Avaliação comportamental do uso de poleiro em frangos com diferentes idades

Leandro Sabei1, Bruna Porn Debortoli2, Jean-Loup Rault3, Rosangela Poletto4
1 - Discente, Curso de Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- Câmpus Sertão
2 - Discente, Curso de Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- Câmpus Sertão
3 - Pesquisador Sênior, Animal Welfare Science Centre, University of Melbourne, Melbourne, Austrália
4 - Docente, Curso de Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul- Câmpus Sertão

RESUMO -

O estudo avaliou o uso de poleiro em 20 frangos (5 aves/box de 2m2) criados sob condições comerciais. Em cada box, o poleiro foi disposto na forma de plataforma em 0 cm (cama) até 7 d; após variou entre 0, 10, 20, 30 e 40 cm de altura até os 39 d de idade (desenho quadrado latino). Peso e condição plantar foram avaliados; 4 h/dia de comportamentos no poleiro (subir, descer, inativo, autolimpeza, comportamentos de conforto) foram avaliados a cada 3 min., computados com modelo misto, P<0,05 significativo. PV final: 2,52±0,03Kg, sem lesões plantares. As aves subiram e desceram mais do poleiro em 10 cm até a 3ª semana de idade (P0,05). Autolimpeza aos10cm aumentou até a 4ª semana (P<0,01). Poleiro em 30 ou 40 cm não foi usado. A inatividade resultou na redução do uso do poleiro após 28 d de idade. O poleiro promove o enriquecimento ambiental e pode ser usado como recurso para melhorar o bem-estar de frangos de corte.

Palavras-chave: frango de corte, poleiro, enriquecimento, comportamento, bem-estar animal

Behavioral assessment of perch use in broilers at different ages

ABSTRACT - The study assessed perch use in 20 broilers (5 birds/box of 2m2) reared in commercial conditions. The platform framed perch was left at 0 cm (litter) until 7 d; thereafter, its height varied among 0, 10, 20, 30 e 40 cm up to 39 d of age (Latin Square design). Body weights and feet condition were assessed; 4 h/day of behaviors corresponding to perch use (flying up and down, inactive, preening, comfort behaviors) were assessed at every 3 minutes, computed with a mixed model and P<0,05 significance level. Final body weight: 2.52±0.03Kg, with no feet lesions. Broilers flew up and down the perch when it was set at 10cm up to the third week of age and performed comfort behaviors equally with perch set at 0 and 10 cm (P>0.05). Preening at 10 cm increased up to the fourth week of age (P<0.01). No bird used the perch was adjusted at 30 or 40 cm. Inactivity resulted in decreased perching after 28 d of age. Perch promotes environmental enrichment and may be used to improve broiler welfare.
Keywords: broiler, perch, enrichment, behavior, animal welfare


Introdução

A produção intensiva de frangos de corte desafia o comportamento e bem-estar das aves por condições como lotação, qualidade de cama, ambiência e enriquecimento ambiental, que impactam diretamente a qualidade ética da criação animal (MOLENTO, 2005). Nesse sistema, os recursos que permitem as aves realizar repertórios comportamentais são limitados ou inexistentes. Porém, esse tema está na vanguarda das adoções de práticas alternativas pela agroindústria, e demandas dos consumidores e programas de certificação de bem-estar animal (POLETTO e HÖTZEL, 2012). O enriquecimento ambiental pode ser adotado como alternativa, pois visa diminuir a monotonia do meio e permite que os animais expressem os seus comportamentos naturais (FIGUEIRA, 2013). O comportamento de empoleirar, apesar da evolução genética, ainda é observado em frango de corte quando o recurso é provido (LE VAN et al., 2000; FIGUEIRA, 2013); pois é um comportamento inato de proteção contra predadores e fuga. Recursos nos alojamentos que permitem as aves empoleirar incluem fardos de maravalha ou palha, barras de madeira ou alumínio e plataformas (LE VAN et al., 2000; BIRGUL et al., 2012; VENTURA et al., 2012; KIYMA et al., 2016). A disponibilidade de informação sobre a relação da altura do “poleiro” e a idade na qual o frango de fato o utiliza é limitada. Assim, o objetivo foi avaliar o uso de poleiro no formato de plataforma, alocado nas alturas de 0, 10, 20, 30 e 40 cm por frangos de corte entre 7 e 39 d de idade.

