Avaliação das perdas de suplementos minerais em pó e aglomerado

Bruno Marson1, Marcio de Nadai Bonin2, Fernando Penteado Cardoso Neto3
1 - Connan - Comércio Nacional de Nutrição Animal Ltda.
2 - Connan - Comércio Nacional de Nutrição Animal Ltda.
3 - Connan - Comércio Nacional de Nutrição Animal Ltda.

RESUMO -

Objetivou-se avaliar as perdas dos suplementos minerais em duas formas físicas: minerais em pó e aglomerado. Os suplementos ficaram expostos até o acúmulo pluviométrico de 35 mm, 70 mm e 105 mm. Foram utilizados 54 recipientes em polietileno de 4 litros, distribuídos entre os 2 tratamentos com 27 repetições cada. Após o final de cada período de acúmulo pluviométrico o material coletado foi pesado em balança analítica. As perdas de suplementos foram calculadas através da diferença entre os pesos da matéria seca iniciais e finais. Foi observada diferença (P<0,05) para as perdas de suplementos em todos os períodos de acúmulo pluviométrico analisados. O suplemento mineral em pó apresenta maiores perdas por ação do vento e da chuva quando comparado ao suplemento mineral aglomerado.

Palavras-chave: suplemento mineral, pó, aglomerado, perdas, bovinos

Evaluation of Losses of Mineral Supplements in Powder and Agglomerate

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the losses of mineral supplements in two physical forms: mineral powder and agglomerate. The supplements were exposed until the rainfall accumulation of 35 mm, 70 mm and 105 mm. A total of 54 polyethylene containers were used, distributed between treatments with 27 replicates each. After the end of each period of rainfall accumulation the collected material was weighed in analytical balance. The losses of supplements were calculated by the difference between the weights of the initial and final dry matter in each period. A difference (P<0.05) was observed for the losses of supplements in all periods of rainfall accumulation. The mineral supplement powder has higher losses from wind and rain when compared to the agglomerated mineral supplement.
Keywords: Mineral supplement, powder, agglomerate, losses, cattle


Introdução

A utilização da suplementação mineral para bovinos de corte  vem sendo pesquisada há anos como alternativa para suprir as exigências nutricionais dos animais e melhorar seu desempenho em pastagens. A suplementação a pasto tem grande influência na produtividade dos sistemas pecuários brasileiros. Entretanto, o desembolso com a suplementação mineral do rebanho é um dos custos mais sentidos pelo pecuarista e, portanto, uma de suas grandes preocupações. Nesse sentido, há um grande esforço no combate ao desperdício da suplementação mineral ofertada aos animais, seja pelo fornecimento regulado de suplementos, pela melhoria da estrutura, treinamento da mão de obra do campo ou por suplementos que evitem maiores perdas durante exposição aos animais. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo avaliar as perdas dos suplementos minerais por ação do vento e da chuva em duas formas físicas: minerais em pó e aglomerado.

Revisão Bibliográfica

Os elementos minerais são dieteticamente essenciais para todos os animais, pois participam do funcionamento de muitos processos bioquímicos do organismo. Para ruminantes em pastejo, a subnutrição mineral pode acarretar em importante impacto produtivo e econômico, visto que as forrageiras tropicais apresentam baixa concentração desses nutrientes, não suprindo as exigências para produção animal mais elevada (PEDREIRA; BERCHIELLI, 2011). Para ruminantes, o método mais usado e indicado para suprir adequadamente a necessidade de macro e microminerais é a administração da mistura mineral em cochos à disposição dos animais  (CAVALHEIO, 1992). Contudo, a mistura dos elementos minerais em pó acarretam em perdas no campo devido à ação do vento, da chuva e do empedramento do material, pois alguns elementos que compõem o suplemento mineral, em especial o cloreto de sódio e sais fosfatados, são substâncias higroscópicas com alta tendência de empedramento por recristalização de sua superfície, impactando na redução da ingestão e desempenho animal (PEIXOTO et al., 2005; ARAÚJO, 2014). Após a mistura dos elementos minerais, as partículas menores ou mais densas se concentram na base de um recipiente ou embalagem, sendo que partículas maiores ou com menor densidade se concentram no topo. Essa segregação pode desequilibrar as formulações, causando consumo irregular de nutrientes e prejudicando o desempenho (ARAÚJO, 2014). A mistura dos elementos minerais através do processo de aglomeração permite que os nutrientes com densidades diferentes permaneçam na mesma partícula (microgrânulo). Isto confere ao suplemento mineral maior homogeneidade, uma vez que não está sujeito à segregação. Além disso, no campo, a mistura granulada reduz a perda dos suplementos no cocho devido à ação do vento, da chuva e por empedramento, já que esse processo diminui a área de contato entre as partículas, reduzindo assim o risco de empedramento (ARAÚJO, 2014).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido nas dependências da Connan – Comércio Nacional de Nutrição Animal Ltda., localizada no município de Boituva/SP (Lat. S. 23º17’00” e Long. W. 47º40’20”), com 645 metros de altitude, temperatura média anual de 20,9°C e precipitação média anual de 1072,4 mm (CEPAGRI, 2016). O período experimental teve duração de 20 dias (março a abril de 2016). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com dois tratamentos: suplemento mineral em pó e suplemento mineral aglomerado com composições químicas equivalentes, que ficaram expostos até o acúmulo pluviométrico de 35 mm, 70 mm e 105 mm. Foram utilizados 54 recipientes em polietileno de 4 litros, com 5 furos de 4 mm ao fundo, distribuídos entre os tratamentos com 27 repetições cada. Os recipientes foram alocados em suporte inerte, sem contato com o solo. Cada repetição foi composta por 2,5 kg de matéria natural dos suplementos minerais. A precipitação pluviométrica foi quantificada através de pluviômetro alocado ao lado da área experimental. Após o final de cada período de acúmulo pluviométrico foram retiradas 9 repetições de cada tratamento. O material coletado foi pesado em balança analítica no Laboratório de Nutrição Animal da Connan. As perdas de suplementos foram calculadas através da diferença entre os pesos da matéria seca inicial e final em cada período de acúmulo pluviométrico. As determinações de matéria seca foram realizadas conforme descritos por Mizubuti et al. (2009). A análise estatística foi realizada por meio da análise de variância a 5% de probabilidade através do pacote estatístico do software R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2013).

