Avaliação do comportamento ingestivo de novilhas Nelore em pastejo suplementadas durante o período chuvoso

Rhaiza Alves de Oliveira1, Ithalo Barros de Freitas2, Ricciere Rodrigues Pereira Parente3, Hanna Polyana Martins Santos4, Flavio Geraldo Ferreira Castro5, João Restle6, Fabrícia Rocha Chaves Miotto7, José Neuman Miranda Neiva8
1 - Universidade Federal do Tocantins
2 - Universidade Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal do Tocantins
4 - Universidade Federal do Tocantins
5 - Agrocria
6 - Universidade Federal do Goiás
7 - Universidade Federal do Tocantins
8 - Universidade Federal do Tocantins

RESUMO -

Objetivou-se se avaliar o desempenho produtivo de novilhas Nelore mantidas em pastagem de capim Mombaça no período das águas e suplementadas durante a fase de recria. Foram utilizadas 32 novilhas Nelore com idade e peso médio inicial de 15 meses e 192 ± 11,87 kg, respectivamente. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e duas repetições de piquete por tratamento. Os tratamentos foram: controle – sal mineral ad libitum, e os níveis de suplementação 0,5; 1,0 e 1,5 % do peso corporal. Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de suplementação para tempo de ruminação e número de mastigações merícicas por bolo. Houve aumento (P<0,05) do tempo consumindo suplemento, enquanto que efeito contrário (P<0,05) foi observado para o tempo de pastejo e mastigação total. A elevação do nível de suplementação alimentar de novilhas em pastejo no período das águas reduz o tempo de pastejo e o tempo de mastigação total, mas não interfere no tempo de ruminação.

Palavras-chave: período chuvoso, pastagem tropical, suplementos energéticos

Evaluation of the ingestive behavior of grazing Nellore heifers supplemented during the rainy season

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the productive performance of Nellore heifers kept in Mombasa pasture during backgrounding in the rainy period. Thirty-two heifers with initial average weight of 192 ± 11.87 kg and 15 months of age were used. A completely randomized design with four treatments and two replicates of picket per treatment was used. The treatments consisted of four levels of supplementation: control treatment - mineral salt ad libitum, 0.5; 1.0 and 1.5% of BW. There was a reduction (P<0.05) in grazing time and total chewing time as the level of supplementation increased. The rumination time and total chewing number was not influenced (P>0.05) by the increasing supply of concentrate. High levels of supplementation in the water period reduces grazing time and total chewing time, but does not interfere with rumination time.
Keywords: energy supplements, season rainy, tropical grasses


Introdução

A avaliação do comportamento ingestivo de bovinos em pastejo é uma importante ferramenta para auxiliar na adequação de práticas de manejo que visam aumentar a produtividade. A utilização de suplementos em suas diferentes formas e níveis pode interferir no comportamento dos animais de forma positiva ou negativa. A oferta de suplemento pode interferir no consumo do pasto de três formas: permanecer inalterado, aumentar ou diminuir (MOORE et al., 1999). A literatura tem reportado que a suplementação de bovinos em pastejo em níveis mais elevados pode ocasionar em efeito substitutivo do pasto pelo suplemento e provocando redução do consumo do pasto. Do ponto de vista econômico, essa substituição não seria desejada, visto que a pastagem em relação ao concentrado é a forma de alimentação mais viável economicamente de animais em pastejo. Além, do efeito substitutivo há de se ressaltar que a ruminação, também pode ser influenciada pela oferta de concentrado. Diante do exposto, objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo de novilhas Nelore recebendo níveis de suplementação em pastagem de capim Mombaça durante o período chuvoso.

