Caracterização do perfil das relações de trabalho nas unidades familiares da comunidade do assentamento Queima Fogo – Pompéu/MG a partir de perspectiva de gênero.

Samilla Vieira dos Santos1, Sara Brito Borges Maia2, Matheus Anchieta Ramirez3, Andressa Laysse Silva4, Kênia Conceição de Souza5, Alan Figueiredo de Oliveira6, Ranier Chaves Figueiredo7, Mariana Brito Gomes8
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RESUMO -

Objetivou-se analisar o perfil das relações de trabalho nas unidades familiares da comunidade do assentamento Queima Fogo, localizado no município de Pompéu-MG. Aplicou-se entrevista semiestruturada às mulheres representantes de núcleos familiares do Queima Fogo. Obteve-se que 59,57% dos indivíduos desempenham trabalhos agrícolas dentro das propriedades. Este percentual é formado por 27,65% de mulheres e 31,91% de homens. As atividades domésticas são desenvolvidas por 36,10% dos indivíduos. Percentual composto por 27,65% de mulheres e 8,51% de homens. A respeito das atividades desenvolvidas fora da propriedade o trabalho não-agrícola representa 83,33%. As mulheres contribuem com 50,00% deste total e homens 33,33%. Há diferenças na divisão dos trabalhos entre homens e mulheres nas propriedades Queima Fogo, as mulheres apresentam maior porcentagem de trabalhos domésticos e não agrícolas fora da propriedade, sendo os homens os maiores responsáveis pelo trabalho agrícola na propriedade.

Palavras-chave: agricultura familiar, gênero, mulheres rurais, pluriatividade

Description of labor relations configuration at community family units of Queima Fogo settlement - Pompéu/ MG from gender perspective

ABSTRACT - The main goal of this study is to analyze the profile of labor relations in the family units of Queima Fogo, located in the municipality of Pompéu-MG. A semi-structured interview was applied to the women representing families of Queima Fogo. It was obtained that 59.57% of individuals perform agricultural work within the properties. This percentage is formed by 27.65% of women and 31.91% of men. Domestic activities are performed by 36.10% of individuals. Percentage composed of 27.65% of women and 8.51% of men. Regarding the activities carried out outside the property, non-agricultural work represents 83.33%. Women contribute 50.00% of this total and men 33.33%. There are differences in the division of labor between men and women in the Burning Fire properties, women have a higher percentage of domestic and non-agricultural work outside the property, with men being the main responsible for agricultural work on the property
Keywords: family farming, gender, pluriactivity, rural women,


Introdução

O processo de modernização da agricultura brasileira, promovido a partir da década de 1960 alavancou os índices de exportação de produtos agropecuários no Brasil. Entretanto aprofundou as desigualdades do meio rural brasileiro, incorrendo em danos sociais e econômicos (Martine, 1991). Diante desse cenário, emergiram movimentos sociais de luta pela posse da terra,  luta pela alfabetização rural e para ressignificar as zonas rurais como espaço de cidadania (MDA/NEAD, 2006). Atrelada a essa transformação, caminhou a luta das mulheres trabalhadoras rurais. Com a pauta de igualdade de direitos que se fortaleceu junto à emergência dos movimentos sociais da década de 1980. Dentre estes pontos pode-se citar o acesso à titularidade da posse da terra, à aposentadoria rural, acesso a canais de crédito, ao  assessoramento técnico e à possibilidade de gerar renda para si e gerir o próprio trabalho (MDA/NEAD, 2006). Objetivou-se conhecer e discutir o perfil social e produtivo das trabalhadoras rurais, por meio da avaliação das atividades realizadas por homens e mulheres nos núcleos familiares do assentamento Queima Fogo, localizado no município de Pompéu, Minas Gerais.

Revisão Bibliográfica

A pluriatividade é definida pela combinação de rendas oriundas dos setores primários e secundário e/ou terciário da economia, representando a junção de trabalhos agrícola e não agrícolas, dentro e fora das propriedades rurais. Embora não represente um fenômeno novo, pois agricultoras/es sempre mantiveram a combinação em múltiplas ocupações  (SCHNEIDER,2003), tem importância crescente no meio rural brasileiro.  Silva (2009) afirmou que a pluriatividade contribui para a reprodução das famílias e sua permanência na agricultura, mesmo não promovendo grandes mudanças nos padrões de habitação, consumo, uso de tecnologias. Dentre as características da pluriatividade pode-se citar a elevação da renda familiar, diversificação das fontes de renda, geração de novos postos de emprego, redução das migrações campo-cidade, estímulo a mercados locais, promoção de mudanças nas relações de poder e gênero (SCHNEIDER, 2000; SOUZA, 2008). A pluriatividade faz parte do processo de mudança no qual a mulher passa a deixar o espaço doméstico – porém, sem seu abandono total – e integrar gradativamente o espaço público, externo ao núcleo familiar (SILVA, 2010). Espaço tradicionalmente masculino.

Materiais e Métodos

A metodologia utilizada para coleta das informações foi a aplicação de entrevista  semiestruturada. As questões abordaram as características de composição e divisão de trabalho no núcleo familiar. A entrevista foi aplicada às mulheres. Desta forma a seleção das famílias entrevistadas ocorreu de forma dirigida, incluindo apenas as propriedades que sabidamente residiam mulheres. Foram realizadas entrevistas com 20 mulheres de 20 propriedades diferentes. Esta amostra representa 57,14% das propriedades pertencentes ao P.A. (Projeto de Assentamento) Queima Fogo. Entendendo a necessidade e importância de se promover o diálogo entre mulheres, a condução da entrevista foi feita exclusivamente por pesquisadoras. Em seguida os dados foram tabulados e procedeu-se análise qualitativa das informações. A pesquisa foi possível em decorrência do prévio conhecimento das pesquisadoras com as famílias assentadas decorrente de um projeto de extensão universitária do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG com o PA Queima Fogo.

