Avaliação Comportamental de Vacas Girolando

Fabianna Costa da Fonseca1, Dalton Mendes de Oliveira2, Genilson Fernando da Costa3, Aracy Garcia Travassos dos Santos4, Cleiton José Piazzon5, Vande Roberto Avalhaes Filho6, Hugo Pereira Flores7, Marcus Vinicius Morais de Oliveira8
1 - Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
2 - Docente do curso de Zootecnia – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
3 - Mestrando do curso de Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
4 - Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
5 - Discente do curso de Zootecnia - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
6 - Discente do curso de Zootecnia - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
7 - Discente do curso de Zootecnia - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS
8 - Docente do curso de Zootecnia – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a reatividade de vacas Girolando em sistema extensivo. Os estudos realizados foram avaliação subjetiva de temperamento, por escores de 1 a 5, escore 1- pouco deslocamento; 2- animal mais ativo, não permanece na mesma posição; 3- deslocamentos frequentes; 4- movimentos abruptos; 5- movimento contínuo, animal em decúbito no tronco, assim como, observações de respostas comportamentais como defecar e urinar. O teste da velocidade média de fuga (VF) foi calculado como tempo médio gasto para percorrer uma distância de 3,30 m. Os percentuais dos escores de 1 a 5 foram 2,0; 64,5; 28,0; 5,5 e 0,0%, dos quais 94,5% apresentaram escore abaixo de 3. As respostas comportamentais como defecar e urinar foi 15 e 11,5%, sendo que, 5% defecou e urinou e 68,5% não tiveram respostas. O tempo médio de saída dos animais do tronco foi de 9,2 segundos com VF de 0,36 m/s. Os bovinos leiteiros apresentam baixa reatividade devido ao constante manejo na qual são submetidos diariamente.

Palavras-chave: comportamento, estresse, grau de temperamento, velocidade de fuga

Behavioural assessment of Girolando Cows

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the reactivity of Girolando cows in extensive system. The assessed trials were subjective behavioural evaluation, being 1 to 5 scores, score 1- slight displacement; 2- animal more active, not remaining in the same position; 3- frequent displacements; 4- abrupt movements; 5- continuous movement, decubitus in the trunk; besides the observations of behavioural responses as defecation and urination. The average of escape velocity (VF) was calculated through the time taken to cover a distance of 3.3 meters. The percentage scores of 1 to 5 were 2.0; 64.5; 28.0; 5.5 e 0.0%, in which 94.5% showed scores below 3. The behavioural responses defecation and urination were 15 and 11.5%, being that, 5% defecated and urinated and 68.5% showed no responses. The average of exit time of the animals from the trunk was 9.2 seconds and with VF of 0.36 m/s. Dairy cattle present low reactivity due to the constant management in which they are submitted daily.
Keywords: behaviour, stress, degree of temperament, escape velocity


Introdução

A pecuária leiteira no Brasil é caracterizada pelo uso de sistemas extensivos ou semi-intensivos de produção, com predomínio da criação de animais de origem zebuína, com destaque para a raça Gir e suas cruzas. De acordo com Paranhos et al. (2015) todos que trabalham ou já trabalharam com bovinos da raça Gir e seus cruzamentos sabem que, quanto mais agitadas são às vacas, mais difícil será a ordenha. Vacas mais reativas durante a ordenha podem apresentar frequências maiores de coices, além disso, podem apresentar maior retenção de leite (leite residual). Dessa forma, vacas produzem menos leite e de pior qualidade, apresentando níveis baixos de gordura e proteínas (BREUER et al., 2000). Já Seabrook (1984) observou maior frequência de defecação na sala de ordenha quando as vacas foram submetidas a manejos aversivos. De maneira geral, a avaliação de temperamento de bovinos leiteiros é feito através de testes comportamentais como velocidade de fuga, definida como a distância percorrida pelo animal para deslocar-se do tronco, isso, expressa a intenção do animal em sair de uma determinada situação aversiva. Outro indicador de avaliação comportamental utilizada na avaliação de temperamento é a avaliação subjetiva dado em escore visual, onde avalia a movimentação do animal no tronco, assim como os indicadores fisiológicos de defecar e urinar. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi avaliar o comportamento de vacas Girolando submetidas a manejo adverso no tronco de contenção.



