Caracterização da Degradabilidade Ruminal dos resíduos de Tucumã (Astrocaryum vulgares Mart)

Rosimery Menezes Frisso1, Diego Souza Pantoja2, Erika Cristina Dias de Oliveira Brelaz3, Elias Paulo Ednei Simas Reis4, Ronaldo Francisco de Lima5, Ícaro dos Santos Cabral6
1 - Universidade Federal do Amazonas
2 - Universidade Federal do Amazonas
3 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
4 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
5 - Universidade Federal do Amazonas
6 - Universidade Federal do Amazonas

RESUMO -

Em virtude da onerosidade de produtos fornecidos na alimentação animal devido ao fato de o Amazonas não ser produtor de milho e farelo de soja, sendo dependente da importação de outros estados, torna-se importante a busca de alimentos alternativos e regionais na tentativa de redução dos custos de produção animal. Objetivou-se com esse trabalho analisar a degradabilidade ruminal da matéria seca de resíduos do tucumã. A taxa da velocidade de passagem de 0,02% por hora, da casca do tucumã, casca do caroço e amêndoa obtiveram 51,39%, 24,18 e 53,96 de degradabilidade efetiva, respectivamente. Entretanto a taxa de velocidade de passagem de 0,04% e 0,06% por hora, as taxas de degradabilidade diminuíram. Conclui-se que a casca do caroço possui degradabilidade baixa por apresentar 74.03 % de proteína insolúvel na sua estrutura.

Palavras-chave: degradabilidade, rúmen, taxa de passagem, tucumã

Characterization of the Ruminal Degradability of Tucumã waste (Astrocaryum vulgares Mart)

ABSTRACT - Due to the onerosity of products supplied in animal feed due to the fact that Amazonas is not a producer of corn and soybean meal, being dependent on imports from other states, it is important to search for alternative and regional foods in an attempt to reduce Animal production costs The objective of this work was to analyze ruminal degradability of the dry matter of tucumã residues. The rate of passage of 0.02% per hour, of the tucumã bark, the bark of the core and the almond obtained 51.39%, 24.18 and 53.96 of effective degradability, respectively. The rate of passage of 0.02% per hour, of the tucumã bark, the bark of the core and the almond obtained 51.39%, 24.18 and 53.96 of effective degradability, respectively. However, the rate of passage of 0.04% and 0.06% per hour, degradability rates decreased. It is concluded that the bark of the core has low degradability because it presents 74.03% of insoluble protein in its structure
Keywords: Degradability, passage rate, rumen, tucumã


Introdução

A Astrocaryum aculeatum, conhecida vulgarmente como tucumã ou tucumanzeiro, é uma palmeira originária do Amazonas – Brasil. Apresenta uso variado e tem relevante importância socioeconômica para os povos amazônidas, em especial na alimentação pelo emprego de seus frutos. O fruto é composto de epicarpo, conhecido popularmente como casca externa, mesocarpo, conhecida como polpa, endocarpo, conhecido casca dura que protege o endosperma ou amêndoa (LEITÃO, 2008). O mesocarpo ou polpa é muito apreciado na culinária da Região Norte do país, principalmente estado do Amazonas. A polpa é consumida in natura ou na forma de sanduíches sendo considerado uma fonte alimentícia que disponibiliza vitaminas A e E em sua composição (PRADO, 2004). Em virtude da onerosidade de produtos fornecidos na alimentação animal devido ao fato de o Amazonas não ser produtor de milho e farelo de soja, sendo dependente da importação de outros estados, torna-se importante a busca de alimentos alternativos e regionais na tentativa de redução dos custos de produção animal. Objetivou-se com esse trabalho caracterizar a composição bromatológica e avaliar a degradabilidade ruminal da matéria seca de resíduos do tucumã.

