Características da carcaça de cabritos alimentados com glicerina bruta no pré-abate

AYLLE MEDEIROS MATOS1, FREDSON VIEIRA E SILVA2, VALÉRIA DIAS MARTINS3, AMILTON MAIA FREITAS DE OLIVEIRA4, CAROLINA PILAR ALVES E DIAS5, EMMILLY JOYCE FERREIRA NUNES6, JEFFERSON CASTRO NOVAIS7, MARCOS VINÍCIUS SOARES NUNES8
1 - Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar as características da carcaça de cabritos alimentados com glicerina bruta no pré-abate. Vinte e oito cabritos foram distribuídos num delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2×2, sendo cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o confinamento e cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o pré-abate. A glicerina bruta fornecida no pré-abate mantém as características da carcaça de cabritos.

Palavras-chave: caprinos, estresse, glicerol, pré-abate, vísceras

Carcass characteristics of kids fed with crude glycerin in pre-slaughter

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the carcass characteristics of goats fed with crude glycerin in pre-slaughter. Twenty-eight goats were distributed in a completely randomized design in a 2x2 factorial design, being kids that received crude glycerin and did not receive it during confinement and goats that received crude glycerin and did not receive it during pre-slaughter. The crude glycerin provided in the pre-slaughter retains the characteristics of the goat carcass.
Keywords: Glycerol, goats, pre-slaughter, stress, viscera


Introdução

A utilização da glicerina bruta na dieta dos animais vem se mostrando uma alternativa viável do ponto de vista nutricional e econômico, principalmente quando é utilizada na alimentação de ruminantes. A glicerina bruta é composta principalmente por glicerol. O glicerol é considerado um produto rico em energia com alta eficiência de utilização. Durante o seu metabolismo, o glicerol é absorvido diretamente pelo epitélio ruminal, metabolizado no fígado e direcionado para a gliconeogênese pela ação da enzima glicerol quinase, que o converte em glicose. Parte do glicerol pode ser fermentada a propionato, no rúmen, que por sua vez é metabolizado a oxaloacetato, por meio do ciclo de Krebs, no fígado, e pode ser utilizado para formar glicose pela via gliconeogênica (KREHBIEL, 2008; DONKIN et al., 2009). O descanso pré-abate pode ter um efeito positivo potencial em animais que estão fatigados depois de transportes longos, uma vez que proporciona-lhes a oportunidade de re-hidratar. Vários autores têm apontado que o descanso pré-abate reduz as perdas de peso de carcaça, através da possível re-hidratação dos tecidos do corpo e permite aos animais repor as concentrações de glicogênio muscular, e recuperar dos efeitos de transporte (MOUNIER et al., 2006; WARRISS et al., 1984). Portanto, objetivou-se avaliar as características da carcaça de cabritosalimentados com glicerina bruta no pré-abate.

