Características estruturais de gramíneas tropicais irrigadas no semiárido pernambucano
Jacqueline dos Santos Oliveira1, João Virgínio Emerenciano Neto2, Larissa Bezerra Soares Milhomens3, Breno Ramon de Souza Bonfim4, Gelson dos Santos Difante5
1 - Univasf
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5 - UFRN
RESUMO -
O objetivo deste trabalho foi avaliar a estrutura de pastos de cultivares de Panicum e Brachiaria irrigados. Os tratamentos (Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Marandu, Piatã, Xaraés, Decumbens e Mulato I) foram arranjados em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. O manejo foi adotado em intervalos entre cortes de 30 dias e turnos de rega de 6 dias. Avaliou-se altura da planta, comprimento e largura da folha, espessura do colmo, número de folhas vivas e índice de área foliar. A maior altura da planta, comprimento e largura de folha e espessura de colmo foi observado nas cvs. de Panicum maximum, exceto Massai. O número de folhas vivas não diferiu entre os tratamentos (em média 4,2 folhas). O índice de área foliar na cv. Zuri foi maior que nas demais. A estrutura de pasto diferiu entre as cultivares. As cultivares Mombaça, Tanzânia e Zuri apresentassem características estruturais próprias do gênero destas espécies.
Palavras-chave: altura da planta, área foliar, Brachiaria, irrigação, Panicum
Structural characteristics of tropical grasses irrigated in the semiarid of Pernambuco
ABSTRACT - The goal this work was evaluated the pasture structure of Panicum and Brachiaria cultivars irrigated. The treatments (Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Marandu, Piatã, Xaraés, Decumbens e Mulato I) were arranged in a completely randomized design, with three repetitions and management at intervals among cuts of 30 days and six-day watering shifts. Evaluated the plant height, length and width of the leaves, thick of stalks, number of leaves and leaf of area index. The higher height of the plant, length and width leaf and thick of stalks, was observed in Panicum maximum cultivars, excepted Massai. The number of live leaves didn’t differ among the treatments (average of 4,2 leaves). The leaf of area index in Zuri cultivars was higher that the others. The pasture structure didn’t differ among the cultivars. The cultivars Mombasa, Tanzania and Zuri presented structural characteristics typical of the genus of these species.
Keywords: Brachiaria, irrigation, leaf area, Panicum, plant height
Introdução
Diversas são as espécies de gramíneas tropicais que se apresentam como opções para a formação de pastagens no Brasil. As dos gêneros Brachiaria e Panicum são predominantes em áreas de pastagens cultivadas no país. O uso e interesse por essas cultivares, se deve à alta produtividade e pela capacidade de adaptação ao manejo e às condições climáticas, semelhantes às de seu centro de origem, a África (Karam et al, 2009).
A aplicação de água de forma artificial sobre a planta elimina ou minimiza os efeitos do estresse hídrico, aumentando a produtividade do pasto que consequentemente, aumenta a produção animal. Desta forma, a irrigação é uma alternativa para situações em que a produção seja limitada, principalmente, pela deficiência hídrica (Balsalobre et al., 2003).
Para a região Nordeste do Brasil, especialmente para o Semiárido, a irrigação dos pastos em áreas dependentes de chuva poderá transformar essa região em potencial para a exploração pecuária, e uma das principais produtoras de carne e leite do país, pois são extensas as áreas no Semiárido brasileiro com possibilidade de uso da irrigação ou de áreas de produção de plantas forrageiras destinadas à alimentação animal (Voltolini et al., 2011).
O principal objetivo deste trabalho foi avaliar as características estruturais de gramíneas tropicais dos gêneros Panicum e Brachiaria em condições irrigadas no semiárido pernambucano.
Revisão Bibliográfica
Nos países de clima tropical e subtropical, há grande potencial de produção de carne e de leite em pastagens. Existem várias gramíneas forrageiras, tais como as dos gêneros Panicum, Brachiaria e Cynodon, que, se bem manejadas, podem constituir o principal componente da dieta de ruminantes, com função importante na redução do custo de produção na pecuária (Corrêa & Santos, 2003).
O uso e o interesse por plantas pertencentes ao gênero Panicum, no entanto, têm crescido nos últimos anos, provavelmente em virtude de seu grande potencial de produção de matéria seca por unidade de área, ampla adaptabilidade, boa qualidade de forragem e facilidade de estabelecimento. As cultivares de Panicum maximum Jacq. disponíveis comercialmente são basicamente adaptadas a solos profundos, bem drenados e de boa fertilidade (Corrêa & Santos, 2003).
As gramíneas forrageiras do gênero Brachiaria alcançaram grande importância econômica no Brasil, nos últimos 30 anos, viabilizando a atividade pecuária nos solos fracos e ácidos dos Cerrados (Valle et al., 2009). Além de serem alternativa para regiões com características peculiares como a estacionalidade na distribuição de chuvas e ocorrência de longos períodos de estiagem, que restringe o crescimento de raízes, e exige das plantas alto grau de adaptação (Rodrigues, 2004).
