Avaliação do consumo e digestibilidade em dietas de ovinos alimentados com feno de pseudocaule de bananeira com e sem Virginiamicina

José Assunção Silveira Junior1, Márcio dos Santos Pedreira2, Alana Alves de Oliveira3, Antônio Jorge Del Rei4, Carina Araújo Lima5, Henrique Almeida da Silva6, Ícaro Souza da Silveira7, Brendow Sampaio Lima Pitta8
1 - Instituto Federal de Educ., Ciência e Tec. Baiano
2 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
3 - Instituto Federal de Educ., Ciência e Tec. Baiano
4 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
5 - Zootecnista
6 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
7 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
8 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o consumo e digestibilidade de ovinos alimentados com feno de pseudocaule da bananeira (FPB) com e sem Virginiamicina (VM), utilizando 33 borregos mestiços, machos não castrados, com 5 meses de idade, peso corporal médio de 25 kg ±4,11 kg, em quatro dietas sendo FTV – Feno de capim Tífton (FCT) com VM; FBV – FPB substituindo 60% do FCT com VM; FT – FCT sem VM; FB – FPB substituindo 60% FCT sem VM. A relação concentrado:volumoso foi de 60:40. O período experimental foi de 99 dias, sendo 15 de adaptação. Utilizou-se o DIC em arranjo fatorial 2×2, os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Proc GLM) com o programa Statistical Analysis System (SAS 9.0), adotando-se 0,05 como nível crítico de probabilidade para o erro tipo I. A inclusão do FPB afetou o consumo de nutrientes exceto para CNFcp e NDT. A digestibilidade foi menor para os indicadores MS, FDNcp, e EE em razão da inclusão da VM. A inclusão da VM não melhorou a digestibilidade dos FCT e FPB.

Palavras-chave: Aditivo, confinamento, subproduto, digestibilidade

Evaluation of consumption and digestibility of ovine feeded with banana of pseudocaule hay and Virginiamycin

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the intake and digestibility of sheep fed with banana pseudocaule hay (BPH) with and without Virginiamycin (VM), using 33 crossbreed lambs, non-castrated males, 5 months old, with an average body weight of 25 kg ± 4.11 kg, in four diets FTV - Tífton hay gray (TGH) with VM; FBV - BPH replacing 60% of TGH with VM; FT - TGH without VM; FB - BPH replacing 60% of TGH without VM. The concentrate:bulky ratio was 60:40.The experimental period was 99 days, with 15 days of adaptation. The DIC was used in 2x2 factorial arrangement, the data obtained were submitted to the analysis of variance (Proc GLM) using the Statistical Analysis System (SAS 9.0) program, adopting 0.05 as critical probability level for the type error I. The inclusion of BPH affected the nutrient consumption except for NFCap and TDN. The digestibility was lower for the DM, NFCap and EE indicators due to the inclusion of the VM. The inclusion of VM did not improve TGH and BPH digestibility.
Keywords: Additive, containment, byproduct, digestibility


Introdução

A ovinocultura é uma atividade expressiva na economia de muitos países e está presente em áreas com distintas características edafoclimáticas, com grande presença em regiões pobres e com criações com baixo nível tecnológico e pouca produtividade como a Ásia Central, Subcontinente Indiano, Oriente Médio, África, países Andinos, México e a região Nordeste do Brasil (FAO, 2013). Para um incremento de produtividade, torna-se necessário pesquisar fontes alternativas de alimentação, principalmente resíduos industriais e agrícolas. Nesse contexto, a bananicultura, que é uma cultura de clima tropical e está presente em regiões de baixo IDH (índice de desenvolvimento humano) e baixa renda per capta, torna-se uma importante fonte de recurso alimentar para ruminantes (FAO, 2013). A utilização de alimentos alternativos para pequenos ruminantes visa reduzir os custos com alimentação e contornar problemas de escassez de forragem durante as épocas críticas (Leite & Vasconcelos, 2000). Por outro lado, a utilização de aditivos na nutrição de ruminantes pode elevar o ganho de peso dos animais e melhorar a eficiência alimentar, devido a modificações que estes proporcionam na fermentação ruminal (Maciel et al., 2015;). Com isso, objetivou-se nesse estudo avaliar dados de consumo e digestibilidade do feno de pseudocaule de bananeira (FPB) na alimentação de ovinos com e sem Virginiamicina (VM).

