Avaliação química e energética do farelo de algodão para frangos de corte caipiras da linhagem pescoço pelado

Ecione Martins da Silva1, Aline Ferreira Amorim2, Kênia Ferreira Rodrigues3, Roberta Gomes Marçal Vieira Vaz4, Carla Fonseca Alves Campos5, Aleane Francisca Cordeiro Barbosa6, Valquíria Sousa Silva7, Caroliny Costa Araújo8
1 - Universidade Federal do Tocantins
2 - Universidade Federal do Tocantins
3 - Universidade Federal do Tocantins
4 - Universidade Federal do Tocantins
5 - Universidade Federal do Tocantins
6 - Universidade Federal do Tocantins
7 - Universidade Federal do Tocantins
8 - Universidade Federal do Tocantins

RESUMO -

Objetivou-se nesse trabalho determinar a composição química e os valores energéticos da torta de algodão em dietas de frangos de corte caipira por meio do método de coleta total das excretas. Foram utilizadas 120 aves caipiras pescoço pelado com 21 dias de idade. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com dois tratamentos, seis repetições e dez aves por unidade experimental. A composição química do farelo de algodão 93,63% de MS, 34,71% PB, 5,13% MM, 4,41% EE, 15,75% FB, 37,76% FDN, 25,55% FDA, 4511,67 kcal/kg EB. Os coeficientes de metabolizabilidade aparente foram de: 39,45% para MS, 45,14% para PB e 44,04% para EB e os valores de EMA e EMAn foram de 2391,26 kcal/kg e 1935,97 kcal/kg expressos na matéria seca, respectivamente.

Palavras-chave: alimento alternativo, metabolizabilidade, avicultura

Chemical and energetic evaluation Of cottonseed meal for caipira broiler chickens of Pescoço Pelado lineage

ABSTRACT - The objective of this study was to determine the chemical composition and energetic values of the cotton pie in diets of hick broilers by means of the total excreta collection method. One hundred and twenty birds were used naked neck with 21 days of age. The design was a completely randomized design with two treatments, six replicates and ten birds per experimental unit. The chemical composition of the cotton pie was 93,63% de DM, 34,71% PC, 5,13% MM, 4,41% EE, 15,75% FC, 37,76% NDF, 25,55% ADF, 4511,67 kcal/kg EC. The apparent metabolizable coefficients were: 39,45% for DM, 45,14% for PB and 44,04% for EC, and EMA and EMAn values were 2391,26 kcal / kg and 1935,97 kcal / kg expressed in matter Dry, respectively.
Keywords: alternative food, metabolizable, broiler


Introdução

Devido alto custo do milho e farelo de soja na fabricação de ração na avicultura, tem-se buscado alimentos alternativos que possam substituir total ou parcialmente, esses ingredientes na ração, no intuito de baratear a ração. Estudos apontam que o farelo de algodão é uma importante fonte alternativa ao farelo de soja (Carvalho et al 2010; Santos et al, 2013), porém, por ser um material fibroso, são necessários estudos que avaliem seu aproveitamento pelos frangos tipo caipira. O principal produto do cultivo do algodão é a fibra ou pluma, utilizada na indústria têxtil, e o óleo vegetal rico em vitamina E, um antioxidante natural, e, ácidos graxos essenciais como o palmítico, oleico e linoleico. No processamento da extração do óleo é obtido o línter, que é uma fibra que reveste o caroço; ao quebrar o caroço obtêm a casca, também rica em fibra, e a amêndoa, que possui de 30 a 40% de proteína e de 35 a 40% de lipídios. A partir da prensagem hidráulica ou usando extratores químicos o óleo é extraído e o resíduo é chamado de torta de algodão. A moagem da torta dá origem ao farelo de algodão (ARAÚJO et al., 2003). Devido a importância do alimento alternativo na alimentação de frangos caipiras, objetivou-se nesse trabalho, determinar à composição química e energética do farelo de algodão em dietas de frangos de corte caipira.

