Capim-piatã sob adubações fosfatadas em Aquidauana, MS, Brasil, durante o verão de 2015

Luísa Melville Paiva1, Patrícia dos Santos Gomes2, Henrique Jorge Fernandes3, Alex Coene Fleitas4, Robson Balbuena Portilho5, Camila Fernandes Domingues Duarte6, Thiago Trento Biserra7, Redney Gomes Brevilieri8
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar o desenvolvimento de capim-piatã adubado com fontes de fósforo de diferentes solubilidades em água, durante o verão de 2015 (dezembro 2014 a março 2015). O estudo foi conduzido na Fazenda UEMS, em Aquidauana, MS, desde 2012, em 16 piquetes de meio ha cada. Avaliaram-se quatro níveis de adubação: Controle (sem adubo); fonte de fósforo de solubilidade lenta (FNR); fonte de fósforo prontamente disponível (SS) e fonte mista de fósforo (FH Pastagem®). Adotou-se o delineamento em blocos casualizado. As plantas foram mensuradas semanalmente para caracterização estrutural e morfogênica. As médias foram comparadas com o tratamento controle pelo teste de Dunnett e entre si pelo teste t de student. O nível de significância de 5% foi adotado em todas as análises. Foi observado efeito significativo (P<0,05) do uso de fósforo na taxa de senescência foliar. Concluiu-se que o uso de fósforo acelerou o ciclo de envelhecimento e morte do capim-piatã.

Palavras-chave: braquiária, caracterização morfogênica, fertilizantes fosfatados, Urochloa brizantha cv. BRS Piatã (syn. Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã)

Piatagrass under phosphate fertilization in Aquidauana, MS, Brazil, during a summer

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the development of piatagrass fertilized with phosphorus sources of different water solubilities during the summer - December 2014 to March 2015. It was conducted at the UEMS Farm in Aquidauana, MS, Brazil, since 2012, in 16 paddocks of half a hectare each. Four sources of fertilizers were evaluated: Control (without fertilizer); slow solubility phosphorus (FNR); readily available phosphorus (SS) and mixed source of phosphorus (FH Pastagem®). The randomized blocks design was adopted. The plants were measured weekly for structural and morphogenic characterization. The means were compared to the control treatment by the Dunnett test and to each other by the student t test. The level of significance of 5% was adopted in all analyzes. Significant effect (P <0.05) of phosphorus use on foliar senescence rate was observed. It was concluded that the use of phosphorus accelerated the cycle of aging and death of piatagrass.
Keywords: brachiaria, plant’s morphogenesis, phosphate fertilizers, Urochloa brizantha cv. BRS Piatã (syn. Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã)


Introdução

O Estado de Mato Grosso do Sul apresenta dois principais biomas: Cerrado e Pantanal. Em ambos a pecuária em pasto é praticada, com poucas espécies forrageiras. A degradação de pastagens na região de Cerrado - Pantanal é evidente, estimativas apontam algum grau de degradação em cerca de 70 a 80% das áreas ocupadas com pastagens cultivadas. Esse cenário tem estimulado os estudos de alternativas rentáveis e sustentáveis para a produção de bovinos em pastejo. O tema sustentabilidade cada vez mais se destaca no mundo. Visto que o Brasil tem como principal atividade econômica a agropecuária, estudos têm como objetivo agregar sustentabilidade econômica e ambiental, na busca por incremento da produção em ambiente saudável com manutenção temporal da atividade. Estudos com o foco em pastagens fertilizadas com adubos fosfatados de diferente solubilidade em água, ao longo de um período maior que um ciclo de produção, apontam para manejos mais sustentáveis econômica e ambientalmente. Isso porque acredita-se que será possível oferecer, com apenas um momento de aplicação de insumos, quantidade de fósforo suficiente para as plantas terem uma boa implantação mas também se desenvolverem à medida que esse fósforo continue a ser liberado no solo. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo avaliar o desenvolvimento do capim-piatã (Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã syn. Urochloa brizantha cv. BRS Piatã) em resposta à adubação com fontes de fósforo de diferentes solubilidades em água.