Revisão Bibliográfica

Na avicultura de corte, as práticas de produção passam por processos de evolução e inovações tecnológicas que objetivam atender as demandas de mercado (BELUSSO e HESPANHOL, 2010). O desenvolvimento tecnológico da avicultura tem modelado a atividade, e, o alto grau de controle sobre o ambiente de criação é um dos fatores que se destaca frente às demais culturas (FREITAS et al., 2002). Essa intensificação da produção tem gerado debates dentre os stakeholders quanto ao bem-estar animal provido pelos sistemas agroindustriais predominantes. Além disso, há uma pressão iminente dos consumidores e programas de certificação de bem-estar por transparência na adoção de práticas humanitárias relativas à criação, transporte e abate animal (POLETTO e HÖTZEL, 2012). A condição de alojamento, que inclui o manejo e recursos disponíveis às aves, pode contribuir de forma positiva para o comportamento e a preservação do bem-estar animal (PEREIRA e NÄÄS, 2008); este último é representado pelo estado físico e mental do animal e têm como base as “cinco liberdades” (FAWC, 1993). Proporcionar aos animais a liberdade para expressar seus comportamentos naturais faz-se necessário uma vez que reduz o diestresse e aumenta a produtividade (BARBOSA FILHO et al., 2007; POLETTO e HÖTZEL, 2012). Porém, os sistemas predominantes e a intensificação na seleção genética na avicultura de corte, têm imposto limitações comportamentais que refletem nas atividades básicas das aves tais como, locomoção e liberdade de movimento, busca por recursos e oportunidade de fuga. Esta última pode ser provida pela provisão de poleiros com variadas formas e alturas, de forma a atender a necessidade comportamental das aves. A motivação por empoleirar é inata, no entanto é tolhida nas aves alojadas nos galpões comerciais onde o fornecimento de poleiros não é uma prática corrente (FIGUEIRA, 2013). A disponibilidade de estruturas elevadas para as aves desde a primeira semana de idade as permite realizar um repertório comportamental natural e variado. Este inclui exercícios motores tais como saltos, tentativas de voo, e agarrar com os dígitos (BIRGUL et al., 2012). Desta forma, os movimentos necessários para o empoleiramento promovem o desenvolvimento esquelético (YAN et al., 2014) e muscular (SONDUSKY e HEATH, 1988), o que reduz efetivamente os problemas de perna (BIRGUL et al., 2012). Além disso, a provisão do poleiro está correlacionada com um ganho de 2,5% de peso corporal e 1,2% de peito (VELO e CEULAR, 2016).

Materiais e Métodos

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais, protocolo no. 1657110216, e foi realizado no galpão experimental no Setor de Avicultura do IFRS Campus–Sertão, Sertão, RS. Utilizaram-se quatro boxes experimentais de 2 m2 cada, com piso de concreto coberto com 7 cm de maravalha nova e paredes revestidas com tela. Neles, foram aleatoriamente alojados 20 frangos da linhagem Cobb (1 dia), ou 5 animais por box (0,4 m2/ave), identificados individualmente com lacres coloridos presos à perna. O ganho de peso e as condições plantares foram avaliados 1x/semana. As aves permaneceram no local até 42 d de idade. A ambiência era monitorada duas vezes ao dia. A ração era fornecida conforme a fase de crescimento em comedouros infantis (1/box) e a água provida por bebedouros tipo nipple (4/box). Em cada box, o poleiro foi construído em forma de plataforma de madeira (0,27 m2; Figura 1). A altura da plataforma podia ser regulada em 0 cm (controle, sobre a cama), 10, 20, 30 e 40 cm, pelos encaixes fixados nas laterais do box. Para habituação das aves, a plataforma foi deixada em 0 cm até o 7º d de idade. A partir dessa idade, a altura variou conforme o desenho experimental Quadrado Latino (Tabela 1). Foram coletados quatro horas diárias (8:00 às 12:00) de vídeos por câmeras (sistema de DVR), instaladas nos boxes para posterior análise. Os comportamentos de subir e descer da plataforma, e inativo, autolimpeza (ave limpando as penas com o bico), comportamentos de conforto (bater asa, esticar pernas e asas, chacoalhar penas) realizados sobre a plataforma, foram observados por instantâneos a cada 3 minutos. Para a análise estatística, as médias percentuais de observação de 30 minutos foram e computadas em software (SAS), usando um modelo misto de tratamento e dia (tratamento) como fatores fixos e, box como aleatório. Diferenças de média com P<0,05 foram consideradas significativas. Os resultados são apresentados como frequência do comportamento em meia hora de observação.

