Caracterização químico-bromatológica de silagem Gliricidia sepium (Jacq.) Steud como alternativa para alimentação de ruminantes em regiões Semiáridas

Jose Fabio Ferreira de Oliveira11, Ana Lúcia Teodoro12, Kelly Cristina dos Santos23, José Augusto Bastos Afonso34, AAndré Luiz Rodrigues Magalhães15, Leandro Pereira de Oliveira46, Cristianne dos Santos Pinto17, Isislayne Estevão De Lima58
1 - 1Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
2 - 1Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
3 - 2Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - PDIZ/UFRPE
4 - 3Clinica de Bovinos/Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
5 - 1Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
6 - 4Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – PDIZ/UFPB
7 - 1Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
8 - 5Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns - UFRPE/UAG

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição químico-bromatológica da silagem de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.), avaliar o potencial de degradação, produção de gases e digestibilidade verdadeira da matéria seca utilizando técnicas in vitro. Coletou-se a parte aérea das plantas de leucena em campo experimental pertencente a Embrapa Semiárido, Petrolina-PE e ensilou-se folhas e ramos menores que um centímetro, utilizando-se silos experimentais. Observou-se matéria seca (MS) de 239,9 g/kg na matéria natural e proteína bruta, fibra em detergente neutro, carboidratos totais, digestibilidade in vitro verdadeira da MS e degradabilidade potencial de 191,6; 404,9, 624,3; 635,4 e 536,4 g/kg MS, respectivamente. Para a produção total de gases observada e estimada, obteve-se 162,45 e 164,44 mL/g MS incubada. A silagem de gliricídia possui composição químico-bromatológica e características de digestão suficientes para serem usadas como alimento para ruminantes criados em regiões Semiáridas.

Palavras-chave: banco de proteína, forragem, gliricídia, pequenos ruminantes, produção animal

Chemical-bromatological characterization of silage Gliricidia sepium (Jacq.) Steud as alternative for food of ruminants in Semiarid regions

ABSTRACT - The objective was to evaluate the chemical-bromatological composition silage of gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.), to evaluate the potential for degradation, gas production and true digestibility of dry matter using in vitro techniques. The aerial part of the gliricidia plants was collected in an experimental field belonging to Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, and silage leaves and branches smaller than one centimeter using experimental silos. Dry matter (DM) of 239.9 g/kg in natural matter and crude protein, neutral detergent fiber, total carbohydrates, true in vitro digestibility of DM and potential degradability of 191.6; 404.9, 624.3; 635.4 and 536.4 g/kg DM, respectively. For the total gas production observed and estimated, we obtained 162.45 and 164.44 mL/g MS incubated. Gliricidia silage has a chemical-bromatological composition and sufficient digestion characteristics to be used as feed for ruminants grown in Semiarid regions.
Keywords: forage, gliricídia, livestock, protein bank, small ruminants


Introdução

A gliricídia é uma planta exótica de bom desenvolvimento em regiões Semiáridas como no Nordeste brasileiro e apresenta características excelente para alimentação de bovinos, caprinos e ovinos, podendo ser armazenada na forma de feno ou silagem para fornecimento aos animais nas épocas de escassez, configurando-se uma alternativa eficiente para estabilizar a produção dos animais em épocas em que as condições climáticas não sejam favoráveis. A gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) é uma espécie de grande interesse comercial e  econômico, para regiões tropicais, pelas suas características de uso múltiplo, apresentando elevada adaptabilidade, tolerância e versatilidade e promovendo visíveis melhorias nas características dos solos pela fixação e ciclagem de nutrientes, tornando-se  essencial em Sistemas Agropecuários Sustentáveis, pois além de possibilitar a produção de forragens consorciada à produção de alimentos para o consumo humano, essas forragens apresentam notório valor nutricional, fornecimento anual significativo de biomassa, facilidades múltiplas quanto ao manejo e baixo custo de produção (ANDRADE et al., 2015).

