Avaliação de três características morfológicas de quatorze variedades de cana-de-açúcar no Sul do Estado do Rio de Janeiro
Mateus de Paula Barcelos1, Elon Candez da Silva2, Luís Felipe Ferreira Inácio Silva3, Eduardo Sardinha da Silva4, André Matos Zuccari5, Leonardo Viana da Silva6, Diego Henrique Ozório de Carvalho7, João Batista Rodrigues de Abreu8
1 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
3 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
4 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
5 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
6 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
7 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
8 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
RESUMO -
Objetivou-se no presente trabalho avaliar as características morfológicas (despalha, altura do colmo e comprimento total) em quatorze cultivares de cana-de-açúcar, separadas em precoce (IAC86-2210, IAC86-2480, e SP80-1842), média (IAC93-6006, RB72-454, RB75-8540 e SP79-2233), média-tardia (RB73-9735, RB85-5113, RB86-7515 e SP80-3280) e tardia (CB47-355, IAC87-3396 e SP81-3250), indicando a mais adequada, seguindo estes parâmetros, para a formação de canaviais para o Sul do Estado do Rio de Janeiro. O ensaio de campo foi desenvolvido no município de Vassouras, implantado em maio de 2013 e avaliado em agosto de 2015, com 365 dias após o primeiro corte. Foi utilizado delineamento de blocos ao acaso com três repetições. Foram cortados três perfilhos significativos de cada parcela para mensurar o comprimento total a partir do solo até a ponta das folhas, da altura do colmo a partir do solo até o primeiro colarinho visível e da despalha, que foi avaliada do solo até a primeira folha da bainha ainda presa ao colmo. Na avaliação quanto à altura total e altura do colmo não foi constatado efeito significativo (P<0,05) e já altura da despalha, houve significância, destacando um grupo de maior altura para essa característica, IAC86-2480, RB72-454, SP80-3280, RB75-8540 e CB47-355, com média de 2,17m. Elas não diferiram entre si e foram superiores às demais variedades, que também não diferiram entre elas e apresentaram média de 1,08 m. Foram discriminadas como destaques as cultivares CB47-355 e IAC86-2480 por apresentarem maior harmônia de desempenho nas três características avaliadas.
Palavras-chave: altura do colmo, altura total, despalha
Evaluation of three morphological characteristics of fourteen varieties of sugarcane in the South of the State of Rio de Janeiro
ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the morphological characteristics (shade, stem height and total length) in fourteen sugarcane cultivars, separated at an early stage (IAC86-2210, IAC86-2480, and SP80-1842), mean ( IAC93-6006, RB72-454, RB75-8540 and SP79-2233), medium-late (RB73-9735, RB85-5113, RB86-7515 and SP80-3280) and late (CB47-355, IAC87-3396 and SP81- 3250), indicating the most adequate, following these parameters, for the sugar cane formation to the south of the state of Rio de Janeiro. The field trial was carried out in the municipality of Vassouras, implemented in May 2013 and evaluated in August 2015, 365 days after the first cut. A randomized block design with three replications was used. Three significant tillers from each plot were cut to measure the total length from the soil to the leaf tip, from the height of the stem from the soil to the first visible collar and from the shrub, which was evaluated from the soil to the first leaf of the Sheath still stuck to the top. In the evaluation of the total height and height of the stem, no significant effect (P <0.05) was observed and height of the shrub was significant, highlighting a group of higher height for this characteristic, IAC86-2480, RB72-454, SP80-3280, RB75-8540 and CB47-355, averaging 2.17m. They did not differ from each other and were superior to the other varieties, which did not differ between them and presented an average of 1.08 m. The cultivars CB47-355 and IAC86-2480 were distinguished as stand out because they presented greater harmony of performance in the three evaluated characteristics.
