de energia amilacea (39,70%), devido a fácil degradação da fibra do amido, pelos microrganismos do rumem. Tabela 2. Composição bromatológica dos suplementos e capim Marandu
Nutrientes |
Suplementos | Forragem | ||||
MM |
FS-MIL |
FS-CS |
URE-CS |
URE-MIL |
||
MS (% da MN) |
95,68 | 90,18 | 88,72 | 87,29 | 87,51 | 25,65 |
PB1 |
- |
30,85 | 36,00 | 38,06 | 37,91 | 8,87 |
FDN1 |
- | 10,71 | 24,98 | 48,67 | 10,12 |
64,78 |
CNF1 |
- | 40,96 | 17,73 | 2,30 | 43,16 |
16,21 |
MM1 |
100,00 | 6,13 | 7,33 | 8,41 | 5,73 |
7,82 |
Variáveis1 |
Suplementos experimentais |
EPM2 |
p-valor |
||||
MM |
FS-MIL | FS-CS | URE-CS |
URE-MIL |
|||
Digestibilidade aparente dos nutrientes (%) |
|||||||
DAMS |
62,678 |
62,835 | 64,030 | 61,276 | 58,295 | 1,048 | 0,3199 |
DAMM |
55,813a |
39,367b | 39,421b | 33,076b | 33,891b | 2,252 | 0,0025 |
DAPB |
68,374 | 73,407 | 72,944 | 72,533 | 76,763 | 1,412 |
0,2157 |
DAFDN |
71,375 | 70,938 | 72,408 | 68,922 | 70,553 | 1,114 |
0,8545 |
DACNF |
40,754a | 39,708a | 32,217ab | 23,387b | 32,011ab | 4,015 |
0,0160 |