Revisão Bibliográfica

No Nordeste brasileiro, esta espécie é cultivada com diversas finalidades, como cerca viva, sombra para cacau, suporte para cultivos e produção de lenha, madeira e forragem. A gliricídia destaca-se por apresentar rápido crescimento, alta capacidade de regeneração, resistência à seca e facilidade em propagar-se sexuada e assexuadamente. A espécie é explorada como forrageira, pelo alto valor nutritivo, em média 23% de proteína (CARVALHO et al., 2006), tornando-se uma importante fonte de alimentos para o rebanho no semiárido brasileiro pois pode ser utilizada na forma de feno ou  realização de silagens mistas de gramíneas e legu­minosas sendo uma prática que favorece o acréscimo de proteína no volumoso ensilado, já que muitas gramí­neas usualmente para ensilagens promovem silagens pobres em proteína como caso da cana-de-açúcar (ARCANJO et al., 2016). A Gliricídia sepium ao ser cortada durante o mês de junho a uma altura residual de 70 cm, é indicada para obtenção de maior produção de matéria seca, crescimento das plantas e composição bromatológica adequada para a alimentação animal e quando exposta ao processo de desidratação com 8 horas de ao sol obtém feno com 80% de matéria seca e 20% de proteína bruta (SILVA, 2015), e de acordo com Dantas et al. (2008) o material in natura, apresenta boas características para ensilagem, originando silagem de alta qualidade, embora o teor de matéria seca tenha sido de 28,20% inferior ao ideal que é 30 e 35%, a silagem apresentou 57,79 e 24,05 g/kg MS, para fibra em detergente neutro e proteína bruta, respectivamente. Assim o cultivo de gliricídia, no semiárido brasileiro apresenta excepcionais características e uma importante alternativa para alimentação do rebanho, como alimento fonte de proteína. Desta forma, objetivou-se avaliar a composição químico-bromatológica da silagem de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.), bem como avaliar o potencial de degradação, produção de gases e digestibilidade verdadeira da matéria seca utilizando técnicas in vitro.

Materiais e Métodos

Coletou-se a parte aérea das plantas de gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) em campo experimental pertencente a Embrapa Semiárido, Petrolina – PE e ensilou-se folhas e ramos menores que um centímetro, utilizando-se silos experimentais. Após 30 dias de fermentação, quatro amostras de silos diferentes foram levadas ao Laboratório de Nutrição Animal (LANA) para processamento e análise. Assim, realizou-se as análises de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM) e proteína bruta (PB) e o extrato etéreo (EE) (Sohxlet) de acordo a com a metodologia descrita pela Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 1990). As análises de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) foram realizadas de acordo com Van Soest et al. (1991), com modificações propostas por Senger et al. (2008). Para determinação da lignina digerida em ácido (LDA) foi utilizada a metodologia proposta por Van Soest et al. (1991), e as frações de celulose (CEL) e hemicelulose (HEM) foram estimadas pelas equações: CEL = FDA – LDA e HEM = FDN – FDA. Os carboidratos totais (CHOT) foram calculados conforme Sniffen et al. (1992) e fracionados em A+B1, B2 e C. A degradabilidade in vitro foi realizada de acordo com o primeiro estágio da metodologia de Tilley e Terry (1963). Para estimar os parâmetros a, b e c e a degradabilidade efetiva para as taxas de passagem de 2; 5 e 8%/h, utilizou-se o modelo proposto por Orskov e McDonald (1979) com o auxílio do procedimento não linear do programa estatístico SAS. Quantificou-se a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) segundo Tilley e Terry (1963), com modificação proposta por Holden (1999). Para a produção de gases, foi utilizada a técnica in vitro com transdutor de pressão, proposta por Theodorou et al. (1994) e para determinação dos parâmetros, foi utilizado o modelo logístico bicompartimental (SCHOFIELD et al., 1994) com auxílio do PROC NLMIXED do SAS:  .

Resultados e Discussão

Observou-se matéria seca (MS) de 239,9 g/kg de matéria natural (Tabela 1), ou seja, cerca de 24% da silagem de gliricídia é composta por MS, onde estão presentes os nutrientes que são exigidos pelos animais para mantença e produção. O fato de apresentar 76% de água não a torna um alimento ruim, haja visto que a água é um nutriente exigido em grande quantidade pelos animais, podendo então, esta silagem atender parte das exigências de água para ruminantes criados em regiões Semiáridas. Para a proteína bruta (PB) observa-se que esta silagem tem 191,6 g/kg de PB na MS (Tabela 1), valores acima do que é exigido para o crescimento microbiano ruminal (7%), assim pode se dizer que os níveis de PB são satisfatórios, no entanto, não se sabe quanto desta está realmente disponível, pois parte pode estar ligada a fibra de baixa digestão, podendo dificultar sua digestibilidade. Para a fibra em detergente neutro (FDN) observou-se 404,9 g/kg MS (Tabela 1) sendo que grande parte dessa fibra pode ser digestível, já que a lignina, que é a parte da fibra indisponível para a maioria dos micro-organismos ruminais, foi de apenas de 84,5 g/kg MS. Os valores de FDN e PB observadas nessa pesquisa, estão abaixo dos encontrados por Dantas et al. (2008) que trabalhando com silagens de gliricídia, observaram 577,9 e 240,5 g/kg MS para FDN e PB, respectivamente. Os carboidratos totais (CHO) foram de 624,3 g/kg MS (Tabela 1), sendo que 61,3% destes estão disponíveis para digestão (351,5 g/kg CHO para frações A+B1 e 261,9 g/kg CHO para fração B2) e 38,7% estão indisponíveis (fração C). Os parâmetros de degradação in vitro são estimativas do que pode ser digerido do substrato, sendo assim, a degradabilidade potencial (DP) foi de 536,4 g/kg de MS e a degradabilidade efetiva para as taxas de passagem de 2; 5 e 8% foram respectivamente de 397,9; 338,1 e 314,1 g/kg MS (Tabela 2), indicando que quando maior a taxa de passagem, menor será a possível degradação da matéria seca. Já a digestibilidade in vitro verdadeira (DIVMS) foi de 635,4 g/kg de MS, ou seja, mais de 60% da MS pode ser digestível, discordando do que foi publicado por Dantas et al. (2008), onde a DIVMS foi de 293,3 g/kg MS. A produção de gás está relacionada com o potencial de degradação dos carboidratos totais, assim, a produção total de gases foi 162,45mL/g de substrato incubado e a produção ajustada pelo modelo bicompartimental foi de 164,44mL/gMS (Tabela 2), indicando bom ajuste do modelo em relação aos dados. Quanto a produção oriunda dos carboidratos não fibrosos, esta foi menor quando comparada à produção dos carboidratos fibrosos, sendo explicada pela quantidade de carboidratos não fibrosos (219,4 g/kgMS) ser menor do que os carboidratos fibrosos representados pela FDN (404,9 g/kg MS).

