Avaliação da influência da suplementação de selênio sobre a contagem de heterofilos e linfócitos de frangos de corte vacinados contra a Doença de Newcastle

Eliana Thais Riffel1, Anete Rorig2, Daianna Rosse Martins Gonçalves3, Regina Buzim4, Djiovane Augusto Pazdiora5, Sabrina Castro Palma6, Arielle Aparecida Lara7, Jovanir Inês Muller Fernandes8
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RESUMO -

Foram utilizados 1440 pintos de corte, machos, em um delineamento inteiramente casualizado (3 tratamentos e 12 repetições, com 40 aves por box. As dietas consistiram de suplementação de 0,3 ppm de selênio fonte inorgânica, suplementação de 0,3 ppm de selênio fonte orgânica e suplementação de 0,6 ppm de selênio fonte orgânica. No 7º dia de idade das aves, 4 aves/box foram vacinadas para Newcastle (vacina ocular). Aos 14 dias e 42 dias de idade foi coletado sangue de 1 ave vacinada/box e de 1 ave controle/box (12 aves vacinadas e 12 aves controle/tratamento) para contagem diferencial de leucócitos. A suplementação de Se, independentemente da fonte e nível, não influenciou (p>0,05) a contagem diferencial dos leucócitos. Houve efeito significativo (p=0,06) da imunização sobre a contagem de linfócitos. Aves vacinadas apresentaram maior (p<0,05) relação heterofilos:linfócitos. Não foi observado efeito imunomodulador do Se em frangos de corte desafiados pela vacina da Doença de Newcastle.

Palavras-chave: Resposta imunológica, micronutriente, Glutationa peroxidase, suplementação.

Evaluation of selenium supplementation on heterophile and lymphocytes counting of broilers vaccinated against Newcastle disease

ABSTRACT - There were 1440 male chicks in a completely randomized design (3 treatments and 12 replicates, with 40 birds each). The diets: supplementation of 0.3 ppm of inorganic selenium, supplementation of 0.3 ppm of organic selenium and supplementation of 0.6 ppm of organic selenium. At day 7, 4 birds/experimental unit were vaccinated for Newcastle (ocular vaccine). At day 14 and 42, blood was collected from 1 vaccinated bird/experimental unit and 1 control bird/experimental unit (12 vaccinated birds and 12 control birds/treatment) for differential leukocyte counting. Se supplementation, regardless the source and level did not influence (p> 0.05) the differential leukocyte counting. There was a significant effect (p=0.06) of immunization on lymphocyte counting. Vaccinated birds presented higher (p<0.05) heterophile ratio: lymphocytes. No immunomodulatory effect of Se on broilers challenged by Newcastle disease vaccine was observed.
Keywords: Immune response, micronutrient, Glutathione peroxidase, supplementation.


Introdução

A utilização de minerais orgânicos vem sendo bastante pesquisada, pois estes apresentam uma maior biodisponibilidade, são transportados mais facilmente e armazenados por mais tempo que os correspondentes inorgânicos (RICHARDS et al., 2010). As formas mais utilizadas são os quelatos, formados pela reação do mineral com um hidrolisado de aminoácidos e/ou peptídios, e os minerais orgânicos formados através da incorporação biossintética de um mineral em um aminoácido. Embora já existam diversos minerais sob forma orgânica, destacam-se a utilização para aves de manganês, zinco e principalmente selênio. O Selênio (Se) é um micronutriente essencial para o crescimento e manutenção da ave. Este possui diversas funções dentre as quais a regulação da atividade da enzima glutationa peroxidase (GSH-Px), aumenta a eficiência da vitamina E; melhora a atuação do sistema imunológico (CHOCT et al., 2004). O Se pode influenciar nas funções reprodutivas, no desenvolvimento, na imunocompetencia e retardando o processo de envelhecimento (SURAI, 2002). Segundo SURAI (2002) o Se orgânico pode atuar como uma reserva nos músculos e o inorgânico direto na sua incorporação à selenocisteína atuando em diversas selenoproteínas. Sendo assim, o objetivo do estudo foi avaliar a influência da suplementação de Se na forma orgânica sobre a resposta imune celular de frangos de corte vacinados contra a Doença de New Castle.

Revisão Bibliográfica

A interação entre a nutrição e a imunologia em aves compreende uma área de conhecimento que, nos últimos anos, tem recebido importantes contribuições de pesquisas científicas e ganhando espaço com recentes normas de mercado que impossibilitam o uso de quimioterápicos na avicultura. A nutrição como ferramenta para modular o sistema imunológico, produzindo um estado ideal de imunidade, tem se tornado um fato real não apenas em estados patológicos de imunodepressões, como também para a manutenção de estados saudáveis em aves sem comprometimento do seu sistema imune (KAISER, 2010). A resposta imunológica é influenciada por diversos fatores como o estresse e a suplementação de nutrientes imunomoduladores. Na resposta imunológica, o Se é componente essencial da enzima GSH-Px, que tem como função principal detoxificar os radicais livres como os peróxidos produzidos no metabolismo normal das células, sejam no citosol ou nas membranas, em associação com a vitamina E, e com isso tem impacto na resistência a doenças (KIDD, 2004). As fontes orgânicas de Se podem ser melhor  aproveitadas pelo animal, devido as menores perdas decorrentes de interações e antagonismo entre minerais, formação de complexos indisponíveis e consequente redução da absorção, além da menor excreção no meio ambiente e menores riscos de contaminação por metais pesados. A maior biodisponibilidade das fontes orgânicas de minerais permite que elas sejam incluídas na dieta em concentrações mais baixas, sem efeitos negativos sobre o desempenho das aves e o meio ambiente. Por outro lado, a inclusão dessas fontes em níveis maiores podem permitir o melhor entendimento da complexa participação dos minerais em inúmeros sistemas enzimáticos e metabólicas (RICHARDS et al., 2010). O selenito de sódio, forma inorgânica de Se, é mais prontamente disponível para formar a selenocisteína e compor a GSH-Px do que a selenometionina. Entretanto, na forma orgânica como selenometionina, o Se pode ser armazenado e, portanto, pode ser utilizado para sintetizar selenoproteínas como a GSH-Px em períodos de maior necessidade prevenindo os distúrbios que seriam causados pelo excesso de radicais livres produzidos nestas situações (SURAI 2002). Atualmente, os estudos tem sido focados na relevância e as vantagens de utilizar suplementos nutricionais para potencializar o funcionamento do sistema imunológico, podendo, por conseguinte, melhorar o desempenho de produtividade de criação de aves domésticas e ser economicamente vantajoso.

