Caracterização de fungos em amostras de mel de Apis mellifera do município de Santa Helena, região Oeste do Paraná, Brasil

Douglas Galhardo1, Cibele Regina Schneider2, Luanda Leal das Neves Carvalho3, Bruna Larissa Mette Cerny4, Paulo Henrique Amaral Araújo de Sousa5, Sandra Mara Stroher6, Regina Conceição Garcia7
1 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
2 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
3 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
4 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
5 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
6 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
7 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

RESUMO -

Objetivou-se com o presente trabalho caracterizar a presença de fungos em 26 amostras de mel de Apis mellifera coletadas no município de Santa Helena, região Oeste do Paraná. Para quantificação dos fungos das amostras utilizou-se o meio de cultura batata dextrose ágar (BDA), acidifica¬do com ácido tartárico, incubadas e mantidas em 28 ± 1ºC por 7 dias. Os gêneros de fungos encontrados nas amostras de mel foram: Aspergillus spp, Cladosporium spp, Fusarium spp, e Phoma spp, sendo que os dois primeiros apresentaram maior ocorrência. As fontes de contaminação por fungos no mel pode ser tanto primaria como segundaria. Os níveis de contaminação foram baixos, comprovando que os apicultores vêm aplicando as boas práticas de higiene na produção, produzindo alimento seguro para consumo humano.

Palavras-chave: Boas práticas de higiene, mel, microrganismos, produção

Characterization of fungi in honey of Apis mellifera in the county of Santa Helena, West region of Paraná, Brazil

ABSTRACT - The objective of this work was to characterize the presence of fungi in 26 honey samples of Apis mellifera collected in the county of Santa Helena, Western region of Paraná. For the quantification of the fungi of the samples, the potato agar dextrose medium (BDA), acidified with tartaric acid, were incubated and maintained at 28 ± 1 ºC for 7 days. The genus of fungi found in the honey samples were: Aspergillus spp, Cladosporium spp, Fusarium spp, and Phoma spp, with the first two showing a higher occurrence. The sources of fungus contamination in honey can be both primary and secondary. The levels of contamination were low, proving that beekeepers have been applying good hygiene practices in production, producing food safe for human consumption.
Keywords: Good hygiene practices, honey, microorganisms, production


Introdução

O Oeste do Paraná vem se destacando na produção apícola, principalmente o município de Santa Helena, que apresenta bons índices de produção na região devido às características florísticas, à tradição na produção apícola e ao acompanhamento técnico- cientifico. O aspecto organizacional e a constituição de uma rede da cadeia produtiva, que envolve produtores, Associações, Cooperativa, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, a ITAIPU-Binacional e o SEBRAE, tem sido bem trabalhados na região desde 2006 (RODRIGUES et al., 2015; ARNHOLD, 2016). O aumento significativo do comércio do mel, juntamente com a elevada sensibilização de alimentos benéficos a saúde, em especial a relação entre poluição ambiental e os alimentos, vem resultando em criação e modificações de normas para contaminantes de produtos alimentícios. No entanto a legislação brasileira para o mel não exige a realização de análises microbiológicas, estabelecendo apenas que sejam seguidas as boas práticas de higiene na manipulação deste alimento. O mel, devido às suas propriedades naturais como baixo teor de água e alta concentração de carboidratos, favorece os níveis mínimos de sobrevivência aos microrganismos.   Desta forma, as necessidades de dados microbiológicos adicionais sobre o mel são importantes para determinar a qualidade e segurança alimentar. Portanto, objetivou-se com o presente trabalho caracterizar a presença de fungos em amostras de mel de Apis mellifera coletadas de apicultores.

Revisão Bibliográfica

Os fungos constituem um grupo de organismos, no qual não ocorre clorofila (são heterótrofos). São geralmente filamentosos e multicelulares. O crescimento, em geral, é apical, mas qualquer fragmento hifálico pode dar origem a outra formação micelial, quando destacado e colocado em meio apropriado (PUTZKE & PUTZKE, 2002). A contaminação microbiana do mel pode ocorrer por meio de fontes primárias e secundárias. As fontes primárias incluem o pólen, trato digestivo das abelhas, ar, terra e o néctar, e são muito difíceis de serem controladas. As fontes secundárias (pós-colheita) são constituídas do ar, de manipuladores de alimentos, contaminação cruzada, equipamentos e estrutura física (GRIGORYAN, 2015), fontes estas que podem ser controladas por boas práticas de fabricação, de acordo com as normativas. Os microrganismos que causam preocupação no manuseio pós-colheita são aqueles que são comumente encontrados no mel (fungos, leveduras e bactérias formadoras de esporos), e aqueles que indicam a qualidade sanitária ou comercial do mel (coliformes e leveduras), podendo acarretar em doenças para a população. Os exames microbiológicos de rotina do mel podem incluir vários ensaios diferentes, como contagem de microrganismos fúngicos, que podem ser isolados e avaliados de forma mais precisa, fornecendo mais informações sobre a qualidade microbiológica do produto.

