CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES LEITEIRAS LOCALIZADAS NO MUNICÍPIO DE AREIA-PB

Ronaldo Gomes da Silva Junior1, Mayra Freire Soares2, Vitória Daniele da Silva3, Carla Aparecida Soares Saraiva4
1 - Graduando em Zootecnia, CCA/UFPB, e-mail: ronaldo.gomes.silva.leite@gmail.com
2 - Zootecnista, e-mail: mayrazootecnista@hotmail.com
3 - Zootecnista, e-mail: vitoriadaniele1@hotmail.com
4 - Professora do Departamento de Zootecnia, CCA/UFPB, e-mail: carla@cca.ufpb.br

RESUMO -

A pecuária de leite brasileira é muito heterogênea, contando com a participação de grandes e pequenos produtores. Embora ambos sejam extremamente relevantes do ponto de vista econômico, os pequenos produtores têm também grande importância do ponto de vista social. Neste contexto, objetivou-se traçar o perfil técnico dos produtores de leite e de suas propriedades, no município de Areia- PB, Agreste Paraibano. A pesquisa foi desenvolvida entre fevereiro e abril/2015. Realizaram-se entrevistas utilizando um questionário previamente elaborado para criação de um banco de dados que foram analisados por meio de estatística descritiva. Constatou-se que as propriedades leiteiras do município de Areia- PB são pequenas, e a maioria delas está com produção acima da média nacional de leite por vaca dia. Apesar de algumas possuírem assistência técnica, não adotam as regras do Programa de Controle e Melhoria da Qualidade do Leite e da IN 62.

Palavras-chave: produtores de leite, entrevistas, pequenos produtores

CHARACTERIZATION OF THE DAIRY PROPERTIES LOCATED IN THE MUNICIPALITY OF AREIA-PB

ABSTRACT - Brazilian dairy farming is very heterogeneous, with large and small producers participation. Although both are extremely relevant from the economic point of view, small producers have great social importance also. In this context, the objective was to outline the technical milk producers and their properties profile, in the city of Areia-PB, Agreste Paraibano. The research was developed between february and april/2015. Interviews were conducted using a questionnaire previously prepared to create a database that was analyzed using descriptive statistics. It was found that the Areia-PB city dairy properties are small, and most of them are producing above the national average milk per cow per day. Although some have technical assistance, they do not follow Program for Control and Milk Quality Improvement and IN 62 rules.
Keywords: milk producers, interviews, small producers


Introdução

A pecuária de leite brasileira é muito heterogênea, isto é, conta com a participação de grandes e pequenos produtores. Embora ambos sejam relevantes do ponto de vista econômico, os pequenos produtores têm grande importância do ponto de vista social. Para Oliveira (2015) o Nordeste apresenta características próprias que oferecem potencialidades à produção de leite. A maioria dos estados tem pequena dimensão geográfica, grandes núcleos populacionais com densidade demográfica elevada e carência alimentar pelos produtos de origem animal. Areia é um município do estado da Paraíba, localizado na microrregião do Brejo Paraibano. Há uma tradição na produção de leite bovino, na qual a maioria das propriedades existentes é considerada pequena. De modo geral, elas vêm atuando sem tecnificação, utilizando mão de obra não especializada e há carência de informações técnicas. Entretanto, são importantes para o mercado local. Neste contexto, objetivou-se traçar o perfil técnico dos produtores de leite e de suas propriedades, pertencentes ao município de Areia-PB.

