AVALIAÇÃO DO CONSUMO, DESEMPENHO E PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE OVELHAS NO TERÇO FINAL DA GESTAÇÃO MANTIDAS A PASTO SUPLEMENTADAS COM FONTES DE GORDURA E PROTEÍNA PROTEGIDAS

Gilberto de Lima Macedo Junior1, Luciano Fernandes Sousa2, Érica Beatriz Schultz3, Carolina Moreira Araújo4, Karla Alves Oliveira5, Lucas Rodrigues Queiroz6, Marina Elizabeth Barbosa Andrade7, Maria Julia Pereira de Araújo8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal de Viçosa
4 - Universidade Federal de Uberlândia
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Unesp Jaboticabal
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Ovelhas gestantes quando mantidas a pasto não têm suas exigências proteicas e energéticas atendidas devido à limitação no consumo, sendo necessário suplementá-las com fontes prontamente disponíveis para digestão. Com isso, objetivou-se avaliar diferentes fontes proteicas e energéticas em proteinados para ovelhas gestantes. O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, na Fazenda Experimental Capim Branco, entre fevereiro e maio de 2015. Foram avaliadas 21 ovelhas mestiças Dorper/Santa Inês com 90 dias de gestação. O delineamento foi inteiramente ao acaso, com sete repetições. Os animais foram distribuídos em três piquetes de capim Marandu. Os tratamentos consistiram em três fontes de proteinados: gordura protegida de palma, gordura protegida de soja + farelo de soja protegido e gordura protegida de palma + farelo de soja protegido. A estrutura do pasto foi analisada por meio da altura média, contagem populacional de perfilhos, e composição morfológica a cada 30 dias. A cada 21 dias os animais foram pesados, receberam uma nota de escore corporal (ECC) e mensuro-se a circunferência de barril (CB). Na mesma data foram realizadas coletas de sangue para avaliação dos metabólitos proteicos e energéticos e aferidos os parâmetros fisiológicos (frequências cardíaca e respiratória e temperatura corporal), e a cada 28 dias foram realizadas coletas de sangue para análise do beta-hidroxibutirato (BHB). Após o parto, as placentas, crias e mães foram pesadas separadamente. O consumo de gordura protegida de palma foi maior numericamente e apresentou menor (P<0,05) concentração de BHB. Não houve diferença para peso corporal, CB e ECC, para os tratamentos durante a gestação e para pesos da mãe, cria, placenta e CB, após o parto. O perfil metabólico foi influenciado pelos tratamentos e pelo período gestacional, antes e após o parto. O uso desses produtos em ovelhas gestantes mantidas a pasto dispensa a necessidade de confinamento durante a fase gestacional.

Palavras-chave: farelo de soja, palma protegida, pasto, período gestacional, proteinado

CONSUMPTION ASSESSMENT, PERFORMANCE AND PHYSIOLOGICAL PARAMETERS WITHOUT FINAL THIRD EWES OF GESTATION KEPT AT PASTURE SUPPLEMENTED WITH FAT SOURCES OF PROTEIN AND PROTECTED

ABSTRACT - Sheep pregnant when on pasture have their protein and energy requirements met due to limited consumption, it is necessary to supplement them with sources readily available for digestion. We aimed to evaluate different protein and energy sources in proteinaceous for pregnant ewes. The experiment was conducted at the Federal University of Uberlândia, in the Fazenda Experimental Capim Branco, between February and May 2015 were evaluated 21 crossbred sheep Dorper x Santa Inês 90 days of gestation. The animals were divided into three paddocks of grass Marandu. The treatments consisted of three sources of proteinaceous: protected fat of palm, protected fat soy + soybean meal protected and protected palm fat + protected soybean meal. The structure of the pasture was analyzed by average height, population count of tillers, herbage mass and dry matter every 30 days. Every 21 days the animals were weighed, given a body condition score of was measured and the barrel width. On the same date it was taken blood samples for evaluation of protein and energy metabolites. Every 28 days was carried out beta-hidroxibutirato analysis through blood collection. The physiological parameters (heart and respiratory rate and body temperature) were measured every 21 days. Postpartum placentas, pups and mothers were weighed separately. The design was completely randomized with seven replications. The consumption of fat protected palm was numerically greater and showed lower (P<0,05) concentration of Beta-hidroxibutirato. There was no difference in body weight, circumference barrel and body condition score for treatments during pregnancy and mother's weight, creates, placenta and circumference barrel after delivery. The metabolic profile was influenced by treatments and the gestational period before and after childbirth. Thus, the use of these products in pregnant ewes on pasture can compensate for not need to confinement during the gestational phase.
Keywords: soybean meal, palm protect, pasture, pregnancy, protein and


