AVALIAÇÃO ECONÔMICA E PRODUTIVA DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO SEMIÁRIDO CEARENSE

Ana Carolina Marque Craveiro1, João Paulo Matos Pessoa2, Henrique Ricardo Souza Ziegler3, Mônica de Moura Barbosa4, Vládia Pinto Vidal de Oliveira5, Rafael Soares de Souza Pitombeira6, Lucas Vasconcelos Vieira7
1 - Universidade Federal do Ceará
2 - Universidade Federal do Ceará
3 - Universidade Federal do Ceará
4 - Universidade Estadual Vale do Acaraú
5 - Universidade Federal do Ceará
6 - Universidade Federal do Ceará
7 - Universidade de Arkansas

RESUMO -

O objetivo desse trabalho foi estudar um Sistema Agroflorestal (SAF), com cultivo de milho, feijão e cajueiro, em seus aspectos de conservação ambiental, produtividade de grãos de milho e viabilidade econômica. Foram 2 tratamentos experimentais: SAF Convencional – SAFc, no qual o cultivo se deu somente nas condições do SAF sem insumos externos; e SAF Adubado – SAFa, no qual foi adicionado 116 g de esterco ovino in natura para cada cova, além do solo ter sido recoberto com a bagana da folha da carnaubeira (Copernicia prunifera) na proporção de 16 ton/ha. E um tratamento caracterizando o sistema local de produção, chamado Agricultura Itinerante -AI, obtido através de questionários semiestruturados com 10 produtores locais. O trabalho foi desenvolvido entre os anos de 2008 a 2012 no município de Bela Cruz – Ceará. Os tratamentos SAFc e SAFa conseguiram fixar a agricultura e evitar a abertura de novas áreas de cultivo, auxiliando na conservação dos recursos naturais da Caatinga. Observamos uma média crescente de produção de grãos entre os tratamentos AI, SAFc e SAFa, de 240, 250 e 1.111 Kg/ha, respectivamente. Somente o SAFa se mostrou viável economicamente, acumulando receitas com o passar dos anos, gerando renda para o produtor, enquanto os tratamentos AI e SAFc apresentaram indicadores negativos.

Palavras-chave: Sistema agroflorestal (SAF), Produtividade, Viabilidade econômica, Sustentabilidade, Bagana de carnaúba

ECONOMIC AND PRODUCTIVE EVALUATION IN THE AGROFORESTRY SYSTEMS IN THE SEMIARID CEARENSE

ABSTRACT - The objective of this work was to study one Agroforestry System (AFS) with corn, beans and cashew in aspects of productivity (corn grain), economic viability and environmental conservation. There were two experimental treatments: Conventional AFS - SAFc, in which cultivation took place only under the conditions of AFS; without external inputs and ASF fertilized - SAFa, which was added 116 g of sheep manure in natura for each hole, plus the ground was covered with straw of leaf carnauba (Copernicia prunifera) at the rate of 16 ton/ha. And a treatment featuring the local production system, called Itinerant Agriculture (AI), obtained through semi-structured questionnaires with 10 local producers. The study was conducted between the years 2008-2012 in the city of Bela Cruz - Ceara. We observe an increasing average grain yield between treatments AI, SAFC and Safa, 240, 250 and 1,111 kg / ha, respectively. Only the SAFa was economically feasible, accumulating revenues over the years, generating income for the producer, while the R and A treatments showed negative indicators. Finally the AFS treatments managed to establish agriculture and avoid opening new areas of cultivation.
Keywords: Agroforestry system (SAF), Productivity, Economic viability, Sustainability, Carnauba straw


Introdução

Historicamente, no semiárido brasileiro, a exploração predominante da Caatinga tem sido a pecuária, persistindo a agricultura de subsistência nas áreas de melhor potencial. Desde a colonização até os dias atuais, não houveram grandes mudanças nos sistemas produtivos, de forma que a utilização da Caatinga ainda se fundamenta, predominantemente, em sistemas agropecuários meramente extrativistas, agressivos ao ecossistema, para obtenção de produtos de origem pastoril, agrícola ou madeireiro (ARAÚJO FILHO, 2013).