Revisão Bibliográfica

A produção de carne de frango no Brasil chegou a 12,30 milhões de toneladas em 2013, ficando abaixo da China, que é o segundo maior produtor mundial com 13,5 milhões de toneladas de carne de frango, e os Estados Unidos, que é o primeiro produtor mundial com produção de 16,95 milhões de toneladas. Do volume total de carne de frango produzido no Brasil, 68,4% foi destinado ao consumo interno, e 31,6% para as exportações, e o consumo per capita de carne de frango atingiu 41,80kg (UBABEF, 2014). Porém nas últimas décadas tem surgido a discussão de alguns paradigmas que começaram a surgir com os movimentos sociais que, de certa forma, passaram a gerar pressão no mercado consumidor, questionando a atual forma de produção, alertando aos riscos ambientais e a qualidade de vida dos animais. A partir daí surge um crescimento progressivo no mercado de produtos orgânicos e naturais, sendo as aves caipiras uma opção de produção alternativa para suprir a demanda desse novo mercado consumidor (SOUZA; CERDAN, 2012). A alimentação é responsável pela maior parte do custo de produção do frango, onde os principais ingredientes, milho e farelo de soja, possuem oscilações no período de safra e entressafra, com maior custo na entressafra. Mas a utilização de alimentos alternativos na formulação da ração pode ser uma forma viável de contornar tal situação. Nesse sentido, o estudo das fontes de alimentos alternativos ao milho e farelo de soja, possui a finalidade de determinar o nível de inclusão e/ou substituição e baratear o custo da ração sem deixar de fornecer os nutrientes essenciais para o bom desempenho das aves.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no setor de avicultura e as análises de composição química dos ingredientes e das rações foram realizadas no laboratório de nutrição da Universidade Federal do Tocantins – UFT, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, campus de Araguaína – Tocantins. Foram utilizadas 120 aves caipiras pescoço pelado de um dia de idade distribuídas em delineamento inteiramente casualizado em gaiolas metabólicas com dois tratamentos, seis repetições e dez aves por repetição. Foi formulada uma dieta referência à base de milho e farelo de soja para atender as exigências nutricionais das aves; e uma dieta teste, formulada com 70% da dieta referência e 30% de farelo de algodão. O ensaio de digestibilidade teve duração de três dias, dos 26 aos 28 dias de idade das aves, foi realizado pelo método tradicional de coleta total das excretas. O intervalo entre as coletas foi de 12 horas, sendo as excretas, após coletadas, acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados por repetição e congelados. No final do período experimental foi determinado por repetição, a quantidade de ração consumida e a quantidade total de excretas produzidas. Para determinar os teores de matéria seca (%), proteína bruta (%), extrato etéreo (%), e energia bruta (kcal/kg), no final do período de coleta as amostras foram homogeneizadas e foram coletadas amostras representativas por parcela, sendo estas enviadas ao laboratório para as análises bromatológicas que foram realizadas de acordo com as metodologias descritas por (SILVA; QUEIROZ, 2006). Com base nos dados de consumo de ração, produção de excretas, análises de matéria seca e nitrogênio (%) e EB (kcal/kg) das rações e excretas, foram determinadas a energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida (EMAn), pelas equações propostas por Matterson et al. (1965).

Resultados e Discussão

Os resultados referentes a composição química do farelo de algodão, estão apresentados na tabela 1.   Tabela 1 – Valores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE), fibra bruta (FB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e energia bruta (EB) do farelo de algodão1
Ingredientes MS (%) PB (%) MM (%) EE (%) FB (%) FDN (%) FDA (%) EB (kcal/kg)
Farelo de algodão 93,63 34,71 5,13 4,41 15,75 37,76 25,55 4511,67
1Valores expressos na matéria natural Os valores da composição química do algodão são diferentes dos valores citados por Rostagno et al (2011) para o farelo de algodão 30% de proteína, com 89,65%MS, 29,98%PB,  5,30%MM, 1,28% EE, 24,93% FB, 42,33% FDN, 31,11% FDA, 41130 kcal/kg EB. É comum essa variação encontrada na literatura, pois o solo, clima, cultivar e tipo de processamento, influenciam na composição química do produto. Os coeficientes de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS), da proteína bruta (CMPB) e da energia bruta (CMEB) do farelo de algodão estão apresentados na tabela 2. Tabela 2 – Coeficiente de metabolizabilidade da matéria seca (CMMS), da proteína bruta (CMPB) e da energia bruta (CMEB) em percentagem na matéria seca (%MS) e seus respectivos desvios padrões
Tratamentos Coeficientes de metabolizabilidade dos Alimentos %MS
CMMS CMPB CMEB
DR+FA 39,45±5,2 45,14±9,8 44,04±4,2
D= Dieta Referência; FA= Farelo de Algodão Os valores dos CMMS e do CMEB da torta e do farelo de algodão estão acima dos valores encontrados por Carvalho et al, (2010) que encontraram respectivamente 27,47 e 25,46 % para o farelo de algodão de alta energia, e ainda explicam que altos valores de energia bruta não implicam em alto CMEB, visto que a metabolizabilidade está associada ao teor de fibra do coproduto, influenciada principalmente pela quantidade de casca adicionada ao farelo de algodão. Os valores de energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida para o balanço de nitrogênio (EMAn), em percentagem na matéria seca e na matéria natural, estão apresentados na tabela 5. Tabela 3 – Valores de Energia metabolizável aparente (EMA) e energia metabolizável aparente corrigida para balanço de nitrogênio (EMAn) em percentagem na matéria seca (%MS) e matéria natural (%MN) e seus respectivos desvios padrões
Tratamentos %MS %MN
EMA EMAn   EMA EMAn
DR+FA 2391,26±183 1935,97±150   2017,25±171 1812,76±140
D= Dieta Referência; FA= Farelo de Algodão   Os valores de EMA e EMAn, encontrados por Santos et al (2013), para três tipos de farelo de algodão foram: 3131 de EMA e 2977 de EMAn para o farelo de algodão extrusado; 2944 EMA e 2793 de EMAn para o farelo de algodão com casca; e 3016 EMA e 2827 de EMAn para o farelo de algodão com 40% de proteína bruta. Percebe-se que são valores superiores aos valores encontrados neste trabalho, cuja diferença pode ser atribuída a forma de processamento do algodão para obtenção do farelo.