Introdução

Durante o período gestacional as ovelhas apresentam aumento considerável nas demandas energéticas e proteicas devido aos requerimentos para o desenvolvimento do feto. Quando mantidas em sistema de criação a pasto torna-se necessários elevados níveis de ingestão para que seja possível o atendimento de suas exigências nutricionais, entretanto, durante a gestação o rumen é comprimido à medida que o feto se desenvolve e cresce, diminuindo assim, a capacidade de ingestão pelo ruminante (MACEDO JÚNIOR et al. 2012). A suplementação proteica e energética pode melhorar a qualidade da dieta, aumentar o consumo de nutrientes e melhorar o aproveitamento do volumoso pelo animal, sendo uma boa alternativa para suprir as exigências nutricionais de ovelhas no terço final da gestação. A suplementação tem como principais objetivos fornecer nitrogênio degradável no rúmen para atender a exigência mínima de 7% de proteína bruta, pois, quando o suprimento de N proveniente do alimento ou reciclagem endógena não atende as exigências, ocorre limitação do crescimento microbiano (SNIFFEN et al. 1993), causando queda no consumo e na digestibilidade da forragem (VAN SOEST, 1994), além de evitar a mobilização de reservas corporais para suprir deficiências energéticas. Para isso, são compostos basicamente por uma fonte proteica e energética, nitrogênio não proteico, sal comum, minerais e aditivos (OSPINA e MEDEIROS, 2003). Ponto essencial dentro da formulação do suplemento são as fontes de energia e proteína utilizadas. Diversas fontes de gordura podem ser utilizadas na suplementação de ovinos com o objetivo de atender a demanda de energia bruta durante as fases mais críticas, como no terço final da gestação. A utilização de gordura na dieta de ovelhas gestantes é capaz de melhorar o aporte energético, atendendo suas exigências. A gordura tem 2,25 vezes mais conteúdo energético quando comparado aos carboidratos, entretanto, quando fornecida em sua forma natural e em altas concentrações (acima de 6% da MS) (VARGAS, 2002), pode diminuir a digestão das frações fibrosas do alimento, devido a sua capacidade de se aderir as mesmas, dificultando o ataque pelos microrganismos. Com isso torna-se necessário que sejam fornecidas na forma de gorduras protegidas da degradação ruminal, sendo utilizadas diretamente pelo ruminante no intestino delgado, após perderem seus sabões de cálcio no abomaso (BONA FILHO e OTTO, 1994). Já as fontes proteicas de alta degradabilidade podem ter melhor aproveitamento quando associadas a fontes energéticas, também de alta degradabilidade ruminal, pois, nesta situação, a sincronização da disponibilidade ruminal de energia e nitrogênio pode permitir maior eficiência no processo microbiano de fixação de amônia na forma de glutamato, diminuindo as perdas de nitrogênio e energia (NOCEK e RUSSELL, 1988). A escolha adequada destas fontes influencia diretamente no aproveitamento de seus nutrientes pelos microrganismos ruminais, podendo resultar em maior produção de proteína microbiana e maior aporte energético para os microrganismos. Diante do exposto, objetivou-se avaliar proteinados com diferentes fontes de energia e proteína, no desempenho de ovelhas gestantes mantidas a pasto.