No tocante ao modelo agrícola, atualmente ainda persiste a agricultura itinerante caracterizada pela derrubada da mata, por meio da broca manual, formação dos aceiros e o ateio de fogo na vegetação caída, plantio das culturas, e posteriormente pousio e abandono até a vegetação recuperar-se, este ciclo demora dez anos, não tendo sustentação ecológica, visto que a sucessão secundária da caatinga demora em média 45 anos, e nem econômica, fazendo-se necessário o desenvolvimento de alternativas que propiciem a conservação dos seus recursos naturais e elevação na produtividade (ARAÚJO FILHO, 2013).

Considerando-se o contexto da agricultura familiar e da pequena propriedade rural, buscou-se o desenvolvimento de um sistema de produção que, partindo das culturas agrícolas e práticas localmente utilizadas, permitisse: a fixação da agricultura, a sustação da degradação ambiental, o aumento da produtividade e a melhoria da renda familiar.



Revisão Bibliográfica

O modelo agrícola mais danoso e que ainda persiste consiste na agricultura itinerante caracterizada pela derrubada da mata, por meio da broca manual, formação dos aceiros e o ateio de fogo na vegetação caída, plantio das culturas, e posteriormente pousio e abandono até a vegetação recuperar-se, este ciclo demora de dez a 20 anos, não tendo sustentação ecológica, visto que a sucessão secundária da caatinga demora em média 45 anos, e nem econômica, fazendo-se necessário o desenvolvimento de alternativas que propiciem a conservação dos seus recursos naturais e elevação na produtividade (ARAÚJO FILHO, 2013).

A produtividade média de grãos de milho nesse modelo situa-se próximo de 600 kg.ha-¹, valor baixo considerado aos modelos de produção sustentáveis. Considerando-se o contexto da agricultura familiar e da pequena propriedade rural, é importante a implantação de sistemas agroflorestais que proporcionem maior diversidade, maior produtividade e sustentabilidade produtiva ao longo dos anos (IPECE, 2012).

Sistemas agroflorestais são, pois, formas de uso e manejo do solo consorciando culturas anuais/bianuais com árvores ou arbustos. A presença da árvore é condição fundamental para a existência do sistema agroflorestal.

As árvores são importantes, pois protegem o solo, controlam o fluxo de enxurradas, produzem folhagem que serve como matéria orgânica que exerce efeitos benéficos para a terra. As árvores de cajueirais podem fornecer frutos para consumo humano e folhas para compostagem (ARAÚJO FILHO, 2013).

Contudo, há presença de 200 a 400 árvores por hectare nos sistemas agroflorestais nordestinos. Essas árvores apresentam produção de folhagem relativamente baixa, cerca de 1400 kg.ha-¹, havendo a necessidade de cobrir o solo com mais cobertura morta. Geralmente no sertão nordestino onde há carnaubais é comum o uso da bagana de carnaúba (folha da carnaubeira seca e picotada) como cobertura morta em cultivo de milho, mandioca e árvores (MARIN et al., 2007).

Contudo ainda não há trabalhos no sertão nordestino evidenciando os benefícios ecológicos e econômicos da inserção de cobertura morta ao solo do sistema agroflorestal, comparado com sistema agroflorestal convencional e a agricultura itinerante (CAMPANHA et al, 2008).

Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi analisar os aspectos de conservação ambiental, produtividade e viabilidade econômica de sistemas agroflorestais e agricultura itinerante localizados no semiárido brasileiro.



Materiais e Métodos

Implantação dos Sistemas Agroflorestais e agricultura itinerante

Realizamos um estudo na localidade do Cajueiro do Boi, Município de Bela Cruz, litoral norte do Ceará, distante 245 km da capital do estado, Fortaleza. O clima da região é caracterizado como tropical quente semiárido com concentração das chuvas em fevereiro e abril. A média das precipitações pluviais é de 1.096 mm e temperaturas médias variando entre 26º e 28º C (IPECE, 2012).

O relevo da área é suave ondulado com solos classificados como Argissolo. Quanto ao comportamento florístico, localiza-se em uma zona transicional (litoral/sertão) com característica fitoecológica do Complexo Vegetacional da Zona Litorânea (IPECE, 2012).