Resultados e Discussão

A análise das atividades desenvolvidas nos núcleos familiares do Queima Fogo (Tabela 1) mostra que 59,57% dos indivíduos dos núcleos familiares desempenham trabalhos agrícolas. As mulheres compõem 27,65% e homens 31,91%. As atividades domésticas são desenvolvidas por 36,10% dos membros das famílias entrevistadas. Estes são majoritariamente desenvolvidos por mulheres 27,65% das relações de trabalho contra 8,51% dos homens. Apenas quatro homens foram citados como realizadores de trabalhos domésticos.  Por sua vez o trabalho não-agrícola fora da propriedade tem participação total de 4,25 % dos indivíduos, mulheres 2,12% e homens 2,12%. Os trabalhos agrícolas fora da propriedade representam atividades desenvolvidas por 16,66% dos indivíduos. Esta atividade é exclusivamente desenvolvida homens (16,66%). Na presente análise o dado representa a vinculação de um indivíduo. As atividades não agrícolas representam a inserção de 83,33% dos indivíduos que desenvolvem atividades externas às propriedades. Deste último percentual, as mulheres compõem 50% e homens 33,33%. Dados que sugerem que as mulheres do Queima Fogo podem realizar dupla jornada de trabalho, ao desempenhar suas atividades agrícolas, lides domésticas e trabalhos não agrícolas fora da propriedade. Fatos que remetem à herança da estrutura paternalista e machista, que constrói as bases sociais das relações entre homens e mulheres. Sendo que as mulheres se incumbiam das atividades ligadas ao sustento e cuidado da família. Também mostram o perfil de pluriativo dos indivíduos que compõe os núcleos familiares no P.A Queima-Fogo. Esta se faz com predominância das trabalhadoras rurais vinculadas às atividades não agrícolas, dentro e fora das propriedades. Embora garanta renda a homens e mulheres, a pluriatividade faz parte do processo de mudança no meio rural. Ao analisarmos a pluriatividade do trabalho feminino se por um lado a jornada feminina é dupla e, portanto mais cansativa, por outro, ao diminuir o trabalho doméstico feminino, lentamente, as tarefas do lar passam a ser realizadas também por homens, diminuindo as obrigações femininas (BONI, 2006; DESER – CEMTR/PR, 1996).

Conclusões

A análise dos dados do assentamento Queima Fogo aponta que 59,57% dos  núcleos familiares desempenham trabalhos agrícolas dentro da propriedade, mulheres 27,65% e homens 31,91%. As atividades domésticas são desempenhadas por 36,10% dos indivíduos, são realizadas majoritariamente por mulheres (27,65%). O trabalho não-agrícola tem participação total de 4,25% sendo dividido entre homens (2,12%) e mulheres (2,12%). No que tange as atividades desenvolvidas fora da propriedade o trabalho agrícola representa 16,66% e é exclusivamente desenvolvida por um homem. As atividades não agrícolas representam 83,33% das atividades for das propriedades. De tal forma, que mulheres compõem 50% e homens 33,33%. Observa-se perfil pluriativo dos indivíduos que compõe a comunidade do assentamento queima fogo, sendo este mais importante quando se avalia o trabalho feminino.

Gráficos e Tabelas




Referências

BONI, Valdete. “Agroindústrias Familiares: uma perspectiva de gênero”. In: 30° ANPOCS. Anais do 30° Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2006.   CARNEIRO, M. J. Pluriatividade da agricultura no Brasil: uma reflexão crítica. Trabalho apresentado no I colóquio agricultura familiar e desenvolvimento rural. Porto Alegre: GEPAD/PGDR/ UFRGS. 2005   DE ESTUDOS AGRÁRIOS, Núcleo; RURAL, Desenvolvimento. Gênero, agricultura familiar e reforma agrária no MERCOSUL. 2006.   DESER – CEMTR. DEPARTAMENTO SINDICAL DE ESTUDOS RURAIS. COMISSÃO ESTADUAL DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS DO PARANÁ. Gênero e Agricultura Familiar: cotidiano de vida e trabalho na produção de leite. 1. ed. Curitiba, 1996.   MARTINE, George . A Trajetória da Modernização Agrícola: A Quem Beneficia?. LUA NOVA,1991.   SCHNEIDER, S. . Teoria social, agricultura familiar e pluriatividade. Revista Brasileira de Ciências Sociais (Impresso) , São Paulo, v. 18, n.51, p. 99-121, 2003.   SOUZA, Raquel Pereira; SOUZA, Marcelo Santos. O debate brasileiro sobre pluriatividade: implicações sobre o desenvolvimento rural e as políticas públicas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre- RS, 2008.   SILVA, Carolina Braz de Castilho e ; SCHNEIDER, S. . Gênero, trabalho rural e pluriatividade. In: Parry Scott, Rosineide Cordeiro, Marilda Menezes. (Org.). Gênero e geração em contextos rurais. 1ed.Florianópolis: Ed. Mulheres, 2010, v. , p. 185-209