AVALIAÇÃO DA BIOMETRIA TESTICULAR POST MORTEM DE SUÍNOS MACHOS PESADOS IMUNOCASTRADOS E NÃO CASTRADOS

Camila Piechnicki Rogel1, Évelyn Rangel dos Santos2, Bárbara de Lima Giangareli3, Louise Manha Peres4, Maria Carolina Gonçalves Arruda5, Murilo Augusto Tagiariolli6, Ana Maria Bridi7, Caio Abércio da Silva8
1 - Universidade Estadual de Londrina
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar a biometria post mortem testicular e o peso dos testículos e epidídimos de suínos machos pesados (acima de 120 kg de peso vivo) não castrados, comparados com suínos machos imunocastrados com vacina comercial. Foram utilizados 32 suínos machos da genética Agroceres PIC, divididos em dois grupos de 16 animais: imunocastrados com vacina comercial (106 e 134 dias de idade) e não castrados. Os animais foram abatidos com peso médio de 124,69 ± 8,47 kg aos 167 dias de idade. No frigorífico, após a medida da largura testicular, os testículos foram limpos, separados dos epidídimos, pesados e a biometria testicular realizada. A largura e altura testicular e os pesos dos testículos dos suínos não castrados foram maiores do que dos imunocastrados. As medidas de biometria testicular e peso dos testículos e epidídimos de suínos machos não castrados foram significativamente maiores quando comparados aos imunocastrados com vacina comercial.

Palavras-chave: bem-estar animal, castração cirúrgica, hormônios testiculares, imunocastração, odor sexual

EVALUATION OF THE BIOMETRY TESTICULAR POST MORTEM OF IMUNOCASTRATED AND NON-CASTREATED HEAVY BOARS

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the post mortem testicular biometry and weight of testicles and epididymis of heavy boars (above 120 kg live weight), compared with immunocastrated barrows with commercial vaccine. A total of 32 male swines of Agroceres PIC genetic were divided into two groups of 16 animals: immunocastrated with commercial vaccine (106 and 134 days of age) and non-castrated boars. The animals were slaughtered with an average weight of 124.69 ± 8.47 kg at 167 days of age. In the slaughterhouse, after measuring the testicular width, the testicles were cleaned, separated from the epididimis and these were weighed and the testicular biometry performed. The testicular width, height, and weights of the testes and epididyms of the boars were higher than the immunocastrated. The measurements of testicular biometry and weight of testicles and epididymis of boars slaughtered with high weight has significant superiority compared to immunocastrated with commercial vaccine.
Keywords: animal welfare, immunocastration, surgical castration, sexual odor, testicular hormones


Introdução

Em 2010, foi estabelecido a Declaração Europeia sobre alternativas à castração, tendo como expectativa o fim da castração cirúrgica na União Europeia a partir de 2018 (BRIDI et al., 2016). Alguns países já vêm adotando o abate de suínos machos não castrados, como o Reino Unido, Irlanda e Espanha onde os animais são jovens e com baixo peso corporal, diminuindo assim a possibilidade de odor sexual nas carcaças (MCGLONE et al., 2012).

O odor sexual é causado por dois compostos, escatole e androstenona, que acumulados no tecido adiposo, são armazenados causando odor fecal (CLAUS et al., 1994), de urina e suor, respectivamente. Embora a carne de suínos machos não castrados possa apresentar odor sexual, existem expressivas vantagens na produção desses animais, como maior deposição de tecido muscular, menor deposição de gordura, menor custo de produção (ração e mão-de-obra utilizada na castração), redução da excreção de fezes e consequentemente de poluentes e alguns aspectos de qualidade da carne (BONNEAU, 1998).

A produção de suínos com alto peso de abate é almejada pela indústria, devido ao aumento da produção de carne por animal e consequentemente o aumento do peso dos cortes nobres da carcaça. (SANTOS et al., 2012). Objetivou-se com este estudo avaliar a biometria testicular post mortem testicular e epidídimos de suínos machos pesados (acima de 120 kg de peso vivo) não castrados, comparados aos imunocastrados com vacina comercial.