Revisão Bibliográfica

A nutrição como um gargalho na produção animal tem por objetivo aumentar a eficiência de utilização dos recursos disponíveis com o maior ganho seja em carne ou leite. Uma das alternativas é o uso de pastagens tropicais, por ser o pasto à fonte de volumoso mais barata, porém quando utilizado de forma exclusiva, pode não atender às exigências nutricionais dos animais, principalmente as categorias de maior exigência nutricional. Neste caso, a suplementação com concentrado poderá ser uma alternativa importante. Por sua vez, o uso da suplementação com concentrado para animais em pastejo deve obedecer a condições básicas, como o potencial genético dos animais, a qualidade e a quantidade de forragem disponível, o preço do concentrado e o preço do produto animal gerado (Voltolini et al. 2009). Outro fator importante quando consideramos criação de ovinos em pastagem é a verminose. Segundo Chagas et al. 2007  além do uso indiscriminado de vermífugos e a resistência aos princípios ativos, a nutrição exerce um papel importante quanto á verminose pois, dietas com baixo nível de proteína e energia reduzem a capacidade imunológica dos animais para reagir ás infecções causadas por nematoides gastrointestinais.  Para o controle da verminose o método Famacha® é uma alternativa através do tratamento seletivo, ou seja, objetiva vermifugar somente os animais do rebanho que apresentam anemia, facilmente visualizada na mucosa ocular dos ovinos. O conteúdo de energia e proteína metabolizável das rações é limitante no desempenho produtivo do animal, busca-se através do perfil de degradação ruminal o sinergismo entre as fontes proteico energéticas, otimizando a produção de proteína microbiana e ácidos graxos voláteis. Quando consideramos diferentes estágios fisiológicos como o período gestacional, há um aumento significativo na demanda de nutrientes para o crescimento fetal. Segundo Macedo Junior et al., 2012 a gestação da ovelha pode ser dividida em duas fases sendo até os 120 dias o crescimento fetal é pequeno, e após este período no terço final da gestação,  o crescimento do feto ocorre de forma significativa ocorre compressão o trato gastrintestinal e alterações no metabolismo da ovelha. A nutrição pré-natal modifica o desenvolvimento do feto, o aporte adequado de nutrientes contribui para a hipertrofia das fibras primárias, resultando em hiperplasia das fibras secundárias, uma vez que as secundárias são comandadas pelas primárias, assim pode proporcionar o nascimento de cordeiros com maior número de fibras musculares, o que promoveria maior desenvolvimento muscular, resultando em maior ganho de peso desses animais (Zundt et al. 2006). Uma opção para aumentar a densidade energética das rações é a inclusão de fontes lipídicas, porém a adição de gordura para ruminantes é limitada entre 6 a 7% da matéria seca, pois a maioria dos ácidos graxos presentes são poli-insaturados, e mesmo com o processo de biohidrogenação causam efeito deletério a permeabilidade da membrana dos microorganismos no rúmen. Uma forma de fornecer suplementação lipídica sem prejuízo aos animais seria a utilização de gordura protegida. O uso de sais de cálcio de ácidos graxos na dieta aumenta a densidade energética da dieta, refletindo em incremento produtivo e reprodutivo (Silveira et al. 2014). Esta estratégia também pode ser utilizada para fontes de proteína, sendo o nutriente de maior custo na dieta é necessária eficiência em seu aproveitamento, as fontes de nitrogênio não proteico tem menor custo ao sistema e atendem a maior parte do requerimento de nitrogênio para formação de aminoácidos pelas bactérias, assim fontes de proteína inerte ao ambiente ruminal, chegam ao metabolismo para serem prontamente absorvidas. Para compreender o metabolismo animal e doenças metabólicas