CARACTERIZAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DE MÉIS PRODUZIDOS POR ABELHAS APIS MELLIFERA NA REGIÃO NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

FABIANA RIBEIRO VIANA1, LUCIENE SILVA DE SOUZA MEIRA2, CAMILA TORRES FERNANDES SOUZA DINIZ3, CECÍLIA GABRIELLA OLIVEIRA COIMBRA4, ESTHER MARGARIDA ALVES FERREIRA BASTOS5
1 - FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS
2 - FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS
3 - FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS
4 - FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS
5 - FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS

RESUMO -

Dez amostras de mel produzidos por abelhas Apis melífera no norte do Estado de Minas Gerais foram investigadas quanto ao seu potencial antimicrobiano frente à bactéria Gram negativa Pseudomonas aeruginosa. Para a determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) dos méis, foi utilizada a técnica de diluição em ágar (Mueller-Hinton) para quatro concentrações (50%, 25%, 12,5% e 6,25%). A concentração inibitória mínima para P. aeruginosa foi de 50% e 25% (p/v), respectivamente para 40% e 50% das amostras. Portanto, os méis inibiram o crescimento microbiano, apresentando potencial antibacteriano frente ao micro-organismo patogênico Pseudomonas aeruginosa em diferentes concentrações.

Palavras-chave: abelhas, mel, atividade antimicrobiana, Pseudomonas aeruginosa.

IN VITRO CHARACTERIZATION OF THE ANTIBACTERIAL ACTIVITY OF HONEY PRODUCED BY APIS MELLIFERA BEES IN THE NORTHERN REGION OF THE MINAS GERAIS STATE.

ABSTRACT - Ten samples of honey produced by Apis melífera bees in the northern of Minas Gerais state were investigated for their antimicrobial potential against Gram negative bacteria Pseudomonas aeruginosa. For the determination of the Minimum Inhibitory Concentration (MIC) of the honey, the agar dilution technique (Mueller-Hinton) was used four concentrations (50%, 25%, 12.5% and 6.25%). The minimum inhibitory concentration for P. aeruginosa was 50% and 25% (w / v), respectively for 40% and 50% of the samples. Therefore, honeys inhibited microbial growth, presenting antibacterial potential against the pathogenic microorganism Pseudomonas aeruginosa in different concentrations.
Keywords: bees, honey, antimicrobial activity, Pseudomonas aeruginosa.


Introdução

A atividade biológica do mel tem sido alvo de grande investigação científica. A eficácia do mel contra diferentes tipos de micro-organismos depende de fatores como: tipo de néctar e as condições climáticas onde as abelhas foram criadas (Abd-ElAal et al., 2007). Os méis produzidos na região norte de Minas Gerais são mais escuros, menos adocicados e não cristalizam em temperatura ambiente (Bastos et al., 20016). É um produto com poucos estudos e sua atividade frente a bactérias Gram-negativas é pouco conhecida. Pseudomonas aeruginosa é um patógeno humano presente em infecções adquiridas nos hospitais e em feridas provocadas por queimaduras (Kronda et al., 2013). Novas estratégias de tratamento utilizando produtos naturais com potencial antimicrobiano estão sendo buscadas. O objetivo deste trabalho foi investigar a atividade antimicrobiana de méis de abelhas Apis melífera provenientes do Norte de Minas Gerais frente a espécie Gram negativa Pseudomonas aeruginosa.

Revisão Bibliográfica

O mel é definido como uma substância doce produzida pelas abelhas a partir do néctar de plantas, secreções das partes vivas destas ou de secreções de insetos (Brasil, 2000). Alguns tipos de mel possuem atividade antimicrobiana reconhecida e seus efeitos benéficos dependem da região e origem botânica do produto (Molan, 1992). Devidos às características de posição geográfica, condições climáticas e estação seca do ano bem marcada favorável para a produção de mel, a região norte do Estado de Minas Gerais pode ser considerada uma das mais ricas do Brasil em termos de produção e variedade de mel (Bastos et al., 2006). Pseudomonas aeruginosa é um importante patógeno humano que causa doenças e infecções respiratórias em pacientes vulneráveis, com risco de vida ou infecções persistentes. Tem grande capacidade de adquirir resistência, reforçada pela sua capacidade de formar biofilmes, dificultando a ação dos agentes terapêuticos (Al-Nahari et al., 2015). A estratégia de utilizar um produto natural e de origem animal com potencial antimicrobiano pode ser interessante sob o ponto de vista da não indução de resistência bacteriana e ainda beneficiar o fortalecimento de um produto para a cadeia apícola e que é sustentável para as famílias de regiões carentes.