Revisão Bibliográfica

As áreas de pastagens representam cerca de 178 milhões de hectares do território brasileiro, sendo que 117 milhões de hectares são de pastagens cultivadas. As pastagens cultivadas representam a base da produção da pecuária bovina de corte no Brasil. O gênero Brachiaria agrupa as cultivares de gramíneas forrageiras mais importantes para a produção de carne bovina no país (Barbosa, 2006). Os solos da região do Cerrado apresentam como desvantagem em relação aos demais solos brasileiros, uma pobreza generalizada em nutrientes, com destaque para o fósforo (P). É imprescindível a adição de fertilizantes fosfatados para adequado desempenho na produção de forrageiras (Sousa et al., 2003). O fósforo é um nutriente limitante na produção de gramíneas forrageiras. Importante para o crescimento e desenvolvimento do sistema radicular, é considerado o segundo elemento que mais limita a produtividade nos solos tropicais (Rezende et al. 2011). Nesse contexto, a adubação fosfatada é fundamental para manutenção e estabelecimento de pastagens, ao maximizar o potencial de produção da massa forrageira (Novais et al., 1999). Fontes de fósforo de diferentes solubilidades em água favorecem a eficácia do uso da adubação. Isto porque o uso concomitante de fontes de P de diferente solubilização em água proporciona melhorias na produção de forragens a curto, médio e longo prazo (Maciel et al. 2007), minimizando os custos pois, numa mesma operação, será possível depositar adubos que terão tempos diferentes de liberação do P2O5 no solo. Fontes pouco solúveis em água possuem lenta liberação de fósforo, enquanto que as de elevada solubilidade são mais eficientes nos solos com capacidade de fixação de fósforo imediata. Para melhorar a eficiência do uso das diversas fontes de fósforo quanto à solubilidade em água, é preciso conhecer a resposta das plantas no curto, médio e longo prazo, quando submetidas a essas fontes. O desenvolvimento das plantas forrageiras pode ser avaliado pelo seu estudo estrutural e morfogênico. Conhecendo o fluxo de crescimento e a estrutura do pasto, será possível avaliar a influência do ambiente e do manejo empregado, em estudos com forrageiras (Alexandrino et al. 2011).

Materiais e Métodos

A coleta de dados foi realizada no verão de 2015, na Fazenda UEMS, Aquidauana, MS,  20º28’S de latitude, longitude de 55º48’W e altitude média de 149 m. O clima da região (Köppen) é Tropical Úmido (AW), com duas estações: chuvosa e seca. A área foi implantada em março/2012, em 16 piquetes de meio ha cada. Foi realizada amostragem do solo com análise de suas características físico-quimícas. Não foi necessária correção e fertilização. A área foi dividida em quatro blocos e distribuídos os tratamentos, de forma aleatória: Controle (C) – sem aplicação de fósforo; Fosfato Natural Reativo (FNR – fonte de solubilização lenta = 103,5 kg ha-1); Super Fosfato Simples (SS - fonte prontamente disponível = 150 kg ha-1) e FH Pastagem® (FH – produto comercial com fonte mista de fósforo = 97 kg ha-1). Devido às peculiaridades dos tratamentos, a área vem sendo avaliada anualmente. A adubação foi distribuída a lanço (março/2012), após a qual foi semeado o capim-piatã, na quantidade de 10 kg de sementes ha-1. A área foi pastejada por animais da raça Nelore, mantidos em sistema de rotacionado. O pasto foi manejado pela altura de entrada (35 cm) e de saída dos animais (20 cm). Mediu-se semanalmente lâmina foliar e colmo de plantas marcadas (arames coloridos), e registradas sua morte, senescência e/ou corte. Com esses dados, foram calculadas as características morfogênicas (Lemaire & Chapman, 1996): Taxa de alongamento foliar; Taxa de alongamento do colmo; Taxa de aparecimento foliar; Filocrono; Taxa de senescência de lâminas foliares; e as características estruturais (Sbrissia & Da Silva, 2001): Duração de vida das folhas e Número de folhas vivas. Os dados foram comparados segundo um modelo em blocos casualizados e as médias comparadas com o tratamento controle pelo teste de Dunnett e entre si pelo teste t de student. O nível de significância de 5% foi adotado em todas as análises. O pacote estatístico utilizado foi “Statistical Analisys System” – SAS V 9.2 (SAS Institute Inc. Cary, CA).