Materiais e Métodos

Foram utilizados 1440 pintos de corte, machos de 1 dia de idade provenientes de matrizes da linhagem Cobb 500 Slow com 36 semanas de idade. As aves foram distribuídas aleatoriamente em um delineamento inteiramente casualizado com 3 tratamentos e 12 repetições, compondo 36 unidades experimentais de 40 aves por box (11,36 aves/m²). As dietas consistiram de: - Dieta comercial suplementada com 0,3 ppm de selênio fonte inorgânica - Dieta comercial suplementada com 0,3 ppm de selênio fonte orgânica - Dieta comercial suplementada com 0,6 ppm de selênio fonte orgânica A fonte inorgânica utilizada foi o selenito de sódio (45,6%) e a fonte orgânica foi o Selisseo® 2% (Adisseo Feedsolutions). Selisseo® é uma molécula quimicamente pura seleno-hidroxi-metionina (HMSeBA - ácido 2-hidroxi-4-metil-selenio-butanoico), uma fonte de Se 100% biologicamente ativa. No 7º dia de idade das aves, 4 aves/box foram vacinadas para Newcastle (vacina ocular). Aos 14 dias, uma semana após a vacinação e aos 42 dias de idade foi coletado amostras de dois mL de sangue (EDTA – 1mg/mL sangue), de 1 ave vacinada/box e de 1 ave controle/box (12 aves vacinadas e 12 aves controle/tratamento) totalizando 72 aves em cada coleta para e contagem diferencial de leucócitos, calculando-se as porcentagens de: linfócitos, heterofilos e relação heterofilos:linfócitos (relação H:L). Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) do procedimento General Lineal Model (GLM) com auxílio do programa estatístico SAS (2002, SAS Institute Inc., Cary, NC).

Resultados e Discussão

Os resultados da contagem diferencial de leucócitos estão demonstrados na tabela 1. A suplementação de Se, independentemente da fonte e nível, não influenciou (p>0,05) a contagem diferencial dos leucócitos. Por outro lado, uma semana após a vacinação, houve efeito significativo (p=0,06) da imunização sobre a contagem de linfócitos, que influenciou a relação heterofilos:linfócitos. Aves vacinadas apresentaram maior (p<0,05) relação heterofilos:linfócitos. A piora no desempenho de animais submetidos ao estresse imune é coordenada pela liberação de substâncias, chamadas de citocinas, envolvidas na emissão de sinais entre as células (VAINIO e IMHOF, 1995) e produzidas em diversos locais, como resposta inicial ao patógeno (TAHAKASHI, 2006). Durante a resposta imunológica, o consumo de energia do metabolismo basal aumenta e a síntese líquida de proteína para deposição é reduzida, comprometendo o crescimento animal, pois a ação inflamatória lesiona as paredes do trato gastrointestinal e contribui para a piora na conversão alimentar. Neste sentido, é possível afirmar que a suplementação de Se pela fonte orgânica ou inorgânica atendeu as exigências para desempenho e para proteção do sistema imune. Não foi observado nesse experimento, efeito imunomodulador do Se em frangos de corte desafiados pela vacina da Doença de Newcastle.

Conclusões

A suplementação de Se de fonte orgânica ou inorgânica não alterou a resposta imune celular de frangos de corte desafiados com a vacina contra a Doença de Newcastle.

Gráficos e Tabelas




Referências

CHOCT, M. et al. Selenium supplementation affects broiler growth performance, meat yield and feather coverage. British Poultry Science, v.45, p.677-683, 2004. KAISER, P. Advances in avian immunology - prospects for disease control: a review. Avian pathology, Oxford, v.39, n.5, p.309-324, 2010. KIDD, M.T. Nutritional modulation of immune function in broilers. Poultry Science, v.83, n.4, p.650-657, 2004. RICHARDS, J.D; ZHAO, J.; HARRELL, R.J.; ATWELL, C.A.; DIBNER, J.J. 2010. Trace mineral nutrition in poultry and swine.Asian-Aust. J. Anim. Sci., v. 23, p.1527– 1534 SURAI, P.F. Natural antioxidants in avian nutrition and reproduction. Nottingham: University, 790p, 2002.. TAHAKASHI, K. Nutritional control f inflammatory responses in broiler chiken. Journal of Integrated Field Science, v.3, p.1-7, 2006. VAINIO, O.; IMHOF, B.A. The immunology and developmental biology of the chicken. Immunology Today, v.6, n.8, p.365-370, 1995.