Revisão Bibliográfica

A criação de ovinos no Brasil tem grande potencial de crescimento, mas o país apesar de ter um rebanho expressivo e em crescimento, ainda precisa importar carne ovina. Outra característica importante da ovinocultura é a possibilidade de aproveitamento de áreas inadequadas para criação de outras espécies animais ou para o cultivo de lavouras, seja pelo tamanho ou pela topografia, o que permite ainda a integração com outras atividades agropecuárias. Para o incremento de produtividade, uma alternativa é a utilização de dietas de baixo custo e que atendam às exigências nutricionais. Nesse caso, o uso de alimentos alternativos para pequenos ruminantes visa suprir a escassez de forragem durante períodos críticos, além de reduzir os custos com alimentação, pois, a nutrição de ovinos em sistemas de confinamento representa cerca de 60% dos custos de produção (Leite & Vasconcelos, 2000). Dentre os resíduos agroindustriais com potencial para alimentação de ruminantes, têm-se os resíduos da bananicultura. A bananeira (Musa sp.) é uma alternativa para redução dos custos em confinamento, mas tem um importante fator antinutricional que é o tanino (Adão & Glória, 2005). De acordo com Moreira (1987), um bananal conduzido convencionalmente fornece aproximadamente 180 a 200 t de restos de cultura por hectare por ano, o que corresponde à aproximadamente 28 t de matéria seca (MS), e afirma que existe a necessidade de deixar esses resíduos na plantação, pois a matéria orgânica é um fator importante para o desenvolvimento da planta. No entanto, a utilização desse material na alimentação animal pode constituir uma importante ferramenta para eliminação desses resíduos que predispõem a cultura ao ataque de pragas como o Cosmopolites sordidus (Broca da Bananeira ou Moleque da Bananeira) (Souza et al., 2010). A VM é um antibiótico não ionóforo da classe das estreptograminas, que promove a inibição do crescimento de bactérias ruminais que produzem ácido lático, provocando a redução de doenças metabólicas, além da estabilização do pH ruminal (Nagaraja et al., 1995). Bruning, (2012) afirma que a VM quando oferecida a animais de pastejo com o suplemento energético, proteico e sal mineral, traz melhora do desempenho produtivo dos animais.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga – BA. Utilizou-se 33 borregos mestiços Dorper x SRD, machos não castrados, com cinco meses de idade, peso corporal médio de 25,00 ± 4,11 kg, alojados em baias individuais medindo 1,2 m x 1,0 m, com piso ripado e providas de bebedouros e comedouros. O período experimental foi de 99 dias, dos quais, 15 dias foram destinados à adaptação e os 84 restantes à coleta de dados e materiais para análises de laboratório, que foi dividido em quatro fases de 21 dias. No primeiro dia de coleta de dados e ao término de cada fase de 21 dias os animais foram pesados, sendo que a primeira e última pesagem foi com jejum de sólidos de 16 horas. Ao término de cada fase de 21 dias foram coletadas amostras das sobras de cocho, dos ingredientes das rações e fezes, esses materiais foram guardados em freezer com temperatura de – 20° C. Os cordeiros receberam dieta ad libitum fornecidas duas vezes ao dia, com 60% às 06:30 h e 40% às 16:30 h. A relação concentrado:volumoso na dieta foi de 60:40. No experimento foram avaliadas quatro dietas sendo FTV – feno de capim Tífton (FCT) mais concentrado com VM; FBV – FPB substituindo em 60% o FCT mais concentrado com VM; FT – FCT mais concentrado sem VM; FB - FPB substituindo em 60% o FCT mais concentrado sem VM. A composição de VM nas dietas dos tratamentos FTV e FBV foi de 17,4 mg/kg de MS. Foi calculado o consumo voluntário diário. A digestibilidade foi estimada por meio da excreção fecal através do indicador interno fibra em detergente neutro indigestível (FDNi). O ensaio de digestibilidade foi realizado após o término do período experimental. Utilizou-se o DIC em arranjo fatorial 2x2. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Proc GLM) com auxílio do programa Statistical Analysis System (SAS 9.0), adotando-se 0,05 como nível crítico de probabilidade para o erro tipo I.

