Caracterização agronômica de pastos de Brachiaria brizantha sob pastejo por ovinos na época seca
Jacqueline dos Santos Oliveira1, Alex Álvares da Silva2, Gelson dos Santos Difante3, João Virgínio Emerenciano Neto4, Leonardo Santana Fernandes5, Antônio Leandro Chaves Gurgel6, Emmanuel Lievio de Lima Véras7, Ana Beatriz Graciano da Costa8
1 - UNIVASF
2 - UFRN
3 - UFRN
4 - UNIVASF
5 - UFMA
6 - UFRN
7 - UFRN
8 - UFRN
RESUMO -
Objetivou-se avaliar as características produtivas e estruturais de cultivares de Brachiaria brizantha pastejada por fêmeas ovinas suplementadas na durante estação seca. Utilizou-se delineamento experimental em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e três repetições. Os tratamentos foram as cultivares Marandu, Piatã, Xaraés e Paiaguás, avaliadas em função do tempo. Foram avaliados a altura do dossel, a massa de forragem e as relações lâmina foliar/colmo (LF/C) e lâmina foliar/material morto. Não foram observadas diferenças entre as cultivares avaliadas para todas as variáveis de estrutura do pasto. As massas de lâmina foliar e colmo, a relação LF/C e as porcentagens de lâmina foliar e colmo diminuíram do início para o final do período experimental. A porcentagem de material morto aumentou 55% do mês de Outubro ao mês de Dezembro. As cultivares de Brachiaria brizantha avaliadas são boas opções forrageira para a época de seca, por proporcionar massa de forragem satisfatória.
Palavras-chave: Marandu, massa de forragem, Paiaguás, Piatã, Xaraés
Agronomic characterization of Brachiaria brizantha pastures under grazing by sheep in dry season
ABSTRACT - The objective was to evaluate the productive and structural characteristics of Brachiaria brizantha cultivars grazed by ovine females supplemented during the dry season. A randomized complete block design with four treatments and three replicates was used. The treatments were the cultivars Marandu, Piatã, Xaraés and Paiaguás, evaluated as a function of time. The height of the canopy, forage mass and leaf blade ratio/stem (LB/S) and leaf blade/dead material were evaluated. No differences were observed among the cultivars evaluated for all pasture structure variables. The leaf and stem masses, the LB/ S ratio and leaf blade and stem percentages decreased from the beginning to the end of the experimental period. The percentage of dead material increased by 55% from October to December. The cultivars of Brachiaria brizantha evaluated are good forage options for the dry season, because they provide satisfactory forage mass.
Keywords: forage mass, Marandu, Paiaguás, Piatã, Xaraés
Introdução
As pastagens são as principais fontes de alimentos para os ruminantes no Brasil, correspondendo a um dos maiores e mais importantes ecossistemas do País (Pompeu et al., 2008). São caracterizadas por níveis variados de complexidade, desde pastagens nativas de baixa produtividade a pastagens cultivadas com elevado potencial de produção forrageira.
Na região Nordeste do Brasil a pastagem nativa praticamente sem nenhum manejo é a principal fonte de volumoso, e nesse cenário a ovinocultura destaca-se como atividade pecuária com boa possibilidade de expansão (Emerenciano Neto et al., 2011), com a implantação de pastagens melhoradas e elevação dos índices produtivos.
Apesar das espécies do gênero
Brachiaria terem elevada participação nas pastagens cultivadas no Brasil, a definição de estratégias para o seu uso se faz necessária haja vista as diferentes condições edafoclimáticas e diferentes manejos e intensidades de utilização no território nacional. Portela et al., (2011) destaca a importância da realização de novas pesquisas envolvendo gênero
Brachiaria, suas espécies e cultivares. Ainda segundo os autores, a quantidade de informações sobre o manejo da espécie sob os diferentes sistemas de produção e diferentes regiões são incipientes, se fazendo necessário o desenvolvimento de mais pesquisas nesta área.
Desta maneira, objetivou-se avaliar as características produtivas e estruturais de cultivares de
Brachiaria brizantha pastejada por fêmeas ovinas suplementadas na estação seca.
Revisão Bibliográfica
No Brasil, um país continental, com grande diversidade de biomas, a exploração pecuária baseia-se na utilização de pastagens, majoritariamente cultivadas e segundo Silva et al., (2016), predominantemente formadas pelo gênero
Brachiaria e
Panicum. Neste cenário a planta forrageira é determinante à lucratividade do produtor rural e a sustentabilidade tanto do sistema produtivo como do ambiente ao qual está inserida.
O mercado apresenta vasta variedade de espécies e cultivares forrageiras adaptadas as mais variadas condições edafoclimáticas e sistemas de pastejo. Esta diversidade aumenta a responsabilidade do pecuarista quanto a escolha, sabendo que as características do pasto são de grande utilidade, contribuindo assim para formar estratégias favoráveis para a exploração adequada do potencial forrageiro (Gomide et al., 2009).
A adaptação da forrageira as condições de clima, assim como suas respostas, são fundamentais para o sucesso na produção de forragem durante o ano e também a médio longo prazo. Essas informações, somadas ao conhecimento da condição climática, permitem a adequada escolha da espécie e melhor planejamento para o manejo (Valle et al., 2011), contribuindo para o crescimento da atividade.
