AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR DE FRANGOS DE CORTE NA ÁREA DE RECEPÇÃO DO ABATEDOURO

Jussara Maria de Oliveira1, Rita de Cássia Geralda Silva2, Vanusa Patrícia de Araújo Ferreira3, Carla Ferreira Soares4
1 - Aluna de graduação do curso de Zootecnia, UFSJ, São João del-Rei-MG
2 - Zootecnista
3 - Professora do Departamento de Zootecnia, UFSJ, São João del-Rei-MG
4 - Doutoranda em Zootecnia do Departamento de Zootecnia, UFMG, Belo Horizonte -MG

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições de bem-estar de frangos de corte na área de recepção do abatedouro relacionando-as aos pontos críticos do transporte. Foram monitorados um total de 16 caminhões de transporte (8 no inverno e 8 no verão) de aves, desde a chegada na área de espera até o descarregamento das mesmas. Foram avaliados a densidade das caixas, tempo total de jejum das aves, tempo de transporte e tempo de espera no abatedouro e a temperatura superficial das aves. Esses pontos foram comparados com a literatura. Sendo assim, foi possível observar que o tempo de transporte das aves e a densidade das caixas estão de acordo com as condições de bem-estar de frangos de corte descritas na literatura, mas o tempo de jejum foi superior a 12 horas. O tempo das aves na área de espera influenciou no aumento da temperatura superficial das aves quando estas permaneceram por mais de duas horas no período do inverno e à partir de uma hora no período do verão.

Palavras-chave: aves, bem-estar, pré-abate, transporte

EVALUATION OF THE WELFARE OF BROILERS IN THE RECEPTION AREA OF THE SLAUGHTERHOUS

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the broiler welfare conditions in the slaughterhouse reception area relating to the critical points of transportation. A total of 16 trucks of birds were monitored (8 in the winter and 8 in the summer) since the arrival in the waiting area until the discharging of them. We evaluated the density of the boxes, the total time the birds fast, transport time and waiting time at the abattoir. These scores were compared with the literature. Thus, it was observed that the poultry transport time and the density of the boxes comply with the conditions of well-being of broilers described in the literature, but the time of fasting was over 12 hours. The time in the waiting room influenced in the rise of the bird’s surface temperature when they remained over two hours in the winter period from an hour in the summer period.
Keywords: broilers, pre slaughter, transportation, welfare


Introdução

A produção avícola no Brasil é um dos setores do agronegócio que tem apresentado nas últimas três décadas significativos avanços na área de nutrição, manejo e sanidade, além da preocupação com o bem-estar dos animais, que de um lado atende às exigências dos consumidores e de outro reduz os prejuízos para a indústria. Vários fatores estão relacionados ao bem-estar de frangos de corte, sendo um deles o transporte das aves, o manejo pré-abate, uma fase agravante quando não executada corretamente.  Os animais, de acordo com o grau de dificuldade que sofrem para se adaptarem ao ambiente e suas inadequações, apresentam alterações fisiológicas e comportamentais que podem indicar comprometimento do bem-estar (MOLENTO, 2005). Quando o desconforto ou o sofrimento dos animais ultrapassa um determinado nível, o desempenho é prejudicado, a ponto de reduzir a lucratividade da atividade. O transporte consiste na tarefa de encaminhar as aves do aviário até o abatedouro, podendo ser executada em diferentes condições, distância e tipos de vias (BARBOSA FILHO, 2008), o que pode causar desde um leve desconforto às aves, com alterações na qualidade final da carne, até a morte dos animais.

O presente trabalho teve a finalidade de avaliar as condições de bem-estar de frangos de corte na área de recepção do abatedouro relacionando-as aos pontos críticos do transporte.



