Avaliação do consumo e parâmetros digestivos de cordeiros alimentados com ração extrusada em diferentes relações volumoso:concentrado

Thais Gabriela Taveira Bittar1, Gilberto de Lima Macedo Júnior2, Adriana Lima Silva3, Maria Julia Pereira de Araújo4, Thauane Ariel Valadares de Jesus5, Nayana Cosenza Drummond6, Marina de Oliveira Cerqueira7, Joyce Karla Fernandes8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
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RESUMO -

Objetivou-se com esse trabalho avaliar o consumo de matéria seca e os parâmetros digestivos em ovinos recebendo diferentes relações volumoso:concentrado com dietas contendo ração extrusada. Foram utilizados cinco cordeiros cruzados ½ Santa Inês x ½ Dorper, com seis meses de idade e peso médio de 32kg, confinados em gaiolas metabólicas individuais. Foram distribuídos em cinco tratamentos com relações V:C de: 30%:70%, 40%:60%, 50%:50%, 60%:40% e 70%:30%, com oferta da ração duas vezes ao dia, às 08:00 horas e às 16:00 horas. O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5×5. Não houve diferença significativa para os diferentes tratamentos analisando os dados de consumo de matéria seca em gramas/dia, porcentagem peso vivo e peso metabólico provavelmente pela caracterização da ração que pode ter possibilitado a seletividade dos animais. Também não houve diferença no escore fecal e consumo de água. As rações não promoveram alterações no consumo por parte dos animais.

Palavras-chave: ovinos, ruminantes, seletividade

Evaluation of the consumption and digestive parameters of ovines fed with extruded ration in different roughage:concentrated relations

ABSTRACT - The goal of this paper was to evaluate the dry material intake, digestive parameters of sheep, receiving different proportion roughage:concentrated, with diets containing extruded ration. Five crossbred ½ Santa Inês x ½ Dorper lambs, six months old and with average weight of 32 kg were confined in individual metabolic cages. Five treatments were distributed with R:C proportion of: 30:70, 40:60, 50:50, 60:40 and 70:30, with ration being offered twice a day at 08:00 and 16:00. The experimental design used was a 5x5 latin square. There was no significant difference for the different treatment, analyzing the data of dry matter intake in grams/day, live weight and metabolic the percentage of live weight, probably by the characterization of the ration that may have allowed selectivity from the animals. There was also no difference in faecal score and water consumption. The rations did not promote changes in the animal's consumption amount.
Keywords: sheep, ruminant, selectivity


Introdução

Existem diversos tipos de processamentos de alimentos, entre eles a peletização e a extrusão, que proporcionam modificações químicas, físicas ou biológicas, alterando a composição estrutural, aceitação pelo animal e conservação, além de anular os componentes tóxicos. A extrusão e peletização são utilizados no processamento de rações com o objetivo de incrementar sua eficiência, aproveitando o maior potencial do animal. Estes tratamentos podem ser especialmente interessantes na elaboração de programas alimentares (HADJIPANAYIOTOU & SANZ, 1997). Para determinar o desempenho do animal, o consumo é um dos fatores mais importantes, que está diretamente relacionado ao perfil de nutrientes dos alimentos que podem ser digeridos. Considera-se que a ingestão de matéria seca pelos animais seja responsável por 60 a 90% das variações no seu desempenho, enquanto de 10 a 40% pode ser explicado pela digestibilidade (MERTENS, 1994). Dessa forma, o processo de extrusão pode ser vantajoso no aumento da eficiência alimentar pelos animais. O objetivo do trabalho foi avaliar o consumo de ração extrusada por cordeiros, avaliando o consumo de matéria seca, escore fecal e densidade da urina com tratamentos com relações V:C de: 30%:70%, 40%:60%, 50%:50%, 60%:40% e 70%:30%.

