Características produtivas de gramíneas tropicais irrigadas no semiárido pernambucano

Jacqueline dos Santos Oliveira1, João Virgínio Emerenciano Neto2, Larissa Bezerra Soares Milhomens3, Breno Ramon de Souza Bonfim4, Gelson dos Santos Difante5
1 - Univasf
2 - Univasf
3 - Univasf
4 - Univasf
5 - UFRN

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da irrigação na produção de pastos de Panicum e Brachiaria. Os tratamentos consistiram de nove gramíneas (Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Marandu, Piatã, Xaraés, Decumbens e Mulato I) em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições, e intervalos entre cortes de 30 dias e turnos de rega de 6 dias. Houve diferença entre as gramíneas quanto ao teor de matéria seca. A cv. Zuri se destacou pela maior produção de matéria seca, massa de folha e porcentagem de folhas estimada em 71,4 %. As cultivares de Panicum, exceto Massai apresentaram a maior porcentagem de folha e menor de colmo, maior relação folha/colmo, quando comparadas com as Brachiarias. A densidade volumétrica diferiu entre os tratamentos. A cv. Zuri foi superior às demais em todas as variáveis avaliadas. O capim Zuri tem maior produtividade de matéria seca de forragem e de folhas, caracterizando está forrageira como boa opção quantitativa e qualitativa para a produção animal.

Palavras-chave: Brachiaria, densidade volumétrica, nordeste, Panicum

Productive characteristics of tropical grasses irrigated in the semiarid of Pernambuco

ABSTRACT - The goal was to evaluate the irrigation effect in the pasture structure of Panicum and Brachiaria. The treatments consisted of nine grasses (Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Marandu, Piatã, Xaraés, Decumbens e Mulato I), in a completely randomized design, with three repetitions and management at intervals among cuts of 30 days and six-day watering shifts. There was difference among the grasses about the content of dry matter. The cv. Zuri stood out by higher production of dry matter, leaf mass and estimated percentage of leaf in 74%. The Panicum cultivars, excepted Massai presented greater percentage of leaf and lower of stalks, greater relation leaf/stalk, when compared with Brachiarias. The volumetric density differed among the treatments. The Zuri cultivars was higher than the others in all variables evaluated. Zuri grass has higher productivity of dry matter of forage and leaves, characterizing forage as a good quantitative and qualitative option for animal production.
Keywords: Brachiaria, northeastern, Panicum, volumetric density


Introdução

A caatinga é a base da alimentação dos ruminantes no sistema de produção da região nordeste do Brasil, caracterizada pela grande influência do clima sobre a produção o que pode resultar em baixa produtividade animal, falta de padronização e sazonalidade na oferta de forragem (Holanda Júnior e Araújo, 2004). Neste sentido a utilização de pastagens cultivadas e irrigadas pode ser uma boa alternativa para minimizar os efeitos do clima da região sobre os sistemas produtivos. As regiões às margens do rio São Francisco e em algumas áreas de perímetro irrigado, apresentam a possibilidade do uso da irrigação e excelente potencial para o manejo intensivo de gramíneas cultivadas de alta produção (Cândido et al, 2005). Devido às características de solos e de clima (altas temperaturas anuais, intensa insolação, etc.) adequadas ao cultivo, além da disponibilidade de água em quantidade e qualidade proveniente do rio São Francisco, é possível obter altas taxas de crescimento do pasto. O objetivo do estudo foi avaliar a produção de forragem em nove gramíneas tropicais, dos gêneros Panicum e Brachiaria, sob condições irrigação.