Resultados e Discussão

As médias de consumo de nutrientes encontram-se na tabela 1. A inclusão do FPB afetou o consumo de nutrientes exceto para CNFcp nos contrastes 4 e 5 e para NDT no contraste 5. Para o consumo de CNFcp atribui-se o não diferimento ao maior percentual deste indicador no FPB 21,3%, enquanto o FCT apresentou 6,2% na MS. Ficando próximo dos resultados encontrados por Campos et al. (2010) para silagem de milho 29,9% e silagem de sorgo 27,3%. No contraste 4, quando se analisou o consumo de NDT, observou-se que a inclusão da VM não proporcionou diferimento para o consumo entre tratamentos com e sem FPB, ao contrário do contrate 5, onde o tratamento com FCT como única fonte de volumoso diferiu do tratamento com FPB para consumo de NDT sem VM. Esse resultado indica que a VM deprimiu o consumo de NDT para a dieta com FCT como única fonte de volumoso. Reis et al (2015) estudando promotores de crescimento em cordeiros confinado observaram menor consumo de MS total, consumo de MS em porcentagem do peso vivo e consumo de MS em relação ao peso vivo metabólico em dietas aditivadas com VM. A presença de tanino nos subprodutos da bananeira tem efeito na diminuição do consumo voluntário como indicam Oliveira & Berchielli, (2007). Neste trabalho o FCT e o FPB apresentaram teores de taninos totais de 3,09 e 4,03 g/kg de MS, respectivamente, tendo o FPB apresentado maior teor de tanino condensado em comparação ao FCT, 0,25 e 4,18 g/kg de MS, respectivamente. Gerassev et al. (2013) trabalhando com resíduos da bananicultura na alimentação de cordeiros confinados, concluiu que a introdução do feno de pseudocaule de bananeira aumentou o consumo pelos animais. A digestibilidade foi menor para os indicadores MS, FDNcp, e EE em razão da inclusão da VM no contraste 1, assim como no contraste 2 quando compara-se a ação da VM nos tratamentos com o FCT como única fonte de volumoso. No contraste 5 a digestibilidade da PB foi menor no tratamento que tem como volumoso o FPB substituindo em 60% o FCT em comparação com o tratamento que tem o FCT como única fonte de volumoso, ambos sem VM (Tabela 2). Esse resultado pode estar relacionado ainda com a presença dos taninos no pseudocaule da bananeira. De acordo com Jung & Allen (1995), os taninos presentes nos subprodutos da bananeira, além de reduzir o valor nutricional dos alimentos, quando são liberados durante a degradação microbiana de materiais fibrosos dos vegetais, podem inibir o crescimento de bactérias do rúmen e deprimir a digestão da celulose e da proteína.

Conclusões

O FPB apresentou perfil nutricional que permite seu uso como alimento alternativo na nutrição de ovinos, porém devido ao seu baixo teor de PB, a sua utilização deve ser acompanhada de suplementação. A inclusão do FPB substituindo 60% do FCT como fonte de volumoso diminuiu o consumo. A inclusão da VM não melhorou a digestibilidade dos FCT e FPB.

Gráficos e Tabelas




Referências

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