Resultados e Discussão

As aves subiram e desceram mais do poleiro em forma de plataforma com 10 cm até a 3ª semana de idade e realizaram comportamentos de conforto na mesma frequência nas alturas de 0 e 10cm. A inatividade e autolimpeza foram mais frequentes no poleiro em 10cm e até a 4ª semana de idade. Nenhuma ave usou o poleiro em 30 ou 40cm. O peso médio das aves nas semanas 1 a 6 foi respectivamente de 0,19, 0,47, 0,87, 1,33, 1,91, 2,52±0.03kg. Nenhuma ave apresentou lesão plantar severa que pudesse interferir na habilidade de empoleirar. Mais aves subiram no poleiro em 10cm (0,11±0,02%) comparado com 20cm (0,01±0,02%) e, desceram mais aos 10 cm (0,12±0,02%) comparado às outras alturas (0%; P<0,01); esses resultados estão relacionados ao uso expressivo do poleiro na primeira semana de idade. Apesar da redução na frequência, esses comportamentos perduraram até a 5ª semana de idade (dia, P>0,01). Le Van et al. (2000) corrobora parcialmente com estes resultados pois mostra que os frangos utilizaram com maior frequência poleiros de 8,5 cm, entre 3ª e 5ª semana de idade. Segundo Nordi et al. (2006), os poleiros de 7,5 cm foram usados por frangos da linhagem Ross até a 6ª semana de idade. A frequência de inatividade sobre o poleiro foi menor com a elevação da altura (0cm: 4,19%, 10cm: 1,81%, 20cm: 0,07±0,31%; P<0,01), e foi maior no poleiro em 0cm nas 3ª e 4ª semanas de idade (P>0,05). Estudos que reportam o uso de poleiro horizontal em 10cm (BIRGUL et al., 2012), 12cm (KIYMA et al., 2016) e 15cm (VENTURA et al., 2012) mostram que o seu uso aumenta até a 4ª semanas, e após reduz pelo maior ganho de peso (LE VAN et al., 2000; BIRGUL et al., 2012). No presente estudo, a maioria das aves teve dificuldade de usar o poleiro em 20cm, e nenhuma subiu em 30 ou 40cm. Os comportamentos de conforto são realizados quando as aves não estão em condição de estresse (BARBOSA FILHO et al., 2007), e foram realizados sobre o poleiro na mesma proporção quando ajustados nas alturas controle (0,15±0,31%) e aos 10cm (0,12±0,03%; P>0,05; 20cm=0%). Sua maior frequência foi registrada na 5ª semana no poleiro em 10cm, comparando com o controle e 10cm nas semanas 2-4 de idade (P<0,01; 0cm: 2ª=0,06, 3ª=0,25, 4ª=0,06, 5ª=0,19,6ª=1,9±0,06%; e 10cm: 2ª=0,0, 3ª=0,06, 4ª=0,0, 5ª=0,37, 6ª=0,19±0,06%). A autolimpeza foi realizada pelos frangos no poleiro controle e em 10cm (0,16 e 0,01±0,02%, respectivamente; P<0,01) até a 4ª semana de idade (pico do comportamento). Comportamentos de conforto e autolimpeza aumentam quando o ambiente das aves é enriquecido (ex. poleiros e murros de tijolos), pois permitem uma variedade de expressões comportamentais, proporcionando maior conforto e bem-estar (ZAGO, 2015). Os padrões básicos comportamentais como empoleirar ainda são mantidos em frangos de corte (LE VAN et al., 2000; FIGUEIRA, 2013), e sua criação num ambiente mais complexo com poleiros melhora o bem-estar e propicia o comportamento natural, ainda que em ambientes confinados (VENTURA et al., 2012; ZAGO, 2015).