Conclusões

A composição química do Farelo de Algodão foi de 93,63% de Matéria Seca 34,71% de Proteína Bruta, 5,13% de Matéria Mineral, 4,41% de Extrato Etéreo, 15,75% de Fibra Bruta, 37,76% de Fibra em Detergente Neutro, 25,55% de Fibra em Detergente Acido, 4511,67 kcal/kg de Energia Bruta. Os Coeficiente de Metabolizabilidade foram de 39,45% para Matéria Seca, 45,14% para Proteína Bruta, 44,04% para Energia Bruta. E os valores de EMA e EMAn expresso na matéria seca foram respectivamente de 2391,26 kcal/kg e 1935,97 kcal/kg.

Gráficos e Tabelas




Referências

ARAÚJO, A. E.; SILVA, C. A.D; FREIRE, E. C. Cultura do algodão herbáceo na agricultura familiar. 2003. Disponível em: <http://sistemas de produção.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/algodao/agriculturafamiliaralgodão/autores.html>. Acesso em: 24/04/2015.   CARVALHO, C. B . de.; JUNIOR, W. M. D.; REBELLO, C. B-V.; LIMA, S. B. P. DE.; NASCIMENTO, N. T. G. R. do. Avaliação nutricional do farelo de algodão de alta energia no desempenho produtivo e características de carcaças de frangos de corte. Ciência Rural, v.40, n.5, , p.1166-1172, 2010.   MATTERSON, L.D.; POTTER, L.M.; STUTZ, M.W. The metabolizable energy of feed ingredients for chickens. Agricultural Experimental Station Research Report, v.7, p.3-11, 1965. ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R. F. de; LOPES, D. C.; FERREIRA, A. S.; BARRETO, S. L. de T.; EUCLIDES, R. F. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos: Composição de alimentos e exigências nutricionais. 3ª ed.,Viçosa, MG: UFV, DZO, 2011, 252p. SANTOS, M. J. B. dos; LUDKE, M. C. M. M.; LUDKE, J. V.;3, TORRES, T. R.; LOPES, L. dos S.; BRITO, M. S.  Composição química e valores de energia metabolizável de ingredientes alternativos para frangos de corte. Ciência Animal Brasileira, v.14, n.1, p. 32-40, 2013.   SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos, métodos químicos e biológicos. 3 ed. Viçosa, UFV, 2006.   SOUZA, M. C. M.; CERDAN, C. Sinais distintivos de origem e qualidade para produção de aves caipira no Brasil e na França: os casos da indicação geográfica, do Label rouge e da certificação orgânica. Informações Econômicas, SP, v. 42, n. 2, 2012.   UBABEF – União Brasileira de Avicultura. Relatório anual 2013/2014. Disponível em: <http://www.abef.com.br/ubabef/exibenoticiaubabef.php?notcodigo=2761> acesso em: 23/04/2015.