Revisão Bibliográfica

A produção de resíduos e subprodutos agroindustriais vem aumentando em grande escala, alguns deles poderia ser utilizada na alimentação de ruminantes, como fonte alternativa de nutrientes, visando a redução de custos de produção, devido aos elevados custos dos alimentos convencionais. Essa alternativa tende a viabilizar o sistema de produção, além de reduzir os problemas causados pela deposição dos resíduos no meio ambiente. O conhecimento da composição química e dos valores de digestibilidade dos alimentos permitem formulações de rações que serão mais ajustadas às exigências em nutrientes e energia dos animais, maximizando, assim, o desempenho dos animais e reduzindo os custos, contudo foram feitas as análises de degradabilidade do tucumã. A degradabilidade das frações fibrosas dos alimentos cresce à medida que a participação de alimentos volumosos na dieta dos animais aumenta (SOUZA et al., 2000). Entre as técnicas empregadas para avaliar a degradação ruminal, a in situ tem sido a mais utilizada para a estimativa da degradação ruminal dos alimentos (NOCEK, 1988; VALADARES FILHO et al., 1991). Esta técnica consiste em determinar o desaparecimento de componentes da amostra de alimentos acondicionados em sacos de náilon, ou outro material sintético, e incubados no rúmen por períodos variáveis. Embora o estudo in situ não permita que o alimento sofra todos os eventos digestivos, como mastigação e ruminação. Em estudos de Teixeira (1997) destacou que o extenso uso desta técnica está relacionado à sua rápida e fácil execução, pois requer pequena quantidade de amostra do alimento teste e possibilita sua exposição ao contato com o ambiente ruminal. A estimativa da degradação ruminal dos alimentos tem sido fundamental para avaliar a quantidade de nutrientes disponíveis para os microrganismos do rúmen e sua qualidade (BARBOSA et al., 1998; MOREIRA et al., 2003). A degradabilidade in situ baseia - se na colocação de pequena quantidade de um determinado alimento em bolsa porosa não degradável e sua subsequente inserção incubação no conteúdo ruminal de animais canulados no rúmen (MOLINA et al., 2003).

Materiais e Métodos

O resíduo do tucumã foi recolhido em feiras municipais da cidade. Nessas feiras, após a retirada da polpa do tucumã pelos feirantes para serem comercializadas para a população, a casca (epicarpo) e o caroço (endocarpo e amêndoa), não consumido pelas pessoas, foram coletados. As coletas ocorrem em três dias diferentes e em feiras distintas e de formas aleatórias. Os resíduos do tucumã foram separados em casaca, endocarpo e amêndoa, pesados e colocados para secagem em estufa de ventilação forçada a temperatura de 55°C durante 72 horas. Após a secagem o material foi processado em moinho de facas (Macro Moinho Tipo Willye Modelo SL32, Marca SOLAB) dotado de peneira com crivos de 1 mm de diâmetro. Posteriormente as amostras foram utilizadas para serem analisados os teores de matéria seca (MS) a 105º C, proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE) e carboidratos não fibrosos (CNF) segundo metodologia descrita por (DETMANN; SOUZA; VALADARES FILHO, 2012). Para obtenção da degradabilidade ruminal da matéria seca, as amostras foram moídas em moinho de facas dotadas de peneira com crivo de 1 mm.  Uma grama de cada amostra, em duplicata, foi colocada em saquinhos de TNT (tecido não tecido) 5x5 e selados posteriormente. Os saquinhos foram introduzidos diretamente no rúmen de um animal com cânula ruminal nos tempos decrescentes de 72, 24, 12, 6, 3 e 0 horas. Após o período de incubação, os saquinhos foram retirados do rúmen e colocados em um balde com água gelada para que a fermentação dos microrganismos fosse interrompida. Os mesmos foram lavados com água corrente e secos em estufa de ventilação forçada a 55°C por 24 horas e à 105°C por duas horas afim de se determinar a degradabilidade ruminal da matéria seca variáveis em estudo. A fração efetivamente degradada da MS foi calculada pelo modelo: DEF = A + B × Kd/(Kd+kp), em que kp é a taxa de passagem do alimento pelo rúmen que foi feito uma simulação de 2, 4 e 6% de passagem por hora.