Keywords: height of stem, straw, total height
Introdução
No cenário da pecuária nacional atualmente, em algumas regiões, a cana-de-açúcar vem sendo amplamente utilizada na alimentação de ruminantes, tanto da forma ensilada como in natura, se destacando pela alta produção de matéria seca e energia por área (BOIN, 1985), entretanto, a qualidade de uma forrageira depende dos seus constituintes, os quais variam de acordo com a espécie, idade e parte planta, fertilidade do solo, dentre outros (VAN SOEST, 1994). Segundo Abreu et al. (2007), especificamente quanto ao uso da cana-de-açúcar para alimentação de bovinos, os dois aspectos mais relevantes são, a idade da planta e a cultivar a ser trabalhada. Além de características agronômicas e nutricionais, esses autores citam que a cana-de-açúcar apresenta um atributo temporal diferenciado quanto a sua utilização como forrageira, que é manutenção do valor nutricional no período de menores precipitações do ano, ou seja, na seca, quando a capacidade de suporte das pastagens está baixa e se torna necessária a suplementação volumosa dos animais. Dessa forma, para obter sucesso com a utilização da cana-de-açúcar na alimentação animal, a escolha da cultivar adequada ao clima da região e as condições de manejo da propriedade se torna uma etapa crucial.
Há registro na literatura (BALSALOBRE et al., 1999; URQUIAGA et al., 1991) que evidenciam o uso das características morfológicas da cana-de-açúcar como um dos aspectos na escolha de material genético, visando o aumento de produtividade, valor nutricional e facilidade de manejo por melhorar a colheita. Algumas dessas características são consideradas importantes por apresentarem correlação com a produtividade da cultura, destacando-se altura do perfilho, altura do colmo e despalha.
Com base no que foi dito, o presente trabalho foi desenvolvido com vistas a avaliar as três características supracitadas em quatorze variedades de cana-de-açúcar, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, visando obter informações técnicas para tomada de decisão na escolha da (s) melhor (es) variedade (s) para condições de clima, solo e manejo da região, para uso na alimentação de ruminantes.
Revisão Bibliográfica
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, a qual se destaca, entre as gramíneas tropicais, como a planta de maior potencial para produção de matéria seca e energia, por unidade de área, em um único corte por ano, e amplamente melhorada por diversas instituições de pesquisa nacionais (BOIN, 1985). A cana-de-açúcar é uma cultura relativamente fácil de ser conduzida, tem boa aceitação pelos animais (CARVALHO, 1992) e elevado teor de carboidratos solúveis. Outro fator que a torna alternativa para o uso na alimentação animal é o seu comportamento de maturação, que tem seu pico exatamente no período seco do ano, momento em que se utiliza a cultura na suplementação volumosa do rebanho (ABREU et al., 2007), justificando sua ocorrência na maioria das propriedades rurais, usada como forrageira mais explorada, ainda que em pequenas áreas (CARVALHO, 1992). Avaliando a inclusão de cana-de-açúcar na alimentação de vacas leiteiras, Mendonça et al. (2004) obtiveram produção de leite maior para a dieta à base de silagem de milho (22,0 kg/dia), não encontrando diferença na produção de leite dos animais (19,23 kg/dia) nas dietas em que a cana-de-açúcar era o volumoso, independentemente do nível de ureia ou da relação volumoso:concentrado. Em relação à composição do leite não foram encontradas diferenças entre as dietas experimentais.
Abreu et al. (2007) citam que analisar a cultura no seu próprio ambiente de desenvolvimento, ou seja, no local onde o canavial será estabelecido, pode gerar uma quantidade enorme de informações que permitem ajustar o manejo e a cultivar a ambientes específicos (solo e clima). Esses autores ainda contextualizam que as características morfológicas podem ser empregadas para avaliar o desenvolvimento e adaptabilidade da cultura a um determinado ambiente e dentre essas pode-se destacar: altura do colmo e altura da folha. Dessa forma, é possível explorar ao máximo o rendimento da cultura e, consequentemente, garantir a condição de maior rendimento econômico (Leite, 2007), seja para o produtor rural ou para agroindústrias canavieiras. Na formação de um sistema de produção de cana-de-açúcar, mesmo que se utilize a cultivar adequada àquele ambiente, outros fatores também interferem no sucesso de sua utilização, conforme Cesar et al. (1987) citam, como manejo da cultura e interação edafoclimática. Essas condições edafoclimáticas consideram as interações entre a planta e o solo, umidade, temperatura, precipitação, vento e radiação solar, logo, para o Brasil, país de extensão continental, é indispensável a escolha da cultivar adaptada, para que haja o sucesso da cultura. A importância das interações edafoclimáticas pode ser elucidada pela passagem de Brunini (2008), que relata que durante o crescimento a cana-de-açúcar carece de um clima quente, úmido e com intensa radiação solar, uma vez que é considerada planta C4, caracterizada por alta performance em fotossíntese. Em seguida, já na fase de maturação, para que haja o acúmulo de açúcares, principalmente sacarose, a planta precisa de condições de clima seco, ensolarado e frio.
