AVALIAÇÃO DA REATIVIDADE DE POTROS AO PRIMEIRO CONTATO COM A BALANÇA MECÂNICA
Julia David Lourenzon1, Mayra Oliveira Medeiros2, Camila Giunco3, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara4, Tamires Romão Nunes5, Laura Alves Brandi6, Cristiane Gonçalves Titto7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
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RESUMO -
O objetivo deste estudo foi avaliar a reatividade de potros, frente ao primeiro contato com a balança mecânica. Utilizou-se 11 potros, seis machos e cinco fêmeas, com idades entre 9 e 12 meses. Os potros foram conduzidos individualmente para o local do teste, para única seção de observação. A reatividade dos animais foi determinada por escore composto considerando as variáveis: Posição de Olhos, Posição de Orelhas, Vocalização e Bufar, que culminou na classificação: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%). Não houve efeito de sexo de (p>0,05) sobre o comportamento dos animais ao primeiro contato com a balança. A média do escore composto observada para as fêmeas foi de 20% e para machos a média foi de 28,79%, classificando os animais como pouco reativos. Os potros apresentaram reatividade baixa ao primeiro contato com a balança mecânica aberta.
Palavras-chave: cavalos, manejo, novo, desconhecido
EVALUATION OF THE REACTIVITY OF FOALS TO THE FIRST CONTACT WITH THE WEIGHING SCALE
ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the reactivity of foals to the first contact with the mechanical weighing scale. Eleven foals, six males and five females, aged 9 to 12 months, were used. The foals were individually taken to the test site for a single observation session. The reactivity of the animals was determined by composite score considering the following variables: Position of the Eyes, Position of the Ears, Vocalization and Snorting, which resulted in the classification: calm (0-20%), little reactive (20-40%), reactive (40-60%), very reactive (60-80%) and aggressive (80-100%). There was no sex effect (p> 0.05) on the behavior of the animals at the first contact with the scale. The mean composite score observed for females was 20% and for males it was 28.79%, classifying the animals as little reactive. The foals presented low reactivity at the first contact with the open mechanical balance. Males are more reactive to management compared to females.
Keywords: horses, management, unknown location
Introdução
A diferença de comportamento dentre os equinos é entendida como temperamento, característica individual, presente nos potros e que pode ser influenciado por fatores bióticos e abióticos, refletindo em seu comportamento.
Alguns aspectos que constituem o temperamento de um determinado indivíduo são a inteligência, curiosidade, e reatividade, que é atribuída à expressão comportamental do animal em resposta a estímulos externos, como apatia a objetos desconhecidos ou docilidade com o indivíduo de confiança. A expressão da reatividade pode ser alterada com a habituação do animal a uma nova situação. Na criação de equinos a habituação se mostra eficiente para diminuir a reatividade dos animais frente a exposições repetitivas.
É importante habituar os cavalos aos locais de manejo para a criação, dentre os quais se destaca a balança, essencial para o acompanhamento do peso do animal e consequentemente do seu desenvolvimento.
Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar a reatividade de potros, machos e fêmeas, ao primeiro contato com a balança mecânica.
Revisão Bibliográfica
Para STRELAU (1998), o temperamento se refere a traços básicos, relativamente estáveis, expressos principalmente nas características formais de reações e comportamento, e estão presentes desde cedo em crianças, podendo ser encontrados em animais. As análises fisiológicas nos testes de comportamento têm sido usadas para reforçar a interpretação de padrões de respostas, também sendo utilizadas para estudar a reatividade de cavalos (LE SCOLAN et al., 1997; WOLFF et al. 1997, HAUSBERGER et al., 1998, VISSER et al., 2001).
Muitos termos atualmente empregados para descrever o temperamento em cavalos ainda não estão claramente definidos (MILLS, 1998), porém segundo VISSER (2003), a determinação de medidas comportamentais tornará possível a padronização da classificação do temperamento de um mesmo cavalo.
Segundo CALVIELLO (2013), os aspectos de temperamento considerados essenciais para o sucesso da criação de equinos são a reatividade emocional (temperamento), reações aos seres humanos e idade a aprendizagem, além da habituação dos animais a locais desconhecidos.