Revisão Bibliográfica

No estado do Paraná, de acordo com a portaria nº 60 de 26 de março de 2014, é permitido abater suínos machos não castrados, desde que no momento do abate os animais apresentem idade inferior a seis meses e todas as carcaças sejam submetidas ao teste de cocção e degustação, a fim de detectar e eliminar carcaças que contenham odor sexual (PARANÁ, 2014). Segundo Lundström e Zamaratskaia (2006), a castração cirúrgica dos machos é realizada rotineiramente para eliminar a possibilidade de odor na carne. Embora reduza os níveis de ambos os compostos, escatole e androstenona e, portanto, diminui o odor sexual, a castração não é inteiramente satisfatória, por ser um método altamente invasivo que afeta o bem-estar dos animais. Ainda de acordo com os autores, suínos machos não castrados comparados com castrados possuem melhor conversão alimentar e maior quantidade de carne magra na carcaça (LUNDSTRÖM; ZAMARATSKAIA, 2006), o que no caso de suínos é desejável, uma vez que o mercado consumidor apresenta demanda crescente por carne suína com baixo teor de gordura, principalmente devido às campanhas de saúde pública (GOMES et al., 2007). Porém, preocupações com o bem-estar animal são constantes e aumentam proporcionalmente com a ampliação da cadeia produtiva, sendo necessária maior atenção para com o bem-estar animal dos suínos ao considerar os métodos de castração. Nesse sentido, a imunocastração tem sido uma alternativa cada vez mais utilizada na produção de suínos em substituição ao método tradicional de castração cirúrgica dos machos. Ela baseia-se na aplicação de vacinas contendo uma forma modificada de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), inibindo a produção de esteroides testiculares, o crescimento dos testículos e seus odores desagradáveis (JAROS et al., 2005). A diminuição do tamanho testicular dos suínos imunocastrados pode ser um parâmetro convincente para comprovar uma imunocastração bem-sucedida e consequentemente a ausência do odor sexual. Assim, a prática da castração cirúrgica de leitões machos recém-nascidos poderia finalmente ser extinta.

Materiais e Métodos

Este trabalho foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Estadual de Londrina, sob processo nº 7423.2015.66. Foram utilizados 32 suínos machos da genética Agroceres PIC, divididos em dois grupos de 16 animais, sendo eles: um grupo imunocastrados e outro não castrados. Os suínos imunocastrados foram imunizados com vacina comercial Vivax® (aos 106 e 134 dias de idade). Os suínos não castrados não sofreram nenhum tipo de intervenção. A fase de terminação foi dividida em dois períodos, sendo que os suínos iniciaram a terminação I aos 106 dias de idade, com média de 59,39 ± 7,26 kg de peso vivo e a terminação II aos 134 dias de idade, pesando 106,17 ± 8,51 kg em média. Os animais foram abatidos com um peso médio de 124,69 ± 8,47 kg aos 167 dias de idade. O delineamento experimental foi em blocos casualizados e os animais foram blocados de acordo com o seu peso vivo ao início do experimento. Nas avaliações de biometria testicular e peso testicular, o animal foi considerado a unidade experimental totalizando 16 repetições por grupo. Os suínos foram abatidos em frigorífico comercial, sob Serviço de Inspeção Estadual (SIP) e o abate foi realizado conforme as normas de Abate Humanitário (BRASIL, 2000). No momento do abate, foi realizada a medida da largura na porção medial dos testículos ainda no saco escrotal, com auxílio de um paquímetro digital, conforme consta no Circular nº 069/88/DICAR/DIPOA, de 20 de junho de 1988 (BRASIL, 2007).  Posteriormente, os testículos foram retirados do saco escrotal e separados dos epidídimos. Em seguida, foi utilizado novamente o paquímetro digital para realizar as medidas da altura e largura na porção medial dos testículos direito e esquerdo e uma balança digital para a pesagem dos testículos e epidídimos. Os dados foram submetidos à análise de variância e as comparações foram realizadas pelo teste de F, utilizando o software estatístico R versão 3.1.3 (R CORE TEAM, 2015) e o pacote ExpDes versão 1.1.2.

Resultados e Discussão

No momento do abate (Tabela 1) os animais não castrados exibiram maior largura testicular no saco escrotal e mesmo depois da toalete, observaram-se maiores alturas e larguras dos testículos e consequentemente maiores pesos dos testículos e dos epidídimos, quando comparados aos suínos imunocastrados. Para Gispert et al. (2010) a imunocastração também resultou em convincente redução no peso e comprimento dos testículos em comparação aos animais não castrados. Os suínos machos não castrados apresentaram maior porcentagem de animais com larguras testiculares superiores a 11 cm em relação aos imunocastrados. O Serviço de inspeção Federal (SIF) junto aos abatedouros adotam os procedimentos do Despacho nº 005/2007/ CGI/DIPOA, quando são abatidos animais imunocastrados. Sendo a medição da largura dos testículos na linha de abate, um dos procedimentos adotados antes da comercialização. Larguras testiculares acima de 11 cm podem indicar a presença de odor sexual, havendo a necessidade de verificar a presença ou ausência do mesmo através da realização do teste de cocção conforme estabelecido no Circular nº 069/88/DICAR/DIPOA, de 20 de junho de 1988 (BRASIL, 2007). De acordo com os resultados (Tabela 1), 75% dos suínos imunocastrados e 6,25% dos não castrados se encontravam dentro dos padrões exigidos para comercialização, por apresentarem largura testicular menor ou igual a 11 cm. Entretanto, 25% dos suínos imunocastrados e 93,75% dos não castrados, não se adequaram ao padrão, devendo então, ser submetidos ao teste de cocção antes de ser comercializados. Segundo Einarsson et al. (2011), as medidas testiculares estão diretamente relacionadas ao perfil hormonal dos suínos machos. Desta forma, os menores pesos dos testículos são consequências da inibição da ação dos hormônios testiculares nos animais submetidos à imunocastração, identificando-se com os resultados obtidos por Gispert et al. (2010).