Dessa forma, o estudo das características biométricas da cana-de-açúcar é uma ferramenta importante para auxiliar na escolha das cultivares mais adequadas para determinada região e condição ambiental, fator que é extremamente importante para sucesso na implantação de canaviais, tendo em vista que, esse sucesso, está diretamente associado à adaptabilidade da planta ao ambiente onde está inserida.
Materiais e Métodos
O experimento do presente trabalho foi conduzido no Campo Experimental de Santa Mônica - CESM, da Embrapa Gado de Leite, em Valença, Sul do Estado do Rio de Janeiro. As cultivares de cana-de-açúcar sobre avaliação foram as seguintes, segundo seus ciclos de maturação: precoce (IAC86-2210, IAC86-2480, e SP80-1842), média (IAC93-6006, RB72-454, RB75-8540 e SP79-2233), média-tardia (RB73-9735, RB85-5113, RB86-7515 e SP80-3280) e tardia (CB47-355, IAC87-3396 e SP81-3250). O plantio foi efetuado em maio de 2013, com aplicação de 400 kg/ha do fertilizante 00-25-15 em sulcos. Foram realizadas fertilizações de cobertura utilizando uma mistura de ureia e cloreto de potássio, divididas em duas aplicações aos 50 dias e 120 dias após o plantio, com quantidades de N e K2O de 30 e 0 e de 30 e 45 kg, respectivamente, para as duas aplicações. A unidade experimental foi constituída por parcelas de oito metros de comprimento e seis linhas, com espaçamento de um metro, e área útil compreendida pelas duas linhas centrais, descartando um metro de bordadura em cada extremidade das linhas centrais da parcela. Durante a condução do experimento foram realizadas capinas aos 40, 70 e 120 dias após o plantio. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com três repetições cada. O corte para avaliação das características morfológicas foi realizado em agosto de 2015, 365 dias após o primeiro corte. Foi realizada coleta de três perfilhos significativos das duas linhas centrais da parcela em quais foram mensurados o comprimento total, a partir do solo até a primeira folha do cartucho de folhas acima do meristema apical, a altura do colmo, a partir do solo até o primeiro colarinho visível, e a despalha, a partir do solo até a primeira folha com bainha ainda presa ao colmo. Foram feitas análises estatísticas utilizando o programa SISVAR (FERREIRA, 2008), procedendo-se a análise de variância mediante a significância das fontes de variação. Após a verificação do efeito das variedades na análise de variância, foi realizado o teste de Skott-Knott ao nível de 5% de probabilidade para comparação dos tratamentos.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos de altura total, altura de colmo e despalha são apresentados na Tabela 1. Foi verificado efeito significativo (P<0,05) somente para o parâmetro de despalha, enquanto que no comprimento total e comprimento do colmo não foi encontrado significância entre as variedades. As duas características sem efeito significativo apresentaram média de 4,21m para altura total e 2,97 m para altura do colmo. Esses dois parâmetros têm relação direta com a produção da cultura da cana-de-açúcar, sendo que altura do colmo tem correlação positiva com seu peso e o comprimento total do perfilho tem correlação positiva com a produção de biomassa verde (BALSALOBRE et al., 1999).