Revisão Bibliográfica

A intensificação dos sistemas de produção vêm crescendo cada vez mais, com o emprego de tecnologias que tornam a atividade zootécnica cada vez mais precisa. O processamento físico de alimentos é um exemplo dessa intensificação, com o objetivo de aprimorar a nutrição dos animais, no que diz respeito ao suprimento de suas exigências nutricionais e facilidade no manejo alimentar. A extrusão é um tipo de processamento físico de alimentos sendo definida como um processo de tratamento térmico dos alimentos do tipo HTST (High Temperature Short Time) que por uma combinação de calor, umidade e trabalho mecânico, modifica profundamente as matérias primas, proporcionando novos formatos e estruturas com diferentes características funcionais e nutricionais (GUERREIRO, 2007). Este processo provoca modificações físicas e químicas nos nutrientes dos alimentos e o cozimento melhora a digestibilidade do produto, devido à desnaturação das proteínas, gelatinização do amido e maior fragmentação da parede celular. Fatores antipalatáveis são destruídos e inibidores de crescimento e enzimas são inativados durante o processo. Uma característica singular da ração extrusada, quando direcionada a alimentação de animais ruminantes, é a inclusão de fibra em sua composição, sendo este um nutriente de grande importância para ótimo funcionamento e boa saúde ruminal. Uma mudança que pode ocorrer na fibra, durante a extrusão é uma transformação de fibra insolúvel para fibra solúvel. Este efeito seria resultado da ruptura de ligações entre carboidratos e proteínas associados à fibra, resultando em maior fragmentação da mesma (RAMACHANDRA e THEJASWINI, 2015), tornando-a mais solúvel e, consequentemente melhorando sua digestibilidade. A inclusão da fibra também proporciona menor densidade do pellet em relação ao liquido ruminal fazendo com que este boie no rumen ficando próximo do local de maior concentração de bactérias, tornando mais eficiente o processo fermentativo.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no setor de caprinos e ovinos, de Julho a Setembro de 2015. Foram utilizados cinco ovinos machos, não castrados, com seis meses e com peso corporal médio de 34 kg, alocados, após a vermifugação, em gaiolas metabólicas individuais. Estas gaiolas continham piso ripado suspenso, bebedouro, comedouro e cocho para fornecimento de sal mineral. O período experimental teve duração de 75 dias, divididos em cinco fases de 15 dias cada, onde dez dias eram referentes à adaptação dos animais a ração e nos outros cinco dias eram realizados as coletas e avaliações dos dados. Os animais receberam cinco diferentes tratamentos experimentais, sendo as distintas relações do concentrado extrusado LAC 24® com o Forrage® (esse volumoso era composto pela parte aérea da planta de cana de açúcar com amido, minerais e ureia), apresentados na Tabela 1. As proporções de Forrage® e Lac 24® da ração foram misturadas na indústria e as mesmas foram fornecidas duas vezes ao dia para os animais, às 08:00 e às 16:00, sendo que no dia posterior era mensurado as sobras afim de verificar o consumo pelos animais. Como os pellets eram de tamanho e peso distintos, antes de fornecer aos animais as quantidades ofertadas era feita mistura manual do produto para melhor homogeneização. Diariamente, foram realizadas as pesagens do ofertado e das sobras de cada animal para determinar o consumo. A ração era ofertada duas vezes ao dia, às 08:00 horas e às 16:00 horas, tendo água ad libitum. Os cordeiros tiveram 10 dias anteriores ao início do experimento para adaptação e o experimento continha cinco fases, com cinco dias de coleta, totalizando 75 dias de experimento. Para a coleta de urina e fezes separadamente, foram utilizados recipientes de tamanhos diferentes separados por uma tela. Para determinar o escore fecal, foi seguido o proposto de Gomes (2008): 1- fezes ressecadas e sem brilho, 2 - fezes normais, 3 - fezes ligeiramente amolecidas, 4 - fezes amolecidas e sem formato grudando umas nas outras (cacho de uva), 5 – fezes diarreicas. Na coleta de urina, foi utilizado ácido sulfúrico 2 N nos baldes da coleta para evitar a perda de nitrogênio por volatilização. Foram pesadas as fezes em balança com 2g de precisão. O volume da urina foi medido por meio de proveta (plástico) graduada de 2L e a densidade através do refratômetro. Já o consumo de água foi medido através da diferença entre a quantidade ofertada pela quantidade residual, utilizando provetas (plástico) graduadas (2L). Era colocado um balde (igual ao balde de água dos animais) com água no mesmo recinto dos animais engaiolados para mesurar a evaporação de água, assim a quantidade evaporada é descontada dos dados de consumo de água feito pelos animais. O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino, com cinco tratamentos, cinco repetições (animais) e cinco períodos. As médias dos tratamentos foram avaliadas por estudo de regressão ao nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