A pesquisa foi realizada entre os anos de 2008 até 2012. Trata-se de um SAF para cultivo de milho (zea mays, L.), feijão (Phaseolus vulgaris L.), gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud) e cajueiro (Anacardium occidentale L.), divididos em tratamentos de acordo com os insumos orgânicos utilizados numa área de 2.500 m2 (100 x 25 m).

A vegetação lenhosa da área, que se encontrava em bom estado de conservação, foi raleada, preservando-se cerca de 200 árvores/ha ou 20% de sombreamento. (ARAÚJO FILHO, 2013). Toda a madeira útil foi retirada e o restante do material foi queimado de forma controlada. A queima foi realizada apenas em 2008. O modelo adotado em todo o SAF foi o de aleias, utilizando o caju, como principal componente lenhoso; a leguminosa gliricídia, para realização da adubação verde, e banco de proteínas; e as culturas de interesse alimentar, o milho e o feijão.

O milho e o feijão eram plantados anualmente no inicio de cada período chuvoso e sua colheita se dava no final do período de chuvas (5 meses aproximadamente entre o plantio e a colheita). O milho foi plantado na forma de cordões duplos, distantes entre si por 3 metros, espaçamento interno de 0,4 m e com 0,5 m entre covas, sendo utilizadas 3 sementes por cova. O cajueiro e a gliricidia foram implantados em 2008 e replantados em caso de mortandade.

Os tratamentos experimentais constaram de: SAF convencional (SAFc), no qual o cultivo se deu somente nas condições do SAF experimental, sem adubação orgânica; e SAF adubado (SAFa) no qual era adicionado esterco ovino não curtido (in natura) no momento do plantio do milho, na quantidade de 116 g em cada cova, além do solo ter sido recoberto com bagana (da folha da carnaubeira (Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore) seca e picotada) na proporção de 16 ton/ha, sendo que a manutenção da quantidade de bagana se dava no começo do ano, antes do plantio dos grãos e repetido a cada 2 anos (2008, 2010 e 2012).

Também foram realizadas entrevistas com produtores locais para caracterização dos sistemas de produção utilizados, que compilamos como um sistema de produção que chamaremos de Agricultura Itinerante (AI). Foram realizadas entrevistas semiestruturados (LAKATOS, 2003) com 10 produtores, que praticavam agricultura de subsistência, durante os 5 anos do estudo, buscando, além da caracterização, a definição das técnicas de manejo utilizadas, os custos e benefícios, a produtividade das culturas, entre outras informações.

Neste trabalho iremos analisar a produtividade apenas de grãos de milho. Nos tratamentos experimentais, SAFc e SAFa, foi calculando da seguinte maneira: multiplicação do peso dos grãos/planta pelo número pelo espigas/planta (no caso do milho), multiplicado pelo número de plantas por hectare (calculado através de uma unidade amostral de 20 m), expressa em kg/ha. Para a coleta dessas variáveis, cada tratamento foi dividido em quatro blocos, cada bloco com três repetições. Para análise estatística, cada bloco tinha suas repetições somadas e divididas por três ficando apenas uma média geral por bloco.

No tratamento Agricultura Itinerante, AI, os dados de produtividade foram colhidos através das entrevistas. As propriedades foram visitadas para checagem das informações em campo, através da análise visual dos plantios e verificação do estoque de grãos colhidos.

A produtividade foi analisada estatisticamente adotando um delineamento fatorial, com dois fatores, ano (5 anos) e tratamento (3 tratamentos), e com quatro repetições. Os dados foram analisados pelo software ASSISTAT 7.5 beta e utilizando-se o Teste t para a realização da análise de variância ao nível de 5% de probabilidade.

Para a determinação das receitas e indicadores de rentabilidade foram adotadas a metodologia utilizada por Campos (2001). Para efeito da receita bruta anual, foram considerados todo o milho, feijão, a madeira, castanha de caju (venda apenas em 2012), feno e forragem produzidos e vendidos ao longo dos cinco anos analisados. A estrutura de custos adotada no estudo é a mesma utilizada por França et al. (2007). Os custos e receitas, discriminados foram gerados a partir da realização de pesquisa de campo, referentes ao período de 2008 à 2012.