Revisão Bibliográfica

A irrigação é uma técnica que tem a capacidade de substituir a precipitação pluviométrica e até mesmo superá-la em alguns casos. Atualmente trabalhos buscam através da altura de entrada e saída ao pastejo das forrageiras, produção por área, composição bromatológica, necessidade hídrica diária, adubação, determinar a eficiência de produção e utilização das plantas forrageiras tropicais em sistemas irrigados (Veloso, 2012). Dentre as plantas forrageiras podem ser destacadas as dos gêneros Pennisetum, Panicum, Brachiaria e Cynodon para uso em áreas irrigadas (Voltolini et al., 2011). Rassini (2004) avaliou as respostas produtivas de seis espécies forrageiras na região de São Carlos – SP, e verificou que a irrigação propiciou um acúmulo de forragem, no período seco, de aproximadamente 50% do acúmulo do período das águas. Entretanto houve acréscimo na produção anual de forragem de 30% a 40% com o uso da irrigação, com destaque para os capins elefante e tanzânia. Por sua vez, Silva (2009) não observou diferença na produção de matéria seca entre irrigado e não irrigado das três gramíneas avaliadas, considerando que o trabalho foi conduzido período das águas em Itapetinga-BA. De modo geral, as gramíneas forrageiras tropicais apresentam respostas diferenciadas em produção e valor nutritivo em relação à quantidade de água recebida, sendo que essas respostas provavelmente estão associadas à espécie forrageira, à adubação, ao local, ao tipo de solo e à estação do ano (Voltolini et al., 2011). No nordeste e particularmente no semiárido brasileiro estudos sobre o manejo de plantas forrageiras tropicais submetidas à irrigação ainda são escassos, havendo dessa forma a carência de resultados sobre a produção de pastagens nessas regiões onde a temperatura e luminosidade são mais elevadas, além da irrigação de pastagem, podem possibilitar ótimas respostas na produção de forragem e nas taxas de lotação das pastagens, aproveitando dessa forma o potencial produtivo dessas regiões.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, em Petrolina, PE. O clima da região é BShw’, semiárido, segundo Köppen. O experimento foi conduzido de agosto a dezembro de 2016. Os tratamentos avaliados foram quatro cultivares de Panicum maximum (Tanzânia, Mombaça, Massai e Zuri); três cultivares de Brachiaria brizantha (Marandu, Piatã e Xaraés); uma cultivar de Brachiaria decumbens cv. Basilisk e uma de Brachiaria híbrida Mulato I. A área experimental foi composta de 27 parcelas com 2,5 m² de área útil, três parcelas para cada tratamento. O manejo utilizado foi de intervalos entre cortes de 30 dias e adubação nitrogenada, onde foram aplicados 50 kg/ha de N, a cada 60 dias, após o corte da forragem. Foi utilizada irrigação do tipo microaspersão com turnos de rega de seis dias. O teor de matéria seca (%) foi obtido a partir da secagem de sub amostras em estufa de circulação forçada de ar por 72 horas a 55°C. A produção de matéria seca (kg/ha de MS) foi calculada pela multiplicação entre o corte de toda forragem contida na área útil da parcela a 20 cm do nível do solo, e o respectivo teor de matéria seca. A porcentagem de folhas e de colmos (%) foi obtida a partir da separação manual dos componentes morfológicos (lâminas foliares e colmos) da amostra, e em seguida a determinação do teor de matéria seca (%). A relação folha/colmo foi obtida através da divisão entre peso seco de folhas e de colmo. A massa de folhas e de colmos (kg/ha de MS) foi calculada pela multiplicação entre a produção de matéria seca e as porcentagens de cada componente. A densidade volumétrica (kg/ha/cm) foi calculada dividindo-se a massa de forragem pela altura do pasto, aos 30 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com três repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott com 5% de significância, com o programa estatístico SISVAR.