Revisão Bibliográfica

O interesse recente pelo biodiesel como recurso energético renovável levou à produção de grandes quantidades de glicerina bruta como subproduto. O biodiesel é produzido a partir de fontes renováveis, como os óleos vegetais e animais, através de reações de transesterificação; e como um dos subprodutos dessa reação há produção de glicerina bruta (DONKIN, 2008). A glicerina bruta tem surgido como uma alternativa viável do ponto de vista nutricional e econômico, na alimentação animal, pelo seu menor custo e disponibilidade no mercado. Devido à presença de glicerol, a glicerina bruta apresenta potencial de uso na alimentação animal como fonte energética (4.320 kcal de energia bruta por kg para o glicerol puro), uma vez que a molécula pode ser convertida em glicose (MELO et al., 2014). Segundo a Food and Drug Administration (FDA), não existem empecilhos para a utilização de glicerina na alimentação animal, tanto de ruminantes quanto de não ruminantes desde que o metanol não ultrapasse a quantidade de 150 mg/kg de glicerina. O período pré-abate é um momento estressante para os animais e tem implicações sobre seu bem-estar. O transporte de longa distância, acesso limitado aos alimentos, mistura de lotes, condições e tempo inadequados de estabulação no abatedouro, entre outros, são importantes fatores que contribuem para o estresse durante o pré-abate afetando o bem-estar animal (GRANDIN, 2000; WARRISS, 2003). O manejo inadequado durante esse período pode interferir na qualidade da carcaça e carne, devido ao estresse sofrido pelos animais (CHANDRA e DAS, 2001), podendo ocasionar em menores pesos ao abate, deterioração das carcaças devido aos hematomas, perdas no peso das carcaças e um pH mais elevado (GALLO, LIZONDO, e KNOWLES, 2003). O descanso pré-abateé uma prática que traz muitos benefícios podendo reduzir os efeitos negativos do estresse, otimizando a qualidade da carne  e faz com que a evisceração seja mais fácil, de modo que o risco de contaminação da carcaça por seu conteúdo gastrointestinal é reduzida (FORREST et al., 1979). No entanto, um tempo adequado para a recuperação, espaço suficiente para deitar e disponibilidade de água são alguns dos requisitos essenciais para o descanso pré-abate.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros na cidade de Janaúba/MG. Vinte e oito cabritos machos não castrados, sem raça definida,com peso vivo médio inicial de 14,63±3,8 kg foram distribuídos num delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2, sendo cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o confinamento e cabritos que receberam glicerina bruta e que não a receberam durante o pré-abate. Os animais foram confinados durante 54 dias, recebendo dieta de acordo com as recomendações do NRC (2007). A glicerina bruta (92 g/100g de glicerol) foi calculada em 10% da dieta total e fornecida uma vez ao dia, separadamente do volumoso e concentrado. Este alimento foi desconsiderado no momento do cálculo da ração e foi fornecido durante os últimos 14 dias de confinamento. Ao final do confinamento, os animais foram transportados ao abatedouro e, após o desembarque, ficaram em quatro baias coletivas, todas com água disponível e em duas delas foi fornecido 1,176kgde glicerina bruta. O procedimento de abate começou após 12h de descanso no abatedouro. Foi realizada insensibilização dos animais por eletronarcose, seguida pela sangria. Em torno de 45 minutos após a sangria, mediu-se o pH e a condutividade no músculo longissimus lumborum. As vísceras foram pesadas ainda cheias. Foram pesadas as carcaças quentes e frias, e determinados o rendimento de carcaça quente e fria e a área de olho de lombo (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e aplicou-se o teste SNK a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Todos os animais consumiram a glicerina bruta durante o confinamento e o pré-abate. Não houve interação do confinamento e pré-abate. Portanto, as variáveis independentes (confinamento e pré-abate) serão apresentadas isoladamente. Os animais que receberam glicerina bruta durante o pré-abate apresentaram vísceras mais pesadas que aqueles que não receberam. É importante destacar que durante o período de descanso os animais que receberam glicerina bruta beberam mais água, o que ajuda a explicar esse resultado. Apesar do maior peso das vísceras desses animais o fornecimento da glicerina bruta não interferiu no esvaziamento gastrointestinal necessário para uma evisceração eficiente. Os pesos e rendimentos das carcaças quentes e frias, não foram afetados pelo fornecimento da glicerina bruta. Estes resultados estão de acordo com estudos anteriores realizados por Parker et al., (2007) e Egea et al., (2015) que ao avaliarem o efeito do fornecimento da glicerina bruta 48 h e 24 h antes do abate de bovinos, respectivamente, não observaram efeito sobre as características da carcaça. A glicerina bruta não afetou o pH inicial da carcaça. Os valores de pH estão associados com as condições de manejo do pré abate, animais que não passam por estresse durante o pré-abate apresentam valores de pH inicial próximos a 7,0 (ROÇA, 2001). O valor médio observado neste estudo (6,8) para todos os tratamentosencontra-se dentro do preconizado como normal. O consumo ou não da glicerina bruta no pré-abate não influenciou a área de olho de lombo. Esta variável está ligada ao desenvolvimento e tamanho do tecido muscular (SALLES et al., 2013), sendo que valores altos representam melhores carcaças quanto a quantidade de músculo.

Conclusões

A glicerina bruta fornecida durante o pré-abate mantém as características da carcaça.

Gráficos e Tabelas




Referências

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