Pela ótica financeira, são mostrados indicadores que mensuram o nível de atratividade do projeto, bem como as condições de sustentabilidade. Foram analisados os indicadores Valor Presente Líquido (VPL) e Relação Benefício/Custo (B/C). Também foi calculado o período de payback, utilizando os fatores de conversão de Plena (2005).



Resultados e Discussão

O sistema local de produção e o SAF proposto

Os principais cultivos na região de transição entre litoral e sertão são culturas do cajueiro, milho, mandioca e feijão, respectivamente, em níveis decrescentes de importância cultural e econômica para os agricultores do município. Dessas culturas, apenas o cajueiro é perene, por se tratar de uma espécie arbórea e ter seu ciclo de produção mais longo. A venda da castanha do caju tem o preço bastante atrativo, por isso a cajucultura é a mais praticada no município de Bela Cruz e uma das mais lucrativas.

Porém, a cajucultura apresenta algumas fragilidades como o elevado tempo gasto até a primeira colheita (quando não cultivado com cajueiro anão precoce). Por ser uma cultura perene, essa cultura necessita de um tempo de retorno alto, cerca de cinco anos, demorando ainda alguns anos até estabilizar a produtividade. Outra desvantagem é quando os cajueirais estão velhos, sendo necessárias as renovações das copas (poda drástica das copas), que reduzem significativamente a produção do caju e da castanha, periodicamente.

O cultivo de culturas anuais e bianuais em consórcio com os cajueirais nos cinco anos iniciais e logo após a poda drástica das copas é recomendado, resultando na elevação e diversificação da produção de grãos e forragem.

O SAF trata-se de um modelo agrossilvipastoril, com a divisão do terreno em três parcelas: agrícola, pastoril, e Reserva Legal. A integração entre as parcelas é feita pelos animais de criação (caprinos e ovinos), e a principal inovação desse sistema é a associação entre as práticas agrícola, silvicultura e pastoril (ARAÚJO FILHO, 2013).

Como a principal cultura de interesse é o cajueiro, a tendência é que essa parcela (agrícola) evolua para um sistema silvipastoril. Com o crescimento do cajueiral, a luminosidade disponível para espécies anuais diminui progressivamente, até que impossibilite a produção dessas culturas anuais, permanecendo o cajueiral consociado com gliricídia, além das espécies nativas.

Na Agricultura Itinerante o preparo para o cultivo constituía-se do desmatamento raso do terreno seguido da queima dos restolhos a cada dois anos. As cinzas provenientes são deixadas sobre o terreno e acabam sendo carreadas pelo vento e/ou chuva. Como o sistema não comporta árvores, a produção da serrapilheira é realizada apenas pelas culturas agrícolas, vegetação espontânea e rebrotas, resultando numa baixa produção e adição de matéria orgânica ao solo. Além disso, não existe um manejo e valorização dessa biomassa, que é descartada ou queimada, mantendo o solo permanentemente exposto.

A matéria orgânica do solo, através da ciclagem natural dos nutrientes, é fundamental para a manutenção e melhoria da fertilidade do solo. Além disso, ela também exerce importantíssimas funções na manutenção das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, que acabam se degradando com a perda progressiva da biomassa (DING et al, 2012; MIELNICZUK, 1999).

Como consequência, AI apresenta um curto período de produção, que é seguido do abandono da área para o pousio. No caso de Bela Cruz, o tempo de cultivo é de apenas 2 anos e o tempo médio de pousio de 10 anos. Assim, foi necessário a abertura de 3 áreas de cultivo durante esses 5 anos de estudo, em 2008, 2010 e 2012.

Por outro lado, no SAF proposto o cultivo do cajueiro, milho e feijão é consorciado com a gliricídia e ainda com 200 árvores nativas por hectare. O uso do fogo não é indicado e foi utilizado apenas no primeiro ano para fins didáticos, tomando-se um conjunto de medidas preventivas. As cinzas foram incorporadas ao solo, sendo que no tratamento B a bagana foi aplicada logo após a queima. No SAF existe uma maior produção de biomassa, tanto dos cultivos como das árvores nativas, e essa matéria orgânica é valorizada e manejada, mantendo-se o solo sempre coberto.

