Avaliação da Reatividade de bovinos da raça Nelore

Fabianna Costa da Fonseca1, Dalton Mendes de Oliveira2, Genilson Fernando da Costa3, Aracy Garcia Travassos dos Santos4, Waldyr Castro Pereira Junior5, Loraine Saldanha Escobar6, Henrique Jorge Fernandes7, Marcus Vinicius Morais de Oliveira8
1 - Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
3 - Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
7 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
8 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

RESUMO -

Foram avaliadas diferentes medidas de reatividade de bovinos Nelore. O estudo foi realizado através de testes comportamentais, sendo avaliação subjetiva no tronco de contenção por escores de 1 a 5, onde: escore 1- pouco deslocamento; 2- animal mais ativo, não permanece na mesma posição; 3- deslocamentos frequentes; 4- movimentos abruptos; 5- movimento contínuo, animal em decúbito no tronco. Observou-se ocorrência de respostas comportamentais como defecar e urinar. O segundo teste foi à velocidade média de fuga (VF), calculando o tempo gasto para percorrer uma distância de 3,6 m. Os percentuais para o escore de temperamento de 1 a 5 foram 0, 2, 34, 45 e 19%. As respostas comportamentais urinar e defecar apresentaram 14 e 24%, e 18% defecou e urinou, entretanto, 44% não apresentaram respostas. O tempo médio de saída dos animais do tronco foi de 4,9 segundos e com VF de 0,7 m/s. Os animais Nelore são mais reativos quando criados em sistema extensivo devido menor interação homem- animal.

Palavras-chave: Bosindicus, comportamento, estresse, velocidade de fuga

Reactivity evaluation of Nellore cattle

ABSTRACT - Different measures of Nellore cattle reactivity were evaluated. The study was performed through behavioural tests, being subjective evaluation in the trunk of contention by scores of 1 to 5, where: score 1- slight displacement; 2- animal more active, not remaining in the same position; 3- frequent displacements; 4- abrupt movements; 5- continuous movement, decubitus in the trunk. It was observed the occurrence of behavioural responses such as defecation and urination. The average of escape velocity (VF) was the second test, calculated through the time taken to cover a distance of 3.6 meters. The percentages for the temperament score of 1 to 5 were 0, 2, 34, 45 and 19%. The behavioural responses for urination and defecation presented 14 and 24%, and 18% defecated and urinated, however, 44% showed no answers. The average of exit time of the animals from the trunk was 4.9 seconds and with VF of 0.7 m/s. Nellore animals are more reactive when raised in extensive system.
Keywords: Bosindicus, behaviour, stress, escape velocity


Introdução

O temperamento é uma das particularidades do comportamento animal, sendo característica individual do animal em várias situações, determinando assim sua agressividade, agilidade, docilidade, medo e reatividade (PARANHOS DA COSTA et al., 2002). Entretanto, tem havido crescente preocupação com o tema, principalmente em situações de grande proximidade com o rebanho, como em sistemas de confinamento e procedimentos de identificação, vacinação ou manejos em geral (SPIRONELLI, 2006). Ademais, são considerados sinais de adversidades associados ao afastamento do animal aumento da movimentação de patas, rabo, orelha e cauda, bufadas e ocorrência de defecar e urina (HOTZEL et al., 2009) Além disso, o temperamento é uma característica relacionada ao desempenho reprodutivo e produtivo dos animais e a qualidade de seus produtos, somado a isso, acidentes envolvendo animais e trabalhadores, danos à instalações e equipamentos, impactando diretamente nos custos de produção (PEIXOTO et al., 2011). Diferentes metodologias para a avaliação do temperamento são encontradas na literatura, como o escore de temperamento que avalia a inquietação do animal quando contido. Já no teste de velocidade de fuga, mede o tempo gasto por um animal para percorrer uma distância conhecida, no qual os animais mais rápidos recebem as piores notas quanto ao temperamento (SILVEIRA et al., 2006). Assim, este trabalho teve por objetivo avaliar a reatividade de bovinos Nelore ao tronco de contenção.