relacionadas à produção animal, principalmente quando se fala em ovinos no terço final da gestação que são acometidos com a toxemia da gestação, segundo (Gonzáles, 2002) têm sido empregados desde 1970 os perfis metabólicos, exame que permite estabelecer por meio de análises sanguíneas de grupos representativos de animais de um rebanho, seu grau de adequação nas principais vias metabólicas e relacionadas com energia, proteínas e minerais, bem como a funcionalidade de órgãos vitais para a produção, como é o caso do fígado. Mensurações como beta hidroxibutirato, ureia, colesterol dentre outras associadas ao escore de condição corporal permitem quantificar o grau de deposito e perda de gordura corporal, quantidade de corpos cetônicos, e relaciona-los as vias energéticas e relações hormonais. O uso de alimentos sejam eles inertes ao ambiente ruminal ou não, têm por objetivo manter os animais em condições nutricionais adequadas a seu estágio fisiológico ou categoria, em pasto ou no confinamento, o que reflete no rendimento do produto final.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, na Fazenda Experimental Capim Branco, no setor de ovinos e caprinos nos meses de fevereiro a maio de 2015. A precipitação média durante esse período na região foi de aproximadamente 600mm. Foram utilizadas 21 ovelhas com 90 (±7) dias de gestação de monta natural, mestiças Dorper/Santa Inês, com peso vivo médio de 50 kg (±5) e idade superior a 24 meses. Os animais foram vermifugados antes do início do período experimental com antiparasitário a base de Monepantel®. As ovelhas foram distribuídas em três piquetes de 800m² de Urochloa brizantha cv. Marandu, recém-reformados e piqueteados, providos de sombra artificial (telha de fibrocimento), comedouro (saleiro) e bebedouro, sendo ofertado proteinado e água á vontade. Os piquetes receberam adubação nitrogenada (ureia agrícola), fósforo (superfosfato simples) e potássio (cloreto de potássio) previamente ao início do experimento. Após pesagem, identificação e adaptação ao consumo de proteinado, os animais foram distribuídos em três tratamentos correspondentes aos piquetes, com lotação fixa e altura média de 30 cm na entrada dos animais. Em cada um dos piquetes foi ofertado proteinado com diferentes fontes de energia e proteína (Tabela 1). Os proteinados foram formulados para alto consumo (100 a 170 g/dia), e misturados seguindo a formulação de cada tratamento. Foi ofertado em cada piquete 700g/dia de proteinado (100g/dia/animal) referente a cada tratamento em cochos cobertos localizados nos piquetes. As sobras eram pesadas todas as manhãs em balança digital para acompanhamento do consumo. Quando se obtinha sobra zero a quantidade de proteinado ofertado era aumentada em 10% até sua estabilização. A estrutura do pasto foi analisada por meio da altura média, contagem populacional de perfilhos e composição morfológica. As coletas de amostras aconteceram a cada 30 dias (início, meio e fim do período experimental) quando os animais se encontravam com 90, 120 e 150 dias de gestação. A altura média do piquete foi estabelecida a partir da média de 30 pontos, aferidos aleatoriamente em toda área do piquete com régua de madeira adaptada para tal função. Os dados de densidade populacional de perfilhos foram obtidos a partir da contagem de todos os perfilhos contidos no interior de um quadrado de 25x50cm², em três pontos distintos do piquete, onde cada área escolhida representava a altura média do piquete. Para determinação dos componentes morfológicos, foi realizado o corte, de todos os perfilhos contidos no interior de um quadrado de 25cm², ao nível do solo em duas áreas representativas da condição de altura média do pasto em cada piquete. As amostras foram pesadas separadas manualmente, em lâmina foliar verde (LV), colmo