Resultados e Discussão

A composição bromatológica da casca, endocarpo e amêndoa do tucumã está apresentado na Tabela 1. A casca do tucumã e a amêndoa são ricos em óleo, sendo que o EE foi superior ao encontrado na literatura para grão de soja (17,51% EE na MS), uma semente oleaginosa muito utilizada na alimentação de ruminantes (MARCONDES et al., 2009. Tabela 1: Composição bromatológica dos resíduos do tucumã.
Casca do Tucumã Endocarpo Amêndoa
% matéria natural
Matéria Seca 48.7 85.1 64.3
% matéria seca
Proteína Bruta 11.19 7.6 5.9
Fibra em Detergente Neutro 51.3 70.3 44.8
Extrato Etéreo 24.5 6.2 36.4
Cinzas 4.5 2.6 1.5
CNF1 8.5 13.3 11.4
1 Carboidrato não fibroso (CNF) = 100 - (Proteína bruta + Fibra em detergente neutro + Extrato etéreo + Cinzas) A degradabilidade dos subprodutos do tucumã está apresentada na Tabela 2. A casca do tucumã apresentou A e B semelhante ao farelo de algodão 46% de PB (A=45,13%) e casca de café (B=25,95%), respectivamente, encontrado por Marcondes et al. (2009), já o endocarpo apresentou baixa fração A e semelhante ao farelo de babaçu (A=23,57%) encontrado pelo mesmo autor, além de baixíssima fração B, podendo ser explicado devido ao seu alto teor de FDN (70,3%). A amêndoa apresentou fração A semelhante a de farelo de soja (A=47,13%) e fração B semelhante a do farelo de amendoim (B=36,4%) pesquisados por Marcondes et al. (2009). O grande percentual de fração não degradável no rúmen do endocarpo, caracteriza um produto de baixa aplicabilidade na alimentação de ruminantes. A taxa de degradação da fração potencialmente degradável no rúmen (kd), está relacionado com a velocidade de degradação de um nutriente no rúmen. A casca de tucumã apresentou maior Kd da MS em ralação ao endocarpo e amêndoa. A amêndoa e o endocarpo apresentaram kd irrisório. Marcondes et al. (2009) avaliando o perfil de degradação da matéria seca de vários alimentos energéticos observaram que o kd do milho e polpa cítrica, dois principais produtos energéticos utilizados na alimentação de ruminantes, foram de 8,0 e 8,4%/h respectivamente.   Tabela 2: Frações da degradação da matéria seca (MS), taxa fracional de degradação da MS (kd), degradabilidade efetiva com taxa de passagem de 2 % por hora (DEF0.2), 4% por hora (DEF0.04) e 6% por hora (DEF0.06)
Casca do Tucumã Endocarpo Amêndoa
Fração A, % MS 36.40 24.14 45.38
Fração B, % MS 22.32 1.83 20.20
Fração C, % MS 41.28 74.03 34.43
Kd, %/h -4.09 -0.05 -1.48
DEF 0.02, % MS 51.39 24.18 53.96
DEF 0.04, % MS 47.68 24.16 50.83
DEF 0.06, % MS 45.44 24.15 49.37
A degradabilidade efetiva (DEF) considerando taxa de passagem ruminal (kp) de 2%, 4% e 6% foi numericamente maior para a amêndoa seguida da casca e endocarpo do tucumã (Tabela 2). Silva et al. (2004) avaliaram o perfil de degradação ruminal da soja grão em um kp de 2%/h, 5%/h e 8%/h e  obtiveram DEF de 76,51%, 64,80% e 57,64%, respectivamente. A DEF efetiva do endocarpo foi baixa e não sofreu grandes alterações quando foi alterado a taxa de passagem ruminal de 2% para 6%/h.

Conclusões

Conclui-se que os resíduos de tucumã possuem degradabilidade efetiva da matéria seca muito baixo, sendo de baixa aplicabilidade na alimentação de ruminantes de alta produção como fonte de energia. Além disse o alto teor de EE da amêndoa pode ser um limitante para seu uso para ruminantes.


Referências

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