A despalha separou dois grupos, em que as variedades IAC86-2480, RB72-454, SP80-3280, RB75-8540 e CB47-355 não diferiram entre si, apresentando média de 2,17m, e sendo superiores às demais variedades, que apresentaram para tal característica média de 1,08m. Este parâmetro apresentou alto coeficiente de variação em função da metodologia empregada na coleta dos dados, em que os perfilhos eram coletados dentro da unidade experimental e realocados para fora para realização das mensurações, ocorrendo perda das folhas aderidas ao colmo.
As características biométricas da cana-de-açúcar são informações cruciais e que permitem inferências em termos de manejo e produtividade da cultura, que são fatores preponderantes para que os produtores tenham sucesso na sua utilização na alimentação de ruminantes. A altura da despalha permite correlação peculiar com o valor nutricional da planta, pois uma vez que ela apresente altura de despalha maior, significa que, mais colmos estarão expostos e menos folhas verdes e secas, que possuem inferior valor nutricional por apresentarem alto conteúdo de fibra, estarão aderidas à eles (ABREU et al., 2007).
Conclusões
Associando as três características biométricas, as duas variedades que merecem destaque em função destas são, a CB47-355, por apresentar uma elevada altura de despalha e altura total, e a IAC86-2480, por ter maior altura total e elevada altura do colmo.
Gráficos e Tabelas
Referências
ABREU, J. B. R.; ALMEIDA, J. C. C.; MELLO, W. A.; PEREIRA, V. V.; FERREIRA, M. C. M.; MARQUES, R. A. F.; OLIVEIRA, A. J.; Produção, características morfológicas e de maturação de cultivares de cana-de-açúcar com diferentes ciclos de amadurecimento para uso na alimentação animal na região de Barbacena-MG.
Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, v.64, n.2, p.115-121, 2007.
BALSALOBRE, M.A.A.; FERNANDES, R.A.T.; SANTOS, P.M. Corte e transporte de cana-de-açúcar para consumo animal.In: PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C.; NUSSIO, L.G.; FARIA, V.P. 7º SIMPOSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, Piracicaba,
Anais... Piracicaba: Fealq, 1999 p. 7-26.
BOIN, C. Cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes. In: D.ARCE; R.D.; BOIN, C.
Utilização de resíduos agroindustriais da cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes. Piracicaba: FEALQ, 1985. p.19-52.
BRUNINI, O. Ambientes climáticos e exploração agrícola da cana-de-açúcar. In: DINARDOMIRANDA, L. L.; VASCONCELOS, A.C M.; ANDRADE LANDELL, M. G.
Cana-de-açúcar. Campinas: Instituto Agronômico, 2008. p. 205-218.
CARVALHO, G.L.
Avaliação do potencial forrageiro e industrial de variedades de cana-de-açúcar (ciclo de ano) em diferentes épocas de corte. 53 f. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura de Lavras, 1992.
CESAR, M. A. A.; DELGADO, A. A.; CAMARGO, A. P.; BISSOLI, B. M. A.; SILVA, F. C.
Capacidade de fosfatos naturais e artificiais em elevar o teor de fósforo no caldo de cana-de-açúcar (cana-planta), visando o processo industrial. STAB: Açúcar, Álcool e Subprodutos, v.6, p.32-38, 1987.
FERREIRA, D.F. SISVAR: um programa para análises e ensino de estatística.
Revista Symposium, v.6, p39-41, 2008.
LEITE, R. L.
Cultivares de cana-de-açúcar em solos da região norte do estado do Tocantins. 65 p. 2007. Dissertação (Mestre em Ciência animal tropical da Universidade Federal do Tocantins). Universidade Federal do Tocantins.
MENDONÇA, S. S.; CAMPOS, J. M. S.; VALADARES FILHO, S. C. et al. Consumo, digestibilidade aparente, produção e composição do leite e variáveis ruminais em vacas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, p.481-92, 2004.
URQUIAGA, S.; BODDEY, R.M.; OLIVEIRA, O.C.; et al.
A importância de não queimar a palha na cultura da cana-de-açúcar. Itaguaí, Embrapa/CNPAB, p.1-6, 1991 (Comunicado Técnico, 5).
VAN SOEST, P.J. 1994.
Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. New York: Cornell University Press. Ithaca. 476p.