As reações excessivas em relação a estímulos ambientais podem tornar os cavalos difíceis de serem manejados, podendo por vezes levar a acidentes (HAUSBERGER et al., 2008).
Testes para determinar a reatividade de equinos implicam em predizer o seu sucesso futuro, avaliar o tempo de resposta do animal e criar cavalos mais calmos (MACKENZIE, 1997).
A expressão da reatividade é uma característica influenciada pela idade do animal, quanto mais novo o cavalo, maior a sua reatividade, bem como do processo de habituação a estímulo e locais desconhecidos. Habituar o cavalo as situações de manejo podem garantir a segurança dele e seu condutor (CALVIELLO, 2013). O sexo também pode influenciar a reatividade dos equinos, conforme descrito previamente por BUDZYŃSKA et al. (2014).
Materiais e Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516.
O experimento foi realizado no setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando-se 11 potros, seis machos e cinco fêmeas, com idades entre 9 e 12 meses. Os potros, pertencentes à mesma tropa, estavam alojados a pasto e foram conduzidos diariamente à lanchonete do referido setor. Após a alimentação os animais foram retirados da tropa e conduzidos individualmente para o local do teste (balança).
A balança utilizada possuía piso de madeira, com rampa de concreto e se encontrava em local coberto e aberto.
As avaliações comportamentais dos animais foram realizadas durante o período da pesagem (1 minuto) por um observador treinado, e medida através da aplicação de escores a 10 variáveis comportamentais (Tabela 1).
Para a análise dos dados foi considerado o efeito de sexo (macho e fêmea), bem como atribuiu-se para cada animal uma classe resposta chamada de reatividade (CALVIELLO, 2013). Em paralelo foi realizado a determinação da reatividade por escore composto, utilizando-se os conceitos da escala Likert, sendo que o animal com menor pontuação foi considerado o mais calmo, seguindo a classificação: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%). Os dados foram analisados por teste de variância com efeito fixo de sexo, escore e interação sexo x escore, com comparação múltipla por PDIFF a 5% por meio do programa de estatística SAS (2004)
Resultados e Discussão
Não houve efeito (p>0,05) de sexo sobre o comportamento dos animais ao primeiro contato com a balança, obtido através de escore composto de observação, considerando-se Posição na Balança, Posição de Olhos, Posição de Orelhas, Vocalização e Bufar.
A média do escore composto observado para as fêmeas foi de 20% e para machos a média observada foi de 28,79%, classificando os animais como pouco reativos.
Os potros machos se mostraram mais reativos do que as fêmeas, dados que concordam os obtidos por BUDZYŃSKA et al. (2014), trabalhando com éguas e garanhões. LEARY e KNAPP (2014) sugerem que as reações estão relacionadas com o sistema endócrino, influenciado pelos hormônios sexuais masculinos, o que pode ter ocorrido no presente estudo, uma vez que os machos começavam a demonstrar maturidade sexual.
Um dos fatores que pode ter contribuído para a baixa reatividade observada em ambos os sexos, foi o tipo de manejo utilizado nos animais. Toda a doma de baixo utilizou metodologia de doma racional, pautada na relação harmônica do homem e do cavalo, o que possibilitou estabelecer uma relação de confiança entre cavalo e condutor. Esta hipótese é reforçada pela análise de CHAMOVE et al. (2002), que sugeriram que a atitude humana se correlaciona com o comportamento do cavalo. Reiterando o observado, HAUSBERGER e MULLER (2002), observaram que os equinos apresentavam reações semelhante a pessoa que os manejava, reforçando a necessidade de correto manejo no início da vida do cavalo.
Conclusões
Os potros apresentaram reatividade baixa ao primeiro contato com a balança mecânica aberta. Machos são mais reativos ao manejo em comparação com as fêmeas. O correto manejo dos cavalos pode garantir a segurança de cavalo e condutor, pois o cavalo reproduz o comportamento de seu treinador.
Gráficos e Tabelas
Referências
BUDZYŃSKA, M. et al.
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CALVIELLO, R. F.
Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013.
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