As árvores do SAF, juntamente com a biomassa produzida, tem o objetivo de manter os serviços ambientais como controle de pragas, polinização, ciclagem de nutrientes e manutenção da fertilidade do solo, proteção e conservação do solo e recursos hídricos, estabilização do regime hídrico (ARAÚJO FILHO, 2013; DUARTE, 2007; CAMPANHA et al, 2008), além de manter ou melhorar propriedades essenciais do solo.

Por esses motivos os SAFs experimentais conseguem fixar as atividades agropecuárias numa mesma área por tempo indeterminado. Durante os 5 anos de estudo cada tratamento permaneceu na mesma parcela, permitindo avaliar a continuidade na produção de grãos. Com isso, evita-se a abertura de novas áreas para exploração agropecuária e sua subsequente degradação e abandono.

Análise da produtividade agrícola

O sistema da Agricultura Itinerante obteve menor média de produção, com 240 Kg/ha por ano. Apesar de ser baixo, esse valor se aproxima da média apresentada pelo SAFc, que foi de 250,9 Kg/ha. Todavia, o SAFa apresentou uma média de 1.111 Kg/ha, em média, 4 vezes superior ao modelo de Agricultura Itinerante (Tabela 1).

Marin et al (2007) trabalhando com milho em SAF em sequeiro (pluviosidade de 648 mm) obteve uma produção média de grãos de 263 Kg/ha quando não houve adubação orgânica, mas a produtividade foi elevada a 1.100 Kg/ha com adição de esterco e/ou gliricídia como adubo verde.

Percebe-se interação positiva entre os diferentes fatores de variação, no caso, os fatores ano e tratamento. Isso que dizer que os valores de um dos fatores são influenciados pelos valores do outro fator.

O sistema de agricultura itinerante e o SAFc foram mais sensíveis nos anos de seca com redução na produtividade, por outro lado o SAFa foi resistente aos efeitos da seca, mantendo a produtividade relativamente constante. É desejável que o sistema de produção seja resistente aos efeitos da seca e sensível aos aumentos de pluviosidade, como observado no SAFa, que durante os anos mais chuvosos de 2008, 2009 e 2011 rendeu maiores produtividades, cerca de 6 vezes superior ao obtido nos sistema de agricultura itinerante e SAF convencional.

 Além de apresentar as maiores médias de produtividade em todos os anos, o SAFa apresentou maior resiliência aos efeitos da seca, pois em anos de seca (2010 e 2012) manteve a produção de grãos equivalente aos sistemas de agricultura itinerante em anos de pluviosidade normal (2008, 2009 e 2011). 

Análises econômicas

A aplicação dos critérios de análise econômica na área é fundamental para se decidir qual o melhor projeto e, ou, alternativa de manejo a serem adotados. Assim, a determinação da idade econômica de corte, o espaçamento, a adubação, a época e a intensidade de tratamentos silviculturais, e a espécie, dentre outras decisões, podem ser tomadas de forma mais segura quando feitas as simulações baseadas nos critérios técnico-econômicos (LOPES, 2001).

Segundo Souza et al. (2007), os SAFs imobilizam recursos por um longo período de tempo, e por isso é necessário que o planejamento, desde o preparo de solo para o início da implantação das culturas até a negociação do produto final, seja devidamente conduzido para que o investimento se torne economicamente viável.

Para Bentes Gama et al. (2005), estudos específicos sobre a viabilidade financeira de investimento de SAFs como alternativa para a diversificação da produção e renda e recuperação ambiental em regiões onde se pratica a agricultura convencional (itinerante e/ou monoculturas), têm sido cada vez mais necessários.

 Nesse contexto, aqui serão feitas as análises econômico-financeiras da produção agrícola total (grãos de milho e feijão, feno de gliricidia, forragem e castanha de caju) dos 3 tratamentos, durante os cinco anos de pesquisa, por meio do Valor Presente Líquido (VPL) e da relação benefício/custo (B/C), obtidas a partir dos fluxos de custos e de receitas (benefícios), a um custo de oportunidade de 12% ao ano (Tabela 2).