Revisão Bibliográfica

Segundo dados do IBGE (2008), a pecuária leiteira é uma das principais atividades desenvolvidas pelos agricultores familiares no Brasil. No ano de 2012, o Nordeste Brasileiro era responsável por 10,84% de todo o leite produzido no País. O estado da Paraíba ocupava a 21ª posição no ranking do Nacional, com uma produção de 142.596 litros/ano (IBGE, 2013). Para Silva et al. (2008) a pecuária leiteira nesta região tem como agravante a baixa utilização de assistência técnica, a baixa utilização de crédito, a falta de planos específicos por partes das instituições governamentais, altas sazonalidade na oferta de leite, baixa produtividade por animal e produção por propriedade, pouco ou quase nenhum acesso às informações de mercado e de novas tecnologias que venham a melhorar o sistema produtivo do leite. Segundo Clementino et al. (2015) o conhecimento das características e formas de produção pecuária de determinada região fornece subsídios importantes para o planejamento das políticas de desenvolvimento pecuário. Winck, & Thaler Neto (2012) ao avaliarem o Perfil de propriedades leiteiras de Santa Catarina em relação à Instrução Normativa 51 observaram que a maioria dos produtores estavam preocupados em adquirir novos equipamentos e melhoria das instalações, porém apresentaram pouca preocupação na obtenção higiênica do leite. A preocupação em modernizar a propriedade deverá ser sempre perseguida por todos os produtores de leite, entretanto, poderá ser perdida, caso o produtor não se preocupe com a higienização na ordenha, e armazenamento adequado do mesmo. Soares et al. (2013) ao traçarem o perfil dos produtores de leite e caracterizar tecnicamente as propriedades leiteiras dos municípios de Rondon do Pará e Abel Figueiredo, Estado do Pará, concluíram que os maiores entraves ao desenvolvimento das propriedades leiteiras estão nas questões sanitárias, nutricionais e reprodutivas dos animais, tendo como consequência uma menor rentabilidade. Muitos produtores não fazem um controle zootécnico e econômico da sua propriedade, por causa disso, não conseguem visualizar onde está ocorrendo o prejuízo. Não tratam a sua propriedade como uma empresa, no qual todos os gastos devem ser anotados, bem como data de nascimento, cobertura, repetição de cio, confirmação de prenhês, quantidade de ração consumida, tratamentos veterinários, etc. Somente assim  terão noção das reais condições da propriedade e a partir daí podem fazer as devidas correções de manejo, alimentação, gastos, etc.

Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida entre fevereiro e abril/2015 no município de Areia, pertencente a Mesorregião do Agreste Paraibano e Microrregião do Brejo Paraibano. A coleta de dados foi realizada através de visitas em 10 propriedades e por meio de entrevistas. A partir daí foi produzido um banco de dados. Os dados foram coletados por um único entrevistador, utilizando um questionário técnico semiestruturado que englobou questões sobre a bovinocultura, que foram aplicados e respondidos pelos proprietários ou responsáveis em entrevistas individuais. A partir destes questionários, foram extraídas informações, especificamente no que diz respeito aos seguintes aspectos: características do estabelecimento rural, características do manejo com os bovinos leiteiros, comercialização da produção leiteira, além do conhecimento do produtor acerca do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade de Leite e a Instrução Normativa de Número 62. Para classificação fundiária das terras se utilizou, como base, o Estatuto da Terra que classifica as propriedades rurais de acordo com o tamanho, no qual leva-se em conta o módulo fiscal e não apenas a dimensão, que varia de acordo com cada município. O valor de referência para a região em estudo é de 25 hectares por módulo fiscal. De acordo com a Lei nº 8.629/93, no art. 4º, II, o módulo fiscal também é parâmetro para a classificação fundiária do imóvel rural quanto a sua dimensão, sendo entendido como minifúndio o imóvel rural de área inferior a 1 módulo fiscal; pequena propriedade o imóvel rural de área compreendida entre 1 e 4 módulos fiscais; média propriedade aquele de área compreendida entre 5 e 15 módulos fiscais; e grande propriedade com área superior a 15 módulos fiscais (INCRA, 2015). As informações foram tabuladas, transformadas em dados e organizadas em tabelas utilizando o software Microsoft Excel®. Estes dados foram analisados por meio de estatística descritiva, para o cálculo das médias em função das variáveis pesquisadas.