Conclusões

A silagem da gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) possui composição químico-bromatológica e características de digestão suficientes para serem usadas como alimento alternativo conservado em forma de silagem para ruminantes criados em regiões Semiáridas.

Gráficos e Tabelas




Referências

  ANDRADE, B.M.S; SOUZA, S. F; SANTOS, C. M. C; MEDEIROS, S. S; MOTA, P. S. S; CURADO, F. F. Uso da gliricídia (Gliricidia sepium) para alimentação animal em Sistemas Agropecuários Sustentáveis.  Scientia Plena, v. 11, n. 04, 2015. ARCANJO, A.H.M; SOARES, N.A; OLIVEIRA, A.R; PEREIRA, K.A; ANÉSIO, A.H.C. Silagem de leguminosas: revisão de literatura. Conservação de forragem, ensilagem, leguminosas forrageiras, clostrídio, fermentação butírica.  Nutritime Vol. 13, Nº 03, maio/jun de 2016. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS – AOAC. Official Methods of Analysis. 15th Ed. AOAC, Arglington, USA, 1990. 745 p. CARVALHO, G. M. C. et al. Produção de feno no Semiárido. Embrapa Meio-Norte. Boletim informativo, 1ª edição, 33p, 2006. DANTAS, F.R; ARAÚJO, G.G.L; BARROSO, D.D; MEDINA, F.T. Qualidade das silagens de leucena (Leucaena leucocephala) e gliricídia (Gliricídia sepium) sob diferentes épocas de abertura dos silos. V Congresso Nordestino de Produção Animal, 2008. HOLDEN, L. A. Comparison of methods of in vitro dry matter digestibility for ten feeds. Journal of Dairy Science, v. 82,n. 8, p. 1791-1794, 1999. ØRSKOV, E, R.; MCDONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agricultural Science, v. 92, n. 2, p. 499-503, 1979. SCHOFIELD, P.; PITT, R. E.; PELL, A. N. Kinetics of fiber digestion from in vitro gas production. Journal of Animal Science, v. 72, n. 11, p. 2980-2991, 1994. SENGER, C. C. D. et al. Evaluation of autoclave procedures for fibre analysis in forage and concentrate feedstuffs. Animal Feed Science and Technology, v. 146, n. 1-2, p. 169–174, 2008. SILVA, S.F. CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS, COMPOSIÇÃO QUÍMICOBROMATOLÓGICA E CURVA DE DESIDRATAÇÃO DA Gliricídia sepium. 2015, 54 f. Dissertação (mestrado, forragicultura e nutrição animal). Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrarias, 2015. SNIFFEN, C. J. et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets. II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science, v. 70, n. 7, p. 3562–3577, 1992. THEODOROU, M .K. et al. A simple gas production method using a pressure transducer to determine the fermentation kinetics of ruminant feeds. Animal Feed Science and Technology, v. 48, n. 3-4, p. 185-197, 1994. TILLEY, J. M. A.; TERRY, R. A. A two-stage technique for the in vitro digestion of forage crops. Journal British of Grassland Society, v. 18, n. 2, p. 104-111, 1963. VAN SOEST, P. J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS, B. A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and non starch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 10, p. 3583-3597, 1991.