verde (CV) e forragem morta (FM). A inflorescência e a bainha foliar verde foram incorporadas à fração CV. A parte da lâmina foliar que não apresentava sinais de senescência (órgão de cor verde) foi incorporada à fração LV. As partes do colmo e da lâmina foliar senescentes e mortos (com amarelecimento e/ou necrosamento do órgão) foram incorporadas à fração FM. Após a separação, os componentes foram secos em estufa de circulação forçada de ar a 65°C, por 72 horas, posteriormente pesados e estimado a predominância destas frações no pasto. A cada 21 dias (90, 111 e 132 dias de gestação) as ovelhas foram pesadas em balança adequada e foi atribuída uma nota de escore corporal de 1 a 5, sendo considerados valores intermediários em incremento, utilizando o método de avaliação proposto por Russel, Doney e Gunn (1969), onde as ovelhas foram avaliadas palpando-se a rugosidade dos processos transversos e dorsais das vértebras lombares. A circunferência de barril foi mensurada com fita métrica, para acompanhamento do crescimento dessa região de acordo com o desenvolvimento do feto. Estas avaliações foram realizadas sempre no período da manhã. Foram realizadas coletas de sangue a cada 21 dias (90, 111, e 132 dias de gestação) no período da manhã, antes da primeira oferta de concentrado, para avaliação dos metabólitos proteicos (ureia, albumina, ácido úrico, proteínas totais e creatinina) e energéticos (colesterol, glicemia e triglicerídeos), através de venopunção jugular com auxílio de Vacuntainer® e tubos sem anticoagulante. A análise de beta-hidroxibutirato foi realizada no início do experimento e repetida a cada 28 dias (90, 118 e 146 dias de gestação). Para essa análise foram retirados 0,5mL de sangue, na jugular com seringa e agulha adequadas, e em seguida a quantidade de BHB presente no sangue foi avaliada com o auxílio do aparelho eletrônico Optium da Abott®. A cada 21 dias (90, 111, e 132 dias de gestação) os parâmetros fisiológicos das ovelhas eram avaliados, no período da manhã, mesurando a frequência cardíaca (batimentos por minuto) e frequência respiratória (movimentos por minuto) através de auscultação indireta por meio de estetoscópio, medida temperatura corporal (graus Celsius) utilizando termômetro retal veterinário e avaliação pelo método de Famacha. Esse método correlaciona valores de hematócritos e a cor da mucosa ocular de ovinos com diferentes graus de verminose causados pelo Haemonchus Contortus. Os valores do teste variam de 1 a 5, sendo 1 e 2 os animais livres de verminose e 3, 4 e 5 os animais no grau mais avançado de parasitismo. Os valores encontrados nos animais durante o experimento são considerados razoáveis, sendo ainda dispensável a vermifugação dos mesmos (CHAGAS et al., 2007). Faltando cinco dias para o parto, as ovelhas foram encaminhadas para baias cobertas, com intuito de diminuir complicações no parto. Após o parto eram recolhidas as placentas (esperava-se o animal liberar a placenta e a coletava do chão) e estas pesadas em balança digital, posteriormente eram pesadas as crias e as mães separadamente. Foi mensurada a circunferência do barril das ovelhas utilizando fita métrica e realizada coleta de sangue nas ovelhas para análise do BHB e dos metabólitos proteicos e energéticos, logo após o parto. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente ao acaso com medidas repetidas no tempo, e sete repetições. As médias dos tratamentos e dos períodos foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade. As médias de condição corporal e Famacha foram comparadas utilizando-se estatística não paramétrica pelo método  Kruskal e Wallis (1952). Os dados dos pastos e do consumo de proteinado são apresentados de forma descritiva. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Animal (CEUA) sob o protocolo 133/14.