Revisão Bibliográfica

Um dos caminhos para o Brasil atingir a competitividade com outros mercados internacionais no setor pecuário é melhorar a potencialidade produtiva nesse setor. Os animais criados no Brasil são na maioria da raça zebuína, considerados rústicos e melhores adaptados. De acordo com Maffei (2009) a maximização dos processos de produção deste setor só será possível se os pontos fracos da raça Nelore fossem eliminados, entre eles, o temperamento mais agressivo e o baixo desempenho reprodutivo quando comparadas ás raças taurinas (BURROW et al., 1988; SANTOS, 2003). Animais zebuínos e suas cruzas são considerados mais reativos que os animais de raças europeias, mesmo quando criados em condições semelhantes (BURROW, 2001). Neste contexto, é necessário estabelecer estratégias para seleção de animais zebuínos com melhor temperamento (AGUILAR, 2007). Além disso, é possível diminuir a expressão da reatividade pela adequação do manejo, sendo que, existem evidências de que o manejo mal conduzido resulta em comprometimento no desempenho dos bovinos e aumento da reatividade (HEMSWORTH et al., 2000). Animais de temperamento mais reativo têm respostas agressivas mais intensas que os animais menos reativos, possuem menor capacidade adaptativa ás mudanças ambientais e são mais susceptíveis aos agentes estressores (GRANDIN, 1997; PRAYAGA, 2003; PRAYAGA & HENSHALL, 2005; PRAYAGA et al., 2006). De maneira geral, o sistema de produção também interfere nos fatores que influenciam a reatividade dos animais,sendo a reatividade aumentada quando a intensidade do contato é mínima com humanos.



Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul no Município de Aquidauana- MS. Foram utilizados 50 vacas da raça Nelore com peso vivo médio de 432 kg, criados em sistemas extensivos em pastagem de Brachiaria brizantha. Foram realizados testes comportamentais para as avaliações de temperamento, sendo o primeiro procedimento realizado durante a coleta de sangue individual dos animais através da avaliação subjetiva de temperamento no tronco de contenção dado por escores (Adaptado de SILVEIRA et al., 2006). Também foram observadas as respostas comportamentais como ocorrência de defecar e urina. Durante as observações foi registrada a movimentação no tronco de contenção atribuindo escores para cada um dos diferentes comportamentos, conforme a descrição de movimento no tronco de contenção: 1- pouco deslocamento dentro do tronco; 2- animal mais ativo, não permanece na mesma posição; 3- deslocamentos frequentes; 4- movimentos abruptos; 5- movimento contínuo, animal em decúbito no tronco. O segundo procedimento foi realizado através da velocidade de fuga (VF) sendo realizada após cada coleta sanguínea, considerando a rapidez com que os animais se deslocam após abertura do tronco. Avaliou-se o tempo gasto (em segundos) para que os animais percorressem uma distância de 3,60 m após sair do tronco de contenção em direção a um espaço aberto. Para cálculo da velocidade de fuga (Adaptado de BARBOSA, et al., 2008) foi considerado a fórmula da velocidade distância/tempo em m/s. Os resultados foram obtidos através de valores médios para todas as variáveis analisadas.



Resultados e Discussão

Em relação aos escores de temperamento, os percentuais dos animais incluídos em 1, 2, 3, 4 e 5 foram, respectivamente, 0, 2, 34, 45 e 19% (Tabela 1). A maioria dos animais avaliados (98%), teve grau de temperamento acima de 3, o que evidencia maior reatividade e agressividade desses animais durante o manejo no tronco de contenção. De acordo com Silveira et al. (2006) animais cruzados com predominância de sangue zebuíno apresentam maiores valores de escores para todas as variáveis estudadas em relação aos grupos genéticos com predominância de sangue europeu. Além disso, possuem desempenho inferior, quando comparados com animais menos reativos.

Tabela 1.

Quanto à ocorrência de respostas comportamentais como urinar e defecar, 44% dos animais não apresentaram respostas, ademais 14% urinou, 24% defecou e 18% defecou e urinou no tronco de contenção (Figura 1). Segundo Argenzio (2006), vacas com medo defecam mais provavelmente pela facilitação do reflexo por centros no cérebro. O tempo médio de saída dos animais do tronco de contenção foi de 4,9 segundos, e esse tempo foi transformado através da formula (d/t) à velocidade média de fuga de 0,7 (m/s) (Figura 1). De acordo com Burrow&Corbet (2000) em programa de cruzamentos, a escolha de animais quando utilizados o teste de velocidade de fuga, percentuais de sangue zebuínos iguais ou superiores a 50% são indesejáveis se a características temperamento é valorizada. Animais com maior velocidade de saída do tronco de contenção apresentam menor ganho de peso e maior probabilidade em causar acidentes durante o manejo.

Figura 1.



Conclusões

Os animais Nelore apresentam temperamento excitável, e quando manejados de forma isolada no tronco de contenção expressa maior reatividade, sendo necessário desenvolver estratégia de manejo. A avaliação do grau de agitação dos animais no tronco pode ser usada como o critério para a identificação do temperamento dos animais devido à facilidade de medida, com o objetivo de avaliar o estresse e suas consequências negativas sobre o bem estar e o desempenho animal.



Gráficos e Tabelas




Referências

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