O aumento das áreas de pastagem, sobretudo no norte e nordeste do país apresenta-se como desafio, em decorrência principalmente de suas condições climáticas. Segundo Dias Filho (2014), o crescimento das áreas de pastagens foi tímido desde meados da década de 1970 no País como um todo, destacando que ocorreu uma inversão entre o tamanho das áreas de pastos cultivados e pastos naturais. Ainda segundo o mesmo autor, entre 1975 e 2006 as regiões sul, sudeste e centro-oeste apresentaram diminuição da área de pasto. De acordo com Censo Agropecuário Brasileiro de 2006 (IBGE, 2007) a área total de pastagens (naturais e plantadas) no Brasil é de 172,3 milhões de hectares e segundo Fonseca et al. (2006), o gênero
Brachiaria ocupa aproximadamente de 85% desta.
Apesar da extensa área formada por pastagens no Brasil, cerca de 80% das pastagens na região dos cerrados do Brasil Central, encontram-se em algum estágio de degradação (Barcellos, 1996). Com isso, fica evidenciado que há necessidade de se estabelecer estratégias de manejo de pastagens específico para cada sistema de produção.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido na área do Grupo de Estudos em Forragicultura (GEFOR) localizado no Campus de Macaíba da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Macaíba RN (5° 53’ 34’’S 35° 21’ 50’’W).
A área possui 2,88 ha dividida em dois blocos, sendo cada bloco constituído de quatro módulos, e estes em seis piquetes com área de 0,06 ha cada, sendo cinco manejados sob lotação contínua e um era vedado ao pastejo. Utilizou-se delineamento experimental em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e três repetições. Os tratamentos foram quatro cultivares de
Brachiaria brizantha: Marandu, Piatã, Xaraés e Paiaguás.
Como agentes desfolhadores, foram utilizadas 32 fêmeas ovinas, com genótipo ½ Santa Inês, com aproximadamente 7 meses de idade e peso vivo (PV) inicial de 22,7 kg, suplementadas com concentrado (0,8% do PV). O método de pastejo adotado foi lotação contínua com lotação fixa.
A altura do pasto foi medida a cada 28 dias utilizando-se uma régua graduada em centímetros, em 40 pontos por piquete. A altura do dossel em cada ponto correspondeu à altura média da curvatura das folhas superiores em torno da régua.
A massa de forragem (MF) foi estimada a cada 28 dias por meio de corte rente ao solo da forragem contida no interior de uma moldura de 0,5 m² de área em seis pontos de três piquetes de cada módulo. Aproximadamente 50% da massa verde colhida de cada amostra foi acondicionada em sacos de papel e secas em estufa de ventilação forçada de ar a 55 ºC por 72 horas, quando foram novamente pesadas, para determinação do peso seco. Os outros 50% da amostra foram agrupadas em duas amostras compostas para avaliação dos constituintes morfológicos, que foram obtidos manualmente pela separação em lâmina foliar, colmo (colmo + bainha) e material morto, para a determinação das massas e porcentagem de cada um na estrutura do pasto. Foram calculadas as relações folha:colmo (F/C) e folha:material morto (F/MM) a partir da proporção de cada constituinte morfológico.
Resultados e Discussão
Não foram observadas diferenças entre as cultivares avaliadas para todas as variáveis de estrutura do pasto na vedação do piquete (P>0,05) (Tabela 1).
Silva et al. (2016) em estudo avaliando pastos de
Panicum e
Brachiaria na época seca encontrou valores próximos aos apresentados neste trabalho para a MF das cultivares
Marandu e Piatã (2047 e 2790 kg.ha
-1, respectivamente). Porém, ainda no mesmo estudo, os autores repostaram menores alturas para essas duas cultivares (32,4 e 28,5 cm, respectivamente), no entanto essa diferença pode ser explicada pela pressão de pastejo e taxa de lotação. Euclides et al. (2016) avaliando a desempenho animal sob pastejo nas cultivares Paiaguás e Piatã encontraram valores próximos ao deste estudo para a massa de forragem.
Comparando-se os três meses de avaliação, observou-se que as massas de lâmina foliar e colmo, a relação F/C e as porcentagens de LF e COL diminuíram do início para o final do período experimental (Tabela 2). A porcentagem de MM aumentou 55% do mês de Outubro ao mês de Dezembro (Tabela 2).
No mês de dezembro as gramíneas apresentaram a menor MF, abaixo dos 2000 kg.ha
-1 recomendados por Minson (1990), que deve ser limite mínimo disponível de forragem aos animais, pois ofertas menores que essa restringiria o consumo dos animais. Já Euclides (2000) afirma que se o acúmulo de material morto for excessivo, o consumo animal não se correlaciona com MF e sim com MLF e relação F/MM.
Conclusões
As cultivares de
Brachiaria brizantha avaliadas neste experimento se mostraram como opções forrageiras para a época de seca para ovinos suplementados com concentrado, uma vez que proporcionaram valores satisfatórios de massa de forragem total, bem como de seus constituintes.
Gráficos e Tabelas
Referências
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