Os piores indicadores foram os resultantes do tratamento AI. Nesse caso, o B/C foi de apenas 0,89 (custo maiores que os benefícios, não existe retorno) e o VPL de -106,73 (negativos, indicando receitas menores do que os custos). Esse tratamento apresentou maus indicadores econômicos, demonstrando que tal prática causa prejuízo financeiro ao produtor. Nesse sentido, esse tratamento é o que apresenta o menor nível de sustentabilidade econômica, considerando todos os tratamentos.

O SAFa apresentou os melhores indicadores econômicos, o SAFc foi intermediário e os piores indicadores foram observados na AI. O SAFc e AI não foram viáveis do  ponto de vista econômico, pois sua relação B/C foi de 0,97 e sua VPL foi de -21,89 (ambos indicadores “negativos”). O que significa que o dinheiro investido não é retornado, ou seja, não há lucro. Esses resultados mostram que o cultivo apenas nas condições do SAFc não são suficientes para garantir um retorno financeiro ao agricultor.

O sistema de AI e SAFc apresentaram um payback de 3,66 e 3,19, respectivamente, indicando que o “retorno” dos investimentos seria recuperado a partir do quarto ano de produção. No entanto, esse indicador não deve ser considerado isoladamente, sendo importante a conjugação com outros indicadores econômicos, como o VLP e B/C, nesse sentido, não teriam um retorno do investimento, pois seus valores de VLP são negativos e a relação B/C menor do que 1.

Esses prejuízos considerados nos tratamentos AI e SAFc devem ser entendidos de forma relativa. Pois apesar de mostrarem-se economicamente não viável, com prejuízos, esses sistemas de produção são socialmente praticados. Isso acontece, pois quando o agricultor vai vender sua produção, seja de milho ou feijão, ele acaba por não ser remunerado por todo o conjunto de atividades relacionadas ao plantio, cultivo e venda. Assim, o preço do produto final não internaliza todos os custos associados. Dessa forma, o agricultor acaba desenvolvendo algumas atividades que não serão remuneradas. Ao vender o produto, ele tem o lucro da venda dos grãos, no entanto, o valor adquirido com a venda não seria suficiente para pagar todo o conjunto de atividades relacionadas ao cultivo, caso essas fossem “terceirizadas”.

Mesmo nesse contexto de internalização de algumas atividades sem a devida remuneração, o tratamento AI apresenta baixo nível de sustentabilidade econômica, pois os mesmos não são viáveis e não apresentam retorno ao investimento realizado.

Os melhores indicadores se deram no tratamento SAFa, uma vez que o mesmo apresentou um B/C de 1,26 (para cada real investido na atividade, há um retorno de R$ 0,26 para o produtor) e um VPL de 220,62 (o “saldo” do fluxo de caixa é positivo). Já o “retorno” do investimento se dá com 2,74 anos, ou seja, no final do terceiro ano de produção.

 Apesar de ter os custos mais elevados, com a compra e aplicação do esterco e da bagana, o tratamento SAFa compensa esses gastos com uma maior produtividade de grãos, e consequente, uma maior receita, que equilibra os resultados e possibilita indicadores econômicos positivos. Como consequência, o B/C foi maior do que 1, indicando os ganhos financeiros associados de R$0,26 para cada real investido. O alto valor do VPL mostra que o empreendimento acumulou receitas com o passar dos anos, tornando-se atrativa por esse indicador. Considerando que os indicadores VLP e B/C foram positivos, podemos analisar o tempo de payback com maior segurança, indicando que o empreendimento terá, realmente, seu retorno dos investimentos, ao contrário do que ocorre nos tratamentos AI e SAFc.



Conclusões

  SAF convencional e SAF adubado conseguiram fixar a agricultura e evitar a abertura de novas áreas de cultivo, auxiliando na conservação dos recursos naturais da Caatinga, ao contrário da Agricultura Itinerante, AI, que necessitou da abertura de uma área de 3 vezes maior degradando esses ambientes. O SAF adubado apresentou os maiores níveis de produtividade e, especialmente, estabilidade produtiva ao longo dos anos avaliados, além de ofertar outros produtos como grãos de feijão, castanha, caju e forragem como palhada do milho e feno de gliricídia. No tocante a viabilidade econômica o SAFa proporcionou os melhores indicadores econômicos, acumulando receitas com o passar dos anos e pagando-se em apenas três anos, gerando uma renda ao produtor.



Gráficos e Tabelas




Referências

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