Resultados e Discussão

No teor de matéria seca houve diferença significativa entre as cultivares, onde o maior valor foi observado na cv. Massai (Tabela 1). Isso pode ser explicado pelo efeito do florescimento ocorrido aos 30 dias de idade ao corte, quando ocorre a substituição do conteúdo celular pela parede vegetal (Van Soest, 1994). O recomendado seria encurtar o período de rebrotação para essa cultivar, para obter forragem de melhor qualidade. A produção de matéria seca foi maior no capim Zuri (5380,7 kg/ha de MS), seguido das cultivares de Panicum maximum cv. (Massai, Mombaça e Tanzânia) e de Brachiaria brizantha cv. (Marandu, Piatã e Xaraés). Esses resultados não corroboram com o estudo realizado por Alencar et al. (2010), que encontrou valores médios de matéria seca de 6.476 kg/ha para o capim-mombaça, 6.222 kg/ha para o capim-tanzânia e 6.247 kg/ha para o capim-marandu. Isso pode estar relacionada à adubação nitrogenada usada pelos autores ser de duas vezes maior que a deste experimento. A porcentagem de folhas e relação folha/colmo (Tabela 1) foi semelhante entre as cultivares de Panicum maximum, exceto Massai e superiores as Brachiarias. Enquanto a porcentagem de colmos foi inversa, onde as cvs. de Panicum maximum, exceto Massai obtiveram menor porcentagem de colmo. Portanto, estas provavelmente apresentam maior valor nutritivo, propiciando uma melhor digestibilidade e aumento da ingestão de matéria seca. Com relação à quantidade de massa de folha e de colmo (kg/ha de MS) houve diferença entre os tratamentos, o capim Zuri apresentou maiores médias. Em condições ambientais favoráveis e abundância de recursos (irrigação, adubação, etc.) a planta investiu em área foliar. Esses fatores juntamente com a ecofisiologia da espécie pode explicar a elevada produção de massa foliar. A quantidade de colmo (Tabela 1) em relação à de folha nos capins Xaraés e Massai, sugere-se que o ciclo de produção da gramínea foi manejado a alturas maiores que as recomendadas, já que a irrigação pode ter acelerado a maturidade das plantas (Ribeiro et al. 2009). Para a densidade volumétrica os capins Marandu e Piatã obtiveram as maiores médias, 121,9 e 104,3 (kg/ha/cm de MS) em relação aos demais tratamentos. A densidade volumétrica sofre influência do número de folhas, tamanho de folhas e número de perfilhos, e combinada com a relação lâmina/colmo está associada com o consumo de forragem.

Conclusões

O capim Zuri tem maior produtividade de matéria seca de forragem e de folhas, podendo ser indicado para a categoria animal de maior exigência, sem prejuízos na quantidade. Mais estudos com essa cultivar serão necessários para inferir qual o melhor manejo para manter essas características e assegurar a qualidade desta forrageira.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALENCAR, C. A. B.; OLIVEIRA, R. A.; CÓSER, A. C.; et al. Produção de seis capins manejados por pastejo sob efeito de diferentes doses nitrogenadas e estações anuais. Rev. Bras. Saúde Prod. An., v.11, n.1, p 48-58 jan/mar, 2010. CÂNDIDO, M. J. D.; ARAÚJO, G. G. L. de; CALVACANTE, M. A. B. Pastagens no ecossistema semi-árido brasileiro: atualização e perspectiva futuras. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42., 2005, Goiânia, GO. Anais... Goiânia: SBZ; Universidade Federal de Goiânia, 2005. p. 85-94. HOLANDA JÚNIOR, E. V.; ARAÚJO, G. G. L. O papel dos caprinos e dos ovinos deslanados na agricultura familiar. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande. Anais... Campo Grande: SBZ, 2004. p. 43-54. RASSINI, J. B. Período de estacionalidade de produção de pastagens irrigadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 39, n. 8, p. 821-825, 2004. RIBEIRO, E. G. et al. Influencia da irrigação, na épocas seca e chuvosa, na produção e composição química dos capins napier e mombaça em sistema de lotação intermitente. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 8, p. 1432 – 1442, 2005. SILVA, M. W. R. Características estruturais, produtivas e bromatológicas das gramíneas Tifton 85, Marandu e Tanzânia submetidas à irrigação. 2009. 54 p. Dissertação (Zootecnia) — Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, BA. SOEST, P. J. V. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. New York: Ithaca, 1994. 476p. VELOSO, A. L. C. Pastagem irrigada de Panicum maximum jacq cv Tanzânia adubada com fósforo e nitrogênio sobre a produção, valor nutritivo e atributos do solo no norte de Minas Gerais. 2012. 90 p. Tese (Zootecnia) — Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. VOLTOLINI, T. V. et al. Pasto e manejo do pastejo em áreas irrigadas. In: EMBRAPA (Ed.). Produção de ovinos e caprinos no Semiárido. 2011. p. 265 – 298.





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