Resultados e Discussão

            As características do pasto foram modificadas de acordo com a ingestão pelos animais nos diferentes estágios de gestação para todos os tratamentos. À medida que a altura do pasto diminuiu com o consumo dos animais, observou-se que o número de perfilhos aumentou. Este fato ocorre devido à plasticidade fenotípica do pasto, que se refere a sua capacidade em alterar suas características morfogênicas e estruturais a fim de manter seu índice de área foliar (LEMAIRE, 1997). No terço final da avaliação (120 dias de gestação) verificou-se que a porcentagem de material morto aumentou. De acordo com Macedo Junior et al. (2012) quando as ovelhas entram nesta fase da gestação o útero gravídico comprime o trato gastrintestinal devido ao maior desenvolvimento do feto, diminuindo a capacidade de ingestão pelos animais. Com a diminuição do consumo, as folhas verdes entraram em estágio de senescência, resultando em maior quantidade de material morto no pasto. O consumo do proteinado com gordura de palma protegida foi maior numericamente em relação aos demais tratamentos (Tabela 2). Fato determinante para este resultado se deve a este ser o único com adição de farelo de soja, sendo esta uma importante fonte de proteína verdadeira degradável no rumen. Esta adição confere maior fonte de proteína direta para síntese e multiplicação bacteriana, e consequentemente incrementos no consumo (RUSSEL, DONEY e GUNN, 1969). O tratamento Gordura PP consumiu 59,02% a mais de proteinado quando comparado ao Gordura PS + FSP, entretanto ainda assim o consumo ficou abaixo do recomendado para ovelhas no final da fase de gestação (1,33% PV) NRC (2007). A variação do BHB (Tabela 2) mostra que no terço final da gestação os tratamentos contendo Gordura PS + FSP e Gordura PP + FSP apresentaram valores superiores (p<0,05) ao Gordura PP, e do limite proposto por (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 2008) que é de 0,6 mmol/L. O tratamento contendo gordura de soja protegida se mostrou como menos eficiente em suprir as exigências energéticas. Estes dados estão relacionados ao maior consumo do proteinado Gordura PP observados neste trabalho (Tabela 2), evidenciando que este foi capaz de atender as exigências energéticas dos animais. Cardoso et al. (2010) também observaram aumento do BHB em ovelhas da raça Santa Inês, recebendo concentrado e volumoso, variando de 0,41 a 0,54 mmol/L, aos 20 e 10 dias que antecederam ao parto, respectivamente. Não houve efeito (p>0,05) do tipo de proteinado fornecido sobre o peso, CB e ECC das ovelhas antes do período do parto (Tabela 3). As ovelhas apresentaram ECC próximo ao limite inferior desejável (que varia de 2,5 a 3,5), sendo classificados de magro a bom escore. Ribeiro et al. (2004) trabalharam com ovelhas gestantes mestiças Border Leicester/Texel criadas em regime extensivo, mantidas em pastagens naturais de Aveia (Avena satina) e Azevém (Lolium peranum) no ultimo mês de gestação, e observaram queda no ECC de 3,3 no início da gestação, para 2,1 no final. O mesmo padrão de resposta foi observado no presente estudo, onde os valores de ECC variaram 3,00 para 2,18 do início ao fim do período avaliado (Tabela 3). A queda do ECC (Tabela 3) pode ser entendida pelo aumento da exigência da ovelha, que neste momento requer energia não só para sua mantença, mas também para o crescimento do feto. Em contrapartida, o consumo é diminuído justamente neste período, provocando um balanço energético negativo, o que explica a diminuição do ECC e aumento do BHB, já que estes estão intimamente ligados. Entretanto, os animais não apresentaram sinais clínicos de toxemia ou outras desordens metabólicas no presente estudo. Observou-se ganho de peso e aumento na CB (P<0,05) demonstrado aos 139 dias, indicando o crescimento fetal. O peso da mãe, peso da cria, CB e peso da placenta não foram influenciados (p>0,05) pelos tratamentos no momento do parto (Tabela 3). O peso ao nascimento dos cordeiros foi satisfatório ao seu genótipo, e com valores aproximados aos encontrados por Chagas et al. (2007) de 3,63 kg, mostrando que as fontes de alimentos incluídas nos proteinados foram capazes de assegurar bons resultados. Através das análises de sangue realizadas no decorrer do experimento (Tabela 4), pode-se verificar as diferentes concentrações dos metabólitos em função do tratamento e fase de gestação. O colesterol sanguíneo variou de acordo com o período de gestação, sendo menor no terço final. Esse, que pode ser de origem endógena sintetizado a partir da acetil-CoA ou exógeno advindos de fontes da fermentação de carboidratos e digestão de lipídeos. Sua queda foi possivelmente causada pela diminuição no consumo, tanto da pastagem, quanto de proteinado, o que pode estar relacionado com os maiores valores de BHB e também com a diminuição do ECC encontrados no mesmo período. Os valores encontrados ficaram abaixo da média esperada (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 2008), sugerindo um balanço energético negativo, uma vez que o período gestacional é de grande demanda energética. Os valores glicêmicos não diferiram em função dos tratamentos e período gestacional, e encontram-se abaixo dos valores de referência na literatura. Oliveira et al. (2014) também encontraram valores de glicemia abaixo