Conclusões

A frequência do uso do poleiro em forma de plataforma por frangos de corte de crescimento rápido foi baixa em relação a outros comportamentos. Ainda assim, seu uso foi mais evidente quando a estrutura foi ajustada em 10 cm em relação a 20, 30 e 40 cm da cama; nestas duas últimas alturas, o poleiro não foi utilizado pelas aves. A maior frequência de uso foi observada entre as 3ª e 4ª semanas de idade. Nesta fase, as aves subiram e desceram mais do poleiro, e realizaram mais comportamentos de conforto e autolimpeza. Os resultados indicam que o poleiro ainda que em altura baixa e usado por tempo limitado, é recomendado, pois como enriquecimento ambiental permite o empoleiramento e favorece o bem-estar dos frangos de corte.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARBOSA FILHO, J. A. D. et al. Avaliação dos comportamentos de aves poedeiras utilizando sequência de imagens.  Eng. Agríc, 27:93-99, 2007. BELUSSO, D.;  HESPANHOL, A. N. A evolução da avicultura industrial brasileira e seus efeitos territoriais. Revista Percurso, 2:25-51, 2010. BIRGUL, O. B.; MUTAF, S.; ALKAN. S. Effects of different angled perches on leg disorders in broilers. Arch. Geflugelk, 76:44-48, 2012.  FAWC - FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL.Five Freedoms.1993. Disponível em: <http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20110615095037/http://www.fawc.org.uk/freedoms.htm>. Acesso em: 19 de março de 2017. FIGUEIRA, S. V. Bem-estar animal aplicado a frangos de corte. Universidade Federal de Goiás Escola de Veterinária e Zootecnia Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Goiânia. 2013. FREITAS, L. A. R.; BERTOGLIO, O.; NUNES, O. M. A tecnologia na avicultura industrial brasileira. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba, Curitiba – PR, 2002. KIYMA, Z.; KÜÇÜKYILMAZ, K.; OROJPOUR, A. Effects of perch availability on performance, carcass characteristics, and footpad lesions in broilers. Arch. Anim. Breed, 59:19-25, 2016. LEVAN,N. F.;ESTEVEZ, I; RAY STRICKLIN, W. Use of horizontal and angled perches by broiler chickens. Appl. Anim. Beh. Sci., 65:349-365, 2000. MOLENTO, C.F.M. Bem-estar e produção animal: aspectos econômicos – revisão. Arch. Vet. Sci.,10:1-11, 2005. NORDI, W.M. et al. Impacto da oferta de poleiros sobre o bem-estar de frangos de corte. Arch. Vet. Sci., 11:19-25, 2006. PEREIRA, D. F.; NÄÄS, I. A. Estimating the thermoneutral zone for broiler breeders using behavioral analysis. Comp. Electr. Agric., 62:2-7, 2008. POLETTO, R.; HÖTZEL, M. J. The Five Freedoms in the global animal agriculture market: Challenges and achievements as opportunities. Animal Frontiers, 2:22-30, 2012. SONDUSKY, C.L.;HEATH, J.L. Effect of age, sex, and barriers in experimental pens on broiler growth and development. Poul. Sci., 67:1708-1716, 1988. VELO, R.; CEULAR, A. Effects of stocking density, light and perches on broiler growth.Anim. Sci. J., 88:386-393, 2017. VENTURA, B. A.; SIEWERDT, F.; ESTEVEZ, I. Access to barrier perches improves behavior repertoire in broilers. PLoS ONE, 7:1-7, 2012. YAN, F. F.; HESTER, P. Y.; CHENG, H.W. The effect of perch access during pullet rearing and egg laying on physiological measures of stress in White Leghorns at 71 weeks of age. Poult.Sci., 93:1318-1326, 2014. ZAGO, C. H. F. Enriquecimento ambiental sobre o desempenho e comportamento de frangos de corte. 2015. 95 f. Dissertação (Mestre em Zootecnia) Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Dois Vizinhos, PR. 2015.