Revisão Bibliográfica

De acordo com a literatura a suplementação tem se destacado por apresentar efeito positivo no desempenho de bovinos em pastejo. Porém, esta pode proporcionar alterações no comportamento ingestivo de bovinos mantidos em pastagem. Dentre os principais componentes do comportamento ingestivo de bovinos em pastejo pode-se destacar o tempo de pastejo, o ócio e a ruminação. Sendo assim, a atividade diária de um animal mantido a pasto pode ser dividida em tempo de pastejo, ócio e ruminação (HODGSON, 1981). Conhecer os horários destinados ao pastejo pelos animais é de fundamental importância para o bom aproveitamento da pastagem e ainda auxiliar nas estratégias de manejo (FARINATTI et al., 2004). Em relação ao tempo de ruminação, este pode ser influenciado pela característica da dieta, bem como a quantidade ao teor de componentes da parede celular dos alimentos e em animais adultos essa atividade pode ocupar em torno de oito horas por dia (VAN SOEST, 1994). Já o ócio e as atividades não relacionadas a alimentação e a ruminação pode ocupar cerca de dez horas por dia (ALBRIGHT, 1993). Fatores como composição da dieta, quantidade de suplemento e frequência da oferta de suplementos são fatores que podem acarretar em mudanças comportamentais de animais em pastejo (RESTLE, 1998). E por isso esses fatores devem ser estudados para ajudar na tomada de decisão relacionado aos diferentes manejos de produção.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína, de janeiro a abril de 2016, referente ao período chuvoso. Foram utilizadas 32 novilhas Nelore com idade e peso médio inicial de 15 meses e 192 ± 11,87 kg, respectivamente. O delineamento foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos e duas repetições de unidades de pastejo por tratamento. Os tratamentos consistiram de quatro níveis de suplementação: controle - sal mineral ad libitum, e os níveis de suplementação 0,5; 1,0 e 1,5 % do peso corporal. O suplemento foi composto de milho grão inteiro (85%) e Engordin Pasto® (15%) e apresentava 82,0% de matéria seca e 14,7% de proteína bruta. A área era de capim Mombaça e tinha 4 ha  e composta por 32 piquetes providos de bebedouros e cochos. Os piquetes receberam adubação nitrogenada e potássica na dose de 250 kg e 104 kg por ha de nitrogênio e K2O, respectivamente, dividida em quatro aplicações. O comportamento ingestivo foi realizado no último ciclo de pastejo, nos dias 21, 22 e 23 de abril de 2016 conforme metodologia adaptada de BURGER et al., (2000). As atividades comportamentais foram avaliadas a cada 10 minutos durante 72 horas. Utilizaram-se quatro animais por tratamento e as observações foram feitas visualmente por pessoas treinadas. Foi observado tempo de pastejo, tempo de ruminação, tempo consumindo suplemento e tempo em ócio utilizando-se cronômetros digitais. O tempo de mastigação total foi obtido através do somatório dos tempos de pastejo, tempo consumindo suplemento e tempo de ruminação. Também foi contabilizada a taxa de ruminação, em que foi cronometrado o número de mastigação por bolo ruminal por minuto. Os dados foram submetidos a testes de homocedasticidade e normalidade e realizou-se análise de variância utilizando o teste de Fisher e análise de regressão ao nível de 5% de significância.

Resultados e Discussão

Não houve efeito (P>0,05) dos diferentes níveis de suplementação para as variáveis tempo de ruminação (TR) e número de mastigações merícicas por bolo (NMM). O fato de não ter sido observado diferença no tempo de ruminação pode estar relacionado às características estruturais do pasto (CARVALHO et al., 2001) e composição do concentrado (FACURI et al., 2014) que foram semelhantes nos diferentes níveis de suplementação. O tempo consumindo suplemento (TS) aumentou (P<0,05) conforme foi aumentado os níveis de suplementação, fato já esperado, devido a maior oferta de concentrado. Enquanto que efeito contrário (P<0,05) foi observado para o tempo de pastejo (TP) e mastigação total (TMT), em que os maiores níveis de suplemento promoveram redução no TP e TMT. Os animais suplementados com SM apresentaram maior TMT. Segundo Santana Júnior et al., (2013), maior TMT pode ser decorrente da maior elevação do conteúdo de fibra da dieta e apresenta correlação positiva com a conversão alimentar. Quando se trabalha com níveis altos de suplementação para animais em pastejo em pastejo, já é esperado que o TP seja menor em relação a animais suplementados apenas com SM ou a níveis menores de concentrado. Isso se deve ao fato da maior quantidade de energia que o animal ingere via concentrado o que provoca substituição do consumo do pasto pelo concentrado. A diminuição do tempo de pastejo nos níveis mais elevados pode evidenciar a ocorrência do possível efeito substitutivo do pasto pelo suplemento, sugerindo que o animal estaria substituindo o tempo destinado ao pastejo para consumir o concentrado. Segundo a equação de regressão para cada ponto percentual de suplementação houve diminuição do tempo de pastejo de 74,68 min. Os animais suplementados apenas com SM, aumentaram o tempo de pastejo possivelmente para conseguir atender a demanda por nutrientes. Para o tempo de mastigação merícica foi observado efeito quadrático dos níveis de suplementação, sendo que de acordo com a equação de regressão o ponto máximo para essa variável foi observado no nível de suplementação de 0,82% do PC.

Conclusões

A utilização de suplementação energética na recria de novilhas em pastejo durante o período das águas reduz o tempo de pastejo e o tempo de mastigação total, mas não interfere no tempo de ruminação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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