Revisão Bibliográfica

As aves são animais considerados homeotérmicos, ou seja, a temperatura corpórea não varia com a temperatura do ambiente, por isso possuem a temperatura interna praticamente constante, que de acordo com Macari & Furlan (2001), se mantém ao redor de 41°C. Durante o transporte, as aves são submetidas a fatores estressantes, como o estresse térmico, lotação, estresse social, vibração, aceleração, barulho, além de restrição alimentar e hídrica, que refletem diretamente na qualidade do produto final (carne) e na maioria das vezes são os principais responsáveis pelas perdas (JORGE, 2008). O jejum pré-abate tem como objetivo diminuir a probabilidade do rompimento de partes altamente contaminadas, como o ceco, durante o processamento das carcaças no abatedouro (BARREIRO et al., 2013). Para tanto, as aves que chegarem ao abate, deverão cumprir a suspensão da alimentação por um período mínimo de 6 a 8 horas (BRASIL, 2008). Porém, ele é influenciado pela logística da empresa podendo ter sua duração prolongada. A restrição prolongada de alimento e água exaure os estoques energéticos e, desse modo, suprime a capacidade do animal de enfrentar situações estressantes (SAVENIJE et al., 2002). No período de transporte, o fator densidade das caixas de transporte está diretamente relacionado ao bem-estar das aves, pois influencia nas trocas térmicas delas com o meio. Cony & Zooche (2004) preconizam uma densidade de 22 Kg/caixa. O espaço deve ser suficiente para a ave deitar, sem se amontoar e a quantidade deve ser ajustada pela diferença de clima, tamanho da caixa e peso das aves (UBA, 2008). Os motoristas que transportam aves devem ser bem treinados e ter noção exata da carga que estão transportando, ter ideia do número de aves que morrem normalmente no carregamento e transporte, além do conhecimento das lesões que podem ocorrer (ABREU, 2004). O galpão de espera deve ser climatizado para se atingir o objetivo de bem-estar e conforto térmico das aves. Para isto as linhas de ventilação devem ser intercaladas com a de nebulização visando dentro do possível climatizar igualmente todas as caixas. Já o tempo de espera é definido como o período da chegada das aves no abatedouro até o seu abate. Ludtke et al. (2010), recomendam como ideal para o bem-estar das aves e qualidade da carne um período de 1 hora, não mais que 2 horas, pois as aves que esperam muito tempo no caminhão podem sofrer problemas de desidratação, já que se encontram sem acesso a água e ração.

Materiais e Métodos

Os dados foram coletados em um abatedouro de uma empresa integradora localizado na cidade de Prados, com capacidade para o abate de 48.000 mil aves/dia. Foram monitorados um total de 16 caminhões de transporte de aves, desde a chegada à área de espera até o descarregamento dos mesmos, sendo 8 caminhões monitorados durante o inverno (julho) e 8 durante o verão (dezembro). A área de espera possuía capacidade para cinco caminhões, com laterais abertas, coberta com tela sombrite 70%. Os ventiladores eram dispostos de modo a abranger as laterais de todos os caminhões, bem como a parte superior, estando estes bem próximos das caixas. Os nebulizadores eram localizados na parte superior da área para cada caminhão. Em todos os carregamentos foi avaliada a temperatura superficial das aves utilizando-se um termômetro infravermelho da marca Minipa, modelo MT-320, no momento da chegada ao abatedouro e no início do descarregamento. As temperaturas foram medidas em um ponto central da lateral direita, um ponto central da lateral esquerda e um ponto central na parte superior do caminhão. Foi calculada a média da temperatura superficial das aves. Foi monitorado a densidade das caixas, início de jejum das aves, tempo do carregamento e tempo de espera no abatedouro. Para apresentação dos resultados, os dados foram analisados por meio da análise descritiva, comparando os dados observados com os dados da literatura.