Na tabela 1 observa-se que não houve diferença (P>0,05) para os dados de consumo de matéria seca (CMS) em gramas/dia (g/dia), porcentagem de peso vivo (%/PV) e peso metabólico (PM). Segundo Monteiro et. al. (2006), ovinos são animais extremamente seletivos. Desse modo, pode-se inferir que a alta seletividade por parte dos animais contribuiu para que não fosse observada essa diferença, isso porque os animais buscam um equilíbrio entre seus nutrientes por meio da ingestão. Pelo mesmo motivo não foi observada diferença para a digestibilidade aparente da matéria seca. O consumo de matéria seca médio expresso em relação ao peso corporal está acima do proposto pelo NRC (2007), que é de 3,43% do PC para animais com 8 meses, peso corporal de 30 kg e ganhos de 200g/dia, o que se deve a maior facilidade de apreensão e ingestão da ração que era extrusada. O aspecto da ração também pode ter favorecido e ou possibilitado a seleção por parte dos animais. Semelhantemente, todos os parâmetros fecais não foram alterados de forma significativa. Segundo a escala proposta por Gomes (2008) a média do escore fecal dos animais no presente estudo foi normal (tabela 2). O consumo de água foi alto, provavelmente ocasionado pelo alto teor de matéria seca da ração, que induz ao maior consumo de água por parte dos animais. Alves et al. (2007) no experimento com cabras e ovelhas de sete meses, sem padrão racial definido, verificaram que o consumo de água foi em média 3,42L/dia. Entretanto, ao observar o consumo de água por consumo de matéria seca, os valores estão dentro da normalidade descrita por Singh et al. (1978) que é de 3-5 l/kg de matéria seca. A densidade de urina ficou toda dentro do normal que para a espécie ovina deve estar entre 1,015 a 1,070sg (González e Silva, 2006).

Conclusões

A ração extrusada, com diferentes níveis de volumoso:concentrado não altera o consumo e parâmetros digestivos de cordeiros.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVES, J. M.; ARAÚJO, G. G. L.; PORTO, E. R.; CASTRO, J. M. da C.; SOUZA, L. C. de. Feno de erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.) e palma-forrageira (Opuntia ficus Mill.) em dietas para caprinos e ovinos. Revista Científica de Produção Animal, Fortaleza, v. 9, n. 1, p. 43-52, 2007. Acesso em: 13 de dez. 2016 GOMES, S. P. Tamanho de partícula do volumoso e frequência de alimentação sobre aspectos nutricionais e do metabolismo energético em ovinos. 2008. 83 p. Tese de Doutorado em. Escola de Veterinária-Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Acesso em: 13 de dez. 2016 GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Introdução à bioquímica clínica veterinária. Porto Alegre: Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006, 357p. Acesso em: 20 de dez. 2016 GUERREIRO, L. Produtos extrusados para consumo humano, animal e industrial. Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro – REDETEC, 2007. 24 p. Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/dossie-tecnico/downloadsDT/MTcy>. Acesso em: 21 abr. 2016. HADJIPANAYIOTOU M., SANZ M.R. The utilization of nutrients for growth in goat kids and lambs: Aspects to be considered. In: LINDBERG J.E. (ed.), GONDA H.L. (ed.), LEDIN I. (ed.). Recent advances in small ruminant nutrition. Zaragoza: CIHEAM, 1997. p. 233-242 (Options Méditerranéennes : Série A.Séminaires Méditerranéens; n. 34). Acesso em: 01 de out. 2016 MERTENS, D. R. Regulation of forage intake. In: FAHEY JR., G. C. (Ed.). Forage quality, evaluation and utilization. Winsconsin: American Society of Agronomy. 1994. p. 450-493. Acesso em: 01 de out. 2016 MONTEIRO, A. L. G., POLI, C. H. E. C.; MORAES, A. Pastagens para ovinos. Farmpoint Ovinos e Caprinos, Rede Agripoint, 30 maio 2006. Disponível em: <http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/ovinos-e-caprinos/pastagens-para-ovinos-22n.aspx>. Acesso em: 13 de dez. 2016 NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requiriments of sheep. 6. ed. Washington: National Academy of Science, 2007. 99 p. Acesso em: 20 de dez. 2016 RAMACHANDRA, H. G.; THEJASWINI, M. L. Extrusion technology: a novel method of food processing. International Journal of Innovative Science, Engineering & Technology, v. 2, n. 4, p. 358-369, 2015. SINGH, M., RAI, A. K., MORE, T. Feed utilisation by various breeds of sheep exposed to high environmental temperature. Trop. Anim. Hlth. Prod., v.10, p.236, 1978. Research note. Acesso em: 13 de dez. 2016