Resultados e Discussão

Constatou-se em termos gerais, que as propriedades leiteiras do município de Areia são pequenas, representando 60% do total, com tamanhos variando de 25 a 100 hectares. Ressalta-se a ausência de grandes estabelecimentos. A capacidade média diária do volume de produção deixa clara a concentração de produtores na faixa até 50 litros de leite representando em média 40% do total. De acordo com dados do IBGE (2012), a produção média de leite do Brasil por dia para vacas mestiças HZ é de 5,2 l. Tomando como base pode-se dizer que 70% dos entrevistados encontram-se acima da média nacional, o que revela que a maioria ainda consegue produzir relativamente bem, provavelmente devido ao fato de 60% afirmarem receber assistência técnica. Dos proprietários avaliadas, 80% fazem as anotações referentes a todas as fases de criações. Alguns dos principais índices que devem ser avaliados em uma propriedade são: intervalo de partos, controle leiteiro, percentagem de vacas em lactação e vacas secas, período de serviço, idade ao primeiro parto, problemas reprodutivos, duração da lactação, persistência de lactação e tratamentos sanitários. Em relação à ordenha, todos os proprietários possuem local de ordenha coberto, entretanto apenas 50% possuem ordenha mecânica e em relação as práticas de pré e pós dipping, apenas 20% não a adotam. Ao contrário dos resultados aqui encontrados, Clementino et al. (2015) ao realizar pesquisa de caracterização da pecuária bovina no estado da Paraíba, não encontraram propriedades onde se utilizavam ordenha mecânica, o que permite inferir que provavelmente as propriedades do presente estudo não foram contempladas no trabalho dos autores supracitados. No que diz respeito ao uso de vacinações obrigatórias (febre aftosa, brucelose, raiva, entre outras) e controle de endo e ectoparasitos, 100% dos produtores entrevistados fazem o uso dessas práticas, tendo em vista que o uso das mesmas condiciona o animal a uma boa produção e qualidade do leite. Mostrando que os produtores são conscientes da importância dessas vacinas para o seu estabelecimento. Nas entrevistas, 70% dos proprietários admitiram conhecer o Programa de Controle e Melhoria da Qualidade do Leite e apenas 30% admitiram conhecer a IN 62. Estes afirmaram que esses programas estão muito distantes da realidade do município, uma vez que nesta localidade não existe nenhum laticínio no qual ocorre fiscalização na qualidade do leite, logo, alegam que não há, por enquanto, necessidade de se adequarem as regras impostas pela presente normativa. Os produtores apontaram como principais dificuldades da atividade a falta de mão de obra, o preço do produto que oscila muito e a falta de incentivo para a atividade.

Conclusões

As propriedades leiteiras do município de Areia - PB são pequenas e a maioria dessas propriedades está acima da média nacional de leite por vaca dia e, apesar de algumas possuírem assistência técnica, não adotam as regras do Programa de Controle e Melhoria da Qualidade do Leite e da IN62.

Gráficos e Tabelas




Referências

Clementino, I, J.; Pimenta, C. L. R. M.; Fernandes, L. G.; et al.  Caracterização da Pecuária bovina no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. Semina: Ciências Agrárias. V. 36, n. 01, p. 557-570, 2015   Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. Classificação das propriedades de acordo com o tamanho da área. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/tamanho-propriedades-rurais> Acesso em: 15/09/2016.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: <http:// biblioteca.ibge.gov.br/d_detalhes.php?id=720>. Acesso em 24/04/2015.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Produção da Pecuária Municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/economia/ppm/2011/default.shtm>. Acesso em 24/09/2016.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. 2013. Pesquisa da pecuária municipal. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2009/default.shtm> Acesso em 10/04/2015.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. 2014. Censo Populacional. Disponível em <http://www.ibge.gov.br> Acesso em 10/09/2016.   Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. MAPA. Instrução Normativa 62, de 18 de setembro de 2002. Disponível em: <http:// 30extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=8932> Acesso em: 25/08/2016.   Oliveira, A. A. Desafios para a produção de leite no Nordeste, 2015.Disponível em:<https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2697798/artigo-desafios-para-a-producao-de-leite-no-nordeste>. Acesso em: 17 de novembro 2016.   Silva, D. L. D. D.; Ferreira, R. C.; Costa, E. R. D.; Silva, R. A. D.; Fernandes, D. Perfil dos Pequenos Produtores de Leite Quanto ao Uso Adequado de Práticas de Higiene da Ordenha e Manipulação do Produto no Município de Belém do Brejo do Cruz-PB. Agropecuária Científica no Semiárido, v. 4, n.1, p. 55-61, 2008.   Soares, S. O. S.; Oaigem, R. P.; Oaigen Barbosa, J. D. et al. Perfil dos produtores de leite e caracterização técnica das propriedades leiteiras dos municípios de Rondon do Pará e Abel Figueiredo, Estado do Pará. Veterinária em Foco, jan./jun. 2013   Winck, C. A; Thaler Neto, A. Perfil de propriedades leiteiras de Santa Catarina em relação à Instrução Normativa 51. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, Salvador, v.13, n.2, p.296-305 abr./jun., 2012.