Resultados e Discussão

O tempo de jejum das aves no inverno variou de 12 horas e 54 minutos a 23 horas e 12 minutos no inverno, já no verão, variou de 9 horas e 48 minutos a 19 horas e 52 minutos considerando o início do jejum na granja até o descarregamento destes animais no abatedouro. Estes resultados não estão de acordo com HFAC (2008), que recomenda que as aves não devem ser privadas de alimentos por mais de 12 horas, no total, incluindo o período de apanha até a hora do processamento. No inverno, os caminhões analisados continham cargas com a densidade de 7 a 9 animais por caixa com o peso médio de 2,17 a 3 kg por animal, não ultrapassando 23 kg por caixa carregada. Este resultado está de acordo com o recomendado por Rosa et al.(2012), que sugeriram densidades entre 21 a 23 kg/caixa. No verão, a densidade das caixas foi de 8 a 10 animais/caixa com o peso médio de 1,9 kg a 2,5 kg. Branco (2004) sugeriu que no verão a densidade deve ser de 19 a 22 kg/caixa, porém neste trabalho foi observado densidade de 25 kg/caixa. No inverno, o tempo de transporte variou de 2 horas e 40 minutos a 13 horas e 43 minutos no inverno. No verão, tempo de transporte variou de 6h e 48 minutos a 10 horas e 11 minutos. O tempo limite de transporte, entre o início do carregamento e o fim do descarregamento deve ser inferior a 10 horas (HFAC, 2008). Respeitar o tempo de 18 transporte é importante, para que as aves não permaneçam nos veículos por longos períodos, e dessa forma evitar o agravamento dos problemas de bem-estar. Os dados de temperaturas superficial das aves e tempo de espera no abatedouro nas fases de inverno e verão estão apresentados na Tabela 1. A temperatura ambiente máxima e mínima no inverno, foi 24,5°C e 15°C respectivamente. No inverno, as temperaturas superficiais das aves foram de 23,8 a 28,4°C na chegada ao abatedouro. Dos oitos carregamentos, apenas dois apresentaram elevação na temperatura até o início do descarregamento, sendo que esses permaneceram na área de espera por mais de duas horas. Já a temperatura ambiente no dia da coleta dos dados no verão foram máxima de 32°C e mínima de 20°C. Nesse período, as aves apresentaram temperaturas superficiais mais elevadas ao final da espera no abatedouro. O tempo de espera no abatedouro ultrapassou 1 hora em todos os carregamentos, chegando a 5 horas de espera. Estes resultados contrariam Ludkte et al. (2010), que recomendam como ideal par o bem-estar das aves e qualidade da carne um período de 1 hora, não mais que 2 horas. Um maior período de espera aumenta a temperatura corporal das aves, implicando numa menor capacidade de termorregulação e manutenção da temperatura corporal, resultando, frequentemente, em estresse térmico (WARRIS et al., 1999).

Conclusões

O tempo de transporte das aves das granjas até o abatedouro e a densidade das caixas estão de acordo com as condições de bem-estar de frangos de corte descritas na literatura, mas o tempo de jejum excede a 12 horas. Já o tempo dos frangos na área de espera do abatedouro, resultou num aumento da temperatura superficial dos animais, quando estes permaneceram por mais de duas horas no período do inverno e acima de uma hora no período do verão.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABREU, V.M.N. A ventilação dos aviários garante aumento na produção. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2004. BARBOSA FILHO, J. A. D. Caracterização quantiqualitativa das condições bioclimáticas e produtivas nas operações pré-abate de frango de corte. 2008. 174 f. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba - SP. BARREIRO, F. R. et al. Jejum pré-abate e sua influência nas populações de enterococos no ceco de frangos de corte. Revista ARS Veterinária, v.29, n.4, 2013. BRANCO, J. A. D. Manejo pré-abate e perdas decorrentes do processamento de frango de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 2004, Campinas. Anais...Campinas: FACTA, 2004, p. 129-142. BRASIL. Ministério da agricultura pecuária e abastecimento. Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carne d Aves, 1998. CONY, A. V.; ZOOCHE, A. T. Manejo de frangos de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 2004. Campinas. Anais... Campinas: FACTA, 2004, p.117-136. HUMAN FARM ANIMAL CARE. Padrões de cuidados com animais: Frangos de corte. Rio de Janeiro, 2008. JORGE, S. P. Avaliação do bem-estar animal durante o pré-abate e abate e condição sanitária de diferentes segmentos avícolas. 2008. 107f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) - Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Jaboticabal - SP. LUDTKE, C. B. et al. Abate Humanitário de Aves. Rio de Janeiro: WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal, 2010. MACARI, M.; FURLAN, R. L. Ambiência na produção de aves de corte. In: SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, 2001. Cap.2, p.31-87. MOLENTO, C.F.M. Bem-estar e produção animal aspectos econômicos - Revisão. Archives of Veterinary Science. Curitiba, v.10, n.1, p.1-11. 2005. ROSA, P. S. et al. Manejo pré-abate em frangos de corte. Concórdia: Embrapa suínos e aves. Concórdia, n. 36, fev., 2012. SAVENIJE, B. et al. Effects of feed deprivation and transport on preslaughter blood metabolites, early postmortem muscle metabolites, and meat quality. Poultry Science, London, v. 81, n. 5, maio, 2002. UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA. Protocolo de bem estar para frangos e perus, São Paulo, 2008. WARRISS, P. D. et al. Effects of lairage time on body temperature and glycogen reserves of broiler chickens held in transport modules. Veterinary Record, London, v.145, n. 21, ago., 1999.





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