Materiais e Métodos

Foram coletadas 10 amostras de mel durante o ano de 2016. Os méis foram parcialmente diluídos em caldo Mueller Hinton (CMH) e esterilizados em membranas de 0,22 µM. Foi utilizado o micro-organismo Pseudomonas aeruginosa ATCC 10145. A concentração inibitória mínima (CIM) dos méis foi determinada pela técnica de diluição em ágar Mueller-Hinton (NCCLS, 2003) com adaptações. O cloranfenicol foi utilizado como padrão antibiótico a 50 µg/mL. Os ensaios foram realizados em triplicata.

Resultados e Discussão

As amostras de mel testadas pela técnica de diluição em ágar estão representadas na Figura 1. O valor da CIM encontrado foi de 25% (p/v) em cinco amostras, seguido de 50% (p/v) em quatro amostras. Uma amostra não foi capaz de inibir P. aeruginosa em nenhuma das concentrações de teste. O cloranfenicol utilizado como controle inibiu P. aeruginosa a 50 ug/mL indicando o padrão de resistência desta cepa, enquanto a inibição pelos méis foi considerada dose-dependente. A atividade antimicrobiana do mel pode variar significativamente entre amostras de mesma origem botânica (Pita-Calvo & Vásquez, 2017). Conforme Molan (1992), a capacidade em inibir micro-organismos do mel é resultante da ação combinada de sua acidez, osmolaridade, peróxido de hidrogênio e compostos fenólicos. Como resultado do mecanismo de ação do mel é relatado o efeito de lise celular desencadeado pela complexidade de seus compostos que, atuando de maneira sinérgica, comprometem a resistência e a estrutura microbiana (Al-Nahari et al., 2015). A frequência de inibição do crescimento microbiano está reportada na Figura 2. Pode ser observado que o maior potencial de inibição dos méis ocorreu em 50% das amostras analisadas enquanto que para a concentração de 50% (p/v) o percentual de inibição foi observado em 40% dos méis.

Conclusões

Os méis inibiram o crescimento de P. aeruginosa sendo passíveis de utilização para aplicações terapêuticas e ao desenvolvimento de bioprodutos. Estes resultados contribuem para agregação de valor ao produto na cadeia apícola e como estímulo para o consumo como um alimento funcional.

Gráficos e Tabelas




Referências

Abd-ElAal, A.M., El-Hadidy, M.R., El-Mashad, N.B., El-Sebaie, A.H.. Antimicrobial effect of bee honey in comparison to antibiotics of organisms isolated from infected burns. Annals of Burns and Fire Disasters. V. 20, p. 83–88, 2007.   Al-Nahari, A. A. M.; Almasaudi, S. B.; El-Ghany, E. S. M. A.; Barbour, E.; Jaouni, S. K. A.; Harakeh, S. Antimicrobial activities of Saudi honey against Pseudomonas aeruginosa. Saudi Journal of Biological Sciences. V. 22, p. 521–525, 2015.   Bastos, E. M. A. F., Calaça, P. S. S. T., Simeão, M. G., Cunha, M. R. R. Characterization of the honey from Myracrodruon urundeuva (Anacardiceae – Aroeira) in the Dry Forest of northern of Minas Gerais / Brazil. STC Agriculture and Natural Resources. V. 02, p. 07-15, 2016.   Brasil. Ministério da Agricultura. Secretária de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa no 11, de 20 de outubro de 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do mel. Publicado no DOU de 23 de outubro de 2000, Seção I, p. 16-17.   Camplin, A.L.; Maddocks, Sarah E. Manuka honey treatment of biofilms of Pseudomonas aeruginosa results in the emergence of isolates with increased honey resistance. Annals of Clinical Microbiology and Antimicrobials. V. 13, p. 19–28, 2014.   Kronda, J. M., Cooper, R. A.; Maddocks, S. E. Manuka honey inhibits siderophore production in Pseudomonas aeruginosa. Journal of Applied Microbiology. V. 115, p. 86-90. 2013.   Molan, P. C. The antibacterial activity of honey: 1. The nature of the antibacterial activity. BeeWorld. V. 73, p.5-28, 1992.   NCCLS - National Committee for Clinical Laboratory Standards. Metodologia dos testes de sensibilidade a agentes antimicrobianos por diluição para bactérias de crescimento aeróbico: norma aprovada – sexta edição. NCCLS document M27 – A2, 2003.   Pita-Calvo, C.; Vásquez, M. Differences between honeydew and blossom honeys: A review. Trends in Food Science & Technology. V. 59, p. 79-87, 2017. AGRADECIMENTOS: CNPq e FAPEMG ao apoio financeiro.