Resultados e Discussão

Foi observada diferença (P>0,05) para as perdas de suplementos em todos os períodos de acúmulo pluviométrico (Tabela 1).  As diferenças entre as perdas do suplemento mineral em pó comparado ao suplemento mineral aglomerado foram de 2,52; 5,42 e 8,61 pontos percentuais para acúmulo pluviométrico de 35, 70 e 105 mm, respectivamente. A utilização do suplemento mineral em pó representa maiores perdas por ação do vento e da chuva. Conforme Balsalobre (2005), o maior motivo do uso inadequado de suplementação mineral no país não é a falta de interesse do produtor, mas o baixo consumo pelos animais, sendo que um dos fatores que provocam o baixo consumo do suplemento mineral é a precipitação pluvial, que descaracteriza o suplemento tornando-o pouco atrativo aos animais. Os resultados indicam que a maior exposição dos suplementos minerais á pluviosidade aumentam as diferenças entre as perdas dos tratamentos. Isso pode ser explicado devido ao fato do efeito da pluviosidade ser contínuo na solubilização do cloreto de sódio e sais fosfatados e no carreamento dos nutrientes do suplemento mineral em pó. Conforme dados do INMET (2017), a precipitação média brasileira é de 1512,5 mm. Dessa forma, o acúmulo de chuvas nos intervalos de abastecimento dos cochos é comum. Como na maior parte do país a pluviosidade é concentrada no verão, esse problema é agravado nesse período. As perdas dos suplementos minerais em pastagens normalmente são contabilizadas como consumo, visto que é prática comum do produtor brasileiro estimar o consumo dos suplementos através do monitoramento de estoque, ou seja, quanto tempo o estoque de suplemento mineral é suficiente para um determinado número de animais. Esse método contabiliza as perdas de campo como consumo, podendo indicar erroneamente que os animais estão bem suplementados. Segundo Peixoto et al. (2005), a cobertura e proteção dos cochos é de fundamental importância para manter a qualidade da mistura e evitar desperdícios e menor consumo pelos animais. Contudo, tal prática impacta em maiores investimentos para o produtor. Dessa forma, o suplemento mineral aglomerado permite a redução das perdas no campo e maior homogeneidade de consumo (ARAÚJO, 2014). Esses fatores podem ser determinantes no desempenho de ruminantes em pastagens e na rentabilidade do produtor.

Conclusões

O suplemento mineral em pó apresenta maiores perdas por ação do vento e da chuva quando comparado ao suplemento mineral aglomerado.

Gráficos e Tabelas




Referências

ARAÚJO, T.D.A. Estudo dos fundamentos de microgranulação do fosfato bicálcico em um misturador aglomerador de alto cisalhamento. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciência). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014. BALSALOBRE, M.A.A. Consumo de suplemento mineral, um desafio. Visão Agrícola, Piracicaba, n. 3, p. 47-50, 2005. CAVALHEIO, A. C. L. Os Minerais para Bovinos e Ovinos Criados em Pastejo. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1992. 122p. CENTRO DE PESQUISAS METEOROLÓGICAS E CLIMÁTICAS APLICADAS À AGRICULTURA - CEPAGRI. Clima dos municípios paulistas. 2013. Disponível em: < http://www.cpa.unicamp.br/outras-informacoes/clima_muni_079.html> Acesso em 15 jan. 2016. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET. Normais climetológicas do Brasil. 2017. Disponível em: <http:/ http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/normaisclimatologicasl> Acesso em 12 abr. 2017. MIZUBUTI, I. Y.; PINTO A. P.; RAMOS, B. M. O.; PEREIRA, E. S. Métodos laboratoriais de avaliação de alimentos para animais. Londrina: Eduel, 2009. 228 p. PEDREIRA, M.S.; BERCHIELLI, T.T. Minerais. IN: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2011, p. 345 – 368. PEIXOTO, P.V.; MALAFAIA, P.; BARBOSA, J.D.; TOKARNIA, C.H. Princípios de suplementação mineral em ruminantes. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 25, n. 3, p. 195-200, 2005. R CORE TEAM (2013). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. Disponível em Andlt;http://www.R-project.org/Andgt;. Acesso em 10 out. 2015.