Revisão Bibliográfica

O temperamento passou recentemente a ser tratado como uma característica importante e de interesse na produção de bovinos. Podendo ser definido como um conjunto de respostas comportamentais em relação ao homem. A avaliação do temperamento é importante, sendo que, animais mais reativos são mais excitáveis, tem um menor desempenho produtivo, ingerem menos alimento, consequentemente tem um baixo ganho de peso, maior número de contusões nas carcaças e apresentam maiores riscos de acidentes (GRANDIN e DEESING, 1998). Há muitas formas de evitar o problema da alta reatividade, dentre elas a adequação de práticas de manejo, treinamento da mão de obra e aumentar a interação do homem com o animal, através de uma maior frequência de manejo (HEMSWORTH et al., 2000; NETO et al., 2011;). Para avaliar o temperamento do animal usa-se o método subjetivo, onde se avalia o grau de perturbação do animal quando manejado no tronco de contenção através de escores predefinidos. Levando em consideração a frequência de movimentos dentro do tronco (FORDYCE et al., 1982; MOURÃO et al., 1999). No que se refere ao método objetivo de avaliação de temperamento de bovinos, tem-se a velocidade de fuga, sendo a velocidade indicativo de animal mais reativo (FORDYCE et al., 1982; BURROW et al., 1988). Além disso, na bovinocultura leiteira é comum a interação entre humanos e animais, pois tratadores e vacas interagem diariamente durante as atividades de rotina, como ordenha e alimentação, isso evita animais mais reativos durante a ordenha, com consequente inibição da secreção da ocitocina em resposta ao nível elevado de estresse (HEMSWORTH et al., 1998).



Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado com animais provenientes do rebanho do Setor de Bovinocultura de leite, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, unidade de Aquidauana-MS, Brasil. Foram utilizadas 50 vacas Girolando, com peso vivo médio de 472 kg, criadas em sistema extensivo e manejadas diariamente em pastagem de Panicum maximum cv. Mombaça e Tanzânia. No presente estudo foram realizados 200 observações e testes comportamentais para avaliação de temperamento. As observações foram realizadas durante a coleta de sangue, onde foram realizados avaliações subjetiva de temperamento no tronco de contenção dado por escore (Adaptado Silveira et al., 2006), assim como, observações das respostas comportamentais como ocorrência de defecar e urina. Durante as análises foram registradas a movimentação no tronco de contenção atribuindo escores para cada um dos diferentes comportamentos, conforme a descrição de movimento no tronco de contenção: Escore 1- pouco deslocamento dentro do tronco; 2- animal mais ativo, não permanece na mesma posição; 3- deslocamentos frequentes; 4- movimentos abruptos; 5- movimento contínuo, animal em decúbito no tronco. A metodologia utilizada para avaliar a velocidade de fuga, considera a rapidez com que os animais se deslocam após abertura do tronco. Avaliou-se então, o tempo gasto (em segundos) para que os animais percorressem uma distância de 3,30 m após sair do tronco de contenção em direção a um espaço aberto. Para cálculo da velocidade de fuga (Adaptado de Barbosa et al., 2008) foi considerado a fórmula da velocidade distância/tempo em m/s. Os resultados foram obtidos através de valores médios para todas as variáveis analisadas.



Resultados e Discussão

As variáveis médias indicaram que as características de temperamento dos animais com escore de 1, 2, 3, 4 e 5 apresentaram percentuais de 2,0; 64,5; 28; 5,5 e 0,0%, respectivamente (Tabela 1). A maioria dos animais avaliados (94,5%) apresentaram grau de temperamento abaixo de 3, o que indica que os animais Girolando apresentam baixa reatividade. Estudo feito por Hotzel et al. (2009) observaram baixo escore de reatividade antes e após o procedimento veterinário, atribuindo esse resultado ao manejo rotineiro que as vacas recebiam. Em estudo feito por Costa et al. (2015) avaliaram o perfil hormonal de vacas Girolando com diferentes proporções de grau de sangue Holandês x Gir, submetidas ás mesmas condições de manejos, e encontraram nível de cortisol mais elevado para o grau de sangue 1/2 HOL ½ GIR (4,01 µg/dL), quando comparado aos animais 3/4HOL 1/4GIR (2,76 µg/dL). Os resultados atribuídos pelos autores indicaram esta variação á maior reatividade das fêmeas com maior proporção de sangue Zebuíno.

Para a ocorrência de respostas comportamentais como defecar e urinar, os resultados encontrados foram 15% defecou, 11,5% urinaram e 5% defecaram e urinaram, sendo que 68,5% dos animais não apresentaram respostas comportamentais (Figura 1). Segundo Boissy et al. (1998) os animais mais estressados urinam e defecam mais que aqueles não estressados. O tempo médio de saída dos animais do tronco de contenção foi de 9,2 segundos, obtendo desse tempo à velocidade média de fuga de 0,36 m/s (Figura 1). Não há relatos publicados na literatura para os indicadores distância de fuga, velocidade de fuga ou escore de tronco que tenha avaliados grande número de indivíduos da raça Gir e Girolando. As poucas pesquisas que existem apresentam dados de temperamento com o uso de um indicador qualitativo para a raça Gir e o escore visual de temperamento (PEIXOTO et al., 2009; PRAXEDES et al., 2009), sendo realizadas com a utilização do banco de dados do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL).



Conclusões

As vacas leiteiras da raça Girolando apresentam baixa reatividade, pois apesar de criadas em sistema extensivo, eram manejadas intensivamente na troca diária de piquetes em pastejo rotativos e pela rotina da ordenha. O contato constante entre animal e manejadores durante a rotina diminui o estresse e a reatividade, facilitando assim o manejo.



Gráficos e Tabelas




Referências

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