Conclusões

Os suínos machos não castrados apresentaram maiores medidas e pesos testiculares em relação aos imunocastrados, devendo então, ser submetidos ao teste de cocção antes da comercialização.

Gráficos e Tabelas




Referências

BONNEAU, M. Use of entire males for pig meat in the European Union. Meat Science, v. 49, p. S257-S272, 1998. BRASIL. Informação Diversa nº 061, de 23 de Abril de 2007. Autorização para Abate de Suínos Imunocastrados. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília. 2007. BRASIL. Instrução Normativa nº 3, de 17 de Janeiro de 2000. Regulamento técnico de métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília. 2000. BRIDI, A. M.; ANDREO, N.; PANELLA-RIERA, N.; SILVA, C. A.; PRATSEVALL, M. A. O. Uso de machos não castrados na suinocultura pode ser uma opção?. 2016. Disponível em: <http://www.porkworld.com.br/noticia/uso-de-machos-nao-castrados-na-suinocultura-pode-ser-uma-opcao>. Acesso em: 28 mar. 2017. CLAUS, R.; WEILER, U.; HERZOG, A. Physiological aspects of androstenone and skatole formation in the boar – a review with experimental data. Meat Science, v. 38, p. 289-305, 1994. EINARSSON, S., BRUNIUS, C., WALLGREN, M., LUNDSTRÖM, K., ANDERSSON, K., ZAMARATSKAIA, G., & RODRIGUEZ-MARTINEZ, H. Effects of early vaccination with Improvac® on the development and function of reproductive organs of male pigs. Animal reproduction science, v. 127, n. 1–2, p. 50–55, 2011. GISPERT, M., OLIVER, M. À., VELARDE, A., SUAREZ, P., PÉREZ, J., & I FURNOLS, M. F. Carcass and meat quality characteristics of immunocastrated male, surgically castrated male, entire male and female pigs. Meat Science, v. 85, p. 664-670, 2010. GOMES, J. D. F., PUTRINO, S. M., GROSSKLAUS, C., UTIYAMA, C. E., OETTING, L. L., DE OLIVEIRA SOUZA, L. W., ... & DE LIMA, C. G. Efeitos do incremento de fibra dietética sobre a digestibilidade, desempenho e características de carcaça: I. suínos em crescimento e terminação. Semina: Ciências Agrárias, v. 28, n. 3, p. 483-492, 2007. JAROS, P., BÜRGI, E., STÄRK, K. D. C., CLAUS, R., HENNESSY, D., & THUN, R. Effect of active immunization against GnRH on androstenone concentration, growth performance and carcass quality in intact male pigs. Livestock Production Science, v.92, n. 1, p.31-38, 2005. LUNDSTRÖM, K.; ZAMARATSKAIA, G. Moving towards taint-free pork – alternatives to surgical castration. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 48, 2006. MCGLONE, J. J. Behavior of immunologically castrated boars compared to surgically castred pigs. 2012. Disponível em: <http://www.depts.ttu.edu/animalwelfare/research/pigcastration/documents/BehaviorofimmunologicallycastratedboarscomparedtosurgicallycastratedpigsMarch2012.pdf> Acesso em: 27 mar. 2017. PARANÁ. Portaria nº 60, de 26 de março de 2014. Aprova normas para abate de suínos não castrados e de suínos submetidos à castração imunológica por meio de vacina, nos estabelecimentos registrados da ADAPAR. Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Curitiba, 26 mar. 2014. SANTOS, A. P. D., KIEFER, C., MARTINS, L. P., & FANTINI, C. C. Feeding restriction to finishing barrows and immunocastrated swine. Ciência Rural, v. 42, p. 147-153, 2012.





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