A utilização da irrigação por Silva (2009) não alterou as características estruturais estudadas índice de área foliar e altura de planta nas gramíneas Tifton 85, Tanzânia e Marandu. Entretanto Lopes et al. (2005) evidenciaram queda na relação folha colmo associada com as altas taxas de crescimento observadas sob condições irrigadas. Estudos dessa natureza são amplamente discutidos nas demais regiões do Brasil, entretanto ainda são escassos para a região semiárida, mais especificamente em Petrolina – PE, assim, há necessidade de obtenção de resultados sobre as características e manejo destas plantas forrageiras nas condições de clima e solo da nossa região.
Materiais e Métodos
O trabalho foi conduzido no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, em Petrolina, PE. O clima da região é BShw’, semiárido, segundo a classificação de Köppen. O experimento foi conduzido de agosto a dezembro de 2016. Os tratamentos consistiram de quatro cultivares de Panicum maximum (Tanzânia, Mombaça, Massai e Zuri); três cultivares de Brachiaria brizantha (Marandu, Piatã e Xaraés); uma cultivar de Brachiaria decumbens cv. Basilisk e uma de Brachiaria híbrida Mulato I. A área experimental foi composta de 27 parcelas com 2,5 m² de área útil, três parcelas para cada tratamento. As pastagens foram manejadas com intervalos entre cortes de 30 dias e adubação nitrogenada de cobertura, na forma de ureia, onde a dose foi de 50 kg/ha de N, a cada 60 dias, logo após o corte da forragem. Durante o experimento foi utilizada irrigação do tipo microaspersão com turnos de rega de seis dias.
Foram mensurados, em cm, a altura da planta (AP), o comprimento da folha (CO), a largura da folha (LA) e espessura do colmo (ES). A altura da planta foi considerada a partir do nível do solo até altura média da curvatura das folhas em torno da régua graduada. O comprimento, largura da folha e espessura de colmo foram mensurados com paquímetro digital. O comprimento foi considerado a partir da lígula até a extremidade da folha, a largura foi mensurada na parte central da folha e a espessura de colmo na parte central da estrutura. O número de folhas vivas (NFV) por perfilho foi determinado por meio de contagem manual. O índice de área foliar (IAF) foi obtido pelo software para análise foliar AFSoft®, nas medições foram selecionadas amostras com cinco folhas, escaneadas e pesadas em balança analítica de precisão digital. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, com três repetições. Foi realizado análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott com 5% de significância pelo programa estatístico SISVAR.
Resultados e Discussão
Houve diferença significativa em relação às alturas das plantas (Tabela 1), onde a cv. Zuri apresentou maior altura, seguido das cvs. Mombaça e Tanzânia que diferiram de Massai. As alturas observadas no trabalho são decorrência normal do porte de cada gramínea. Recomenda-se respeitar as características próprias de cada espécie forrageira quanto à tolerância a desfolhação, utilizando a altura do pasto como ferramenta de manejo.
O comprimento e largura da folha (Tabela 1) foram mais elevados para as cultivares Mombaça, Tanzânia e Zuri, em relação ao Massai e as Brachiarias. Em perfilhos maiores, a maior distância percorrida pela folha, desde o ponto de conexão com o meristema até a extremidade do pseudocolmo, resulta no seu maior comprimento (Skinner & Nelson, 1995). A espessura do colmo não variou entre as cvs. Mombaça, Tanzânia e Zuri, entretanto, foi o dobro para a encontrada nas demais espécies forrageiras analisadas. Isto pode ser explicado pelo aumento na altura do dossel, que resulta em redução na relação folha/colmo, e para compensar o peso do órgão o diâmetro da estrutura de suporte, ou seja, o colmo é alterado na mesma proporção que é requerida a força (Radis, 2010).
Com relação ao número de folhas vivas (NFV) não houve diferença significativa entre as gramíneas estudadas (Tabela 1), sendo a média de 4,2 folhas por perfilho, semelhante aos valores encontrados por Cunha et al. (2007) ao estudar os efeitos da irrigação sobre as características morfogênicas de capim Tanzânia, onde o NFV variou de 3,9 a 5,3.
Para o índice de área foliar (IAF) o maior valor observado neste trabalho foi no capim Zuri (10,2). Essa diferença de IAF entre as espécies está relacionada às variáveis estruturais número de folhas vivas por perfilho, comprimento final das folhas e densidade populacional de perfilhos.
Conclusões
A utilização da irrigação permitiu condições abióticas necessárias para que as cultivares Mombaça, Tanzânia e Zuri apresentassem maiores alturas de planta, comprimento de folha, largura de folha e espessura de colmo, características do gênero destas espécies.
O índice de área foliar foi maior para o capim Zuri, garantindo altas taxas de fotossíntese e crescimento da gramínea.
Gráficos e Tabelas
Referências
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