Materiais e Métodos

Material e Métodos O experimento foi realizado no laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon – PR. Avaliou-se 18 amostras de mel do município de Santa Helena (24° 51′ 36″ S, 54° 19′ 58″ W) de apicultores filiados da Cooperativa Agrofamiliar Solidária de Apicultores do Oeste do Paraná – COOFAMEL, no município de Santa Helena, região Oeste do Paraná. As análises microbiológicas foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Silva et al. (1997). Adicionou-se 25 g de amostra em 225 mL de água destilada estéril, mantendo em agitação e a partir desta solução foi pipetado 1 mL em sucessivas diluições de 10-1 a 10-5, utilizando-se tubos de ensaio contendo 9 mL de água destilada.  Posteriormente, a partir dos extratos diluídos, realizou-se semeadura em superfície nas placas utilizando 0,1 mL de inóculo por placa. Para quantificação de fungos utilizou-se o meio de cultura Batata Dextrose Ágar (BDA) em pH 3,5, acidifica­do com ácido tartárico 10% (BRACKETT & SPLITTSTOESSER, 1992). As placas foram incubadas em 28 ± 1ºC por 7 dias. Os microrganismos isolados foram identificados quanto ao gênero pelas características microscópicas das colônias, após o preparo das lâminas. Os resultados foram transformados em logaritmos de base 10 e, posteriormente, submetidos à análise descritiva por meio do programa Microsoft Office Excel 2010.

Resultados e Discussão

Os gêneros de fungos encontrados nas amostras de mel foram: Aspergillus, Cladosporium, Fusarium, e Phoma, sendo que os dois primeiros apresentaram maior ocorrência para maioria das amostras. Os gêneros Fusarium e Phoma estiveram ausentes na maioria das amostras (Figura 1). A ocorrência desses fungos no mel pode ser uma indicação de contaminação de fontes secundárias durante o manuseio, processamento e armazenamento ou adulteração (ADENEKAN et al., 2010). Os valores máximos obtidos nestas amostras foram de 5,3 log UFC g-1 para Aspergillus, 5,0 log UFC g-1 para Cladosporium, 5,0 log UFC g-1 para Fusarium e 4,0 log UFC g-1 para Phoma. Estes valores corroboram com os observados por Wanderley et al. (2016) ao analisarem a qualidade microbiológica de amostras de mel de abelhas Apis mellifera comercializados na cidade de Sousa - Paraíba, apresentando contagens inferiores a 10,0 log UFC g-1 em todas amostras, sendo favorável para os aspectos microbiológicos De acordo com DENARDI et al. (2005) os valores observados são favoráveis para os aspectos microbiológicos, pois contagens acima de 100 log UFC g-1 podem acarretar na fermentação do produto, elevando o teor de umidade acima de 18%, e consequentemente, favorecendo a proliferação dos microrganismos. O mel possui propriedades antimicrobianas que dificulta o crescimento ou a persistência de muitos microrganismos. Tipicamente, o mel pode conter números baixos e uma variedade limitada de microrganismos. Mas, deve-se tomar algumas medidas para reduzir ainda mais a contaminação deste produto, dentre elas estão o aperfeiçoamento de técnicas de manejo, limpeza e maiores cuidados dos apicultores em relação às colmeias das abelhas, mantendo-as  em locais adequados para elevar a produção e a qualidade do produto; a redução do uso de pesticidas, acaricidas e antibióticos próximos às colmeias e ainda, o aprimoramento do monitoramento sistemático em todos os níveis deste tipo de produção, desde o campo, a colheita do produto, o transporte, o envasamento e a distribuição.

Conclusões

As amostras de mel analisadas apresentam uma diversidade de gêneros de fungos em baixa quantidade, comprovando a aplicação boas práticas de higiene na produção apícola e a qualidade do mel produzido no município.

Gráficos e Tabelas




Referências

ADENEKAN, M. O.; AMUSA, N. A.; LAWAL, A. O.; OKPEZE, V. E. Physico-chemical and microbiological properties of honey samples obtained from Ibadan. Journal of Microbiology and Antimicrobials, v. 2, n. 8, p. 100-104, 2010.   ARNHOLD, E.A. Caracterização físico-química, sensorial e botânica de amostras de mel de Apis mellifera da região Oeste do Paraná, Ortigueira-PR e Palmeiras das Missões-RS.. 2016. Dissertação   BRACKETT, R. E. & SPLITTSTOESSER, D. F. Fruits and. vegetables. In: VANDERZANT, C., SPLITTSTOESSER, D. F. Compendium for the Microbiological Examina­tion of Foods. 3rded. Washington DC: American Public Health Association, p. 919-927, 1992.   DENARDI, C. A. S., NISHIMOTO, E. J., BALIAN, S. C., TELLES, E. O. Avaliação da atividade de água e da contaminação por bolores e leveduras em mel comercializado na cidade de São Paulo – SP, Brasil. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v.64, n.2, p. 219-222, 2005.   GRIGORYAN, K. Safety of Honey. Regulating Safety of Traditional and Ethnic Foods, p. 217, 2015.   PUTZKE, J., & PUTZKE, M. T. L. Os reinos dos fungos, 2002.   RODRIGUES, Eliane Aparecida Gracioli; DURSO, Emerson Domenico; DA ROCHA, Weimar Freire. O POTENCIAL PARA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DO MEL NA COSTA OESTE DO PARANÁ: ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA COOFAMEL. Anais-Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional, 2015.   SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos. São Paulo: Varela, 295p., 1997.   SNOWDON, J. A.; CLIVER, D. O. Microorganisms in honey. International journal of food microbiology, v. 31, n. 1-3, p. 1-26, 1996.   WANDERLEY, R. D. O. S.; WANDERLEY, P. A.; DANTAS, M. B.; GOMES, D. J.; MARACAJÁ, P. B.; DA SILVA, R. A. Aspecto microbiológico de amostras de méis comercializado na cidade de Sousa, Paraíba, Brasil. Caderno Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.6, n.1, 2016.





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