Resultados e Discussão

Observou-se efeito significativo (P<0,05) de uso de fósforo na taxa de senescência das folhas (TSeF), que aumentou com o uso de adubação fosfatada (Tabela 1). O aumento da taxa de senescência foliar pode ser conferido às inúmeras atribuições do fósforo no interior das células das plantas, na qual sua ação foi incrementada por meio do uso de fósforo. A morte foliar é um processo natural, no qual existe uma programação da planta forrageira. Nessa fase, as folhas perdem clorofila, RNA e proteínas, ocasionando a mudança da coloração do tecido foliar para tons amarelados e posteriormente, marrons e enegrecidos (SALISBURY & ROSS, 1992). O fósforo atua nas funções do metabolismo da planta, nos processos energéticos, sendo item principal do ATP, essencial na conversão da energia luminosa em energia química durante a fotossíntese. Participa do processo de fosforilação, empregado na biossíntese de biomoléculas, importante para o crescimento vegetal e senescência (TAIZ e ZEIGER, 2004). O acréscimo na disponibilidade do fósforo aumenta a atividade e renovação celular e consequentemente o índice de iniciação (fluxo de tecidos) e senescência das folhas, por haver incremento na taxa fotossintética das folhas (MARTINS, 2010). As folhas apresentam longevidade limitada, a qual é determinada por características genéticas e sofrem influência do ambiente, tais como luminosidade e temperatura. Uma vez iniciado o processo de morte da folha, ela passa a perder massa de forma progressiva. No período de verão, o fluxo de tecidos é maior nas gramíneas, em decorrência de temperaturas médias mais altas, maior precipitação pluvial e maior disponibilidade de radiação luminosa (FAGUNDES et al., 2006). Isso pode interferir incrementando o processo de senescência das folhas e reduzindo, assim, seu tempo de vida (SBRISSIA, 2001).

Conclusões

A adubação fosfatada acelerou o processo de senescência do capim-piatã durante a estação do verão.


Referências

Alexandrino, E. ; Cândido, M. J. D.; Gomide, J.; Santos, A. C.; Fluxo de biomassa e taxa de acúmulo de forragem em capim Mombaça mantido sob diferentes alturas. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 12, p. 59-71, 2011. Fagundes, J. L.; Fonseca, D. M.; Morais, R. V. Avaliação das características estruturais do capim-braquiária em pastagens adubadas com nitrogênio nas quatro estações do ano. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.1, p.30-37, 2006. Lemaire, G.; Chapman, D.F. Tissue flows in grazed plant communities. In: HODGSON, J.; ILLIUS, A.W. (Eds.) The ecology and management of grazing systems.Wallingford, UK: CAB International, 1996. p.3-36. Maciel, G. A.; Costa, S. E. G. V. A; Furtini Neto, A. E.; Ferreira, M. M.; Evangelista, A. R. Efeito de diferentes fontes de fósforo na brachiaria brizantha cv. Marandu cultivada em dois tipos de solos. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 2, p. 227-233, abr./jun. 2007. Martins, L. E. C, Respostas fisiológicas, metabólicas, estruturais e produtivas do capim Marandú às disponibilidade de Fósforo e Zinco. ESALQ, 2010, 53p, Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas). ESALQ – Piracicaba, 2010. Novais, R. F.; Smith, T. J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1999. 399 p. Salisbury, F. B.; Ross, C.W. Plant physiology. 4 ed. Wadsworth Publish, 1992. 682 p. Sbrissia, A.F.; Silva, S.C. O ecossistema pastagem e a produção animal. In: Reunião anual da sociedade brasileira de zootecnia, 2001, Anais... SBZ, p.731-754, 2001. Rezende, A. V.; Lima, J. F.; Rabelo, C. H. S.; Rabelo, F .H. S.; Nogueira, D. A. Características morfofisiológicas da Brachiaria brizantha cv. Marandu em resposta à adubação fosfatada. Revista Agrarian, Dourados, v.4, n.14, p.335-343, 2011 Taiz, L.; Zeiger, E. Livro de Fisiologia Vegetal, 3ª ed. Porto Alegre - RS, Artmed, 2004.