do indicado em ovelhas gestantes. Isto ocorre porque nas últimas seis semanas de gestação há um aumento significativo das exigências nutricionais, principalmente de energia, devido ao crescimento fetal, em que o feto desenvolve até 80% do seu tamanho e peso final (RODRIGUES et al., 2006). O tratamento Gordura PS + FSP proporcionou maior concentração de triglicerídeos, mostrando que a gordura protegida de soja forneceu maior quantidade de ácido graxos aos animais em experimento. Com relação ao período gestacional, observa-se aumento no terço final de gestação, apresentando-se pouco acima dos valores de referência. Essa resposta evidencia que os animais estariam recebendo bom aporte energético, sem a necessidade de realizar lipólise a fim de mobilizar gordura corporal para atender sua demanda energética. Níveis de ureia e albumina são os principais indicadores do metabolismo proteico em ruminantes. A ureia indica o estado proteico em curto prazo, enquanto a albumina o demonstra em longo prazo (OLIVEIRA et al., 2014). Os níveis de ureia sanguínea e albumina não diferiram entre os tratamentos e em função do período gestacional. Estes metabólitos estão correlacionados com a sinergia entre a utilização de uma fonte de energia e uma fonte de nitrogênio. Tais valores se mantiveram dentro das referências indicadas (GONZÁLEZ, 2002; MEYEY e HARVEY, 2004), evidenciando menor escape da amônia do ambiente ruminal e maior aproveitamento do nitrogênio pelas bactérias ruminais. O ácido úrico foi influenciado (p<0,05) pelo tipo de proteinado. Este metabolito tem correlação com a quantidade de proteína microbiana disponível para a digestão intestinal do animal e os maiores valores foram observados no tratamento Gordura PP + FSP e se mantiveram dentro dos padrões de referência para a espécie (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 2008). Seguindo o mesmo padrão de resposta, a proteína total, apresentou maiores concentrações nos tratamentos com inclusão de proteína protegida. Como os animais referentes a estes tratamentos recebiam proteína com passagem pelo rúmen, maiores quantidades de proteínas chegavam diretamente para absorção intestinal. As concentrações de proteína totais foram maiores do que a média encontrada por Gonzáles (2002) e Meyer e Harvey (2004) para a espécie, o que sugere que os animais estavam recebendo bom aporte protéico. A creatinina não foi influenciada (p<0,05) pelos tratamentos e período gestacional, porém foi menor ao parto (P<0,05) para Gordura PP. Todas os valores encontran-se pouco abaixo, indicando que os tratamentos não causaram complicações renais. No momento do parto, verificou-se diferença para metabólitos entre os tratamentos (Tabela 5). A ureia sanguínea está correlacionada com a amônia produzida no rúmen, durante a degradação de compostos nitrogenados, e que não foi utilizada na síntese de proteína microbiana, escapando pela parede ruminal e sendo convertida em uréia no fígado. Verifica-se que a ureia sanguínea foi maior (P<0,05) no tratamento Gordura PP e encontra-se acima do recomendado. Como neste tratamento não houve a inclusão de fonte de proteína protegida a quantidade de amônia produzida no rumen era maior, o que favoreceu o escape de amônia na parede ruminal, e consequentemente maior conversão de amônia em ureia no fígado. Este fato resulta em maior desperdício de nitrogênio no ambiente ruminal e maior uso de energia pelo fígado para esta conversão. Segundo Ribeiro (2004) a queda nos níveis de ureia, como observada no tratamento Gordura PP + FSP reflete deficiência de proteína na alimentação de acordo com as necessidades impostas pelo animal e seu estado fisiológico. Observou-se queda nos níveis de colesterol, quando comparados aos valores de referências (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 2008). Triglicerídeos, ácido úrico, albumina e proteínas totais permaneceram dentro dos valores de referência da espécie e não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos. Verificou-se aumento progressivo nos valores de frequência respiratória e temperatura corporal em função dos tratamentos (Tabela 6). Esta resposta pode ter sido influenciada pela forma de manejo. A frequência cardíaca não se alterou em função dos tratamentos. A diferença estatística entre os dados de Famacha sugere melhor resposta imune à verminose pelos animais do tratamento C, indicando papel fundamental da nutrição na saúde do animal. A adição de óleos ou fontes de gordura contendo ácidos graxos das famílias n-3 e n-6 essenciais aos ruminantes, como é o caso da gordura protegida de palma, torna-se uma estratégia de alimentação interessante e participativa na diminuição de problemas sanitários e da resposta inflamatória (HWANG, 2000).

Conclusões

O uso de gordura protegida quando associada a uma fonte de proteína verdadeira degradada ou não no rumen, em ovelhas gestantes, podem ser importantes ferramentas para diminuir a mobilização corporal das reservas proteicas e energéticas. Assim, o uso desses produtos em ovelhas gestantes a pasto pode evitar a necessidade de confinamento durante a fase gestacional. É importante ressaltar que o pasto deve ser de boa qualidade para que efeitos benéficos possam aparecer.

Gráficos e Tabelas




Referências

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